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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hóquei em Patins, será mesmo o primeiro de muitos ?


Após anos e anos de de insucessos, o Benfica decidiu no ano passado apostar no Luis Sénica como treinador, visto que nem o Carlos Dantas que tantas alegrias nos deu na década de 90 se mostrou capaz de contrariar o domínio dos tripeiros.

A minha ligação emocional com o hóquei vem de muito cedo, inclusivamente cheguei a obrigar os meus pais a comprarem-me um daqueles jogos com tabelas e jogadores com esferas nas bases, tipo o subbuteo do hóquei. À semelhança dos feitos do Eusébio, Coluna e todos esses heróis do futebol, o meu pai sempre me contou a equipa maravilha do Benfica que contava com aqueles jogadores que a imprensa depois tornou heróis lagartos, o Ramalhete e o Livramento, mas que no Benfica com o Adrião tinha formado uma das melhores equipas do Benfica de sempre e do mundo. À semelhança do futebol, entre 59/60 e 73/74, ou seja no espaço de 15 anos (14 épocas) o Benfica foi campeão 9 vezes, sendo que apenas os clubes moçambicanos o Desportivo e o Ferroviário de Lourenço Marques se constituíam como oposição.

A saída de Livramento e Ramalhete, um para ir para o estrangeiro ganhar mais dinheiro e outro por incompatibilidades com um director do Benfica, bem como o reformar de alguns jogadores levou o Benfica a perder o domínio. Eu bem gostava do Picas (até tive um canário com esse nome) e do Piruças, mas os 3 títulos no fim da década de 70, foram suplantados por uma geração de jogadores tripeiros de grande qualidade, dos quais Vitor Hugo, Vitor Bruno e Franklim eram os principais representantes e enquanto estes foram jogando, o Porto foi ganhando.

No entanto, no início da década de 90, surge no Benfica uma geração de jogadores que vinham do Oeiras, do Paço de Arcos, da Física e do Sporting que tantas alegrias me deram. Luis Ferreira (o grande capitão), Paulo Almeida (um tecnicista fabuloso), Vitor Fortunato (um grande defensor com uma tranquilidade inacreditável) e Rui Lopes (uma máquina de golos), tendo na baliza José Carlos (uma muralha). Conquistaram Portugal, a Europa (a primeira Taça Cers do Benfica) e levavam-nos ao pavilhão para tardes e noites memoráveis. Hóquei e Basquete, levavam-nos ao pavilhão e mostravam que o Benfica não era só futebol.

Em 7 anos conquistaram 5 títulos e uma taça europeia. No entanto, quer o Óquei de Barcelos, quer o Porto, reorganizaram-se e ultrapassaram o Benfica.  Jorge Godinho nunca foi um bom substituto de Rui Lopes, muito menos o Gaidão. A saída de Luis Ferreira nunca foi bem colmatada, Panchito apesar de fabuloso tecnicamente era demasiado conflituoso e egoísta, pelo que ele passou e o irmão ficou, Mariano que era visto como um apêndice do Panchito, acabou por conquistar os adeptos pela sua maneira de ser, a tenacidade, o colectivismo e a garra.

Ao que parece, devo dizer que agora acompanho muito menos o hóquei, quer porque poucos jogos dão na RTP, quer porque já não vivo na zona de Lisboa, os métodos do futebol também foram adoptados no hóquei e há um sistema que influencia significativamente os resultados. Não sei se é só culpa do sistema, mas há 3 elementos que estão nos tripeiros que são de uma grande qualidade, os espanhóis Edo Bosch e Pedro Gil, bem como o Ventura por quem não tenho qualquer respeito tendo em conta as suas atitudes no ringue.

À semelhança do futebol, a competência acaba por ganhar ao sistema, por mais corrupto que ele seja. Por isso, no ano passado apenas perdemos o campeonato no goal-average, mas conquistámos a Taça Cers e este ano fomos Campeões. A competência do Luis Sénica, que conseguiu diminuir significativamente a distância que tínhamos para os tripeiros. Mas também a competência de Sérgio Silva, que este ano mostrou que não é preciso ter medo, é olhá-los nos olhos e ganhar.

Destaco ainda a competência do director José Trindade, também ele um exímio ex-praticante, que penso estar a fazer um trabalho de sapa de reorganização do hóquei no Benfica, há neste momento 8 escalões na formação, mas a falta de títulos nos escalões de formação é indicativo que não temos a breve trecho uma fornada de jogadores talentosos que possam vir a discutir um lugar no Benfica.

Na verdade, tirando o Diogo Rafael e o João Rodrigues de 22 anos e o Valter Neves que vai fazer 29, o resto da equipa do Benfica é composta de trintões, e por muito que eu tenha criticado na altura das suas aquisições, convém assumirmos os erros que cometemos, a experiência dos jogadores veio a revelar-se decisiva para ganhar o campeonato. Inclusivamente o elemento mais idoso, Sérgio Silva (38 anos) vai para o Valdagno que nos eliminou na Liga dos Campeões porque a proposta que lhe fizeram é economicamente mais interessante.

Eu sei que o Sénica adoptou por fazer um Benfica à italiana, onde se priveligia a qualidade e experiência em detrimento da juventude. A minha questão é que nem todos os jogadores conseguem jogar ao mais alto nível até à idade do Sérgio Silva. O desafio é conseguir aliar a intensidade necessária durante muitos minutos à experiência e qualidade que têm, por isso, confesso que estou um bocado apreensivo quando vejo que Luis Viana vai fazer 36 este mês, Carlos Lopez tem 35 e Esteban Aballos e Cacau têm 32.

Estou confiante que o nosso treinador saberá o melhor caminho a seguir na senda do êxito, mas preocupa-me que nos tenhamos focado excessivamente em obter um êxito no curto prazo em detrimento de procurarmos conseguir uma equipa para dominar durante uma década. Claro que isto digo eu que nada percebo de hóquei. Apenas me limito a gostar de ver o Benfica jogar e ganhar.

Seja como fôr PARABÉNS CAMPEÕES !!!

PS - Não gostei nada de ouvir as declarações do nosso director José Trindade no final do jogo, pois parece-me que em virtude de não ganharmos há tanto tempo, desaprendemos de saber ganhar. O Benfica tem que ser o melhor dentro e fora de campo, tem que ser o exemplo e não pode escudar-se nos comportamentos asquerosos dos outros para os imitar.

PS2 - Sim, o mérito também é do no LFV que soube escolher o Trindade e o Sénica e lhe deu os recursos para sermos campeões