terça-feira, 24 de julho de 2018

Vender Jonas? Porto Bicampeão.


Se, nas vendas oficialmente propagandeadas a 30 e 40 milhões, meses depois descobrimos que só 8 ou 10 entraram nos cofres do clube, se vendermos Jonas a 14, com sorte entrarão 3 milhões no Benfica. Mas podia entrar o dinheiro todo que se quisesse, podiam os dirigentes ser honestos e amar o Glorioso, podíamos ser uma máquina bem oleada por gente competente, que a venda de Jonas, no ano a seguir a perder o Penta, seria sempre um erro monumental.

Jonas é um dos melhores jogadores da História do Benfica. O melhor dos últimos 25 anos. É raro, é mágico, faz coisas que mais ninguém faz. Não se fala de golos e assistências (que felizmente são muitos e por isso o treinador não o pode tirar), fala-se de tudo o resto que dá à equipa. Com Jonas em campo, os outros jogadores tornam-se melhores jogadores. É ele que motiva uma esperança para a Reconquista.

A idade não é um obstáculo; é, pelo contrário, uma mais-valia. Jonas está no auge da sua forma, do seu cérebro, do seu profundo conhecimento sobre o jogo. Não tem de fazer sprints ou "ganhar lances divididos" - o futebol não é halterofilismo, atletismo ou luta greco-romana. Jonas ganha-os por antecipação, por ludibriar os adversários com melhor e mais bela movimentação no relvado.

Sem Presidente e sem treinador já é difícil. Não queiram tentar ganhar o campeonato sem Presidente, sem treinador e sem o melhor jogador.



terça-feira, 17 de julho de 2018

Algumas curtas gloriosas



- A estrutura do Benfica anda há mais de um ano a ver a sua correspondência virtual vasculhada, roubada e publicamente divulgada e para os amantes de Vieira (que são quase todos os benfiquistas) a culpa é da Comunicação Social, do Porto, do Presidente da Federação (que, só assim de passagem, foi 'inequivocamente apoiado" por Vieira... duas vezes), do homem do talho, da Júlia Florista, do Rio Tejo, dos ácaros do colchão de uma casa na Nazaré, das moscas irritantes de Santa Comba Dão. Nem por um segundo esta gente se dedica a pensar na absoluta e ridícula incompetência que isto revela sobre os dirigentes do clube.

- O medíocre Castillo vem para o Benfica receber 2,3 milhões de euros por ano. Com uma gestão deste nível, é natural que alguns bolsos bigodais estejam cada vez mais cheios e os cofres do clube cada vez mais vazios.

- Domingos Soares Oliveira, o lagarto que manda no clube há mais de uma década, vem dizer aos benfiquistas que a prioridade da estrutura não é o reforço do plantel mas o "investimento no estrangeiro" ("Não vamos aumentar o nosso endividamento, sobretudo para financiar a compra de jogadores. Não há a intenção de o fazer, a não ser para algum investimento hipotético no estrangeiro"). Acho que fica tudo dito sobre o que importa a esta gente que desgoverna o Glorioso.

- Ferreyra-Jonas com Félix a espaços e a crescer com os dois craques; Pizzi-Krovinovic com Gedson a espaços e a crescer com os dois craques; Rafa-Zivkovic com Salvio a espaços e a crescer com os dois craques; Grimaldo-Fejsa com Cervi e Keaton a espaços e a crescer com os dois craques. No meio de tanta miséria estrutural, esta promessa de bom futebol com tantos talentos é o que me vai animando por estes dias.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

PLANTEL INCOMPLETO E DESEQUILIBRADO (OUTRA VEZ)



Como há um ano, o Benfica tem um plantel com grandes jogadores - que, num campeonato como o nosso e com apenas um concorrente, podem sempre ser campeões (mesmo com uma garrafa de água no banco) - mas convinha fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e não apenas o esforço mínimo. 

Faltam ainda:

- um guarda-redes de qualidade inatacável (Varela é medíocre, o grego uma incógnita);
- um lateral-esquerdo (Yuri é medíocre);
- um lateral-direito (Almeida é um bom jogador de plantel mas é preciso que o titular tenha mais qualidade);
- um central (Rúben é medíocre, Lema um engano, Lisandro deverá sair,  Jardel não é brilhante, Luísão já nem deveria fazer parte do plantel. Resta Conti, que talvez possa ter a qualidade desejada. Os dois centrais de maior potencial, Ferro e Kalaica, não contam para Rui Vitória).

Ou seja, ainda falta tudo na baliza e na defesa, como no ano passado em que a maioria dos adeptos achava que o genial Rui Vitória iria fazer de Buta o novo Semedo, do Varela o novo Ederson e outras bizarrias do género. Seria bonito desta vez não contarmos apenas com o talento de Grimaldo, Fejsa, Zivkovic, Pizzi, Krovinovic, Rafa, Ferreyra e Jonas para esconder a inexistente ideia colectiva de futebol. É que da última vez que o fizemos ficou um Penta por ganhar.

terça-feira, 3 de julho de 2018

O TIRO-LIVRE DIRETO SEGUNDO JONAS


Desde o cabrito que deu a um jogador do Arouca, no seu primeiro jogo oficial pelo Benfica, Jonas ficou-me na retina. Não porque aprecie em demasia os pormenores artísticos dos cabritos, dos chapéus, das bicicletas e dos túneis. Adoro vê-los, como qualquer um, mas sei que são “apenas” momentos de algo bem maior. E são muitos, os exemplos de jogadores que decidem orientar alguns dos seus momentos para a fotografia, levados pelo entusiasmo dos adeptos e pelo mediatismo e imediatismo das redes sociais. Mas estes pormenores técnicos também podem ser os mais certos a fazer naquele específico momento de jogo. Nunca vi o Messi procurar fazer “ratas” aos seus adversários apenas porque sim, mas já o vi fazer passar a bola por baixo das pernas de muitos jogadores e, sobretudo, de muitos guarda-redes, porque é o certo naquela jogada e porque é o melhor que pode fazer naquele momento, de forma a que o jogo flua construtivamente para o golo. Esta é uma característica de poucos jogadores. É uma característica de Jonas.

Dia vinte e nove de janeiro do ano dois mil e dezoito, Lisboa, Estádio do Restelo.
Como todos sabemos, Jonas falha um penálti pela segunda vez desde que chegou ao Benfica. Eu fiquei pior que estragado, nem queria acreditar. Pensei que tínhamos perdido aí o campeonato, mais coisa menos coisa. E depois deu-se um momento mágico, um dos momentos incríveis que o Benfica me tem proporcionado ao longo da vida:



Aos 95 minutos de um jogo que estávamos a perder, Jonas sofre falta fora da área do Belém, a cerca de 23 metros da baliza, mais coisa menos coisa. Falta clara, prontamente assinalada; barreira feita. O Génio chega-se à frente. Percebemos que é ele que vai marcar o livre, por toda a sua linguagem corporal. Está super focado e imbuído de uma vontade que o transcende, de uma inspiração que (talvez julgue) lhe chega de cima. E chega mesmo. Vem daquele cérebro extraordinário e daquela obsessão incontrolável que Jonas tem pelo Jogo, desde menino, e que faz dele um dos eleitos de todos os tempos. Aquele maravilhoso órgão cognitivo coordena-lhe então a dança: chega-se à frente, volta para trás, reclama o seu lugar junto do árbitro. Mais uma vez, para a frente, para trás, a quantificar dimensões, enquadrando a baliza como um engenheiro que diz a medida do raio de uma roldana, a olho, e acerta ao milímetro, ou como aquele médico que olha para o paciente e desconfia imediatamente do mal que o enferma, mesmo sendo oculto para a esmagadora maioria dos seus colegas.

Depois foi o que se sabe: Jonas marca um golo absolutamente fenomenal, acessível apenas aos predestinados. Tudo isto que vos descrevo é maravilhoso, eu sei, mas não é este o momento que considero ser o mais paradigmático daquilo que é Jonas, como jogador e como Ser Humano. Ao regressar para o seu meio campo, Jonas não está a sorrir nem a responder de forma eufórica aos cumprimentos dos companheiros. Cabisbaixo e com a cabeça a dizer que não, é aí que vemos a sua verdadeira dimensão, assumindo totalmente a responsabilidade de um erro com um nível ímpar de exigência. Acartou-a aos ombros, a essa responsabilidade, até sofrer aquela falta providencial. E neste momento de transcendência, Jonas é o Benfica inteiro. Jonas é a exigência com foco e o perfeccionismo de quem quer mais que os outros; Jonas é o amor pela camisola e pela excelência. Ele mostra-nos o que é assumir um erro, e mais do que isso, o que é resolvê-lo dentro do possível. Sobretudo, Jonas mostra-nos como é que não se fica contente com uma conquista pessoal, num momento em que o interesse colectivo fala mais alto. Fosse assim a nossa equipa técnica, fosse assim a nossa direção, e o penta seria uma realidade.


Eu gosto particularmente quando um jogador sente o seu clube de coração. Gosto de ver nos olhos dos jogadores o mesmo amor que trago nos meus. Gosto quando sofrem, como eu. Não quero que se sintam frustrados, por princípio, mas a sua frustração aproxima-me, paradoxalmente. O Benfica perdeu este campeonato por razões alheias a esse penálti falhado no Restelo, mas não quis deixar de emoldurar este momento de transcendência. Porque o Futebol é muito mais do que um jogo.

Bebedouro, Brasil, num final de uma tarde do mês de fevereiro, em mil novecentos e noventa e quatro: Maria Luiza vai ao quintal chamar os filhos para o lanche. O jogo já acabou mas os  seus três filhos continuam a dar uns chutes na bola, aparentemente ao acaso. Thiago e Diego, grita Luíza, o que estão fazendo com seu irmão? Jonas, você não está de castigo, filho, porque fica desse lado de lá do muro a chutar? Quase que nem consegue ver a baliza, filhote. Precisa mesmo fazer isso todo o santo dia?

Thiago e Diego sorriem, mas deixam que Jonas responda. Está tudo bem mamãe, diz o pequeno Jonas, enquanto passa a mão pelo cabelo suado. Estou só treinando tiro-livre direto, como faço todo o dia. Quero manteiga no meu sanduíche, manhê!

Luíza suspira, retorquindo em tom de pedagogia: não está esquecendo de nada, Jonas?

Um curto silêncio.
 Ouve-se então uma voz envergonhada, difractada por um muro:

…por favor, mãe.