Continuo intrigado. Tivesse Emerson sido contratado para alternativa ao titular desta época e ainda assim far-me-ia consecutivas questões sobre que espécie de prospecção tem o nosso clube para descobrir, num universo tão grande, tão fraco jogador de futebol para o seu plantel. Imaginam, portanto, a minha incredulidade quando aconteceu ver este rapaz jogar os primeiros jogos pelo Benfica. E, nesse sentido, serão certamente capazes de supor as caralhadas que fui atirando para o ar quando percebi que Emerson não só era mesmo para ficar (ainda houve inicialmente uma ténue esperança de que fosse algum engano no aeroporto ou que o rapaz viesse para a equipa de Andebol) como constituía a primeira e única solução para a lateral-esquerda. Estou muito intrigado com tudo isto.
E não bastaram nem 5 nem 10 nem 20 jogos para que Jorge Jesus se decidisse a recambiar o brasileiro para a bancada, mesmo com as anedóticas aparições com que Emerson, desde que pôs o pezinho em território nacional, tem brindado os benfiquistas. Ele próprio estará intrigado com isto tudo. Terá inclusivamente tido uma conversa por telefone com o Pai - inadvertida e escandalosamente apanhada pela rede de investigação nacional - em que se mostra aparvalhado com a condição de indiscutível que possui neste Benfica. O Pai ter-lhe-á demonstrado muita força e pedido coragem. Que continuasse a ser o filho exemplar que sempre foi, que fosse humilde e trabalhador, que o mundo um dia perdoaria Jesus por tal atentado. Nos entretantos, Emerson persiste - como não? Que culpa tem o rapaz de tão abominável patetice? Se o atiram para o relvado, ele faz o que pode, que é muito pouco, mas disso não tem ele culpa.
Nesta novela de escabrosos episódios, o último que veio apimentar a discussão trouxe-nos o nosso grande e extraordinário Presidente, que vem afirmar que a alternativa a Emerson - o tal campeão do Mundo que não serve nem para a Taça da Liga e que nos custou 3 milhões para ir a Nyon assistir a sorteios da UEFA e para efectuar peladinhas na luta contra a pobreza - é, e cito, "um "profissional exemplar". Ora, se o espanhol não faz birras nos treinos (teoria durante muito tempo aventada pelos eternos defensores do indefensável), se o espanhol tem muito mais experiência internacional, vindo de um campeonato a léguas competitivas do nosso, enfim, se Capdevila é muito mas mesmo muito melhor jogador do que Emerson, por que carga de filha da puta de água teremos de continuar a arriscar pontos, eliminatórias e competições sem que ninguém promova as mudanças que se exigem desde Agosto? Continuo muito intrigado.
Vamos todos aceitar, mesmo que assim a modos que algo contrafeitos, que Capdevila não serve para ser jogador do Benfica. Pode ser? Façam lá o esforço por uns minutinhos. Capdevila não serve. Ou porque tem o nariz grande, ou porque é feio, ou porque tem brinco, ou porque tem a crescer-lhe no peito uma verruga de muito mau gosto e cheiro, ou porque é desdentado, ou porque sofre de urticária, ou porque o Jesus não gosta dele, ou porque o Jesus é parvo, ou porque o Jesus mete à frente dos interesses colectivos os objectivos individuais, ou porque o Vieira não tem mão no Jesus, ou porque o Carraça é uma carraça muito mole, ou porque o Rui Costa não aparece vai para mais de três quinze dias, por qualquer coisa que possamos dizer ou inventar ou fantasiar, o que importa é isto: vamos todos imaginar que Capdevila é pior que Emerson e por isso não joga, jogando o rapaz de olhos caninos no lugar dele. Estamos todos entendidos? Ainda bem. Agora respondam-me só a isto: não preparámos a compra de um lateral-esquerdo bom (ou, vá, razoável, já estou por tudo) e esse lateral-esquerdo não está já a treinar com o plantel porquê, caralho?