terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Capristanos – Do Lado do Poder, Nunca do Lado do Benfica

Domingo ao final do dia resolvi ouvir o programa da CMTV denominado “Crise no Benfica”.

Lá estavam Vasco Mendonça, João Malheiro, Diamantino Miranda, José Manuel Capristano e António Salvador, a falar sobre o momento actual que se vive no clube. Isto ainda antes do jogo com o Farense.

Tinha de escrever sobre isto mas havendo jogo do Benfica respirei fundo e decidi só abordar este assunto no dia seguinte – Ontem. Mas lá veio o empate em Faro e tive de respirar fundo durante mais 24 horas.

Não irei falar sobre os novos defensores do #VieiraRua. Não irei falar do “boletim informativo” que o Vasco Mendonça dizia não receber. Irei sim ter obrigatoriamente de falar do José Manuel Capristano.

Este senhor é o mais perfeito exemplo do tipo de pessoa que está sempre do lado do poder, que defende sempre o status quo e que não tem em si uma pontinha de massa critica. Este é o benfiquista que não merece representar o clube, seja como dirigente ou como “comentador desportivo”. É o dirigente do Vale Azevedismo e um comentador fruto da Vieira TV. Sim, estes dois mundos vivem lado a lado de mãos fortemente dadas.

Vamos então escrutinar a participação deste Capristano. Pode ser cansativo pela falta de conteúdo e atropelos lógicos que a cabeça dele apresenta.

- Jornalista “José Manuel Capristano concorda que o maior responsável desta crise de resultados do Benfica é Luís Filipe Vieira?”

- José Manuel Capristano “Obviamente que não. O senhor que o disse parece estar em campanha eleitoral. Os senhores que perderam as eleições há 4 meses parecem não aceitar a derrota. Todos os candidatos na altura disseram que manteriam o treinador logo o treinador foi consensual a todos e então agora que as coisas não correm bem é o presidente, é a direcção, disparam em todas a direcções."

Começa bem. Quem critica a direcção está em campanha eleitoral. É assim que funciona este ser acrítico ao poder.
De seguida atropela-se. Caro Capristano, os candidatos não disseram que eram a favor da contratação do Jorge Jesus. O que disseram foi que já que estava contratado não o iam despedir em Outubro só porque ganhavam as eleições. Percebe a diferença?
E já agora, lá porque “foram consensuais” quanto ao treinador então não podem disparar ao presidente e a direcção? Querer defender o indefensável dá nisto.

- “Às vezes faz-me confusão as pessoas não pensarem que os benfiquistas têm muito mais coisas que os une do que coisas que nos desune. Os nossos adversários não podem estar dentro do clube, devem estar em outras áreas: no Sporting, no Porto, no Braga...”

Pois não podem. Mas estão. E se o Capristano gastasse mais tempo a olhar para dentro do seu clube e menos para fora já o teria percebido.

- Jornalista “Para si se não é de Vieira de quem é a culpa?”

- JMC “Olhe ainda hoje li aqui coisas sobre o Covid. O elemento fundamental do Jorge Jesus é o treino e ele não treina. Ele agora tem 3 centrais, podia treinar os 3 centrais noutro sistema táctico mas não tem tempo para treinar. Repare bem, o Benfica jogou Quinta-Feira em Roma, chegaram a Lisboa na madrugada de Sexta, Sábado partem para Faro para jogar no Domingo. Esta calendarização está correcta? Árbitros? Querem que diga os árbitros? Mas isto é que são coisas que os benfiquistas deviam com veemência protestar.
E estes senhores não veem isto que a gente vê? É atacar o Benfica atacar o Benfica? Isto é que é ser benfiquista?”

Cá está. Se o Benfica está bem é o presidente que tem uns grandes tomates. Se o Benfica está mal a culpa é das arbitragens, da calendarização, do Covid, do azar e dos astros. O trabalho de quem dirige o clube é sempre espectacular.
E quando o Capristano diz que é sobre estas coisas que os benfiquistas deviam protestar com veemência faz-me logo lembrar os outros da BTV. Mesmo discurso.

Portanto a culpa é do Covid. Porque sim, faltou sustentar. Porque não tem sustento.
A culpa é da calendarização que não permite ao Jorge Jesus treinar uma táctica com 3 centrais. Pois bem, o Jorge Jesus não tem só 3 centrais agora. Se o Jorge Jesus quisesse treinar uma táctica com 3 centrais já o podia estar a fazer desde Julho. Se era tão crucial mais um central porque esperar pelo dia 31 de Janeiro? E o mercado de Verão? E se o treinador não tem tempo para treinar este esquema táctico como o usou contra o Arsenal? E se quer usar este esquema táctico como base, porque não o usou com o Farense? Onde está a sua lógica Sr. José Manuel Capristano?
E já que é para bater na calendarização tão absurda e incorrecta, saberá o Sr. Capristano que o Benfica não jogou em Roma sozinho? Que o seu adversário também se deslocou a Roma? Que o seu adversário também jogou Domingo mas 4 horas antes do Benfica? E que jogou não contra um Farense a lutar pela manutenção mas sim contra um City dominador no 1º lugar?

Mas lá está Sr. Capristano. É falar por falar. É fazer barulho para branquear. É nunca sustentar porque não há qualquer sustento.

 - Jornalista “ José Manuel Capristano como é que entende o facto de Vieira ainda não ter vindo dar uma explicação sobre estes maus resultados?”

- JMC “Então se o Rui Costa que é vice-presidente há 2 semanas fez declarações públicas então passado 8 dias vai o presidente falar por cima do Rui Costa? Não faz sentido”

Só para ser um pouco picuinhas, vou lembrar que nem 2 semanas são 8 dias nem o Rui Costa tinha falado há 2 semanas mas sim quase há 3.
E para descascar esta lógica da batata basta dizer que o presidente, o líder, é o Vieira e não o Rui Costa. Os vices é que não têm de falar por cima do presidente. Portanto o Vieira tinha obrigação de não andar escondido, de já ter falado fosse antes do Rui Costa, no lugar do Rui Costa ou já depois do Rui Costa.

 - JMC “Eu só chamo a atenção que está-se a pôr tudo em causa por estarmos mal no futebol. Mas eu pergunto, o Real Madrid está bem? O Barcelona está bem? Há lá convulsões como aqui? O Liverpool foi campeão o ano passado está bem? Ainda hoje perdeu 2-0 com Everton. Por amor de Deus, põe-se tudo em causa.”

Debitar cartilhas sem sequer se pensar no que se diz dá nisto.
Primeiro esta ideia de que o facto de um grande clube europeu não estar bem relativiza um mau momento do Benfica. Tudo serve para se ser acritico. Não importam contextos, não importam motivos e nem sequer importa a realidade. Importa desculpabilizar.
O Real Madrid está bem? Não. Mas não está a 15 pontos (na altura 13 pontos) da liderança. O Barcelona está bem? Está péssimo. Mas sim, há convulsões como aqui. Maiores até. Não basta falar de cor Sr. Capristano.
Sim o campeão Liverpool não está bem. Mas vamos ter em conta a razia de lesões que desde o inicio da época têm arrasado a defesa da equipa? Ou vamos só dizer que não está bem? Vamos sublinhar o facto de serem os campeões em título ou vamos ignorar isso? É que a comparação sai ao lado quando diz que o Liverpool é campeão pois o Benfica não é. Há 2 anos o Liverpool foi campeão europeu e no ano passado foi campeão inglês depois de um jejum de 29 anos. Ia o clube estar em convulsões por este ano o campeonato não estar a correr bem?

- JMC “Por isso é que sou grato, eu sei como é que o Benfica estava quando o Luís Filipe Vieira lá chegou e sei como é que o Benfica está.”

Vou só corrigir um pouco esta afirmação. O senhor não sabe como o Benfica está nem sabe como o Benfica estava quando lá chegou o Vieira, o que o senhor realmente sabe é como entregou o clube ao Vilarinho – isto sim o senhor Capristano sabe.

- JMC “Vejam o que acontece nos grandes clubes europeus, não é só no Benfica. E agora eu pergunto, o Sporting há 19 anos não ganha nada. Já tinham morrido todos. Com esta filosofia que o Benfica está mal, o Sporting esteve mal 19 anos então já tinham desparecido. Aí estão eles na ribalta agora. Tenhamos paciência, sejamos sensatos. O Benfica não pode ganhar sempre. Mesmo assim nos últimos 10 campeonatos o Benfica ganhou 5 e o Porto outros 5. Isto é muito mau? Por amor de Deus.”

Respirar mais um pouco...

Este senhor realmente recorreu ao Sporting para banalizar os nossos insucessos? Este senhor realmente usou o exemplo do Sporting que ficou 19 anos sem ganhar nada para dizer aos benfiquistas que também devem ter paciência. Eu acho que ele não faz ideia sequer daquilo que diz.
Acho não. Sei que não faz. Alguém diga a este senhor que o Dias da Cunha já não é o presidente do Sporting. Alguém o informe quantos presidentes, dirigentes e treinadores caíram naquele clube nos últimos 19 anos. Alguém lhe diga que a contestação a Vieira é uma brincadeira quando comparada com aquela que o actual presidente do Sporting – Frederico Varandas – sofreu nos seus 2 anos e meio de mandato.

Pelas palavras de Capristano ficamos também a saber que a bitola deste Benfica super consolidado é dividir a meio os campeonatos com um Porto falido e intervencionado pela Uefa.

- JMC “Só para dizer o seguinte. O outsider é o Sporting. Se o Sporting tem feito a campanha do costume estaria em 4º lugar. O Benfica está a 3pts do Porto e a 2pts do Braga”.

Não diz uma coisa inteligente. Não diz uma coisa com conteúdo. Não diz uma coisa que engrandeça o Benfica.

Ficamos então a saber que o Benfica estar 3pts do Porto e a 2pts do Braga é algo com que este senhor vive bem. Mas mais engraçado é fazerem-se estas contas ao campeonato tirando pontos a quem o lidera. O Sporting não devia contar para esta discussão porque está a fazer demasiados pontos. Não é que o Benfica devesse fazer muitos mais pontos, os pontos do líder do campeonato é que não deviam ser considerados.

- Vasco Mendonça “Eu tenho a sensação que se ficarmos aqui mais 2 ou 3 horas com o Sr. Capristano nós vamos descobrir que também perdemos o Penta por causa da Covid-19, eventualmente vamos descobrir que a primeira variante do vírus não apareceu na China mas em Portugal aqui há uns anos. Ou que se calhar foi por isso que fizemos repetidamente figuras tristes contra o FC Porto nos últimos anos.”

- Jornalista “Quer responder a Vasco Mendonça?”

- JMC “Não vale a pena. Ele acusa as pessoas inclusivamente está-me a chamar atrasado mental. Quando diz que eu penso que a Covid não vem da China e que começou em Portugal... Não vale a pena. O sr. Vasco Mendonça defende a sua dama e eu tenho o direito de defender outra dama.”

E agora vem a vitimização. O usual também. A parva da vitimização.

Mas só quero lembrar ao sr. Capristano que não é suposto andarem a defender damas mas sim o Sport Lisboa e Benfica. O suposto não é benfiquistas andarem a defender os seus presidentes mas sim o seu clube. Mas o Sr. Capristano não sabe fazer essa distinção.

- JMC “Deviam dizer é aquilo que eu digo. Cuidado com as arbitragens, estamos a ser roubados”.

- VM “Esses boletins informativos do Carlos Janela epa tenha paciência. Eu conheço isso tudo de uma ponta à outra. Recebi o boletim informativo semanalmente”.

Aqui esperei ver o Capristano negar a existência da cartilha, desmentir que a segue. Mas não. Não o fez. Deixou passar.

E o José Manuel Capristano termina a sua participação a dizer ao João Malheiro:

“Não recebo lições de benfiquismo do senhor.”

Pois não sei se recebe ou não lições de benfiquismo do João Malheiro. Mas talvez devesse. Do João Malheiro ou de qualquer outro benfiquista. É que lhe falta muito benfiquismo na palavra, no pensamento, na preocupação e no comportamento.

Mas percebo. Quem andou a defender o Vale e Azevedo até este cair, fará o mesmo com o actual presidente enquanto este lhe der guarida. É que não é o benfiquismo que o move, é a atracção pelo poder instaurado.

E sendo o Capristano um perfeito exemplo do que o Vieirismo alberga, já passou da hora dos benfiquistas se questionarem se quem nos dirige se preocupa com o clube ou somente com os seus compadrios.

É que apesar de este Capristano ser único, há dezenas e dezenas de outros Capristanos por aí.




Agora Sobre Faro

 Mais uma desilusão a juntar a tantas outras. Não é que o Benfica tenha sido inferior ao Farense (nem nunca poderia ser), não é que não tivéssemos tido oportunidades para vencer o jogo. Não conseguimos simplesmente é ser de tal forma superiores que não só vencemos o jogo como o vencemos sem contestação possível.


Por vezes ganham-se jogos jogando-se ligeiramente mais que o adversário. Por vezes ganham-se jogas jogando-se menos que o adversário. Mas sequências vitórias não se conseguem nesse limiar. Campeonatos não se ganham se não formos consecutivamente muito superiores aos adversários.

E assim saímos de Faro com um 0-0. Um jogo onde fomos melhores e podíamos ter vencido. Um jogo onde não fomos claramente superiores e poderíamos ter perdido.

Com bola este é um Benfica completamente sem identidade, sem criatividade ou imaginação. Continua a ser. Jogadores como o Pizzi, o Waldschmidt,o Pedrinho e o Chiquinho, continuam sem grande espaço nesta equipa. Logo os homens do espaço – aqueles que o criam, exploram e o fazem render.
Ao invés disso o Benfica faz depender todo o seu jogo ofensivo da individualidade de Taarabt e Rafa. O marroquino desgastado – física e mentalmente – pelas suas tarefas defensivas, vê-se obrigado a ser a mente esclarecedora para conduzir bola até ao ataque e definir o último passe. O português entre os piques defensivos, tem a responsabilidade de sozinho guiar a bola até à zona de finalização, falhando constantemente na finalização e acabando sempre por desaparecer do jogo com o passar dos minutos.
Jorge Jesus insiste no Everton, um talento que o treinador não está a saber rentabilizar, um jogador presentemente com pouca produção e claramente a movimentar-se por terrenos que o afastam do seu melhor.
Jorge Jesus insiste na dupla de pontas de lança Seferovic/Darwin. Não funciona, não traz qualidade ao jogo da equipa e é facilmente controlada. Darwin continua em sub-rendimento e também aqui Jorge Jesus está a falhar no treino e compreensão do jogador.

Mas o que mais me desiludiu em Faro foi mesmo o jogo sem bola da equipa.

Num texto publicado no dia 20 de Fevereiro elogiei a evolução que se via no jogo colectivo da equipa em termos defensivos. Notava-se um melhor posicionamento dos jogadores quando a equipa actuava sem bola, surgindo um colectivo mais equilibrado.

https://www.facebook.com/OntemViTeNoEstadioDaLuz/posts/3680806155321194

Isso não se viu neste jogo. A alteração de laterais – logo quebra do processo – não ajudou. Mas principalmente o que ficou evidente foi o quanto o equilíbrio da equipa neste momento está dependente da presença e posicionamento do alemão Julian Weigl.

Sem ele em Moreira de Cónegos a equipa esteve mais perto de perder do que de vencer. Sem ele em Faro o meio-campo esteve em constante desequilíbrio e os jogadores do Farense foram diversas vezes encontrando o espaço que procuravam para tentarem criar jogadas de ataque.

Weigl foi durante largos meses contestado. Basicamente todo o ano de 2020. Era ele a causa de o Benfica ter perdido o título 2019/20. Era ele um dos principais nomes para se vender em Janeiro deste ano.

Se hoje algo de positivo temos no nosso Futebol é a afirmação de Weigl.

De incompreendido passou a crucial. Um dos grandes problemas do planeamento desta época está mesmo no facto de não haver cobertura ao alemão – por onde andais Florentino?

Contudo, supostamente “Se o Matic não jogar... joga o Manel”.
E por isso também me desilude Jorge Jesus - sabe e é capaz de fazer muito melhor.

Jorge Jesus tem de provar já o seu valor. Com olho no Rúben Amorim tem de se manter na luta com o Sérgio Conceição e o Carlos Carvalhal. Caso contrário o seu arrasar será somente uma disputa com o Pepa.



sábado, 20 de fevereiro de 2021

Jorge Jesus e o Jogo sem Bola

 

Esta sempre foi uma das principais características do treino de Jorge Jesus. Foi na qualidade do jogo sem bola, tão mal trabalhado no Brasil, que Jorge Jesus se começou a destacar no Rio de Janeiro. Foi a qualidade do jogo sem bola que tanto marcou o Benfica de Jorge Jesus de outros tempos.

Equipa sem bola - capacidade de pressionar com as linhas mais próximas e principalmente qualidade de posicionamento.
Na sua primeira passagem pelo Benfica uma das marcas de Jorge Jesus era defender bem com poucos. Isto acontecia porque todos os jogadores sabiam como se posicionar tanto no momento ofensivo como no momento defensivo. Havia um conhecimento colectivo de como cada um se devia posicionar e movimentar nas mais variadas fases do jogo e com isso surgiam sempre compensações tacticamente perfeitas entre os vários jogadores.
A equipa jogava equilibrada mesmo no próprio desequilíbrio do seu jogo.

Este jogo sem bola e este aprimorado posicionamento defensivo é algo que tem faltado ao Futebol do Benfica desde Julho de 2015. Esta era a primeira e principal evolução que esperava ver neste novo Benfica de Jorge Jesus. E durante meses andei bastante decepcionado.

Se recuarmos até Agosto Iremos deparar-nos com alguns sinais positivos.
Depois de todos aqueles jogos-treino longe do olhar dos adeptos, de onde nos chegavam vários relatos sobre uma quase violenta pressão sobre os posicionamentos de Rúben Dias, vieram os amigáveis na Luz contra o Bournemouth, Braga e Rennes.

Nessa altura fiquei com excelentes perspetivas para esta época do Benfica. A espaços foi possível ver uma boa pressão sobre o adversário, uma defesa sempre bem posicionada com a linha de fora-de-jogo controlada e uma equipa totalmente equilibrada a jogar com 10. Eram sinais já de grandes melhorias face ao que tinha ocorrido nas temporadas anteriores.

Mas a verdade é que este momento de maior esperança não teve grande seguimento. Durante toda a primeira metade da época não voltámos a ser uma equipa bem posicionada defensivamente e nem forte no jogo sem bola.

É preciso aqui realçar o duro golpe que foi a saída do Rúben Dias. O central era já a voz de comando daquela defesa, foi o principal foco de evolução na pré-época com o Jorge Jesus e quando saiu chegou um Otamendi trapalhão e completamente alheio ao processo defensivo.

Qual é a boa noticia no meio disto tudo? Qual a boa noticia mesmo em jogos menos conseguidos e em resultados menos satisfatórios como foram o de Moreira de Cónegos e o de Roma (contra o Arsenal)? A equipa defensivamente está muito mais compacta do que estava até ao inicio deste mês.

Isto reflecte-se na subida de rendimento tanto do Otamendi como do Verthongen. Reflecte-se na exibição de Moreira de Cónegos onde durante quase 70 minutos a equipa jogou em total equilíbrio não dando espaço ao Moreirense para atacar. Reflecte-se na exibição com o Arsenal onde quase todo o jogo a equipa esteve sempre muito activa na limitação do espaço onde o adversário poderia progredir e criar.

A equipa continua muito limitada na qualidade com bola, no processo ofensivo e capacidade de criar desequilíbrios nas defesas adversárias.
Mas nota-se uma clara evolução defensiva no nosso processo de jogo.

Infelizmente em Moreira de Cónegos esta evolução exigiu um maior condicionamento dos movimentos dos laterais, o que nos roubou (na primeira parte) capacidade de dar profundidade aos corredores. Além disso a saída do Weigl acabou com todo o equilíbrio da equipa.
E infelizmente em Roma esse equilíbrio exigiu uma adaptação táctica para 3 centrais e também a um quase abdicar de atacar.

(Nada contra a jogar com 3 centrais, contudo na Liga Europa foi uma excepção de cariz unicamente defensivo)

Há uma evolução na equipa. Espero vê-la ainda mais consistente agora no jogo com o Farense e acompanhada por uma melhor capacidade da equipa em ter bola e criar jogadas de perigo ofensivo.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Desconecta BTV

 

Ontem de madrugada acordei meio atordoado. Alheio às horas liguei a televisão sem saber bem com que intenção.

Não eram ainda 4 da manhã e o Benfica tinha jogado com o Famalicão no inicio da noite do dia anterior. A verdade é que aquela segunda parte deixou-me deprimido e assim que acabou o jogo afundei-me no Youtube até adormecer.

Por isso quando ligo a televisão esta encandeia-me com BTV. Estava a dar o programa Chama Imensa.

Apesar da vitória o Benfica vinha de uma sequência de maus resultados, pouco futebol, eliminação da Taça da Liga e com uma desvantagem de 11pts para a liderança do campeonato. Apesar da vitória frente ao Famalicão, este foi mais um jogo pouco conseguido: bom arranque com dois golos logo a abrir, depois 30 minutos a controlar os espaços e por fim 45 minutos a ver jogar.

Assim deixei-me a ouvir o que na BTV, perante o contexto actual do nosso futebol, se estaria a dizer.

No momento deu-me um impulso imenso de vir aqui desabafar mas... 4 da manhã. E apesar das 36 horas já passadas, não tenho como não soltar aquela experiência aqui em palavras.

Apanhei o finalzinho da intervenção de um João Diogo onde falou do Porto, de arbitragens e de penalties. Deu-me logo um nó.

De seguida o jornalista da BTV passa a palavra para um tal de António Bernardo, perguntando-lhe se sobre o Porto e a arbitragem tinha algo a dizer. Depois de nos fazer saber que também o António Rola já tinha estado minuciosamente a falar do Porto e de arbitragens e que concorda totalmente tanto com o Rola como com o João Diogo, o António Bernardo afirma que quer falar de “outras coisas que eu acho que posso acrescentar... E posso já relembrar aqui 3 ou 4 situações que me andam a preocupar”.

Pensei eu, ingénuo, que estando o assunto arbitragem arrumado, agora iriam falar sobre os jogos do Benfica, as dificuldades que temos tido, as melhores e/ou piores exibições de alguns jogadores, sistemas tácticos, reforços... algo assim.

Não. Começou a falar do Pedro Mantorras. Sim. “Relativamente ao Porto tenho uma coisa a dizer, eu estava no Benfica em 2002-03 quando o Pedro Mantorras era um mártir a levar pancada”. Epa o que esta malta faz para não ter de falar de Futebol.

Portanto as 4 coisas a que este António Bernardo andavam a preocupar eram:

1 – Arbitragens
2 – Imprensa toda dominada pelo Porto e pelo Sporting
3 – Unilabs, se mudaram de laboratório e se é verdade que os jogadores do Benfica tiveram mesmo Covid.
4 – “Caso” Palhinha e ter juízes amigos.

E termina a dizer “Isto é que são coisas importantes a debater no Futebol e no Desporto em termos gerais”.

Exacto. São estas merdas de novelinhas e de choros que é crucial debater no Desporto.

Já estava eu meio em dúvida se estaria mesmo acordado quando aparece o José Marinho a falar. Questionado sobre esta época atípica onde o Paços de Ferreira surgia com tão bom desempenho, o José Marinho entra, como sempre, naquele seu mundinho onde é rei mas de coisa alguma. Fala e fala e fala, com grande autoridade, mas depois quando se espreme percebe-se que não faz ideia sobre o que diz.

O inicio da sua intervenção dava um bom número de comédia. Começou a criticar aqueles que tanto falam da importância de se ter uma boa estrutura nos clubes e a meio desta palermice lá se lembrou que é no Benfica que mais se fala nisso. Enrolou-se. Inverteu a coisa e começou a elogiar a Estrutura do Benfica.

Assunto estrutura rebobinado lá começou a falar do sucesso do Paços de Ferreira. Então salientou que aquele clube tem um sucesso constante e que isso se deve por sempre ou quase sempre escolherem acertadamente tanto os treinadores como os jogadores. E enquanto o Marinho debitava eu juro que pensei que ele estava era a falar do Rio Ave.

Então avança relembrando que a actual posição do Paços de Ferreira não é surpreendente porque “por exemplo” há uns anos com o Paulo Fonseca tinham conseguido apurar-se para uma pré-eliminatória da Liga Europa. Insiste que para o Paços esta não está a ser uma época atípica porque nos últimos anos têm-nos habituado a andar lá em cima e sempre com boas equipas. É o que dar falar de cor caro José Marinho.

Para começar é esquecer o “por exemplo” porque a referida época é uma exepção e não somente um dos possíveis exemplos. E depois é elucidar que o apuramento foi mesmo para o Play-Off da Liga dos Campeões.

Sim, em 2012-2013 o Paulo Fonseca conduziu o Paços de Ferreira a um excelente 3º lugar.
Desde então disputaram-se mais 7 campeonatos o Paços classificou-se em:

16º


13º
17º - Despromoção
1º - Promoção
13º

E atenção, todo o respeito pelo Paços de Ferreira. Contudo dizer que nos últimos anos estar em 5º lugar não é atípico para o Paços quando nos últimos 7 anos só duas vezes ficou no Top-10 tendo mesmo sido despromovido em 2018 e tendo disputado a segunda liga em 2019...

Tão sobranceiro falou o José Marinho sobre o Paços de Ferreira conseguindo confundi-lo com o Rio Ave e mostrando deste somente saber que há uns anos era treinado pelo Paulo Fonseca e que ficou num lugar Europeu (qual não sabe) e que esta época é treinado pelo Pepa.
De resto não refere nada em especifico sobre este clube – nem treinadores, nem jogadores, nem modelo de jogo – e o que tenta falar sai tudo ao lado.

Que fraude é este José Marinho.

E que tristeza de canal tornam a BTV.

Depois desta intervenção do Marinho desliguei a televisão. Não dava para mais. A curiosidade matou mesmo gato.



domingo, 7 de fevereiro de 2021

Dupla Darwin/Seferovic, Porquê?

 

Dia 05/02/2021 o Benfica recebe o Vitória de Guimarães na Luz. O jogo vai empatado a zero para o intervalo. Deus por indicação de Jesus retira Everton do jogo e lança Darwin para atacar os últimos 45 minutos.

E eu pergunto “Porquê?”

A época de 2009/10 foi o ano de grande afirmação de Jorge Jesus. É um ano que está marcado para sempre no Benfiquismo.

Desde a adaptação de categórica do Fábio Coentrão a lateral esquerdo à explosão de Di Maria como um mágico de classe mundial. Desde a afirmação do miúdo David Luiz ao lado do Luisão até à detonação de golos do pé esquerdo de Tacuara Cardozo.
E também trouxe ao nosso dialecto a posição 9,5 – um jogador de ataque que ocuparia o espaço entre o ponta de lança e o médio criativo. Esse ano era Javier Saviola que brilhava com essa camisola – entre o “9” de Cardozo e o 10 de Aimar.

Assim Jorge Jesus brilhava com um ataque construído por um ponta de lança e um atacante mais solto em terrenos interiores na procura do espaço.

Posteriormente as duas duplas de ataque que mais sucesso tiveram com Jorge Jesus foram:

2013/14 – Rodrigo e Lima

2014/15 – Jonas e Lima

É perceptivel que nenhuma destas duplas apresenta um ponta de lança. Jogadores de ataque mais móveis, de futebol de apoios e combinações.

No primeiro caso temos Rodrigo a explorar mais a profundidade e Lima a procurar os espaços para jogar e fazer jogar.
No segundo caso voltamos a ter Lima mas desta vez apoiado por Jonas que junta a sua veia goleadora ao seu posicionamento como 10 enquanto o cérebro do ataque encarnado.

Mais recentemente temos o grande sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Brilhando na América do Sul com um médio de maior contenção, um 8 com mais chegada à área, dois médios ofensivos com maior jogo interior e no ataque um extremo bem aberto à esquerda a dar aceleração aos ataques e um avançado a descair na direita.

Neste Flamengo Jorge Jesus actuava só com um avançado, um avançado móvel a explorar o corredor direito e a abrir espaço para a progressão dos médios.

Na presente temporada desde cedo se percebeu que Jorge Jesus iria querer actuar com um ponta de lança. Não contando com Vinícius – que parecia desligado do futebol que Jorge Jesus pretendia para a equipa – Seferovic apareceu como a solução até ser contratado um novo avançado para o plantel. Veio Darwin, um avançado poderoso, com boa presença na área e capaz de procurar a profundidade do ataque. Apesar do uruguaio não ser um atacante de associação, tem um fantástico sentido colectivo.

Por tudo o que foi visto na pré-temporada e no arranque da época, uma bela discussão no seio benfiquista era sobre quem seria o 9,5 de Jorge Jesus, qual seria o jogador que iria apoiar Darwin alternando entre a ocupação dos espaços entre os médios e o atacante com as chegadas à zona de finalização. Havia o recém-contractado Luca Waldschmidt que cedo mostrou uma incrível ligação com o uruguaio, mas também a possibilidade de Rafa, Pizzi e do Pedrinho.

E daí o meu “Porquê?”

Na Grécia jogámos com Seferovic apoiado por Pedrinho. Dominámos o primeiro tempo com um grande preenchimento do espaço interior faltando só um melhor entendimento – primeiro jogo da época – entre os jogadores para se criarem mais oportunidades de golo. Na segunda-parte o PAOK procurou adaptar-se melhor, equilibrou o jogo e com 30 minutos para jogar os gregos chegarem ao golo. Um bom Benfica com 30 minutos para fazer o empate e Jorge Jesus decidiu quebrar a identidade da equipa. Sai Pedrinho e entra Darwin. Nasce a dupla de ataque Seferovic/Darwin e o futebol da equipa morreu ali.

Assim nasceu o meu primeiro “Porquê?”

Temos uma primeira metade de época na qual o arranque deixou vários sinais prometedores mas que se foram dissipando ao longo dos jogos, ficando a ideia que perante um insucesso Jorge Jesus abdicava da identidade de jogo que andava a ser construída.

O arranque da dupla Luca/Darwin foi fortíssimo. Com algumas exepções onde o JJ tentou ganhar os jogos retirando o 9,5 e lançando outro 9, foi esta dupla que foi dando frutos no ataque do Benfica. Mas quando a coisa descambou no Bessa, pareceu cada vez mais evaporar-se – para Jorge Jesus – a importância do avançado do jogo entre-linhas. Cada vez mais Jorge Jesus começou a optar pelo ataque à bruta em prol do ataque em classe.

Após a derrota na Supertaça a aposta de Jorge Jesus na dupla Darwin/Seferovic intensificou-se, fosse de inicio ou fosse para inverter resultados. Uma mudança no seu futebol e sinceramente um jogo muito menos atractivo por parte do Benfica.

Isto traz-nos ao jogo da última Sexta-Feira, na Luz, com o Vitória de Guimarães.

O Benfica começa com um ataque formado por Seferovic e Pizzi. Weigl no equilíbrio do meio-campo, Taarabt na condução pelo centro, Everton e Cervi em rotação ocupando mais os espaços interiores, Seferovic como referência ofensiva apoiado por Pizzi que ia procurando o jogo entre-linhas para abrir a defesa e o jogo. Algo muito mais parecido com aquilo que vimos Jorge Jesus a trabalhar no inicio da época.

Sim explorámos demasiado as laterais e os cruzamentos para o meu gosto e sim o trio de médios do Vitória actuou mais na contenção tentando somente retirar espaço aos 4 médios criadores do Benfica -  – Weigl, Taarabt, Everton e Pizzi. Mas depois do descalabro dos últimos jogos, soube bem ver o Benfica a surgir dominador, com boas dinâmicas, a preencher os espaços, a retirar possibilidade ao adversário de jogar e a criar várias oportunidades de golo.

Apesar do 0-0 ao intervalo não havia qualquer dúvida que aquela era a fórmula para marcar um, dois ou três golos no segundo tempo.

Então porquê?

Porque é que ao intervalo se muda totalmente a dinâmica ofensiva da equipa? Porque é que se retira um dos médios ofensivos criativos e se coloca mais um ponta de lança? Porque é que o Benfica abdica do preenchimento do jogo entre-linhas? Porque é que opta por ter mais presença na área em prejuízo da zona de criação?
O Benfica continuou superior ao Vitória? Sem dúvidas. Mas ao contrário do primeiro tempo já houve Vitória com bola e a criar algum perigo, ao contrário da primeira parte já não houve um Benfica tão dominador com bola e tão capaz de criar jogadas de finalização.

Porque é que um treinador com o histórico de Jorge Jesus anda agora a recorrer tão frequentemente a um futebol com um duplo pivôt ofensivo?

Com o Vitória, tal como na Grécia, esta substituição matou a reacção do Benfica a um resultado menos favorável.

Por isso pergunto... Porquê?




terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Balanço (muito resumido) da Época

 A arrancar o mês de Fevereiro é esta a nossa situação:


Eliminados na 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões pelo PAOK.

Medíocre fase de grupos na Liga Europa num grupo bastante acessível onde não conseguimos melhor que um 2º lugar.
Para uma espécie de redenção europeia só nos resta eliminar o Arsenal nos 16 avos-de-final.

Na supertaça fomos eliminados pelo Porto. Eliminados e inferiorizados.

Na Taça da Liga fomos eliminados nas meias-finais. Na Luz tivemos de ir às grandes penalidades para eliminarmos o Vitória e depois perdemos com o Braga em terreno neutro.

Na Taça de Portugal estamos nas meias-finais. Todo o nosso percurso foi um reflexo de muito felizes sorteios. Agora só serve ao Benfica eliminar o Estoril e conquistar a competição. Não vencer a final é um falhanço mas se nem lá chegarmos aí já será humilhação.

Na Liga Portuguesa, com 16 jornadas disputadas, temos 3 derrotas e 3 empates. Nos jogos grandes perdemos na Luz com o Braga e em Alvalade com o Sporting. Derrota com o Braga na Luz e derrota em Alvalade. O ponto alto até agora foi a vitória na jornada inaugural em Famalicão e o desempenho no Dragão que (só) nos valeu o empate.
O Porto já está a 5 pontos e o Sporting a 9.
Começa a parecer que lá para Abril vamos andar somente numa luta aguerrida com o Braga e o Vitória pelo acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Os 8 jogos grandes até hoje resultaram em 3 empates e 5 derrotas.

PAOK (f) 2-1
Rangers (c) 3-3
Braga (c) 2-3
Rangers (f) 2-2
Porto (n) 2-0
Porto (f) 1-1
Braga (n) 2-1
Sporting (f) 1-0

Isto tem de fazer envergonhar qualquer que esteja no nosso clube. E hoje o Rui Costa terá de estar severamente envergonhado com este registo patético.

A toda esta questão mais resultadista junta-se um conjunto vasto de exibições colectivas muito pobres. A equipa joga muito pouco e os jogadores andam a exibir-se muito aquém do seu potencial.

Não me importa a fanfarronice de Jorge Jesus – neste momento isso é-me totalmente indiferente. Jogar o triplo? Arrasar? Abafo ao Porto? É-me indiferente.
Importa-me o rendimento da equipa. E eu, mesmo eu que sempre tive um pé atrás com JJ e que não desejava o seu regresso, esperava – acreditava – em desempenhos colectivos e individuais muito melhores.
Jorge Jesus é melhor que isto e sabe fazer muito melhor que isto. Até agora uma profunda desilusão.

Mas há algo que nunca poderemos esquecer: o regresso de Jorge Jesus foi somente o confirmar do término do “projecto” de Luís Filipe Vieira.

Quando Vieira decidiu voltar a contractar Jorge Jesus foi o seu reconhecer daquilo que já todos sabemos há muito: Vieira não faz ideia como gerir o Futebol do Sport Lisboa e Benfica. Este presidente já está fora-de-prazo e a continuidade da sua Direcção é um crescente bolor e podridão no nosso clube.

Faltam 3 dias para o próximo jogo – recepção ao Vitória. Terei tempo para ir aqui partilhando com mais detalhe a minha visão de  tudo o que tem sido esta época até ao momento.

(E se uma imagem vale mais que mil palavras então cá segue esta – Vieira apoiado a Jorge Jesus na esperança que este o salve e lá atrás o Benfica de luto)