quinta-feira, 24 de maio de 2018

Luís Castro



Luís Castro em Guimarães é uma combinação óptima que poderá significar um  Vitória a lutar pelos primeiros lugares (tenho é pena que no Benfica não se tivesse pensado nele para substituir o professor). Luís Castro é hoje o melhor treinador do campeonato português, aquele que produz melhor futebol, que mais e melhor fala sobre o jogo. E é benfiquista.

sábado, 12 de maio de 2018

Seferovic

Confesso.

Fui daqueles que muito elogiou a contratação do Seferovic.
Fui daqueles que muito elogiou as qualidades do suiço.

Confesso.

Sou ainda daqueles que acredita na qualidade deste avançado que fomos contratar no Verão passado.

Estamos a falar de um jogador de ataque alto e forte. Contudo não estamos a falar de um monstro de área, de um matador, de um pinheiro, de um ponta de lança.

Estamos a falar de um avançado que gosta de jogar em apoios, tabelar, pensar o jogo, participar na construção. Também marca mas acima de tudo integra o processo ofensivo de contrução do golo.

É alto mas tem técnica e procura a bola e a tabela em qualquer zona do campo.
Marca golos mas principalmente participa neles.

Não faz uma dupla tão compatível e mortífera com o Jonas como fazia o Mitroglou mas também fazia funcionar aquele 4-4-2 de inicio da época. A sua presença não só permitia maior liberdade de movimentos ao Jonas como este tem também a capacidade de respeitar e perceber as ingressões do génio brasileiro.

Um avançado forte de futebol apoiado, o contrário do avançado de futebol vertical e vertiginoso que é o Raúl Jimenez.

Depois de um bom arranque o suiço teve sentar. E a opção é mais que compreensível.

Naquele 4-4-2 a equipa defendia muito mal. Qualquer adversário facilmente quebrava o nosso meio-campo e criava desequilibrios na nossa defesa.
E o Rui Vitória conseguiu perceber que mudar os defesas não mudava isso. O problema era outro. Era a qualidade do jogo defensivo. Do processo. Do treino.

A solução foi reforçar o meio-campo com mais um jogador. Meter ali mais gente para tentar compensar o fraco processo defensivo.

Percebeu-se rapidamente que foi uma decisão de desespero e não algo previamente trabalhado. Tanto que andámos jogos nas experiências a tentar descobrir quem poderia ali encaixar. O primeiro que se afirmou foi um médio que pouco tinha jogado e que nem na lista da Champions tinha entrado. Com a sua lesão vieram outras experiência.
Acabou por se afirmar um extremo que passava muito do seu tempo pela bancada. E este afirmou-se não por aquilo que dava à coesão do meio-campo mas sim pelo que a sua qualidade individual dava ao jogo.

Sem bola as fragilidades mantiveram-se. Com bola o sérvio faz a diferença. É o talento natural dele.

Com o 4-3-3 foi só natural que o Seferovic tivesse sentado. O que não é compreensível é que tivesse sido queimado.

No plantel do Benfica é o substituto directo do Jonas e também a melhor opção para no decorrer de um jogo entrar para o lado deste.

Necessitando de marcar, jogando contra uma equipa muito fechada defensivamente, o suiço é o jogador ideal para regressarmos ao 4-4-2. É uma mudança táctica que coloca maior presença na área, que abre mais buracos na defesa adversária e que não altera o estilo de jogo da equipa. É a alteração mais coerente.

Mas não só o Seferovic deixou de ser a primeira opção para o 4-4-2 como também nunca foi visto como o substituto do Jonas (fosse para o 10 descansar ou fosse para aguentar a posição enquanto esse não regressasse da sua lesão).

A opção do Rui Vitória foi lógica com a forma como o treinador vê o futebol. Pontapé para a frente. Kick and Rush.

Com meia hora para jogar e a precisar de marcar, o professor sempre optou pela opção desesperada. Por quebrar a equipa e passar a jogar para o chuveirinho. Sempre optou por abdicar da fase de contrução e incentivar o Varela e defesas a bombear a bola para o ataque.

A ideia é meter o Raúl a correr feito louco, a ganhar bolas no ar e a criar desequilibrios na defesa adversária pela conquista de segundas bolas.
Se não resultasse então lá vinha o queimado - o Seferovic. Com 5 ou 10 minutos entrava para ser mais um a ganhar no jogo aéreo.

O Rui Vitória utiliza o suiço da mesma forma como utilizaria o Karadas. É alto? É forte? É avançado? Entra para a presença na área e jogo aéreo.

Contudo o futebol deste avançado não é compatível com essas ideias. Por isso é que andava andava pelas linhas a efectuar os cruzamento em vez de estar na área a recebê-los.

Assim se queima um jogador.

O Jonas é craque mas dá ao jogo do Benfica muito mais do que a sua capacidade técnica. A sua principal qualidade no nosso ataque é a de fazer a ligação com os variados sectores de ataque. Sem Jonas e com o Raúl muda-se dramaticamente o contexto de jogo. E é impensável que a lesão de um avançado mude tão drasticamente as ideias de jogo de uma equipa.

Um encurta linhas, outro estica o jogo. Um joga de costas e outro joga de frente para a baliza. Um progride em apoios e o outro em velocidade.

Daí a titularidade do suíço fazer muito mais sentido que a do mexicano. Não pela qualidade individual dos jogadores mas sim pelas suas caracteristicas. 

Confesso.

Ainda espero ver mais jogos deste suiço.


terça-feira, 8 de maio de 2018

Parabéns ao Futebol Clube do Porto e aos portistas



A frase do título deveria ser de simples compreensão: um sócio do Benfica endereça os Parabéns ao clube rival (não o clube inimigo, não o clube que odeia; o clube rival) que acabou de vencer o Campeonato Nacional e, por consequência, aos seus adeptos. Porém, em 2018 o futebol é uma coisa estranha, um verme bizarro, uma comunidade maioritariamente composta por broncos. Gente que confunde os clubes com quem os preside.

O Futebol Clube do Porto é um clube histórico e centenário, não é unicamente o corrupto do seu Presidente, como o Sport Lisboa e Benfica é um clube glorioso e centenário, não é o ilegítimo do seu Presidente. Entendamo-nos: estes Parabéns nada têm que ver com Pinto da Costa ou Vieira, nada têm que ver com a franja de adeptos que sofrem de atraso mental, paranóias da perseguição, ódio por outros clubes ou um sentimento de vacuidade existencial que os faz olhar para o futebol como a salvação possível de uma vida inevitavelmente perdida.

Estes Parabéns seguem para a instituição da cidade invicta e para todos os seus adeptos que valem a pena - entre os quais alguns amigos meus. No meu futebol e na minha alma as coisas estão muito bem separadas. E, mesmo não gostando do tipo de jogo apresentado pela equipa de Sérgio Conceição, não posso deixar de reconhecer quem foi mais consistente, corajoso e coerente ao longo da época.

Na verdade, tudo isto é muito simples. Menos para quem, em vez de olhar para a Lua, olha para o dedo.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Um dia triste na vida do sportinguista Martim Telles Pereyra



O adepto sportinguista - chamemos-lhe Martim Telles Pereyra - estava feliz naquele Domingo: reunião familiar no Dia da Mãe, primalhada e irmãos, pais e tios, avôs, sobrinhos e netos todos juntos. Além disso, no dia anterior o seu Sporting havia vencido o Nacional por 2-0, garantindo o belíssimo terceiro lugar e ainda mantendo acesa a ligeira luzinha do segundo lugar. A acontecer, seria uma loucura, claro, e a confirmação de que com Bruno de Carvalho o Sporting estava mesmo de volta.

Entre idas furtivas à cozinha, assaltando doces, bolos, queijos, fumados, pães e demais iguarias que, em cima do bordado da avó Constança, apelavam ao mais animalesco dos sentidos - embora Martim comesse sempre, como lhe ensinaram em criança, de boca fechada e de mãozinha em concha em frente aos lábios -, na sala ia acompanhando com os primos as incidências do Vitória-Porto.

Um jogo bastante chato, tanto pelo futebol praticado como pelos nomes dos intervenientes. Martim gostava era de ver ou o Sporting - para vibrar com o Tanaka! - ou o Benfica - para insultar pela televisão o árbitro, demonstrando assim aos outros familiares que ele era mesmo anti-lampião. Dizia mesmo: «galinha» e usava, em vez do nome do clube, outro nome mais bem aceite entra as suas gentes: «Carnide». Adorava ver os olhos de aceitação do Tio Tó Vaz de Britto sempre que dizia «Carnide». As pessoas lá em casa até parecia que ficavam mais felizes, que se alegravam mais, que se tornavam mais simpáticas e acolhedoras sempre que Martim dizia «Carnide». Depois repetia muito, galhofeiro, que Martim, apesar da boa-educação que lhe deram, também sabe ser popular e dizer umas larachas mais ordinarecas.
O jogo é que de facto não valia grande coisa. Não dava para odiar o clube que estava a jogar; isso, parecendo que não, tirava bastante interesse à tarde desportiva. O Carnide, esse, tinha despachado o Gil Vicente em Barcelos por 5-0. Claro, com dois ou três penalties por assinalar contra as «galinhas do Carnide» e uma arbitragem que, ao nível do critério disciplinar, deixou muito a desejar.

Esta última frase Martim havia ouvido à prima Kikas Meirelles, uma vez em Alvalade. Martim gostou do tom daquilo: «ao nível do critério disciplinar deixou muito a desejar» e passou a usar ele próprio como se tivesse sido ele a inventar a frase. Depois adaptava, consoante os jogos. Nos do Carnide, deixava sempre, ao nível disciplinar, a desejar a favor do Carnide; nos do seu Sporting, ao nível disciplinar o Sporting ficava sempre a desejar que não o roubassem tanto. Era uma fórmula que tinha para explicar os empates e derrotas que via acontecerem ao seu clube e as consecutivas vitórias do outro clube rival, o das galinhas de Carnide.

A certa altura, há um jogador do Porto que com o braço ajeita a bola. Martim teve um instinto estranho: virou-se logo para outro lado e começou a falar com o primo Chico Menezes da Silveira, mas o primo Chico, que já estava bêbado, não tirava os olhos da televisão: «Isso não é nada, siga!». Martim teve curiosidade em rever o lance. Aproveitou a única repetição que a Sport TV mostrou do mesmo e, para dentro - para fora, não!, que ainda alguém lhe dava uma educada reprimenda! -, percebeu: foi penálti. Depois lembrou-se de que, apesar de não odiar o Porto, também não gostava lá muito que eles fossem beneficiados.

Passados uns minutos, já no intervalo do jogo, pensou ainda mais profundamente naquilo: aquele penálti beneficiava o Porto e prejudicava o Sporting. O que era estranho era o silêncio naquela casa sobre um lance que, se tivesse sido na área do Benfica, teria dado para ver rissóis de camarão contra os quadros da Maluda, as empadas e os croquetes atirados da janela para a Marginal, as garrafas de vinho teriam caído sobre os panos e as mantinhas da Vó Mimi e a gritaria teria sido insuportável sobre os ouvidos de Martim, que já por várias vezes teve de levar com os mais indecorosos insultos por não ser ele próprio insultuoso contra os de Carnide.
A mãe dizia-lhe sempre: «ó filho, quando for para insultar essa gente, não se acanhe, tire a barriguinha de misérias», mas Martim mantinha ainda a inocência daqueles que acham que as pessoas devem ser um bocadinho civilizadas, apesar de tudo e dos cortes de cabelo a que o obrigavam desde que havia nascido.

No final do jogo, na sala bateram-se algumas palmas pelo golo do Jackson. Martim não percebeu aquilo ou se calhar não quis perceber e foi para o computador escrever sobre o assunto no seu blogue - Martim é moderno e tem um blogue sobre o Sporting que abriu quando Bruno de Carvalho chegou ao poder. No mesmo, está sempre a fazer posts de apoio!, de incentivo!, a dar moral!, a dar força aos leões! Martim considera que a internet serve para apoiar os seus jogadores, técnicos e dirigentes e para dizer mal do Carnide.

Mas ontem Martim queria era dizer mal do penálti que ficou por marcar e desses dois pontos que podiam ter aproximado o seu Sporting do Porto. Já tinha até escrito uma piadola com «colinho» mas desta vez relacionado com os portistas e fazendo uma alusão a uma outra simbologia mais traseira que o Presidente do Sporting havia feito uns meses atrás. Nádegas, isto e aquilo, colinho para as nádegas. Uma coisa muito gira que infelizmente não pôde ser publicada porque o Pai do Martim apareceu e leu o que ali estava escrito. Levou uma bolachada certeira e ainda a promessa: «se voltas a defender os lampiões, nunca mais te levo a Alvalade!».

Martim compreendeu então que era de um clube cuja maioria de adeptos odiava mais outro clube do que amava o seu próprio. Ontem, Dia da Mãe, foi um dia triste para Martim Telles Pereyra.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A lição que o professor não aprendeu



Rui Vitória não percebeu nada do que se passou nos últimos 3 anos - por isso estas ridículas recentes conferências de imprensa (que ainda eram o melhorzinho que ele tinha como... treinador de futebol). Gaba-se de títulos que são sobretudo da responsabilidade de uma série de grandes jogadores que o Benfica foi tendo e da desorganização dos rivais.

No ano em que Vieira decide dar o título ao Porto, entregando-lhe um plantel com grandes talentos do meio-campo para a frente (quase todos desaproveitados pelo professor) mas totalmente desequilibrado atrás, o pecúlio do homem que acredita que voltas à rotunda antes do jogo são fundamentais para o resultado final do mesmo foi este:

- afastado da Taça de Portugal em Dezembro pelo Rio Ave;
- afastado da Taça da Liga em Dezembro num grupo com Portimonense, Vitória de Setúbal e Braga;
- afastado da Champions League em Novembro num grupo com Basileia, CSKA e Manchester United - 0 pontos em 6 jogos, 0-5 com o Basileia (0-7 nos dois jogos), 1-14 em todos os jogos. A mais vergonhosa época europeia da História do Benfica.
- a lutar apenas pelo Campeonato desde Dezembro, consegue perdê-lo na Luz contra um Porto medíocre num jogo em que, além da falta de qualidade colectiva que é a imagem de marca das suas equipas, decide acrescentar mudanças vindas do banco de nível inferior a Luís Campas  (que, já agora, parece estar próximo de ingressar no Benfica - que dupla seria um Professor Vitória-Campas).

O adeus ao Penta, o sonho da Nação Gloriosa - por evidentes incompetência e mediocridade da Direcção e do treinador, respectivamente - parece, no entanto, não angustiar o homem para o qual o melhor álbum de sempre é o Aqualung dos Jethro Tull, o melhor filme o Aquarius, a melhor música Águas de Março, o melhor perfume Acqua di Giò, o melhor jogador da Liga Inglesa o DrinkWater e a grande referência como treinador o Raúl Águas.

Não, o professor está sereno. De tal forma que, quando lhe acenam com uma proposta do deserto das arábias (era só o que faltava, ir trabalhar para um sítio com escassez de recursos hídricos!), ele revela logo o extraordinário plano que tem não para a próxima pré-época mas para a seguinte: um Hotel de luxo para meter muita água.

Porque joga o Benfica




Há quem ingenuamente pense que o Estádio da Luz é um estádio, um lugar para apoiar a equipa, ver o Benfica, esquecer os problemas do trabalho. Falso. O Estádio da Luz é essas três coisas mas é muitas mais: é uma nave espacial, é um Oceano de Sangue, um poema, uma ponte universal, um mapa.

O Estádio da Luz é um mapa que define as coordenadas de todos os benfiquistas. Uma referência na cidade. A referência da cidade. Em dia de jogo, Lisboa existe apenas para fingir que existe, que aparece, que tem coisas a acontecer. Lisboa, no dia do jogo do Benfica, serve para embelezar o Estádio da Luz. Para que os turistas não pensem que o único monumento realmente importante é aquela nave de betão com arcos vermelhos e um fumo suspeito a levantar voo do relvado e das bancadas para o céu de Lisboa.

Os benfiquistas sabem disto mas fecham-se em copas. Deixam que os demais o não percebam. Não comentam, não se descosem. Limitam-se a fazer o que lhes compete: ruminar longamente a olhar para o relógio, ligar para os outros benfiquistas, enviar cúmplices mensagens sobre o sítio no mapa aonde irão encontrar o seu lugar no mundo.

- Às cinco no Manelito?
- Combinamos na Estátua do Eusébio. Não te demores.
- Vou estar no Terceiro Anel com o Rui das Finanças.
- Almoçamos na Catedral da Cerveja?
- Olha, afinal vamos para as rulotes do lado do Cosme Damião. Desculpa só dizer agora.
- Tenho de ir à Loja comprar um tapete de rato para o meu filho.
- Depois liga. Estaremos na Adidas.
- Quando chegares ao viaduto, diz coisas.
- Antes ainda vou ver o Andebol.

Um mapa. Um mapa da cidade que é o Benfica. Que é o Estádio da Luz. E dentro do mapa, outro mapa.

- Já chegaste? Foda-se, estou no Manelito e não te vejo!
- Pá, estivemos no Eusébio meia-hora. Já entrámos.
- Não te vi mas encontrei o Rui das Finanças. Já ia bonito!
- Almoçamos mas antes tenho de ir buscar o novo cartão. 5 euros ó caralho!
- Na boa. Ainda vou no autocarro a ouvir o onze. O Jonas não joga?!?!?!
- Compra antes uma garrafa de champanhe do Benfica.
- Não te metas nisso. A Adidas em dia de jogo parece o Santuário de Fátima.
- Já cá estou. Passou agora o autocarro!
- Nós vamos ao basquetebol. Encontramo-nos lá dentro, então.

Um mapa dentro de um mapa dentro de um mapa que é o próprio adepto. O benfiquista tem um GPS natural e glorioso que o faz seguir, esteja onde estiver, em direcção ao Estádio no dia de jogo.

Acorda às 5 da manhã em Chaves, sai do trabalho na Amadora uma hora antes, fecha a loja do Montijo e põe um cartaz: “ausente por motivos de excesso de Luz”, não vê os últimos minutos daquele intenso Portimonense-Farense em escolinhas com o filho sentado no banco de suplentes, vem da Terceira em executiva horas antes do jogo, enche de farnel o Comboio do Benfica, falta a casamentos, a jantares de Natal, a despedidas de solteiro, à dissertação do amigo, ao aniversário da sogra, às votações caseiras do Festival da Canção, à missa, ao velório, ao nascimento do primeiro bebé da aldeia nos últimos 20 anos.

Porque joga o Benfica.