1) Não sei até que ponto a estrutura benfiquista entenderá o momento-chave pelo qual passamos - desportivo, estratégico e político - mas é um que poderá definir os próximos anos e o clube hegemónico para o futuro. Pelo jogo do Dragão de há uma semana atrás, penso que nem Presidente nem treinador compreenderam ainda a importância de, num campeonato no qual arrasamos os nossos rivais com 15 pontos de avanço (vejamos com quantos mais acabaremos), lhes ganhar no Porto e sobretudo os eliminar de TODAS as Taças que com eles disputarmos. Ainda nada está perdido - há segunda-mão da Taça de Portugal para dar a volta (mas já partimos em desvantagem) e meia-final de Taça da Liga no estádio do adversário (espera-se que desta a entrada no Dragão leve mística antiga às costas) -, mas nunca é desavisado alertar aquela gente, já que nem de Benfica nem de momentos-chave têm revelado perceber o suficiente para levar o clube ao sucesso.
2) As Taças em disputa não só poderão, se caírem para o nosso lado, dar sucesso desportivo e retirá-lo ao Porto, como - e isto é ainda mais importante - lançarão os dados das próximas épocas. Logo à partida, eliminando os portistas da Taça de Portugal, ficamos com grandes possibilidades de a vencer, de evitar que eles a vençam e SOBRETUDO de entrar em Agosto, no princípio da próxima época, a disputar uma competição que pode logo lançar o Benfica para uma época de conquistas desportivas ao mesmo tempo que os privamos de a disputarem - e logo uma que eles geralmente usam como alavanca para o resto do ano.
3) Mas não se trata apenas de ganhar e evitar que eles ganhem. Trata-se de recuperar uma cultura de vitória que perdemos há mais de 20 anos e que nunca mais recuperámos, enquanto os portistas - ajudados umas vezes por factores arbitrais; outras pela nossa incompetência - a ela se agarraram e construíram novos batalhões de adeptos que são as novas gerações. Já entraram numa escola da Margem Sul e perguntaram a uma turma de 20 e tal putos quantos são do Porto e quantos são do Benfica? Façam o exercício. Talvez tenham uma surpresa desagradável.
4) O Benfica será campeão e esse é sempre um momento de grande festa e regozijo, principalmente para quem acredita na equipa não só em Março mas ao longo de todos os Invernos dos últimos 30 anos, passando pelas chuvas, pelos estádios vazios, pelos Vales Azevedos, pelos Damásios, pelos Vilarinhos, pelos Vieiras e companhia. No entanto, quem acompanha este clube, quem lhe tem amor (acompanhando ou não, que nem todos podem estar sempre ou quase sempre presentes), sabe que a génese deste clube, a sua respiração, é a de vencer e depois vencer logo a seguir. Os exemplos de 2005 e 2010 mostram que o sucesso esporádico, fruto de uma fusão de alguma competência pontual com bastante incompetência alheia (só ganhamos nos maus anos do Porto, nunca num bom ano do Porto), não serve ao Benfica. Por isso, a fundamental importância de não só vencer dois ou três campeonatos consecutivos como amealhar Taças atrás de Taças - de preferência uma europeia, mas também a de Portugal, que não ganhamos há... 10 anos, naquele que é o maior período da História do Benfica sem a conquistar.
5) O Benfica tem de ganhar o Campeonato de 2014 e aproveitar essa vantagem a seu favor para vencer o de 2015, começando logo na Supertaça a estabelecer a sua superioridade. E não, como nos últimos dois campeonatos, a vir dizer que "não o devíamos ter ganhado" (2005) ou que "andámos a festejar em demasia" (2010). De tão absurdo, estas absurdas declarações revelam tudo sobre a falta de preparação, incompetência, pesporrência e ausência de cultura Benfica de quem nos (des)governa. É preciso entender que, com estes dirigentes, o clube não conseguirá dar o passo seguinte: o da hegemonia. Mais do que os adeptos cegos pelo actual Presidente, importa que a oposição - uma nova e mais competente; nada de Rangéis, Veigas, Carvalhos, etc - entenda que tem de aparecer a dar alternativas aos benfiquistas para que o Benfica possa deixar de servir os interesses pessoais de uns quantos chicos-espertos e passe a ser governado por gente benfiquista, capaz, solidária, de espírito democrático, de cultura de vitória, de conhecimento do que é o Sport Lisboa e Benfica.
6) Aproveite-se o ano mau do Porto para vencer (e tão raro tem sido vencer sob as administrações dos últimos 20 anos), para preparar os próximos anos, para compreender que um Campeonato não muda o essencial: o Benfica precisa de sangue novo. Precisa de sangue mais vermelho, de sangue à Benfica.