sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Renato Paiva




Ontem pudemos assistir a mais um recital dado pelo Mister Renato Paiva. Uma hora de bom futebol e de onde retirámos três ideias importantíssimas:
⚽️ a inserção dos jovens num novo contexto competitivo (II Liga);
⚽️ a criação de um modelo de jogo potenciador da tomada de decisão do jogador;
⚽️ a gestão de expectativas, a necessidade da experimentação de dificuldades e o exemplo do Tomás Tavares.
É um gosto poder ouvir estas pequenas aulas dadas pelo Mister. Já merecia ter dado o salto para um outro patamar, por isso temos de nos sentir uns privilegiados por ter na nossa Formação alguém tão competente e conhecedor do jogo.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Benfiquistas com Voz – Bernardo Deu o Mote


Vamos aqui todos ser directos e honestos com tudo isto.

É ou não é verdade que nos últimos 15 anos criou-se uma mentalidade acrítica no Sport Lisboa e Benfica? Parece-me um facto incontestável.

Sim há pequenos focos críticos. Há alguns espaços que promovem o pensamento critico. Mas na generalidade criou-se no Benfica a mentalidade do “apoia”.

Uma grande maioria, incluindo os dirigentes e os meios de comunicação do clube (à cabeça a BTV), fomenta uma ideia de guerra, de nós contra os outros. E assim cria-se uma realidade onde os benfiquistas devem elogiar o que é seu e denegrir o que é dos rivais. O sentido critico dos benfiquistas passa a ser exclusivo dos clubes adversários.

Perdeu-se até a noção do que significa apoiar. Apoiar o clube é ignorar e/ou defender o que de errado é feito por quem nos dirige? Ou é também apontar esses erros e exigir melhorias e mudança?

Estamos a falar de um clube do qual os adeptos sempre, mas sempre mesmo, se gabaram de ser democrático ainda quando o país vivia uma ditadura. Um clube onde os adeptos sempre gabaram a pluralidade de ideias. Um clube onde os adeptos sempre apontaram o dedo aos métodos do Pinto da Costa, incluindo os seus métodos pouco democráticos de gestão.

Mas nos últimos 15 anos tudo mudou. Parece que passámos a viver mais os programas televisivos do que o próprio clube. Importante não era o representante benfiquista analisar com qualidade a actualidade do seu clube. Não. Importante era que batesse muito no adversário, fosse com verdades ou com mentiras descaradas. Quantas vezes não nos foi dito “não deviam discutir essas coisas publicamente, é dar armas aos rivais”? Quantas vezes?

No final da época não é altura de se discutir o clube. Porquê? Porque se ganhou então devemos reconhecer o mérito. Ou então porque se perdeu e não é o momento de bater mas sim de apoiar.
O arranque da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Porque não podemos desestabilizar. Temos de apoiar para começarmos bem.
A meio da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Pelos mesmos motivos do ponto anterior. É momento de apoiar e deixar as criticas para o final da época. Mas como já se sabe... também o final da época não é o momento para debater o clube.

Sim, esta foi a mentalidade que Luís Filipe Vieira instaurou no benfiquismo.

Os adeptos não devem ser ouvidos. Os adeptos não devem ter massa critica. Os adeptos simplesmente servem para encher o estádio e dar receitas de merchadising. O papel dos adeptos é ser fonte de receita e fonte de motivação para os atletas.

Aqueles adeptos que se atreverem a pensar o clube, a se preocuparem e a discutirem o seu clube, esses adeptos não são verdadeiros adeptos.

- Anti-benfiquistas
- Dragartos
- Vale e Azevedistas
- Velhos do Restelo
- Abutres
- Garotões
- Tachistas

Etc, etc e etc.

São demasiados os episódios em que vemos quem está no clube atacar os adeptos. Os ataques na BTV, os ataques do Pedro Guerra, os ataques no Jornal O Benfica, os ataques do José Nuno Martins, os insultos do presidente do clube, as tentativas de agressão do presidente do clube, a(s) agressão(ões) do presidente do clube e os ataques de outros membros da direcção.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foram feitas alterações estatutárias que retiraram voz e poder aos sócios. Alguém se lembra de Manuel Damásio? Alguém se lembra de como ele saiu da presidência do Sport Lisboa e Benfica?

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foi criado um canal de propaganda onde sócios críticos são rebaixados e até insultados.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” o vice-presidente Nuno Gaioso sentiu-se confortável o suficiente para dizer o seguinte aos sócios em plena Assembleia-Geral do clube:

- Os vossos votos não nos interessam porque vocês não percebem nada do assunto.
- O maior activo do Benfica é o presidente Luís Filipe Vieira.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” a actual direcção do Benfica conseguiu colocar os benfiquistas a ter de pagar mais 1/3 que os rivais para assistirem aos jogos da sua equipa.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” esta direcção dirigida por Luís Filipe Vieira tentou utilizar o dinheiro do clube para garantir as suas reformas e encher os bolsos dos seus amigos e companheiros de negócios, numa OPA totalmente escandalosa – desde os motivos apresentados, aos beneficiários e ao método de financiamento.

Esta direcção comporta-se há mais de 15 anos como se o Benfica fosse deles, deles dirigentes. E não dos sócios. E os sócios permitem isso. Permitem isso porque permitem não ter voz. Permitem isso porque agem como agentes de censura desta direcção. Permitem isso porque permitem que não se discuta o clube.

Vamos ter eleições em Outubro. Ainda não começou a campanha eleitoral. E o que já vemos por esta internet fora? Propagação de mentiras, de fake news, sobre os vários candidatos. A máquina de propaganda de Vieira – Hugo Gil e companhias – já anda a montar o seu pequeno espectáculo.

Nos últimos 5 dias são as mais variadas informações com que me deparo sobre os candidatos. E quando questiono as pessoas que vejo partilhar essas informações sobre as mesmas elas nunca têm a fonte da sua informação, nunca têm o sustento. Leram por aí. Afirmam que num canal a figura X disse Y. Afirmam com convicção. Mas quando questionadas se viram tal afirmação... não viram.

E foi nisto que Vieira transformou a democracia do Benfica. Qualquer opositor irá ser enxovalhado na praça pública e quase sempre com mentiras. Irá ser insultado. Irá ser conotado ao Porto ou ao Vale e Azevedo. Serão sempre aventureiros que nunca fizeram nada pelo Benfica e agora querem vir retirar dividendos do trabalho da actual direcção.

Muitos adeptos com este discurso nem sequer se apercebem que andam tão perdidos nessa narrativa que acabam por apelar ao fim das eleições no clube, ao fim da Democracia do Benfica.

Se ninguém se deveria poder candidatar. Se ninguém poderia sequer poder criticar. Então isto é o quê?

E como sempre temos a BTV a tomar a opção de não realizar debates, de não participar no processo eleitoral.

Como é que os benfiquistas aceitam isto? Como é que se aceita que a televisão de um clube paga pelos adeptos do clube, simplesmente ignore o acto eleitoral? As eleições de um clube não são um momento crucial da sua existência? Então como pode o canal do clube se fechar às mesmas?

Chega a altura das eleições e a BTV fecha a discussão do clube. Corta um espaço de divulgação do clube. O canal do clube promove a não pluralidade de ideias, o pensamento anti-democrático, a não discussão do clube, o não viver o clube. O canal do clube fecha as portas e as janelas aos seus adeptos. Afasta os benfiquistas das decisões da vida do clube. Mais uma vez, tira voz aos benfiquistas.

Já sabemos que Vieira não debate. À imagem de Pinto da Costa. Estratégia que aprendeu com o seu mentor. Vieira só dá entrevistas, entrevistas controladas. Entrevistas bajuladoras. Entrevistas onde possa exercer o seu monólogo sem contradição. Porque Vieira não aceita o sentido critico no Benfica, não aceita ser contrariado. Vieira não aceita debater o Benfica e o seu trabalho. Mais uma vez, corta a voz, corta a discussão, corta o pensamento e a análise critica aos benfiquistas. Vieira esconde-se para não se expor. Vieira esconde-se para não colocar o seu poder em cheque.

E os benfiquistas vão continuar a aceitar isto?





domingo, 26 de julho de 2020

Candidatura de João Noronha Lopes

Foi a última candidatura a ser apresentada para as próximas eleições. E parece ser a candidatura que mais está a mexer com o apoio dos benfiquistas. 

João Noronha Lopes apresenta-se a eleições com mais vantagens que qualquer outro dos opositores à actual Direcção. 

Ainda é cedo para fazer uma apreciação mais definitiva mas por agora ressalvo as características desta candidatura que a favorecem no contexto actual: 

- Vice-presidente da Direcção de Manuel Vilarinho 

- Vários apoios mediáticos 

- Sem ligações ao actual dirigismo 

- Abordagem benfiquista e apelo ao benfiquismo 

- Experiência profissional 

- Inteligência do discurso 

- Controlo emocional 

- Insistência na vertente desportiva do clube 

- Destaque à necessidade de Credibilidade e Transparência 

- Ambição europeia 

- Abordagem à questão estatutária 

- (Re)Conhecimento de várias preocupações existentes no seio do benfiquismo 


A Candidatura de Noronha Lopes tem como primeiro grande mérito o vir afastar o fantasma Vale e Azevedo da narrativa da actual Direcção. O fantasma Vale e Azevedo, as pedras da calçada, o papel da impressora, o papel higiénico, etc, etc e etc. 

Noronha Lopes foi vice-presidente de Manuel Vilarinho. Foi Manuel Vilarinho que derrotou o Vale e Azevedo, foi a Direcção de Vilarinho que pegou no clube super-endividado, sem posse sequer sobre as pedras da calçada. Portanto Noronha Lopes é um nome mais presente e relevante nesse primeiro momento pós-Vale e Azevedo que o próprio Luís Filipe Vieira. 

Outro dos principais méritos desta candidatura é o de conseguir cativar o apoio de várias figuras públicas reconhecidamente benfiquistas. Apesar de tudo o que o que LFV fez ao longo destes anos para criar uma unanimidade pública à sua volta, a verdade é que Noronha Lopes tem conseguido apoios importantes, apoios de benfiquistas que têm voz nos meios de comunicação, que têm fãs e seguidores, apoio de personalidades que têm a sua opinião respeitada e admirada por milhares e milhares de benfiquistas. Vasco Mendonça com o Azar do Kralj e o programa Dia Seguinte, o Ricardo Araújo Pereira com os seus artigos na Visão, o programa Isto é Gozar com Quem Trabalha e o Governo Sombra e o Pedro Adão e Silva que é cronista do Expresso e comentador na SportTv. Além destes surge também por exemplo Pedro Ribeiro com a sua voz nas manhãs da Rádio Comercial e até muito recentemente no programa Mais Futebol. Entre outros que já se juntaram ou ainda se juntarão a esta candidatura. 

O mito dos paraquedistas também cai por terra com esta candidatura. Noronha Lopes tem um currículo rico, uma experiência profissional vasta e com reconhecidos méritos. As suas competências de gestão e liderança estão à vista. Não será certamente visto como um abutre ou um aventureiro. 

Por fim, na sua primeira aparição e no seu manifesto mostra um discurso cuidado, estudado e inteligente. Não ataca a Direcção de LFV à descarada, o que lhe causaria vários atritos entre muitos benfiquistas. Não. O que ele faz é tocar em muitos dos pontos negativos da actual Direcção. Fala neles e reconhecendo a sua existência, joga-os na praça pública onde os próprios benfiquistas os irão considerar e criticar. Oposição inteligente.  

Puxa pela emoção na hora de falar do sentimento benfiquista, dos feitos do passado e das ambições para o futuro, mas puxa pela racionalidade, pela ponderação, no momento de falar sobre os pecados de Luís Filipe Vieira. Com esta inteligência emocional, se a conseguir manter até ao dia das eleições, será também no debate a principal e mais séria oposição a Vieira.  

Há vários outros tópicos do seu discurso que merecem ressalva: 

- A sua posição sobre Jorge Jesus foi dos pontos mais altos. Noronha Lopes traz o seu benfiquismo à cadeira da presidência e aceita Jorge Jesus exigindo-lhe explicações. Vamos ser sinceros, com todo o lixo mediático no pós-saída do JJ do Benfica, uma palavrinha do treinador aos sócios sobre aquele momento seria muito bem vinda e possivelmente acabaria com grande parte do atrito que para já vai encontrar entre os adeptos do Sport Lisboa e Benfica.  

- Destaca a vertente desportiva como o principal foco do clube. Isto é algo que tem sido ignorado pela actual Direcção e que muito tem incomodado os benfiquistas. E na verdade é um ataque ao Benfica Negócio, ao Benfica Empresarial. O Benfica que Vieira tem criado e que tanto por aqui tem sido criticado. O foco do Benfica deverá ser conquistas desportivas e não dar lucros. O Benfica não deverá distribuir dividendos financeiros mas sim investi-los na sua actividade. O Benfica existe para competir e ganhar e não para criar fontes de receitas e alimentar todos e os mais variados negócios. 

- A abordagem ao Benfica Europeu é também mais um mix de ataque à actual Direcção e de partilha da preocupação de todos os benfiquistas. 

Algo muito positivo é não apontar a títulos europeus, até porque hoje em dia não é isso que está em causa. O Benfica Europeu não é o Benfica campeão europeu. O Benfica Europeu é o Benfica presente e com relevância na Europa do futebol. Vieira aponta à conquista da Champions mas nem consegue criar condições para um Benfica de Top-8 nesta competição.  

- Transparência e Credibilidade são dois chavões que qualquer candidato, qualquer presidente, de qualquer clube, partido político ou associação de estudantes, fala. Aqui a questão é o timing. A sua importância é intemporal mas neste momento torna-se crucial. O contexto é tudo e o contexto judicial que a Direcção de Vieira está envolvida e tem envolvido o clube é um verdadeiro escândalo à história e valores do nosso clube.  

- A questão estatutária é outro ponto muito interessante. Pode parecer uma questão menor para quem vê de fora mas para quem vive o dia a dia do clube por dentro sabe a sua relevância. As alterações estatutárias que Vieira protagonizou de forma a se eternizar no cargo são um atropelo à democracia do clube. A revisão estatutária é urgente. E Noronha Lopes, nome por quase todos desconhecido, aparece claramente conhecedor das inquietações mais profundas do benfiquismo. Portanto uma candidatura que se relaciona com as preocupações mais privadas dos benfiquistas. 

Destaco também a inteligência desta candidatura com a insistência no Agora. Isto é um claro apelo a todos os benfiquistas que se sentem obrigados a votar em Vieira por gratidão. É uma forma de criar um fim de ciclo a essa gratidão, a esse reconhecimento generalizado do trabalho da Direcção de Luís Filipe Vieira. É um dizer "Ok eles fizeram a parte deles mas agora é altura de dar um passo em frente, de começar um novo capítulo". 

Até à data tínhamos uma candidatura de alguém parte da estrutura de Luís Filipe Vieira que recentemente decidiu abrir guerra ao seu "antigo" ídolo. Tínhamos uma candidatura de Facebook, de piadas, de ideias copiadas e focada nos amigos e bajuladores da caixa de comentários, um candidato ao sabor do vento das redes sociais. E tínhamos uma candidatura por agora ainda sem qualquer relevo, de adeptos que ainda não se chegaram realmente à frente (aguardam o término da época). 

Se até ao momento via a actual Direcção a ter o seu primeiro incómodo em todo o seu reinado perante a agressividade da candidatura de Rui Gomes da Silva, com a candidatura de Noronha Lopes já acredito na possibilidade de termos umas eleições bem mais competitivas e capazes de colocar em risco o conforto da cadeira do actual presidente. 

A candidatura de Noronha Lopes faz um apelo ao romantismo das antigas glórias do Benfica, do Benfica do Ontem, um Benfica do antes de Vale e Azevedo e Luís Filipe Vieira, com projecção para o Agora. O recomeçar, o retomar Agora a paixão do benfiquismo de Ontem. 

                            Imagem relacionada

Contudo, ainda é cedo. Muito cedo. Por isso digo-vos que hoje sei em quem não vou votar. Hoje tenho o voto branco como garantido. Hoje ainda aguardo por mais desenvolvimentos para poder dar cor ao meu voto. Mas hoje estou mais feliz, mais realizado, com as novas possibilidades que vão surgindo.


quarta-feira, 10 de junho de 2020

Futebol Português - Retoma Foi Levantar a Tampa do Esgoto

O campeonato recomeçou há uma semana e antes do seu início já havia uma polémica - decisões quanto a subidas e descidas. Mas esta seria sempre uma polémica que tinha de acontecer. Esta aceita-se, é normal.

Mas o arranque do campeonato, que repito só começou há uma semana, trouxe-nos vários outros casos.

Desde a invenção que o presidente do Famalicão estaria na lista directiva do Pinto da Costa e que por isso o Famalicão ofereceria o jogo ao Porto. Não ofereceu, venceu e uma invenção é uma invenção.

A polémica com a arbitragem do jogo Famalicão - Porto. De penalties não assinalados que supostamente envergonhariam o futebol nacional pelo mundo a fora a penalties não assinalados totalmente ignorados. Isto claro, a depender da cor de quem fala. O campeonato arranca logo com fortes críticas e suspeições sobre a equipa de arbitragem.

A isso sucede-se o ataque a um autocarro de uma equipa que empatou o seu jogo. Sim. Os jogadores do Benfica obtiveram um mau resultado e por isso o autocarro em andamento foi atacado, dois jogadores foram hospitalizados e o clube viu-se obrigador a fortalecer a segurança dos atletas. Se a bola que foi ao poste tivesse entrado estava tudo bem e os rapazes das pedras estariam a lançar fogo de artificio. A juntar a isto ainda tivemos a vandalização da casa de jogadores.

Ainda se discutia isto e lá veio mais um caso, mais uma polémica. Uma investigação jornalística a expôr supostos actos ilegais ou imorais do Sport Lisboa e Benfica.  

E isso trouxe-nos várias acusações e exposições de coisas relacionados com o Futebol Clube do Porto. Aliás, nos últimos dias a minha caixa de correio electrónico parece que só recebe ataques ao Porto. Ataques vindos da própria comunicação do Benfica. Agradeço mas dispenso ser arrastado para esse lodo.

E atenção. Isto em uma semana! Depois de dois meses e meio sem futebol. Depois de uma quarentena forçado por um vírus que afectou o mundo inteiro. E isto é só aquilo que sei, é só aquilo a que fui exposto enquanto benfiquista. O pouco que tive atento às notícias e o contexto do meu facebook - sigo somente determinadas páginas e todas elas benfiquistas ou supostamente neutras.

Portanto se a isto juntarmos toda a treta que andará pelos lados dos azuis e brancos, dos verdes e brancos e de todos os outros clubes desta primeira liga... É este o esgoto que é o futebol português.

(Eu a escrever isto e o meu cão a mandar uma daquelas bufas caninas... não podia ter tido um timing mais perfeito)

A retoma do futebol nacional trouxe certamente uma multiplicidade de orgasmos pelos estúdios da CMTV. Mas o que é bom para esse canal não é bom para o Futebol. Porra, não é bom para o Desporto e nem sequer para o país.

Eu amo o meu clube, eu amo futebol. Sou desde sempre um louco por este desporto. Mas digo sem qualquer ponta de hesitação que se é para esta merda então que se suspenda o futebol português, que se limpe toda esta trampa, que se criem rigorosas medidas de protecção dos jogadores e do espectáculo e que só aí se retome a competição. E se o problema principal forem os três grandes então que se resolva esse problema.

É inaceitável que se continue a destruir um desporto, uma cultura, um belo fenômeno social, só para alguns lucrarem com os ódios alimentados.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Bruno Lage - Culpado ou Vitima

Foi notório o crescimento da crítica a Bruno Lage neste espaço. Bruno Lage é culpado dos seus erros. E não temos qualquer pudor em os apontar até porque poucos estarão mais desiludidos do que nós.

Outros pintam Bruno Lage como vítima - vítima de outros que estão hierarquicamente acima.

É verdade que o grande culpado será Luís Filipe Vieira e que Bruno Lage é também vítima da gestão do presidente dos bigodes.
Mas haverá só um culpado? Não podem haver vários e com diferentes níveis de culpa? Não podemos aceitar que alguém que faz algo positivo também pode fazer algo negativo? Uma vítima terá de ser somente vítima?

O que diferencia este espaço é o facto de não nos guiarmos por resultados - ou melhor, não mudamos de opinião consoante vento. Muitos que agora se chegam à frente para criticar Vieira esquecem-se daqueles que sempre o fizeram, sempre viram o presidente dos bigodes por aquilo que ele é. Aqui criticou-se Vieira no ano do Tri, no ano do Tetra e não só no ano do falhado Penta. A crítica à gestão do actual presidente do Sport Lisboa e Benfica nesta época foi feita em ainda em 2019 quando as árvores ainda não se despiam.

Portanto respondendo a muitos. Não, não achamos que Lage é o único e nem sequer o principal culpado em nada do que de pior se passa no nosso clube. Tem as suas culpas mas o principal responsável é o presidente bota bigodes. Agora isso nunca nos impedirá de olhar para o jogo com olhar crítico, nunca nos impedirá de avaliar o trabalho feito pela equipa técnica do Sport Lisboa e Benfica. Nunca nos impedirá de tecer opiniões sobre aquilo que mais nos apaixona a todos - o futebol jogado.

Mas numa fase em que tão justamente temos batido no Bruno Lage, é normal que menos tenhamos batido em outros mais responsáveis que ele. Cada a coisa a seu tempo - como se costuma dizer. 
Assim, antes de arrancarmos para uma sequência de doze vitórias consecutivas quero recuperar a crítica à preparação de toda esta época.

O clube factura como nunca, o clube está numa Liga dos Campeões milionária, o clube apresenta-se como campeão nacional numa Liga onde os seus rivais vivem crises institucionais e financeiras, o clube tem todas as condições para se lançar numa hegemonia nacional e numa afirmação europeia. E como é construído o plantel para estes objectivos?

Falou-se da necessidade de contratar um guarda-redes. Fosse como titular fosse como alternativa. Avançou-se para a contratação de um guardião italiano lesionado. Lá abortaram o negócio. E nada mais fizeram para suprir esta necessidade.

Há anos que o clube necessita de um lateral-direito. É óbvio e sabido. Mais uma vez nada se fez. 
Apesar do bom momento de Ferro e de Dias, sobrava ao plantel Jardel e Conti. Era crucial a contratação de um bom central. Nada. 
E por aí adiante. Na lateral esquerda Grimaldo continuou sem cobertura. No meio-campo não se foi contratar um médio com maior capacidade de desequilibrar com bola - ficando o Taarabt sozinho nesta posição. Para o ataque quase que se ignorou a saída e importância de João Félix. Aquela posição de segundo avançado, de jogador criativo, com golo e capacidade de dar criatividade a todos os espaços do ataque, foi totalmente ignorada. Em vez disso investiu-se em extremos e pontas de lança desnecessários ao plantel.

Portanto não só o real reforço do plantel foi desvalorizado como ainda se permitiu que a época arrancasse com um plantel de 30 jogadores.
E sim, tivemos Bruno Lage publicamente a comentar a necessidade de reforços que nunca chegaram e também a necessidade de trabalhar com um plantel curto - não um plantel médio de 25 jogadores e muito menos um plantel imenso de 30 jogadores.

A gestão desportiva desta época foi mais uma vez desastrosa. O foco desta gente é ter bonitos relatórios e contas, passear pela China, lançar aplicações para os sócios meterem ainda mais dinheiro no clube e preparar OPAs para amigos. O Benfica de bigode é um Benfica de negociatas e não um Benfica de sucesso desportivo. Mas um clube de futebol vive de resultados desportivos. A custo esta gente percebeu isso. Não adianta tornarem o clube numa empresa se depois não ganharem no relvado pois os verdadeiros rendimentos aparecem com o sucesso desportivo e não nos balancetes e diagramas muito bem construídos. Mas percebem tão pouco da exigência do jogo, gostam tão pouco do jogo, que aquilo que acham suficiente para se vencer claramente não o é. Uma política de serviços desportivos mínimos. É este o Bigode que paira por todos no clube.

Fica a ideia que Bruno Lage queria seguir uma determinada construção do plantel mas estrutura aka Vieira e seu bigodes seguiram por outro caminho.

Depois temos a Europa. O discurso de ambição europeia é benéfico ao ego de Vieira. É ali que vende o clube a negócios e patrocínios pelo mundo fora. É ali que ganha o calor dos adeptos. Mas que faz esta pessoa para esse sucesso? Paga a um bruxo na guiné para mexer umas folhas a ver se a coisa com alguma sorte corre bem para o nosso lado? Só se for isso mesmo.

Não existe retenção de talento. Não existe investimento forte na equipa. Existem palavras.

E depois vamos ver a abordagem a estes jogos e a equipa andou a usar... os suplentes vindos da formação. Vamos acreditar que foi Lage que decidiu que a Liga dos Campeões era a nova Taça da Liga? Algum treinador não quer mostrar o seu trabalho na Liga dos Campeões? Algum treinador quer desestabilizar um balneário ao impedir os melhores jogadores de participarem nos maiores jogos? Foi opção de Lage ou foi sugestão em forma de bigode? Os jogos da Liga dos Campões são para ganhar ou para encarar como montra para o Seixal?

E nem se aproveitou o mercado de inverno para se corrigir tudo. Valeu a contratação de Weigl que por melhor que seja duvido muito que tenha sido pedido ou sequer entendido pelo treinador.

O Sport Lisboa e Benfica não tem um verdadeiro projecto desportivo. O próprio Seixal é encarado como um mercado de negócios. É o Benfica empresarial. O Benfica das negociatas. O Benfica das construções. O Benfica de Bigode

Bruno Lage tem as suas responsabilidades na forma como treina, na forma como monta a equipa, na forma como faz substituições e na forma como pede aos seus jogadores para actuarem. Isto é somente responsabilidade de Bruno Lage.
Bruno Lage é também responsável por um dia ao acordar ter olhado ao espelho, ter olhado para a lâmina e de novo para o espelho, e ter decidido que gostava daquele bigode e que o iria deixar farfalhar toda o seu ser.

Bruno Lage falou do que queria para o plantel. Mas exigiu? Lutou por isso? Ou aceitou ser somente mais um de voz praticamente irrelevante? Lutou pelos reforços que queria ou aceitou não ter poder nenhuma na decisão?

Para mim um treinador, principalmente um treinador de um clube grande, deverá ser sempre o principal responsável pelo futebol do clube. Poderá estar envolto numa estrutura, terá de respeitar a política desportiva do clube, mas será sempre ele a utilizar a estrutura e não o contrário. Um treinador de clube grande tem de liderar e tem de se fazer ouvir. Um treinador de clube grande não pode nunca aceitar que lhe sugiram que jogadores usar ou não. Bruno Lage tem responsabilidade de comer e calar e ainda o fazer com um sorriso na cara.

E é aqui que tenho de falar de um antigo treinador do Benfica. Numa altura em que muitos dos meus colegas de escrita clamam pelo regresso de Jorge Jesus - algo que eu sou contra - a verdade é que Jorge Jesus era o líder do futebol no Benfica. Quando a estrutura lhe fragilizava o plantel ele exigia reforços que o satisfizessem. Em anos de títulos foi Jorge Jesus que assegurou que a direcção não lhe sabotava a época desportiva. Nunca comeu e calou, nunca aceitou Bigode. E isto é um treinador. Independentemente das suas competências, de todas as outras suas qualidades e defeitos, nesta vertente o Benfica teve treinador.

Mas lá está, vivemos um Benfica de bigode que só aceita quem adopta esse visual. Rui Vitória aceitou o bigode com todo o gosto. Bruno Lage achou que tinha de o adoptar.

O Bigode de Vieira cresce pela testa, infiltra-se nos poros da pele e envolve toda a massa cinzenta de quem o usa, acabando por finalmente se instalar aconchegadamente na sua espinha dorsal.

É um mal que há muitos anos vai minando o Benfica e o benfiquismo.
Hoje mina Bruna Lage que acedeu a usá-lo.


terça-feira, 3 de março de 2020

Dominó de Substituições à Lage

Há uns dias analisei o jogo com o Shakhtar e nessa análise destaquei alguns posicionamentos e individualidades que me saltaram à vista.
Algo de que não falei foram das substituições. Ponderei falar mas tinha o foco noutras situações, até porque as mexidas de Lage no decorrer de 90 minutos já têm sido motivo de vários debates.

Mas hoje terei de falar disso. É que ontem o Benfica empatou com o Moreirense na Luz e assim perdeu a liderança e o maior destaque do jogo é sem dúvidas as substituições de Bruno Lage.
Já é recorrente. Já perdemos demasiados pontos em jogos em que Bruno Lage parece simplesmente sabotar qualquer tipo de reacção da equipa.

Como é que é possível que este treinador tenha uma ideia tão arcaica do jogo? Como é que é possível que Bruno Lage, sim Bruno Lage (!!!), seja um treinador que desvaloriza de forma tão drástica a qualidade de um futebol apoiado e as vantagens da exploração do espaço interior? Como é que possível que Bruno Lage tenha sempre como solução - para jogos com resultados desfavoráveis - a largura das alas e o bombeamento de bolas para a área?

São vários jogos já a recorrer a essa “filosofia” e ontem foi miseravelmente à descarada.
Vejamos. O Benfica tem um problema no processo defensivo? Tem. Contudo o Moreirense nem estava particularmente interessado em atacar e muito menos em pressionar a nossa primeira ou segunda zona de construção. Fizemos 45 minutos onde fomos superiores. Sem brilhantismo, sem esmagar, mas fomos superiores. Taarabt a fazer um jogão nas suas incursões pelo centro do terreno, Weigl finalmente a aparecer em terrenos que lhe são mais favoráveis - portanto mais avançado e mais próximo da construção de jogo. Foi o nosso forte na primeira parte, aquilo que Taarabt, Weigl e até o Pizzi nos estavam a oferecer num futebol criativo, de apoios e de bola no pé. Fomos a zero para o intervalo. Entrámos por cima do jogo. Com o Tomás mais solto e a aparecer com maior frequência no ataque e na área adversária. Mais velocidade com bola e na decisão, maior pressão, linhas mais juntas. Foram 15 minutos de grande superioridade encarnada.

Apesar da superioridade, apesar de termos o Moreirense encostado às cordas, apesar de estar claramente a cheirar a golo encarnado na Luz, Bruno Lage, com mais de meia hora para jogar, desespera. Começa a panicar. E assim faz o que faz sempre e lança um ponta de lança para a molhada.

A opção de colocar um segundo ponta de lança em campo de forma a abrir as marcações de uma equipa tão recuada não é nenhum absurdo. O desespero é a ideia por detrás da mexida.
Tira um médio e coloca um ponta de lança fixo. Mais um homem preso entre os centrais. Com isto tira obrigatoriamente algum jogo criativo e de progressão em apoios à equipa. Com isto passa a mensagem que começou a hora do chuveirinho. E para piorar tira quem? Weigl. Portanto não só esta substituição retira um criativo do jogo entrelinhas fazendo-o recuar – Taarabt – como ainda faz sair do jogo aquele que estava a ser o principal apoio à posse.
A ter de escolher entre Samaris e Weigl, Bruno Lage escolhe Weigl. E até poderia ser uma opção de cautela defensiva – apostando em maior risco ofensivo optaria por um único médio mais agressivo sem bola. Mas Samaris tinha amarelo. Logo foi uma escolha de estilo de jogo - entre um médio de progressão em apoios pelo jogo interior e um jogador de lançamentos longos, Bruno Lage optou por um bombardeiro no meio-campo.
Este foi o primeiro passo de Bruno Lage para sabotar a vitória e a liderança encarnada. Logo depois surge o golo do Moreirense e aí Bruno Lage entra numa total espiral depressiva.

Com pelo menos 25 minutos para darmos a volta ao resultado, Bruno Lage acredita que a única solução da equipa é abdicar totalmente do jogo interior e passar a lateralizações e lançamentos longos.

Assim a primeira reacção de Lage ao golo sofrido foi tirar Rafa. Apesar de não estar na melhor forma Rafa é craque. O Benfica tem de criar oportunidades de golo e Bruno Lage decide tirar o Rafa. E isso para lançar Cervi, um jogador ofensivamente muito inferior. E nem é só de qualidade individual que se fez esta substituição. Não. A opção de Lage passa por tirar um jogador de ataque que constantemente procurar os espaços interiores para progredir e incorporar na área, e no seu lugar colocar um outro jogador que irá manter a equipa mais aberta, que se irá posicionar lá na ala esquerda na procura do espaço para cruzamentos – seus ou do lateral. Sim, até Grimaldo nesta ideia de Lage é obrigado abdicar do seu ponto forte, incursões pelo centro, para jogar colado à linha.

Não satisfeito e continuando nesta sua ideia, três minutos depois Lage comete mais um pecado.
Para última substituição Bruno Lage tira Taarabt. Atenção, o Benfica tem de marcar dois golos e depois de tirar Rafa do jogo tira Taarabt. O marroquino não só estava a ser o melhor em campo como é também o jogador mais criativo e talentoso do plantel. Se havia jogador capaz de descobrir e criar espaços de incursão na área, tanto para si como para os seus companheiros, esse jogador era Taarabt. Pois bem, Bruno Lage retira Taarabt do jogo e diz que foi por o marroquino se estar a agarrar demasiado à bola. Pois, Bruno Lage não queria bola no pé, queria bola batida para o ar.

E o dominó continua a tombar. É que esta mexida não só nos retira o mais talentoso e melhor em campo como ainda faz recuar Pizzi. Mais uma vez se repete a premissa da primeira substituição - Bruno Lage não quer um jogador de condução mas sim um jogador mais apto a bater bolas. E assim Pizzi é retirado da zona onde faz a diferença - próxima dos avançados e das zonas de finalização - e é arrastado para um meio-campo a dois com instruções de baterem longo.

Mas e quem entra? Quem é o ás de Bruno Lage para a reviravolta no marcador? Sim foi Jota. O que raio tem dado Jota a este Benfica para ser ele a opção? Jota entra e é logo encostado à direita. E eu pergunto: Jota não é aquele jogador que actua preferencialmente no lado esquerdo para puxar a bola para dentro? É. E o “para dentro” é o problema. Então Jota é encostado à direita. Bem aberto à direita. E é isto que Lage faz à equipa.

Somos melhores. Estamos melhores. Temos boas exibições e estamos a cheirar o golo. Tudo isso a jogar com a seguinte equipa:

Dois centrais que batem na frente mas ambos capazes de jogar entrelinhas se tiverem apoios. Dois médios a dar posse de bola à equipa – tanto pela recuperação como pela sua qualidade com bola. Um de futebol mais longo e outro de futebol em apoios. Um trio de médios mais ofensivos muito criativos e a explorarem o espaço interior. Dois laterais com possibilidades de subirem aproveitando este posicionamento dos 5 médios em futebol mais interior. E um ponta lança, um homem golo, um homem a tentar usufruir do espaço que todos os outros lhe podiam ir criando.

E Lage decide mudar tudo drasticamente:
Retira o jogo interior. Assim tem em campo dois defesas para baterem longo, e dois médios para... baterem longo. Dois laterais bem abertos e colados à linha a dar abertura. Dois extremos bem abertos e colados à linha a dar abertura. Dois pontas de lança presos junto aos defesas a procurar espaços de finalização.

Bate, corre, abre, centra. Bate, corre, abre centra.

E foi assim que Bruno Lage sabotou mais uma reacção da equipa. Foi assim que Bruno Lage voltou a provar que não sabe o que está a fazer a este nível. Foi assim que Bruno Lage continuou a provar que não sabe o que a equipa faz bem nem o que a equipa faz mal. Foi assim que Bruno Lage se voltou a apresentar.

Uma dor.



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Benfica 3-3 Shakhtar - Queda Europeia

Quero falar sobre o jogo de ontem. Quero falar sobre o jogo de ontem porque me deu diversas e distintas sensações. Aliás, discutindo em outros grupos percebi ao intervalo que o meu estado de espirito era bastante diferente do dos outros com quem debatia o jogo. Quero falar sobre o jogo porque para mim foi bem mais que uma simples falta de garra, ou más escolhas de titulares, ou más substituições ou até má exibição. Houve muita coisa a acontecer naquele relvado da Luz.

Começo por dizer que gostei do 11 escolhido. Contudo pensei que Lage daria continuidade à aposta no Samaris e considero que, estando em condições físicas, este jogo era para o Vinicius e não para o Dyego Sousa.

Fiquei satisfeito com a forma como a equipa entrou em campo. Pressão alta colectiva, boa reacção à perda de bola e tentativa de jogar apoiado, com muita bola e pelo chão. Um Benfica com iniciativa, com vontade de se impor na sua casa e na eliminatória. Bastante procura do jogo interior, do futebol entrelinhas, com Taarabt, Pizzi e Chiquinho a surgirem bastante nesse espaço. E um Grimaldo mais soltinho, mais liberto de amarras tolas e com espaço e liberdade para subir, para fletir para o centro e incorporar as jogadas de ataque - aquele lateral 10 que tanto nos encantou na primeira metade da época.

Provou-se que se pressionamos mais e melhor, se temos mais bola e se temos a iniciativa do jogo, provou-se que se formos uma equipa activa e não uma equipa de futebol passivo e expectante, as nossas lacunas defensivas - que existem e precisam urgentemente de ser trabalhadas - são menos evidentes porque estão menos expostas. Se somos nós quem tem bola, quem ataca, quem pressiona e quem condiciona, então o adversário irá ter menos e piores oportunidades para fazer tremer o nosso processo defensivo.

Gostei dos primeiros 45 minutos. Fui com boas sensações para o intervalo. Vi no colectivo da equipa coisas que ainda não tinha visto e que tanto reclamava para ver. Sim, houve um período pior logo depois ao 1-0. Não me refiro ao empate mas sim à reacção ao empate. Foram uns 10 minutos em que a equipa quebrou e voltou a expor-se ao recuar e dar a bola ao adversário. Mas voltámos a assumir o jogo e acabamos claramente por cima.

Individualmente estava bastante agradado com a exibição do Pizzi, com o talento explosivo do Taarabt e com o novo velho Grimaldo. Rafa bastante limitado no momento de decisão e o Dyego a corresponder ao que o jogo lhe pedia - sem brilhar mas a cumprir.

O pós intervalo foi ainda melhor. Com a eliminatória empatada voltámos a querer ser donos do jogo e da bola. Pressão alta, condicionamento da primeira fase de construção do adversário e como consequência o 3-1, a passagem para a frente da eliminatória, uma finalização soberba do Rafa e uma decisão fantástica do Dyego.

Foi até ao 3-1 que vi o Benfica que quero, que vi o potencial desta equipa. Foi até ao 3-1 que finalmente me senti bem a ver um jogo do Benfica. 
O problema foi o pós 3-1. E mais uma vez nem falo do golo sofrido. Falo da reacção a esse golo. Fica comprovado que este Benfica não sabe lidar com alterações no marcador. Impressionante como golos marcados ou sofridos alteram tão drasticamente o futebol desta equipa.

A partir do 3-2, a partir do minuto 49, foi tudo muito mau - à excepção de algumas individualidades. A partir desse momento voltámos a ter o Benfica que se tem arrastado por toda esta época. Fraco, fraquinho. Uma dor. Uma queda abruta na realidade que é o futebol desta equipa.

Vou enumerar o que me ficou da segunda-parte:

- Esta equipa não está fisicamente preparada para um jogo de pressing e rápida reacção à perda de bola. Fizemo-lo durante 30 minutos e não conseguimos mais. Quanto menos temos bola mais temos de correr atrás dela - ou então ficar na expectativa. Mostrámos não ter condições para jogar daquele modo de forma constante.

- O processo defensivo é fraco. Sim o Tavares é júnior. Sim o Dias tem abordagens ridículas aos lances. Sim o Ferro está uma nódoa. Sim o Grimaldo deixa espaço nas costas. Mas estas fragilidades ficam ainda mais evidentes quando o colectivo defende mal. Um exemplo do quanto mal trabalhado é o nosso processo defensivo é a nossa linha de fora-de-jogo. Desorganizada e totalmente descoordenada. Durante o jogo foi ouvir o Pedro Henriques, e depois do jogo muitos outros, culpar o Rafa pelo primeiro golo dos ucranianos. O argumento é que o Rafa como ala teria de correr atrás do lateral fosse como fosse, o argumento é que ali tem de jogar o Cervi porque ele o faz. Vejam a repetição e vão perceber porque o Rafa não acompanhou o jogador. Quem define a linha de fora-de-jogo é o Dias. O Rafa travou a corrida quando chegou a essa linha. O resto da defesa estava fora da linha. Com isso o adversário ficou milimetricamente em jogo. Vamos culpar o Rafa por ter feito defensivamente aquilo que os restantes defesas parecem incapazes de fazer?

- O posicionamento do Chiquinho e do Weigl são inexplicáveis. Tens jogadores de qualidade e retiras-lhes todos seus atributos para os condicionares posicionalmente a ideias sem grande sentido. E assim temos os adeptos a questionar a qualidade e utilidade dos jogadores.

Comecemos pelo português. Principalmente na segunda parte irritou-me o papel do Chiquinho. Um médio criativo, forte nos apoios, no jogo entrelinhas e na chegada à área, andou a jogar como ponta de lança. Quantas vezes o Taarabt recebia a bola no centro ou o Tavares na direita e não havia uma única linha de passe para o centro? E eu via isto e perguntava-me como era possível, onde andava o Chiquinho. Procurando-o fui constantemente encontrá-lo junto ao Dyego no meio dos centrais. Então no nosso suposto médio organizador/segundo avançado andava preso às zonas de finalização. Não fica fácil para o Tavares. O miúdo ainda não tem tomates para acelerar o jogo com bola, para partir para cima do adversário, e assim quando recebe a bola resta-lhe travar e passar para trás ou travar e bombear para a área onde estão todos à espera.  
Mas se o médio ofensivo dos apoios está preso entre os centrais adversários, o médio defensivo dos apoios está preso entre os centrais da própria equipa. Percebo o médio defensivo vir aos centrais buscar jogo mas não entendo que em posse se posicione entre estes e ali fique. Depois queixamo-nos que só passa para trás e para o lado? A alternativa é bombear na frente. Para mim o Weigl tem jogo para ser um Busquets - jogador durante antes incompreendido por quase todos. Mas para isso tem de se posicionar no meio da acção e não fora dela. O Weigl tem de jogar sempre entrelinhas e a dar apoios. Recebe e toca, tabela, desmarca sempre a dar linha de passe na construção entre a pressão adversária. Essa é a qualidade dele - decidir, passar e dar linhas sobre pressão. Estamos a desperdiçar um jogador talentoso porque queremos que seja o Fejsa.

Bruno Lage pode ter Chiquinho e Weigl a dar linhas ao Taarabt, ao Tavares, ao Grimaldo, ao Pizzi e ao Rafa, mas opta por os afastar da zona de construção e obrigar o Taarabt a fazer raides de magia por todo aquele terreno.

Perdemos a eliminatória em casa por dois golos, num jogo que empatámos e que estivemos bem mais próximos de perder do que de ganhar.

Uma palavra para Pizzi e Taarabt. O marroquino foi simplesmente magistral e quanto mais joga mais se percebe a confiança que ganha e coloca nas suas acções. O 21 voltou a mostrar que do que depender dele terá sempre boas exibições seja em que jogo for - o colectivo tem de ajudar pois Pizzi é bom mas não é Jonas. Duas excelentes exibições.



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Necessidades Exibicionais do Benfica de Lage

Boavista 1-4 Benfica
Benfica 3-0 Zenit
Benfica 4-0 Famalicão

O que têm estes jogos em comum entre si e de tão divergente relativamente a praticamente todas as outras 23 vitórias da época?

A exibição da equipa.

Porto 3-2 Benfica

Famalicão 1-1 Benfica
Benfica 0-1 Braga
Shakhtar 2-1 Benfica

O que têm estes jogos em comum com praticamente todas as outras 23 vitórias da época?

A exibição da equipa.

Aquelas três vitórias consecutivas de Dezembro fizeram-nos acreditar que Bruno Lage finalmente tinha estabilizado uma equipa, uma filosofia e uma rotina de treino. Finalmente parecia que o individual estava a ser optimamente explorado pelo colectivo. Foram excelentes exibições a culminar – naturalmente – em excelente resultados.


Até aí íamos jogando pouco apesar de vencendo quase sempre. A partir daí voltámos a jogar pouco, apesar de vencermos quase sempre – pelo menos até Fevereiro.

Não terá Bruno Lage percebido o que se fez bem naquelas 3 vitórias  consecutivas de Dezembro? Terá o treinador caído na esparrela da teoria que “em equipa que ganha não se mexe”? Os facilitismos do campeonato português iludiram tanto Bruno Lage como aos jogadores?

Pelo discurso parece já ter percebido que há um problema no processo defensivo da equipa. Mas quanto mais tempo necessita para o treinar e melhorar? A ideia passa por meter mais jogadores a defender? É assim que Bruno Lage quer compensar o fraco processo defensivo? É colocando os médios e extremos com maior preocupação defensiva?

Uma coisa é certa. Quanta mais tempo passamos a defender, menos tempo passamos a atacar. Quanto mais os jogadores se preocupam com o momento defensivo, mais cansados chegam ao momento de definição. Quanto mais recuados jogamos, mais demoramos e mais nos cansamos para chegar à baliza adversária.

Haverá assim tanta incapacidade de trabalhar defensivamente que torne necessária a aniquilação da nossa qualidade ofensiva? Em prol de um processo defensivo falido temos perdido criatividade e dinamitas ofensivas. Em prol de uma compensação defensiva estamos cada vez mais previsíveis no ataque. Menos jogadores, menos linhas de passe, menos apoios, menos movimentos e mais e mais profundidade e bolas pelo ar.

Estamos numa fase critica da época. Fora da Champions e com meio pé fora da Liga Europa logo na primeira eliminatória. Ficámos fora da Final-4 da Taça da Liga. Estamos no Jamor apesar de pouco termos feito para isso nas meias-finais com o Famalicão. E de sete pontos de vantagem, estamos agora com três pontos de desvantagem (sim com menos um jogo).

Próximos jogos:

Gil Vicente – Benfica
Benfica – Shakhtar
Benfica – Moreirense
Setúbal – Benfica
Benfica – Tondela

São cinco jogos para cinco vitórias. Apuramento na Europa e quatro vitórias no campeonato para aí depois se voltarem a fazer contas.

Começando já hoje com o Gil em Barcelos.

Mas estas 5 vitórias consecutivas não vão cair do céu. Não é o não ter medo de ganhar ou o que raio for que vai elevar o futebol da equipa.


É começar a jogar mais já hoje. Sem teorias de pragmatismo. Bola no pé, assumir jogo, subir linhas e desfrutar do futebol.

Ganhar a jogar bem é um excelente lançamento para os próximos jogos e restante época.

Ganhar a jogar mal é um adiar do problema.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Ética, Honestidade, Respeito, Solidariedade, Desportivismo – Valores Fundadores sem “mas”

Não quero me prolongar ao longo da semana a falar sobre o assunto. Mas hoje, só hoje, terei de voltar a ele.
Um jogador de futebol abandonou o relvado no decorrer de um jogo. Um episódio triste que trouxe consigo muitos outros que não consigo que me sejam indiferentes.

O Futebol em Portugal já há muito tempo que não é paixão. Aqueles valores de desportivismo, solidariedade e até de rivalidade são cada vez mais raros neste desporto cada vez mais movido a ódios.
Perante um ódio racial, algo impensável numa sociedade como a nossa e mais especificamente no contexto desportivo, o que vemos são vozes de outros ódios levantarem-se. São ódios combatidos e alimentados por mais ódios e ódios e mais ódios.
E enquanto cidadão, enquanto amante do Jogo e enquanto benfiquista, não posso não dizer nada enquanto vejo outros falharem constantemente com o seu dever de cidadãos.

Quem temos a relativizar o caso são, na sua minoria, adeptos do Vitória Sport Clube – os prevaricadores – e, na sua maioria, adeptos do Sport Lisboa Benfica – porque a vítima foi um jogador equipado com a camisola do Futebol Clube do Porto. E ao contrário seria igual. 
Mas atenção, isto não é demonstração do que são os adeptos benfiquistas. Não. Isto é demonstração do que são os adeptos do nosso futebol. Vivem de guerras.

Como é possível que tanta mas tanta gente se tenha apressado a transformar este incidente num Benfica-Porto? Como?

Um atleta abandou um jogo, uma competição, enquanto este decorria devido a insultos racistas. Já aconteceu lá fora e cá dentro a crítica foi unanime. Agora acontece cá dentro e é o que vemos.
Relativiza-se o caso, desvaloriza-se a situação, porque outros jogadores – das suas cores clubísticas – foram também em tempos alvos de insultos racistas. Desvaloriza-se porque adeptos rivais insultam os das nossas cores clubísticas. “No pasa nada” porque adeptos de azul e branco já foram multados por racismo.
E isto é só mesquinho. O que esta gente não entende é que não está em causa o Porto, não está em causa o resultado desportivo, não está em causa os adeptos e dirigentes portistas. Está em causa sim um atleta que sentiu necessidade de abandonar o terreno do jogo.

O Vitória Sport Clube não é um clube racista. Os seus dirigentes não se cansam de o dizer. O facto de um conjunto de idiotas terem tido um comportamento racista isso não personaliza o próprio clube. O que vincula o clube são as suas acções e o Vitória Sport Clube como um clube não racista, como clube interessado no combate ao racismo, só terá um caminho: Ajudar as autoridades a identificar os prevaricadores e agir disciplinarmente contra os mesmos. Quando os adeptos falham aos valores do clube cabe também ao clube agir em conformidade.

Agora quatro pontos que me sinto obrigado a responder depois de tudo o que vi escrito:

1. Prévios comportamentos de ódio e violência: Infelizmente o futebol vive disso. Os constantes insultos aos árbitros. Os constantes insultos aos jogadores. Os constantes insultos aos adeptos adversários. Uma cultura que está enraizada no adepto de futebol. É a cultura do “Filho da Puta” quando um guarda-redes bate um pontapé de baliza. É tudo condenável mas ninguém quer saber. Como ainda mais condenável são os actos de violência que todas as semanas acontecem ao redor dos jogos. Tudo isto deve ser condenado no momento e nunca mais esquecido. Agora, nada disto deve servir como desculpa nem como arma de arremesso para casos futuros. A bola de neve da ignorância não pode rolar infinitamente num “o que vem deles é condenável e o que é nosso é desculpável”.
Por mais chocante que seja a imagem do adepto do Benfica a sangrar no autocarro, alguém me consegue explicar porque tem essa imagem de andar a ser atirada contra este caso Marega? Uma pessoa foi violentamente agredida. Outra pessoa foi alvo de insultos racistas. Uma coisa justifica a outra? Uma coisa suaviza a outra? Um idiota de um adepto portista atirou uma pedra contra um adepto benfiquista. Um atleta do Porto foi insultado, com base na cor da sua pele, por adeptos do Vitória de Guimarães. Onde está a relação dos dois casos? Uns idiotas da claque do Porto fizeram um cântico deplorável sobre o avião da Chapecoense. Que tem o atleta Marega a ver com isso? Que tem a cor da sua pela a ver com isso?
Não há ódios bons e ódios maus. Não há espaço para irresponsabilidades. E todos aqueles que desvalorizam este caso, tal como todos aqueles que vão sempre desvalorizando tudo o que é feito pelos da sua cor clubística, são uns irresponsáveis incapazes de assumir os seus deveres cívicos. 
Repito. Isto não é sobre o FCP. Não é sobre o Pinto da Costa. Nem sobre o Jota Marques. Não é sobre os Superdragões e não é sobre o Sérgio Conceição. Isto nada tem a ver com as pessoas que vivem e gravitam naquele clube. Isto nada tem a ver com aqueles que sistematicamente atacam o Benfica. Nada. Vocês estão a fazê-lo ser, mas não é. Isto é sobre um jogador que teve de abandonar o relvado no decorrer de um jogo. Nada tem a ver com o vosso inimigo nem com as vossa guerras.

2. Política e hipocrisia: Sim há muita hipocrisia no Futebol e na política. De todos os clubes e políticos que se manifestaram quantos não o fizeram só para ficar bem na fotografia? Quantos irão realmente fazer algo sério para mudar o estado lastimável em que está o futebol português? Poucos ou nenhum. Sim é verdade. Mas hipocrisia também é alguém auto-intitular-se contra o racismo e contra a violência mas depois fazer as suas condenações variar consoante a cor clubística.

3. Reacção do Sport Lisboa e Benfica: Este foi um dos temas que também surgiu em debate. Como aconteceu com um atleta do Porto, então o Sport Lisboa e Benfica nem tinha de se pronunciar. Na verdade, foi o longo silêncio do clube que levou a esta teoria. Quem achou que o clube não tinha de se pronunciar fê-lo porque o clube simplesmente ainda não tinha reagido. É a regra simples da clubite - tudo o que é feito no nosso clube é de apoiar. Cada posição invertida e contraditória é de concordar.
Claro que o Sport Lisboa e Benfica ia e tinha de reagir. Há o lado político e há a imagem do clube. Um acontecimento de racismo no campeonato português, com todos os canais e jornais a falar do assunto, com os media internacionais e os políticos portugueses a abordar a situação, como poderia o maior e mais representativo clube de Portugal não dizer nada? Ainda para mais até os silêncios comunicam e a mensagem que esse passaria era de uma enorme falta de cultura desportiva e social.

Portanto sim o clube tinha de reagir e reagiu. E sim o clube tinha de condenar os acontecimentos no Afonso Henriques e... não o fez.
Faltou decência a quem lidera o Sport Lisboa e Benfica para fugir ao estúpido Benfica-Porto já criado por vários dos seus adeptos e até por produtos da sua comunicação - Hugo Gil e Boaventura por exemplo. Um vídeo genérico, reciclado e nem uma palavra sobre os acontecimentos em questão. Nem uma palavra de solidariedade para com o atleta. 
E foi nisto que estes dirigentes transformaram o Sport Lisboa e Benfica. Estes dirigentes que trouxeram para o clube hábitos e culturas de outros tempos e de outros clubes e que fortemente as têm enraizado dentro do benfiquismo.

“O Sport Lisboa e Benfica repudia veementemente os actos de racismo verificados hoje no jogo do Vitória SC – FC Porto. O clube solidariza-se com o atleta Moussa Marega e disponibiliza-se para de uma vez por todas se tomarem medidas que permitam criar um futebol saudável para todos, independe da sua cor clubística e principalmente da sua cor de pele.” 
Tão tão simples.

4. Ser benfiquista: Claro que depois também surgiram as normais acusações de falta de benfiquismo. É o “ou estás contra eles ou estás contra nós”. Para estas pessoas ser benfiquista é odiar tudo o que tenha a ver com o Porto ou com o Sporting. Ser benfiquista é querer que a equipa ganhe seja por que meios for. Ser benfiquista é defender os criminosos de vermelho e branco e atacar qualquer um, criminoso ou não, de azul ou verde.
A todos vocês que fazem do benfiquismo algo tão perverso só vos posso dizer que isso não é benfiquismo, isso é pura idiotice.
Não entro em medições de benfiquismo. A própria definição de “ser benfiquista” é muito ampla. Para mim tem bases que não podem nunca ser abaladas. Para mim benfiquismo é algo que está alicerçado em duas vertentes: Vitória e Valores. Assim vejo o benfiquismo como um querer que o clube vença sempre mas sempre e somente sendo fiel aos seus valores fundadores.
Ontem li gente defender que o Benfica tem é de ganhar jogos e não se preocupar com questões sociais. Li gente dizer que o Benfica tem de ganhar seja como for e porque meios for. 
Era eu bem mais novo quando via Pinto da Costa criar uma máfia de poder para beneficiar o FCP garantindo-lhes vitórias com muito jogo sujo. Para meu espanto, perante tão evidente conspurcação da competição, via os adeptos portistas assobiarem para o lado. Só lhes interessava ganhar. E para meu orgulho via os adeptos benfiquistas recusarem algum dia ganhar daquela forma. “Somos diferentes” dizíamos todos. Poucos anos depois percebi o quanto eram frágeis essas convicções. E hoje em dia é vermos a quantidade de benfiquistas que defendem que importante é ganhar, não importa como.
Ignorar os valores que criaram e fizeram crescer este clube para mim nunca será benfiquismo. Lutar constantemente contra quem coloca os valores do clube em causa, sejam rivais ou dirigentes do próprio clube, é para mim, e sempre será, a obrigação de qualquer benfiquista.

Portugal não é um país racista. Contudo isso não significa que não exista racismo em Portugal. Existe. É histórico e arrasta-se por gerações.

Hoje em dia podemos até debater sobre o que é racismo e se só existe num sentido. Muito do que a sociedade vê como sendo racismo não o é. São exageros, são hipocrisias, são posturas de u, politicamente correcto. O que não invalida a sua existência e o seu histórico. Nós das novas gerações não vivemos os piores momentos deste flagelo. Nós deste país à beira mar plantado não temos total noção das repercussões do racismo. Nós caucasianos deste Portugal percebemos a sociedade actual mas não entendemos a dor que muitos de outra cor e de outra nacionalidade trazem consigo. Não entendemos e muitos de nós nem tentamos respeitar.

Existe racismo nos dois sentidos? Existe. Contudo são de gravidades diferentes. E isso não há como negar. Não é possível apagar o histórico, a dor e a selvajaria que tanto marcou a humanidade. Não ver isso é querer ser cego em proveito próprio.

É verdade que tal como muitos têm repetido, o que se sucedeu ao Marega não é um caso único. Não é um caso único em Portugal. Não é um caso único num estádio de futebol. Mas apesar de muitos agirem como se isso desvalorizasse o sucedido, a verdade é que só lhe dá ainda mais importância. É por não ser único que urge ainda mais agir. É por não ser único que não podemos continuar todos a assobiar para o lado. O vosso argumento, mesmo que se recusem a o admitir, é somente baseado em clubite. Esqueçam isso. Sejam melhores.

A arte do insulto é uma constante no mundo do futebol. Todos os jogadores e adeptos estão sujeitos e habituados ao insulto. Infelizmente é verdade. Chama-se filho da puta a um jogador e corrupto a um árbitro como se diz olá a um conhecido. É inadmissível mas é verdade. Contudo esta verdade em nada se contextualiza no mundo do preconceito pela cor da pele. Não misturem coisas que não podem ser misturadas. Há insultos gerais, insultos para todos. E depois há os insultos que só visam aqueles de raça negra. E se um caso é pura falta de educação o outro é já descriminação. Determinadas ofensas e determinados ruídos só se fazem na direcção dos jogadores negros. E é neles que vivem essas memórias que despoletam dores do passado, vergonhas de uma história não há muito tempo escrita. E isso tem de ser totalmente irradiado.

Moussa Marega resolveu abandonar o terreno de jogo. Isto é o que torna esta situação diferente. É um mote. Um mote que deve ser seguido. Este exemplo deverá ser seguido por todos os jogadores que sofrerem insultos racistas durante um jogo de futebol. E quando todos começarem a seguir o exemplo de Moussa Marega, quando colegas e adversários tomarem a mesma atitude, aí finalmente teremos políticos e dirigentes, aí finalmente teremos todos vocês odiadores, a mudar drasticamente a sua passividade e a melhorar o desporto e a sociedade nacional.

Há valores que ou temos ou não temos. Não existe meio termo. Existe fingir que temos. Isso existe. Não podemos ser pessoas dignas às vezes. Não podemos ser honrados mas só quando dá jeito. Não podemos ser éticos mas só quando saímos beneficiados. 
Aqueles valores que todos aparecem a defender são valores que se vivem e não que se repetem em frases ocas. Ser absolutamente contra o racismo é ser absolutamente contra o racismo. Não é dizer que se é e depois colocar um “mas” à frente. Não há “mas”. É no “mas” que vocês se perdem.

Existe racismo em Portugal. Existe racismo no desporto. Existe preconceito à cor da pele. E neste futebol podre, de dirigismo podre e de adeptos que nada gostam do jogo, existe um enorme racismo clubístico. 

Agora deixo a palavra para os nossos políticos, para os nossos dirigentes e para os nossos ministros. 

Façam acontecer.