terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Ética, Honestidade, Respeito, Solidariedade, Desportivismo – Valores Fundadores sem “mas”

Não quero me prolongar ao longo da semana a falar sobre o assunto. Mas hoje, só hoje, terei de voltar a ele.
Um jogador de futebol abandonou o relvado no decorrer de um jogo. Um episódio triste que trouxe consigo muitos outros que não consigo que me sejam indiferentes.

O Futebol em Portugal já há muito tempo que não é paixão. Aqueles valores de desportivismo, solidariedade e até de rivalidade são cada vez mais raros neste desporto cada vez mais movido a ódios.
Perante um ódio racial, algo impensável numa sociedade como a nossa e mais especificamente no contexto desportivo, o que vemos são vozes de outros ódios levantarem-se. São ódios combatidos e alimentados por mais ódios e ódios e mais ódios.
E enquanto cidadão, enquanto amante do Jogo e enquanto benfiquista, não posso não dizer nada enquanto vejo outros falharem constantemente com o seu dever de cidadãos.

Quem temos a relativizar o caso são, na sua minoria, adeptos do Vitória Sport Clube – os prevaricadores – e, na sua maioria, adeptos do Sport Lisboa Benfica – porque a vítima foi um jogador equipado com a camisola do Futebol Clube do Porto. E ao contrário seria igual. 
Mas atenção, isto não é demonstração do que são os adeptos benfiquistas. Não. Isto é demonstração do que são os adeptos do nosso futebol. Vivem de guerras.

Como é possível que tanta mas tanta gente se tenha apressado a transformar este incidente num Benfica-Porto? Como?

Um atleta abandou um jogo, uma competição, enquanto este decorria devido a insultos racistas. Já aconteceu lá fora e cá dentro a crítica foi unanime. Agora acontece cá dentro e é o que vemos.
Relativiza-se o caso, desvaloriza-se a situação, porque outros jogadores – das suas cores clubísticas – foram também em tempos alvos de insultos racistas. Desvaloriza-se porque adeptos rivais insultam os das nossas cores clubísticas. “No pasa nada” porque adeptos de azul e branco já foram multados por racismo.
E isto é só mesquinho. O que esta gente não entende é que não está em causa o Porto, não está em causa o resultado desportivo, não está em causa os adeptos e dirigentes portistas. Está em causa sim um atleta que sentiu necessidade de abandonar o terreno do jogo.

O Vitória Sport Clube não é um clube racista. Os seus dirigentes não se cansam de o dizer. O facto de um conjunto de idiotas terem tido um comportamento racista isso não personaliza o próprio clube. O que vincula o clube são as suas acções e o Vitória Sport Clube como um clube não racista, como clube interessado no combate ao racismo, só terá um caminho: Ajudar as autoridades a identificar os prevaricadores e agir disciplinarmente contra os mesmos. Quando os adeptos falham aos valores do clube cabe também ao clube agir em conformidade.

Agora quatro pontos que me sinto obrigado a responder depois de tudo o que vi escrito:

1. Prévios comportamentos de ódio e violência: Infelizmente o futebol vive disso. Os constantes insultos aos árbitros. Os constantes insultos aos jogadores. Os constantes insultos aos adeptos adversários. Uma cultura que está enraizada no adepto de futebol. É a cultura do “Filho da Puta” quando um guarda-redes bate um pontapé de baliza. É tudo condenável mas ninguém quer saber. Como ainda mais condenável são os actos de violência que todas as semanas acontecem ao redor dos jogos. Tudo isto deve ser condenado no momento e nunca mais esquecido. Agora, nada disto deve servir como desculpa nem como arma de arremesso para casos futuros. A bola de neve da ignorância não pode rolar infinitamente num “o que vem deles é condenável e o que é nosso é desculpável”.
Por mais chocante que seja a imagem do adepto do Benfica a sangrar no autocarro, alguém me consegue explicar porque tem essa imagem de andar a ser atirada contra este caso Marega? Uma pessoa foi violentamente agredida. Outra pessoa foi alvo de insultos racistas. Uma coisa justifica a outra? Uma coisa suaviza a outra? Um idiota de um adepto portista atirou uma pedra contra um adepto benfiquista. Um atleta do Porto foi insultado, com base na cor da sua pele, por adeptos do Vitória de Guimarães. Onde está a relação dos dois casos? Uns idiotas da claque do Porto fizeram um cântico deplorável sobre o avião da Chapecoense. Que tem o atleta Marega a ver com isso? Que tem a cor da sua pela a ver com isso?
Não há ódios bons e ódios maus. Não há espaço para irresponsabilidades. E todos aqueles que desvalorizam este caso, tal como todos aqueles que vão sempre desvalorizando tudo o que é feito pelos da sua cor clubística, são uns irresponsáveis incapazes de assumir os seus deveres cívicos. 
Repito. Isto não é sobre o FCP. Não é sobre o Pinto da Costa. Nem sobre o Jota Marques. Não é sobre os Superdragões e não é sobre o Sérgio Conceição. Isto nada tem a ver com as pessoas que vivem e gravitam naquele clube. Isto nada tem a ver com aqueles que sistematicamente atacam o Benfica. Nada. Vocês estão a fazê-lo ser, mas não é. Isto é sobre um jogador que teve de abandonar o relvado no decorrer de um jogo. Nada tem a ver com o vosso inimigo nem com as vossa guerras.

2. Política e hipocrisia: Sim há muita hipocrisia no Futebol e na política. De todos os clubes e políticos que se manifestaram quantos não o fizeram só para ficar bem na fotografia? Quantos irão realmente fazer algo sério para mudar o estado lastimável em que está o futebol português? Poucos ou nenhum. Sim é verdade. Mas hipocrisia também é alguém auto-intitular-se contra o racismo e contra a violência mas depois fazer as suas condenações variar consoante a cor clubística.

3. Reacção do Sport Lisboa e Benfica: Este foi um dos temas que também surgiu em debate. Como aconteceu com um atleta do Porto, então o Sport Lisboa e Benfica nem tinha de se pronunciar. Na verdade, foi o longo silêncio do clube que levou a esta teoria. Quem achou que o clube não tinha de se pronunciar fê-lo porque o clube simplesmente ainda não tinha reagido. É a regra simples da clubite - tudo o que é feito no nosso clube é de apoiar. Cada posição invertida e contraditória é de concordar.
Claro que o Sport Lisboa e Benfica ia e tinha de reagir. Há o lado político e há a imagem do clube. Um acontecimento de racismo no campeonato português, com todos os canais e jornais a falar do assunto, com os media internacionais e os políticos portugueses a abordar a situação, como poderia o maior e mais representativo clube de Portugal não dizer nada? Ainda para mais até os silêncios comunicam e a mensagem que esse passaria era de uma enorme falta de cultura desportiva e social.

Portanto sim o clube tinha de reagir e reagiu. E sim o clube tinha de condenar os acontecimentos no Afonso Henriques e... não o fez.
Faltou decência a quem lidera o Sport Lisboa e Benfica para fugir ao estúpido Benfica-Porto já criado por vários dos seus adeptos e até por produtos da sua comunicação - Hugo Gil e Boaventura por exemplo. Um vídeo genérico, reciclado e nem uma palavra sobre os acontecimentos em questão. Nem uma palavra de solidariedade para com o atleta. 
E foi nisto que estes dirigentes transformaram o Sport Lisboa e Benfica. Estes dirigentes que trouxeram para o clube hábitos e culturas de outros tempos e de outros clubes e que fortemente as têm enraizado dentro do benfiquismo.

“O Sport Lisboa e Benfica repudia veementemente os actos de racismo verificados hoje no jogo do Vitória SC – FC Porto. O clube solidariza-se com o atleta Moussa Marega e disponibiliza-se para de uma vez por todas se tomarem medidas que permitam criar um futebol saudável para todos, independe da sua cor clubística e principalmente da sua cor de pele.” 
Tão tão simples.

4. Ser benfiquista: Claro que depois também surgiram as normais acusações de falta de benfiquismo. É o “ou estás contra eles ou estás contra nós”. Para estas pessoas ser benfiquista é odiar tudo o que tenha a ver com o Porto ou com o Sporting. Ser benfiquista é querer que a equipa ganhe seja por que meios for. Ser benfiquista é defender os criminosos de vermelho e branco e atacar qualquer um, criminoso ou não, de azul ou verde.
A todos vocês que fazem do benfiquismo algo tão perverso só vos posso dizer que isso não é benfiquismo, isso é pura idiotice.
Não entro em medições de benfiquismo. A própria definição de “ser benfiquista” é muito ampla. Para mim tem bases que não podem nunca ser abaladas. Para mim benfiquismo é algo que está alicerçado em duas vertentes: Vitória e Valores. Assim vejo o benfiquismo como um querer que o clube vença sempre mas sempre e somente sendo fiel aos seus valores fundadores.
Ontem li gente defender que o Benfica tem é de ganhar jogos e não se preocupar com questões sociais. Li gente dizer que o Benfica tem de ganhar seja como for e porque meios for. 
Era eu bem mais novo quando via Pinto da Costa criar uma máfia de poder para beneficiar o FCP garantindo-lhes vitórias com muito jogo sujo. Para meu espanto, perante tão evidente conspurcação da competição, via os adeptos portistas assobiarem para o lado. Só lhes interessava ganhar. E para meu orgulho via os adeptos benfiquistas recusarem algum dia ganhar daquela forma. “Somos diferentes” dizíamos todos. Poucos anos depois percebi o quanto eram frágeis essas convicções. E hoje em dia é vermos a quantidade de benfiquistas que defendem que importante é ganhar, não importa como.
Ignorar os valores que criaram e fizeram crescer este clube para mim nunca será benfiquismo. Lutar constantemente contra quem coloca os valores do clube em causa, sejam rivais ou dirigentes do próprio clube, é para mim, e sempre será, a obrigação de qualquer benfiquista.

Portugal não é um país racista. Contudo isso não significa que não exista racismo em Portugal. Existe. É histórico e arrasta-se por gerações.

Hoje em dia podemos até debater sobre o que é racismo e se só existe num sentido. Muito do que a sociedade vê como sendo racismo não o é. São exageros, são hipocrisias, são posturas de u, politicamente correcto. O que não invalida a sua existência e o seu histórico. Nós das novas gerações não vivemos os piores momentos deste flagelo. Nós deste país à beira mar plantado não temos total noção das repercussões do racismo. Nós caucasianos deste Portugal percebemos a sociedade actual mas não entendemos a dor que muitos de outra cor e de outra nacionalidade trazem consigo. Não entendemos e muitos de nós nem tentamos respeitar.

Existe racismo nos dois sentidos? Existe. Contudo são de gravidades diferentes. E isso não há como negar. Não é possível apagar o histórico, a dor e a selvajaria que tanto marcou a humanidade. Não ver isso é querer ser cego em proveito próprio.

É verdade que tal como muitos têm repetido, o que se sucedeu ao Marega não é um caso único. Não é um caso único em Portugal. Não é um caso único num estádio de futebol. Mas apesar de muitos agirem como se isso desvalorizasse o sucedido, a verdade é que só lhe dá ainda mais importância. É por não ser único que urge ainda mais agir. É por não ser único que não podemos continuar todos a assobiar para o lado. O vosso argumento, mesmo que se recusem a o admitir, é somente baseado em clubite. Esqueçam isso. Sejam melhores.

A arte do insulto é uma constante no mundo do futebol. Todos os jogadores e adeptos estão sujeitos e habituados ao insulto. Infelizmente é verdade. Chama-se filho da puta a um jogador e corrupto a um árbitro como se diz olá a um conhecido. É inadmissível mas é verdade. Contudo esta verdade em nada se contextualiza no mundo do preconceito pela cor da pele. Não misturem coisas que não podem ser misturadas. Há insultos gerais, insultos para todos. E depois há os insultos que só visam aqueles de raça negra. E se um caso é pura falta de educação o outro é já descriminação. Determinadas ofensas e determinados ruídos só se fazem na direcção dos jogadores negros. E é neles que vivem essas memórias que despoletam dores do passado, vergonhas de uma história não há muito tempo escrita. E isso tem de ser totalmente irradiado.

Moussa Marega resolveu abandonar o terreno de jogo. Isto é o que torna esta situação diferente. É um mote. Um mote que deve ser seguido. Este exemplo deverá ser seguido por todos os jogadores que sofrerem insultos racistas durante um jogo de futebol. E quando todos começarem a seguir o exemplo de Moussa Marega, quando colegas e adversários tomarem a mesma atitude, aí finalmente teremos políticos e dirigentes, aí finalmente teremos todos vocês odiadores, a mudar drasticamente a sua passividade e a melhorar o desporto e a sociedade nacional.

Há valores que ou temos ou não temos. Não existe meio termo. Existe fingir que temos. Isso existe. Não podemos ser pessoas dignas às vezes. Não podemos ser honrados mas só quando dá jeito. Não podemos ser éticos mas só quando saímos beneficiados. 
Aqueles valores que todos aparecem a defender são valores que se vivem e não que se repetem em frases ocas. Ser absolutamente contra o racismo é ser absolutamente contra o racismo. Não é dizer que se é e depois colocar um “mas” à frente. Não há “mas”. É no “mas” que vocês se perdem.

Existe racismo em Portugal. Existe racismo no desporto. Existe preconceito à cor da pele. E neste futebol podre, de dirigismo podre e de adeptos que nada gostam do jogo, existe um enorme racismo clubístico. 

Agora deixo a palavra para os nossos políticos, para os nossos dirigentes e para os nossos ministros. 

Façam acontecer.

9 comentários:

Vasco Duarte disse...

Completamente de acordo com a sua visão do acontecimento. Só pergunto terá a partir de agora a equipa do SLB "moral", motivo para abandonar o campo de jogo assim que a claque adversária começar a cantar SLB, SLB, SLB, filhos da puta SLB?

Anónimo disse...

Vasco Duarte,

Ou está completamente de acordo ou não está. E pelos vistos não está.

Seria muito positivo se o Vasco conseguisse sozinho perceber a ignorância da sua pergunta.

Frank disse...

Daniel se calhar vou apanhar com a mesma resposta que deste ao Vasco,mas antes quero dizer que estou completamente de acordo mesmo 100% de acordo,tudo o que disse sao verdades que temos que levar em conta,eu graças a Deus nao sou racista para mim so existe uma raça a raça humana todo o ser humano e uma obra prima criada por Deus,eu falo assim porque a minha fe assim o dtermina nada de ofendermos uns aos outros pela cor da pele religiao ou sexo por isso um big nao ao racismo.
Agora como benfiquista sinto-me indignado porque no mesmo estadio se passou o mesmo com um nosso Jogador Nelson Semedo exatamente aquilo que se passou com Marega,a comunicacao social acaso recorda-se o que disse (o cliente tem sempre razao)nao vi o presidente da republica vir a terreiro e condenar o acto racista contra o nosso jogador como fez agora com o Marega Portugal esta todo indignado com este acto tambem eu estou e o nosso Benfica cumprio o seu dever em condenar o acto miseravel dos adeptos Vimaranenses sim nos somos diferentes,mas gostava de ter o mesmo tratamento para com os nossos jogadores porque estes tem sido alvo de actos racistas e a imprensa nao condena isso como o fez com Marega,convido-o dar uma espreitadela ao blogue do Guachos Vermelhos e veja o que la esta postado sobre os nossos jogadores que tem sido vitimas ao longo dos anos.
Cumprimentos e parabens pelo seu execelente texto.

Anónimo disse...

Frank,

A resposta não é a mesma porque o comentário não é o mesmo.

Infelizmente, e ao contrário do que diz, o Benfica não condenou a atitude dos adeptos do Vitória de Guimarães.

O caso do Nélson Semedo tem uma diferença muito impactante - esta é a primeira vez que um atleta abandona o terreno de jogo devido a insultos racistas. Daí o mediatismo ser o que é. Contudo sim, insultos racistas são igualmente maus independente do destinatário. O que não aceito, e não foi isso que o Frank fez, é relativizar este caso porque no passado houve outros. O facto de terem havido outros só dá mais força à reacção que é necessário ter agora e sempre.

Quanto ao seu conselho. Irei amigavelmente declinar. Há espaços que são demasiado poluídos para eu sequer arriscar entrar.

Anónimo disse...

Acho que estão equivocados, não se trata de um caso de racismo, apenas o reflexo do desportivismo em Portugal.

Unknown disse...

Eu gostava de trazer à liça uma vertente do que se passou que vejo ser pouco abordada e nada aprofundada.

À parte de tudo isso dos valores desportivos, da ética e do existir ou não racismo, existe algo fundamental que distingue os humanos das outras espécies - a racionalidade.
Uma das maiores demonstrações dessa racionalidade são as Leis. Neste caso em apreço temos as Leis do Jogo.
Estas conferem a uma equipa no terreno de jogo o poder de as aplicar e de punir quem as desrespeitar ou violar.
Quanto a mim, essa equipa não soube desempenhar o seu papel e permitiu que toda aquela situação revoltante se desenrolasse.
Claramente já não estavam reunidas as condições de segurança para que a partida pudesse prosseguir e portanto ao abrigo das Leis do Jogo a equipa de arbitragem tinha toda a legitimidade para suspender ali a partida e deixar as instâncias superiores decidirem quanto aos eventuais castigos a aplicar.
Mas não foi só aí que essa equipa falhou. Quando um profissional, no decorrer da sua actividade, mesmo que provocado, reage da forma que o atleta em causa reagiu, tem de ser punido ao abrigo das Leis do Jogo.
Visto a partida não ter sido suspensa, ao reincidir no comportamento reactivo perante os insultos de que estava a ser alvo com gestos também eles insultuosos, ao abrigo das Leis do Jogo ele teria de ser admoestado.
E não foi.

Anónimo disse...

MAdskinn,

Os seus comentários foram publicados mas quando ia responder optei por os eliminar.

Este é um texto onde é criticada a postura dos benfiquistas em quererem tornar este caso em mais um Benfica - Porto. E o seu comentário é exactamente isso. Uma contextualização parcial e clubistica de tudo o que se passa no futebol português nos últimos anos, com várias falácias e juízos de valor sem fundamento, e tudo em mais um Benfica-Porto, onde do lado do Benfica todos são a força do Bem, os agentes que Jesus Cristo deixou na Terra para continuarem o seu legado e do lado do Porto são todos o diabo mascarado.

Pena que também você esteja do lado daqueles que fortemente critio no meu texto.

Anónimo disse...

Daniel Oliveira ao omitir os meus comentários e responder aos mesmos é um enorme contrassenso.

Infelizmente acusa-me de ser imparcial quando ao mesmo tempo está sendo parcial não aprovando os mesmo fazendo um objecto de consciência perante quem nos lê e não sabe o que eu escrevi.

Faz-me lembrar os direitos de resposta e contraditório que são só para alguns.

É a tal coisa de todos diferentes ou iguais que na democracia actual é uma hipocrisia.

Faz-me lembrar um comentário recente de um secretário de estado que diz que as aves sabem-se desviar em relação ao aeroporto delineado para ser construído no Montijo.

Que não queira ver o alcance das minhas palavras compreendo, mas não delimite os restantes a emitirem a sua propria opinião.

Eu percebi onde quis chegar mas lamento se assim for em mts guerras o bem não tinha prevalecido perante o mal.

Ass: Madskinn

Anónimo disse...

É óbvio que os insultos de natureza racista não têm lugar no futebol ou em nenhuma qualquer área das sociedades contemporâneas. É igualmente claro que aqueles são muito mais graves do que o habitual vernáculo utilizado nas bancadas ou nas estradas portuguesas. Este tem uma dimensão quase folclórica, passe a caricatura, e está em uso há centenas de anos...

No entanto, o que está em questão não é a atitude do jogador portista, naturalmente ofendido pela gritaria vinda da bancada. Nem sequer vou discutir o grau de culpa do Marega na eclosão dos insultos, como, aliás, fizeram com o jogador Nelson Semedo, responsabilizado por ter respondido à mesmíssima bancada. O que verdadeiramente importa é que os órgãos de soberania, que têm a obrigação constitucional de combater a discriminação, só agora resolveram sair da letargia que os tem habitado. Dito de outra forma, no seu súbito afã de erradicar estes comportamentos horríveis, o Estado Português está, ele próprio, a manifestar-se discriminador, pois não atuou em situações similares que têm ocorrido. Pouco importa as camisolas envergadas ou os adeptos perpetradores, pois a resposta tem, sempre, de ser enérgica e clarificadora. Ao invés, as autoridades acabam de estabelecer uma espécie de hierarquia de vítimas: há as principais, as de segunda e, porventura, as de terceira.

Neste ponto, pouco importa se o jogador sai ou não do campo. As leis não se aplicam de acordo com o ruído produzido. Na verdade, sabemos que outros têm sido objeto desta infâmia, mas foram obrigados a viver solitariamente o aviltamento, que afeta de igual forma as suas famílias.

Finalmente, o Estado Português devia aproveitar este assomo de indignação e de vontade de justiça para atuar musculadamente no desporto. Para quando alguma reação ao infame pano gigante que juntou, na bancada das Antas, o primeiro-ministo, uma juíza e a equipa do Benfica? Quem são os verdadeiros responsáveis? Os adeptos que o fizeram ou a direção, normalmente impune, que o permitiu?

Pedro V.