quarta-feira, 25 de maio de 2016

As entrevistas de Rui Vitória



Foi com alguma curiosidade com que li/vi as 3 entrevistas dadas por Rui Vitória no dia de ontem (Jornal A Bola, BTV e RTP). Num tom muito seu, algo monocórdico, mas sereno, diria que as 3 entrevistas se poderiam ter resumido a uma, porque o que disse foi basicamente o mesmo, até as analogias que ia fazendo eram as mesmas. De Rui Vitória não podemos esperar grandes rasgos linguísticos, com frases de aberturas de jornais, mas também não é expectável que seja deselegante para com os seus adversários. Ou seja, é em tudo radicalmente diferente do seu antecessor.

De tudo o que foi dito, saliento a ideia que Rui Vitória se esforçou por passar do trabalho de campo que foi feito durante a época. Com efeito, no balanço do 35, muito se falou da união e vontade de vencer do grupo, face ao que foi sendo dito ao longo do ano. Sendo esta uma verdade que me parece inabalável, e que Vitória não contraria e até confirma, também não deixa de ser verdade que esta ideia fez-se sobrepor a uma eventual competência técnica do treinador do Benfica. 

Por isso, parece-me justo e inteligente da parte do nosso treinador, evidenciar o muito trabalho tático que deu a conquista deste título. Nenhum facto concorre isolado para a conquista de algo, mas subvalorizar a capacidade e competência de trabalho de treino de Vitória e a sua equipa, parece-me tremendamente injusto.

Aquando do anúncio de RV como treinador do Benfica, o nome esteve muito longe de me entusiasmar, como aqui o escrevi. E ao ver o nosso início de temporada, todos os meus receios se adensaram e não pensei ser possível acabar a época da forma que o fizemos.

Defensivamente, a equipa apresentava comportamentos absolutamente equivocados, com má organização, má reacção à perda e um péssimo controlo da profundidade. Algo a que já não estávamos habituados nas nossas equipas, e algo que não via sequer em grande parte das equipas da primeira liga.

Ofensivamente, vivíamos de rasgos individuais e de bolas despejadas para área em cruzamentos sucessivos e sem nexo.

Porém, se eram justas as criticas que se faziam na altura a RV, também é justo realçar a evolução que a equipa foi evidenciando ao longo da temporada, sobretudo nos aspectos defensivos. Aos poucos, e com a entrada de Fejsa na equipa, a reacção à perda de bola foi melhorando e, há que o admitir, a saída por lesão de Luisão, ajudou a uma melhoria significativa ao controlo da profundidade. A eliminatória da LC contra o Bayern é o exemplo acabado da evolução incrível que a equipa obteve nos aspectos defensivos.

Ofensivamente, a equipa também começou a apresentar melhores comportamentos, com melhor posicionamento para o jogo interior, ainda que aqui pense haver ainda muito por onde caminhar do ponto de vista colectivo. Ainda me parece que, no aspecto ofensivo do jogo, a equipa ainda vive demasiado agarrada ao que a criatividade individual consegue fazer, não obstante de ser claramente muito melhor na jornada 34 do que era na jornada 10.

Com a possível saída dos jogadores mais criativos (Gaitan e Jonas), esta necessidade de se trabalhar melhor estes comportamentos colectivos é ainda maior, sendo certo que este ano RV beneficiará de uma pré-época sem digressões milionárias, mas incompatíveis com períodos de trabalho profícuos.

Para mim, ainda que não seja o melhor do mundo ou tão pouco de Portugal, RV surpreendeu-me pela positiva e dá muito mais gosto ter um homem que para lá de competente e benfiquista é um homem decente e conhecedor dos valores do clube que representa, à frente dos nossos destinos futebolísticos.

3 comentários:

Nau disse...

Um grande treinador (espanta-me que ainda haja dúvidas entre os benfiquistas)! E um grande senhor! Os «doutores» da bola que o apoucaram, estão agora rendidos à competência e à estaleca do homem. Depois de ter saído vencedor, respeita os vencidos e não se vinga, continuando com a postura de classe que sempre teve, mesmo quando era achincalhado por benfiquistas, pela chusma de comentadores avençados e nada isentos, e pelo exército de labregos e cobardes de Alvalade. Não é para todos. É de homem com H.
Rui Vitória é o treinador de que o Benfica necessitava para se afirmar definitivamente no contexto do futebol nacional e europeu. Vêm aí muitas vitórias para o Glorioso e muitas alegrias para a nação benfiquista. Longos anos no Glorioso, Rui.

troza disse...

Grande post :)

tomates, magnusson disse...

"Porém, se eram justas as criticas que se faziam na altura a RV"

Algumas eram justas mas muitas eram injustas, prematuras e num tom muitas vezes insultuoso.

(não estou a dizer que era ou deixava de ser o caso deste blog)