quarta-feira, 29 de julho de 2020

Benfiquistas com Voz – Bernardo Deu o Mote


Vamos aqui todos ser directos e honestos com tudo isto.

É ou não é verdade que nos últimos 15 anos criou-se uma mentalidade acrítica no Sport Lisboa e Benfica? Parece-me um facto incontestável.

Sim há pequenos focos críticos. Há alguns espaços que promovem o pensamento critico. Mas na generalidade criou-se no Benfica a mentalidade do “apoia”.

Uma grande maioria, incluindo os dirigentes e os meios de comunicação do clube (à cabeça a BTV), fomenta uma ideia de guerra, de nós contra os outros. E assim cria-se uma realidade onde os benfiquistas devem elogiar o que é seu e denegrir o que é dos rivais. O sentido critico dos benfiquistas passa a ser exclusivo dos clubes adversários.

Perdeu-se até a noção do que significa apoiar. Apoiar o clube é ignorar e/ou defender o que de errado é feito por quem nos dirige? Ou é também apontar esses erros e exigir melhorias e mudança?

Estamos a falar de um clube do qual os adeptos sempre, mas sempre mesmo, se gabaram de ser democrático ainda quando o país vivia uma ditadura. Um clube onde os adeptos sempre gabaram a pluralidade de ideias. Um clube onde os adeptos sempre apontaram o dedo aos métodos do Pinto da Costa, incluindo os seus métodos pouco democráticos de gestão.

Mas nos últimos 15 anos tudo mudou. Parece que passámos a viver mais os programas televisivos do que o próprio clube. Importante não era o representante benfiquista analisar com qualidade a actualidade do seu clube. Não. Importante era que batesse muito no adversário, fosse com verdades ou com mentiras descaradas. Quantas vezes não nos foi dito “não deviam discutir essas coisas publicamente, é dar armas aos rivais”? Quantas vezes?

No final da época não é altura de se discutir o clube. Porquê? Porque se ganhou então devemos reconhecer o mérito. Ou então porque se perdeu e não é o momento de bater mas sim de apoiar.
O arranque da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Porque não podemos desestabilizar. Temos de apoiar para começarmos bem.
A meio da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Pelos mesmos motivos do ponto anterior. É momento de apoiar e deixar as criticas para o final da época. Mas como já se sabe... também o final da época não é o momento para debater o clube.

Sim, esta foi a mentalidade que Luís Filipe Vieira instaurou no benfiquismo.

Os adeptos não devem ser ouvidos. Os adeptos não devem ter massa critica. Os adeptos simplesmente servem para encher o estádio e dar receitas de merchadising. O papel dos adeptos é ser fonte de receita e fonte de motivação para os atletas.

Aqueles adeptos que se atreverem a pensar o clube, a se preocuparem e a discutirem o seu clube, esses adeptos não são verdadeiros adeptos.

- Anti-benfiquistas
- Dragartos
- Vale e Azevedistas
- Velhos do Restelo
- Abutres
- Garotões
- Tachistas

Etc, etc e etc.

São demasiados os episódios em que vemos quem está no clube atacar os adeptos. Os ataques na BTV, os ataques do Pedro Guerra, os ataques no Jornal O Benfica, os ataques do José Nuno Martins, os insultos do presidente do clube, as tentativas de agressão do presidente do clube, a(s) agressão(ões) do presidente do clube e os ataques de outros membros da direcção.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foram feitas alterações estatutárias que retiraram voz e poder aos sócios. Alguém se lembra de Manuel Damásio? Alguém se lembra de como ele saiu da presidência do Sport Lisboa e Benfica?

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foi criado um canal de propaganda onde sócios críticos são rebaixados e até insultados.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” o vice-presidente Nuno Gaioso sentiu-se confortável o suficiente para dizer o seguinte aos sócios em plena Assembleia-Geral do clube:

- Os vossos votos não nos interessam porque vocês não percebem nada do assunto.
- O maior activo do Benfica é o presidente Luís Filipe Vieira.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” a actual direcção do Benfica conseguiu colocar os benfiquistas a ter de pagar mais 1/3 que os rivais para assistirem aos jogos da sua equipa.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” esta direcção dirigida por Luís Filipe Vieira tentou utilizar o dinheiro do clube para garantir as suas reformas e encher os bolsos dos seus amigos e companheiros de negócios, numa OPA totalmente escandalosa – desde os motivos apresentados, aos beneficiários e ao método de financiamento.

Esta direcção comporta-se há mais de 15 anos como se o Benfica fosse deles, deles dirigentes. E não dos sócios. E os sócios permitem isso. Permitem isso porque permitem não ter voz. Permitem isso porque agem como agentes de censura desta direcção. Permitem isso porque permitem que não se discuta o clube.

Vamos ter eleições em Outubro. Ainda não começou a campanha eleitoral. E o que já vemos por esta internet fora? Propagação de mentiras, de fake news, sobre os vários candidatos. A máquina de propaganda de Vieira – Hugo Gil e companhias – já anda a montar o seu pequeno espectáculo.

Nos últimos 5 dias são as mais variadas informações com que me deparo sobre os candidatos. E quando questiono as pessoas que vejo partilhar essas informações sobre as mesmas elas nunca têm a fonte da sua informação, nunca têm o sustento. Leram por aí. Afirmam que num canal a figura X disse Y. Afirmam com convicção. Mas quando questionadas se viram tal afirmação... não viram.

E foi nisto que Vieira transformou a democracia do Benfica. Qualquer opositor irá ser enxovalhado na praça pública e quase sempre com mentiras. Irá ser insultado. Irá ser conotado ao Porto ou ao Vale e Azevedo. Serão sempre aventureiros que nunca fizeram nada pelo Benfica e agora querem vir retirar dividendos do trabalho da actual direcção.

Muitos adeptos com este discurso nem sequer se apercebem que andam tão perdidos nessa narrativa que acabam por apelar ao fim das eleições no clube, ao fim da Democracia do Benfica.

Se ninguém se deveria poder candidatar. Se ninguém poderia sequer poder criticar. Então isto é o quê?

E como sempre temos a BTV a tomar a opção de não realizar debates, de não participar no processo eleitoral.

Como é que os benfiquistas aceitam isto? Como é que se aceita que a televisão de um clube paga pelos adeptos do clube, simplesmente ignore o acto eleitoral? As eleições de um clube não são um momento crucial da sua existência? Então como pode o canal do clube se fechar às mesmas?

Chega a altura das eleições e a BTV fecha a discussão do clube. Corta um espaço de divulgação do clube. O canal do clube promove a não pluralidade de ideias, o pensamento anti-democrático, a não discussão do clube, o não viver o clube. O canal do clube fecha as portas e as janelas aos seus adeptos. Afasta os benfiquistas das decisões da vida do clube. Mais uma vez, tira voz aos benfiquistas.

Já sabemos que Vieira não debate. À imagem de Pinto da Costa. Estratégia que aprendeu com o seu mentor. Vieira só dá entrevistas, entrevistas controladas. Entrevistas bajuladoras. Entrevistas onde possa exercer o seu monólogo sem contradição. Porque Vieira não aceita o sentido critico no Benfica, não aceita ser contrariado. Vieira não aceita debater o Benfica e o seu trabalho. Mais uma vez, corta a voz, corta a discussão, corta o pensamento e a análise critica aos benfiquistas. Vieira esconde-se para não se expor. Vieira esconde-se para não colocar o seu poder em cheque.

E os benfiquistas vão continuar a aceitar isto?





domingo, 26 de julho de 2020

Candidatura de João Noronha Lopes

Foi a última candidatura a ser apresentada para as próximas eleições. E parece ser a candidatura que mais está a mexer com o apoio dos benfiquistas. 

João Noronha Lopes apresenta-se a eleições com mais vantagens que qualquer outro dos opositores à actual Direcção. 

Ainda é cedo para fazer uma apreciação mais definitiva mas por agora ressalvo as características desta candidatura que a favorecem no contexto actual: 

- Vice-presidente da Direcção de Manuel Vilarinho 

- Vários apoios mediáticos 

- Sem ligações ao actual dirigismo 

- Abordagem benfiquista e apelo ao benfiquismo 

- Experiência profissional 

- Inteligência do discurso 

- Controlo emocional 

- Insistência na vertente desportiva do clube 

- Destaque à necessidade de Credibilidade e Transparência 

- Ambição europeia 

- Abordagem à questão estatutária 

- (Re)Conhecimento de várias preocupações existentes no seio do benfiquismo 


A Candidatura de Noronha Lopes tem como primeiro grande mérito o vir afastar o fantasma Vale e Azevedo da narrativa da actual Direcção. O fantasma Vale e Azevedo, as pedras da calçada, o papel da impressora, o papel higiénico, etc, etc e etc. 

Noronha Lopes foi vice-presidente de Manuel Vilarinho. Foi Manuel Vilarinho que derrotou o Vale e Azevedo, foi a Direcção de Vilarinho que pegou no clube super-endividado, sem posse sequer sobre as pedras da calçada. Portanto Noronha Lopes é um nome mais presente e relevante nesse primeiro momento pós-Vale e Azevedo que o próprio Luís Filipe Vieira. 

Outro dos principais méritos desta candidatura é o de conseguir cativar o apoio de várias figuras públicas reconhecidamente benfiquistas. Apesar de tudo o que o que LFV fez ao longo destes anos para criar uma unanimidade pública à sua volta, a verdade é que Noronha Lopes tem conseguido apoios importantes, apoios de benfiquistas que têm voz nos meios de comunicação, que têm fãs e seguidores, apoio de personalidades que têm a sua opinião respeitada e admirada por milhares e milhares de benfiquistas. Vasco Mendonça com o Azar do Kralj e o programa Dia Seguinte, o Ricardo Araújo Pereira com os seus artigos na Visão, o programa Isto é Gozar com Quem Trabalha e o Governo Sombra e o Pedro Adão e Silva que é cronista do Expresso e comentador na SportTv. Além destes surge também por exemplo Pedro Ribeiro com a sua voz nas manhãs da Rádio Comercial e até muito recentemente no programa Mais Futebol. Entre outros que já se juntaram ou ainda se juntarão a esta candidatura. 

O mito dos paraquedistas também cai por terra com esta candidatura. Noronha Lopes tem um currículo rico, uma experiência profissional vasta e com reconhecidos méritos. As suas competências de gestão e liderança estão à vista. Não será certamente visto como um abutre ou um aventureiro. 

Por fim, na sua primeira aparição e no seu manifesto mostra um discurso cuidado, estudado e inteligente. Não ataca a Direcção de LFV à descarada, o que lhe causaria vários atritos entre muitos benfiquistas. Não. O que ele faz é tocar em muitos dos pontos negativos da actual Direcção. Fala neles e reconhecendo a sua existência, joga-os na praça pública onde os próprios benfiquistas os irão considerar e criticar. Oposição inteligente.  

Puxa pela emoção na hora de falar do sentimento benfiquista, dos feitos do passado e das ambições para o futuro, mas puxa pela racionalidade, pela ponderação, no momento de falar sobre os pecados de Luís Filipe Vieira. Com esta inteligência emocional, se a conseguir manter até ao dia das eleições, será também no debate a principal e mais séria oposição a Vieira.  

Há vários outros tópicos do seu discurso que merecem ressalva: 

- A sua posição sobre Jorge Jesus foi dos pontos mais altos. Noronha Lopes traz o seu benfiquismo à cadeira da presidência e aceita Jorge Jesus exigindo-lhe explicações. Vamos ser sinceros, com todo o lixo mediático no pós-saída do JJ do Benfica, uma palavrinha do treinador aos sócios sobre aquele momento seria muito bem vinda e possivelmente acabaria com grande parte do atrito que para já vai encontrar entre os adeptos do Sport Lisboa e Benfica.  

- Destaca a vertente desportiva como o principal foco do clube. Isto é algo que tem sido ignorado pela actual Direcção e que muito tem incomodado os benfiquistas. E na verdade é um ataque ao Benfica Negócio, ao Benfica Empresarial. O Benfica que Vieira tem criado e que tanto por aqui tem sido criticado. O foco do Benfica deverá ser conquistas desportivas e não dar lucros. O Benfica não deverá distribuir dividendos financeiros mas sim investi-los na sua actividade. O Benfica existe para competir e ganhar e não para criar fontes de receitas e alimentar todos e os mais variados negócios. 

- A abordagem ao Benfica Europeu é também mais um mix de ataque à actual Direcção e de partilha da preocupação de todos os benfiquistas. 

Algo muito positivo é não apontar a títulos europeus, até porque hoje em dia não é isso que está em causa. O Benfica Europeu não é o Benfica campeão europeu. O Benfica Europeu é o Benfica presente e com relevância na Europa do futebol. Vieira aponta à conquista da Champions mas nem consegue criar condições para um Benfica de Top-8 nesta competição.  

- Transparência e Credibilidade são dois chavões que qualquer candidato, qualquer presidente, de qualquer clube, partido político ou associação de estudantes, fala. Aqui a questão é o timing. A sua importância é intemporal mas neste momento torna-se crucial. O contexto é tudo e o contexto judicial que a Direcção de Vieira está envolvida e tem envolvido o clube é um verdadeiro escândalo à história e valores do nosso clube.  

- A questão estatutária é outro ponto muito interessante. Pode parecer uma questão menor para quem vê de fora mas para quem vive o dia a dia do clube por dentro sabe a sua relevância. As alterações estatutárias que Vieira protagonizou de forma a se eternizar no cargo são um atropelo à democracia do clube. A revisão estatutária é urgente. E Noronha Lopes, nome por quase todos desconhecido, aparece claramente conhecedor das inquietações mais profundas do benfiquismo. Portanto uma candidatura que se relaciona com as preocupações mais privadas dos benfiquistas. 

Destaco também a inteligência desta candidatura com a insistência no Agora. Isto é um claro apelo a todos os benfiquistas que se sentem obrigados a votar em Vieira por gratidão. É uma forma de criar um fim de ciclo a essa gratidão, a esse reconhecimento generalizado do trabalho da Direcção de Luís Filipe Vieira. É um dizer "Ok eles fizeram a parte deles mas agora é altura de dar um passo em frente, de começar um novo capítulo". 

Até à data tínhamos uma candidatura de alguém parte da estrutura de Luís Filipe Vieira que recentemente decidiu abrir guerra ao seu "antigo" ídolo. Tínhamos uma candidatura de Facebook, de piadas, de ideias copiadas e focada nos amigos e bajuladores da caixa de comentários, um candidato ao sabor do vento das redes sociais. E tínhamos uma candidatura por agora ainda sem qualquer relevo, de adeptos que ainda não se chegaram realmente à frente (aguardam o término da época). 

Se até ao momento via a actual Direcção a ter o seu primeiro incómodo em todo o seu reinado perante a agressividade da candidatura de Rui Gomes da Silva, com a candidatura de Noronha Lopes já acredito na possibilidade de termos umas eleições bem mais competitivas e capazes de colocar em risco o conforto da cadeira do actual presidente. 

A candidatura de Noronha Lopes faz um apelo ao romantismo das antigas glórias do Benfica, do Benfica do Ontem, um Benfica do antes de Vale e Azevedo e Luís Filipe Vieira, com projecção para o Agora. O recomeçar, o retomar Agora a paixão do benfiquismo de Ontem. 

                            Imagem relacionada

Contudo, ainda é cedo. Muito cedo. Por isso digo-vos que hoje sei em quem não vou votar. Hoje tenho o voto branco como garantido. Hoje ainda aguardo por mais desenvolvimentos para poder dar cor ao meu voto. Mas hoje estou mais feliz, mais realizado, com as novas possibilidades que vão surgindo.