Vamos aqui todos ser directos e honestos com tudo isto.
É ou não é verdade que nos últimos 15 anos criou-se uma
mentalidade acrítica no Sport Lisboa e Benfica? Parece-me um facto incontestável.
Sim há pequenos focos críticos. Há alguns espaços que
promovem o pensamento critico. Mas na generalidade criou-se no Benfica a
mentalidade do “apoia”.
Uma grande maioria, incluindo os dirigentes e os meios de
comunicação do clube (à cabeça a BTV), fomenta uma ideia de guerra, de nós
contra os outros. E assim cria-se uma realidade onde os benfiquistas devem
elogiar o que é seu e denegrir o que é dos rivais. O sentido critico dos
benfiquistas passa a ser exclusivo dos clubes adversários.
Perdeu-se até a noção do que significa apoiar. Apoiar o
clube é ignorar e/ou defender o que de errado é feito por quem nos dirige? Ou é
também apontar esses erros e exigir melhorias e mudança?
Estamos a falar de um clube do qual os adeptos sempre, mas
sempre mesmo, se gabaram de ser democrático ainda quando o país vivia uma
ditadura. Um clube onde os adeptos sempre gabaram a pluralidade de ideias. Um
clube onde os adeptos sempre apontaram o dedo aos métodos do Pinto da Costa,
incluindo os seus métodos pouco democráticos de gestão.
Mas nos últimos 15 anos tudo mudou. Parece que passámos a
viver mais os programas televisivos do que o próprio clube. Importante não era
o representante benfiquista analisar com qualidade a actualidade do seu clube.
Não. Importante era que batesse muito no adversário, fosse com verdades ou com
mentiras descaradas. Quantas vezes não nos foi dito “não deviam discutir essas
coisas publicamente, é dar armas aos rivais”? Quantas vezes?
No final da época não é altura de se discutir o clube.
Porquê? Porque se ganhou então devemos reconhecer o mérito. Ou então porque se
perdeu e não é o momento de bater mas sim de apoiar.
O arranque da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Porque não
podemos desestabilizar. Temos de apoiar para começarmos bem.
A meio da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Pelos mesmos
motivos do ponto anterior. É momento de apoiar e deixar as criticas para o
final da época. Mas como já se sabe... também o final da época não é o momento
para debater o clube.
Sim, esta foi a mentalidade que Luís Filipe Vieira instaurou
no benfiquismo.
Os adeptos não devem ser ouvidos. Os adeptos não devem ter
massa critica. Os adeptos simplesmente servem para encher o estádio e dar
receitas de merchadising. O papel dos adeptos é ser fonte de receita e fonte de
motivação para os atletas.
Aqueles adeptos que se atreverem a pensar o clube, a se
preocuparem e a discutirem o seu clube, esses adeptos não são verdadeiros
adeptos.
- Anti-benfiquistas
- Dragartos
- Vale e Azevedistas
- Velhos do Restelo
- Abutres
- Garotões
- Tachistas
Etc, etc e etc.
São demasiados os episódios em que vemos quem está no clube
atacar os adeptos. Os ataques na BTV, os ataques do Pedro Guerra, os ataques no
Jornal O Benfica, os ataques do José Nuno Martins, os insultos do presidente do
clube, as tentativas de agressão do presidente do clube, a(s) agressão(ões) do
presidente do clube e os ataques de outros membros da direcção.
Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foram feitas alterações
estatutárias que retiraram voz e poder aos sócios. Alguém se lembra de Manuel
Damásio? Alguém se lembra de como ele saiu da presidência do Sport Lisboa e
Benfica?
Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foi criado um canal de propaganda onde
sócios críticos são rebaixados e até insultados.
Sob o lema “O Benfica é dos sócios” o vice-presidente Nuno Gaioso sentiu-se
confortável o suficiente para dizer o seguinte aos sócios em plena
Assembleia-Geral do clube:
- Os vossos votos não nos interessam porque vocês não
percebem nada do assunto.
- O maior activo do Benfica é o presidente Luís Filipe
Vieira.
Sob o lema “O Benfica é dos sócios” a actual direcção do
Benfica conseguiu colocar os benfiquistas a ter de pagar mais 1/3 que os rivais
para assistirem aos jogos da sua equipa.
Sob o lema “O Benfica é dos sócios” esta direcção dirigida
por Luís Filipe Vieira tentou utilizar o dinheiro do clube para garantir as
suas reformas e encher os bolsos dos seus amigos e companheiros de negócios,
numa OPA totalmente escandalosa – desde os motivos apresentados, aos
beneficiários e ao método de financiamento.
Esta direcção comporta-se há mais de 15 anos como se o
Benfica fosse deles, deles dirigentes. E não dos sócios. E os sócios permitem
isso. Permitem isso porque permitem não ter voz. Permitem isso porque agem como
agentes de censura desta direcção. Permitem isso porque permitem que não se
discuta o clube.
Vamos ter eleições em Outubro. Ainda não começou a campanha
eleitoral. E o que já vemos por esta internet fora? Propagação de mentiras, de
fake news, sobre os vários candidatos. A máquina de propaganda de Vieira – Hugo
Gil e companhias – já anda a montar o seu pequeno espectáculo.
Nos últimos 5 dias são as mais variadas informações com que me deparo sobre os
candidatos. E quando questiono as pessoas que vejo partilhar essas informações
sobre as mesmas elas nunca têm a fonte da sua informação, nunca têm o sustento.
Leram por aí. Afirmam que num canal a figura X disse Y. Afirmam com convicção.
Mas quando questionadas se viram tal afirmação... não viram.
E foi nisto que Vieira transformou a democracia do Benfica.
Qualquer opositor irá ser enxovalhado na praça pública e quase sempre com
mentiras. Irá ser insultado. Irá ser conotado ao Porto ou ao Vale e Azevedo. Serão
sempre aventureiros que nunca fizeram nada pelo Benfica e agora querem vir
retirar dividendos do trabalho da actual direcção.
Muitos adeptos com este discurso nem sequer se apercebem que andam tão perdidos
nessa narrativa que acabam por apelar ao fim das eleições no clube, ao fim da
Democracia do Benfica.
Se ninguém se deveria poder candidatar. Se ninguém poderia
sequer poder criticar. Então isto é o quê?
E como sempre temos a BTV a tomar a opção de não realizar
debates, de não participar no processo eleitoral.
Como é que os benfiquistas aceitam isto? Como é que se aceita que a televisão
de um clube paga pelos adeptos do clube, simplesmente ignore o acto eleitoral?
As eleições de um clube não são um momento crucial da sua existência? Então
como pode o canal do clube se fechar às mesmas?
Chega a altura das eleições e a BTV fecha a discussão do
clube. Corta um espaço de divulgação do clube. O canal do clube promove a não
pluralidade de ideias, o pensamento anti-democrático, a não discussão do clube,
o não viver o clube. O canal do clube fecha as portas e as janelas aos seus
adeptos. Afasta os benfiquistas das decisões da vida do clube. Mais uma vez,
tira voz aos benfiquistas.
Já sabemos que Vieira não debate. À imagem de Pinto da
Costa. Estratégia que aprendeu com o seu mentor. Vieira só dá entrevistas,
entrevistas controladas. Entrevistas bajuladoras. Entrevistas onde possa
exercer o seu monólogo sem contradição. Porque Vieira não aceita o sentido
critico no Benfica, não aceita ser contrariado. Vieira não aceita debater o
Benfica e o seu trabalho. Mais uma vez, corta a voz, corta a discussão, corta o
pensamento e a análise critica aos benfiquistas. Vieira esconde-se para não se expor. Vieira esconde-se para não colocar o seu poder em cheque.
E os benfiquistas vão continuar a aceitar isto?