Não vou aos tempos do Amora recuperar o trio de centrais de Jorge Jesus, importa-me somente perceber o Benfica nas mãos de JJ.
Na sua primeira passagem pela Luz apresentou-se ao clube com a forte afirmação
que a equipa consigo jogaria o dobro. Dito e feito. Nas mãos de Jorge Jesus a
nossa equipa começou a jogar muito mais.
Agora no seu retorno foi ainda mais ambicioso. Assim que chegou afirmou que a
equipa iria jogar o triplo e que nos ia oferecer espectáculo. Dito porém longe
de ser feito. Este novo Benfica do Jorge Jesus tarda em carburar e tem reunido apáticas
exibições atrás de enfadonhas exibições.
Verdade seja dita, o nome é o mesmo, o homem é o mesmo, mas o treinador está
longe de o ser.
Jorge Jesus habituou-me a um futebol aberto, rápido e muito desequilibrado. Só
quando a equipa estava muito bem trabalhada é que o dito desequilíbrio nos
favorecia. Mas acima de tudo, Jorge Jesus habituou-me a uma equipa forte no
jogo sem bola, expert na capacidade de defender com poucos e extremamente
potenciadora da criatividade ofensiva.
Com o seu 4-2-4 fazia evoluir os seus centrais, elevava a estrelas os médios com
que segurava o meio campo e espremia todo o talento dos criativos da frente,
procurando um Benfica dinamizador e goleador.
Partir o jogo e lançar ataques rápidos sempre foi uma característica do futebol
de Jorge Jesus. Isso não mudou. Desaproveitar a formação, casmurrar com certos
jogadores por si escolhidos e arrogantizar por aí fora, também são
características que se mantêm. Aliás, a arrogância é a sua característica mais
visível e muitos dissabores nos tem dado, tanto por certos comportamentos quanto
devido à cegueira que esta lhe causa na hora de mexer no jogo.
O problema é que o essencial que fazia de Jorge Jesus um potencial magnifico
treinador parece estar desvanecer-se com o tempo.
- Extrair futebol de talentos.
- Defender bem com poucos.
- Atacar com criatividade.
A expectativa de ver certos jogadores nas mãos de Jorge Jesus tornou-se numa
pura desilusão. Chiquinho, Pedrinho, Jota, Pizzi, Darwin, Waldschmidt, Everton,
Krovinovic, Florentino e Gonçalo Ramos. Pouco se espremeu, muito pouco se
lapidou.
A velocidade do Rafa, a qualidade de um jogador feito como é o João Mário e um
super jogador como é o Weigl, têm sido o destaque individual deste Benfica.
Dedo do Jorge Jesus só mesmo em zonas mais recuadas do terreno. Viu-se logo uma
forte melhoria no posicionamento do Rúben Dias e estamos a ver um Otamendi muito
mais seguro do que aquele trapalhão que cá chegou.
Quanto ao processo defensivo ficou evidente o fracasso de Jorge Jesus na época
passada. A equipa defendia mal e o treinador do Benfica para contrariar isso só
teve uma solução: colocar mais um defesa em campo. Foi assim que passámos para
os 3 centrais.
E nada tenho contra um sistema de três centrais. Contudo não gosto quando é
usado por estes motivos e somente com o objectivo de tapar a baliza, de encher
a área defensiva.
Por fim temos a pouca criatividade que o ataque do Benfica tem demonstrado nas
mãos deste novo mais velho Jorge Jesus. Não é por acaso que praticamente todos
os jogadores criativos têm falhado. Este treinador nunca valorizou a posse de
bola mas também nunca descurou do ataque apoiado, mesmo jogando em transições
rápidas.
Hoje vemos um Jorge Jesus a fazer das suas armas ofensivas a força e a
velocidade – o ataque à bruta. Três homens na frente para correrem de frente à
defesa adversária, chocando nela até a partirem.
Para mim assim se define o retrato deste Benfica. Ao menos finalmente temos uma
equipa com uma identidade de jogo. Jorge Jesus encontrou o seu 11, finalmente
encontrou o seu (novo) futebol. Funciona? É bonito? É prazeroso? É espectacular?
De forma muito simplificada podemos dizer que o 4-2-4 deu lugar lugar a um 3-4-3
- com 3 centrais a servir de tampão na área, com 3 atacantes a baterem-se com
os defesas contrários e com 4 homens em compensações.
Os adversários com alguma facilidade conseguem criar várias aproximações à
nossa área contudo são constantemente levados ao espaço nas alas tendo de
recorrer a cruzamentos que facilmente os nossos 3 defesas conseguem limpar.
Jogo partido e o tampão defensivo a funcionar.
Lá na frente é constante o ataque á profundidade e a velocidade vertical dos
nossos 3 avançados coloca as defensivas adversárias em constantes sobressaltos.
Colocamos igualdade numérica nos ataques e os adversários a correr atrás da
bola mas depois falta-nos a criatividade, a técnica e os apoios – o Yaremchuk
pode fazer este papel mas não é o seu futebol natural; o Darwin é feito para
este jogo mas peca pela fraca qualidade técnica na recepção e condução da bola.
E com a criação desta identidade de jogo surge um problema de plantel. Não
temos segundas escolhas. De 11 jogadores só 4 podem ser substituídos sem se mudar
o estilo de jogo – Guarda-redes, um Central, Ala direito e o Ponta de Lança.
O Grimaldo, o João Mário e o Weigl simplesmente não têm substitutos. De resto
todas as outras opções de ataque são jogadores de posse, de controlo da bola,
de jogo interior e futebol entrelaçado – não encaixam nesta ideia.
Os últimos 6 jogos parecem-me bem ilustrativos disto que aqui tenho divagado.
Barcelona – O Benfica foi dono do jogo sempre que o partiu. A defesa esburacada
deste Barcelona transmitia insegurança a todo o colectivo sempre que apanhava com
os nossos avançados. Com os nossos 3 centrais o catalães simplesmente não
tiveram futebol para furar. Só não foi assim quando após o primeiro golo a
nossa equipa decidiu recuar, permitindo tempo e espaço para o Barcelona subir
linhas, respirar e tentar construir – sem jogo partido ficámos a ver jogar um
triste Barcelona.
Portimonense – Em 90 minutos de jogo só durante 20 é que fomos ofensivamente
avassaladores. Perante os algarvios bem recuados faltou-nos criatividade no
ataque para criar mais perigo durante quase 4/5 da partida.
Trofense – Uma excepção pelo contexto do jogo e do adversário. Não há muito a
analisar numa equipa sem identidade. O 11 titular foi mal gerido pelo treinador
e tal foi reconhecido quando para tentar segurar o 1-0 se viu obrigado a lançar
os habituais titulares.
Bayern – O jogo do Benfica ficou em exposto aqui. Incapacidade de ataques
apoiados resumiu a ofensiva encarnada a 3 jogadas de ataque resultantes de 3
cavalgadas individuais. E logo na primeira as carências técnicas do Darwin foram
evidentes. Sem bola a equipa foi incapaz de impedir o Bayern de facilmente
criar inúmeras jogadas de ataque. Depois perante jogadores deste calibre não é
um tampão de 3 centrais que vai impedir incontáveis sustos na nossa baliza – vários
bem antes de qualquer um dos quatro golos concedidos.
Vizela – O jogo que confirma as fragilidades desta forma de jogar (e treinar). O
Vizela recusou-se a partir o jogo e com isso o Benfica não conseguiu lançar as
cavalgadas ofensivas, o que banalizou os seus atacantes. Por outro lado com
simples tabelas os jogadores da casa iam criando várias aproximações à nossa
área. Porquê? Porque a preocupação dos nossos centrais em fechar a área aumenta
o distanciamento para os nossos médios.
Vitória – Em Guimarães, com algumas alterações ao 11 titular, tivemos outras
confirmações.
Alternativas como o Meitê são simples aberrações de águia ao peito – há jogadores
que simplesmente não têm substitutos.
As nossas alternativas ofensivas trazem um outro futebol à equipa, quebrando-se
a tal identidade de jogo. Com Pizzi e Everton a equipa tem um futebol mais
rendilhado, mais pensado, mais técnico, mais interior e apoiado. Enquanto quisemos
ter bola e jogar fizemos dos nossos melhores jogos da época. Depois foi o
descalabro, o desmoronar de uma equipa sem identidade e jogar no medo com
jogadores inconcebíveis.
Neste caso o Vitória aceitou partir o jogo, ganhou-nos o meio-campo, meteu mais
homens juntos à nossa defesa e não se preocupou com os desequilíbrios defensivos
pois desta vez o Benfica não tinha sido montado para os aproveitar.
Agora voltaremos ao 3-4-3, ou melhor ao 3-0-4-0-3. A questão será perceber se o
Estoril aceitará ou não partir o jogo. Se não aceitar o Benfica dificilmente
sofrerá golos mas também dificilmente marcará.