No texto anterior abordava-se a temática dos investimentos efectuados em termos de transferências. Sobre transferências, apenas quero deixar duas perguntas no ar e quem quiser que as responda:
- Que sentido faz vender o 30% do passe do Maxi Pereira ao BSF (Benfica Stars Fund) em 2010 por 1,35 milhões de euros e comprar 30% do passe ao Defensor Sporting em 2011 por 2,7 milhões de euros ?
- Tendo a Benfica SAD vendido ao BSF 25% do passe do Nelson Oliveira e sendo detentora de 45% do passe, a quem, quando e por quanto foram alienados os remanescentes 30% ? E porque motivo esse facto não foi mencionado nos R&C ?
O relatório anuncia o triunfo da subida de espectadores, Em 29 jogos disputados no estádio da Luz estiveram mais de 800.000 espectadores o que perfaz a espantosa média de 29.632 espectadores por jogo representando uma subida dos 23.698 da época anterior. É só a mim, ou a vocês também vos parece que os números são demasiado baixos ? Claro que os jogos da Taça da Liga devem ter contribuído bastante para estes baixos números. E isto leva-me a abordar o que para mim foi o maior erro estratégico da Benfica SAD no passado Verão, a opção por fazer os sócios suportarem quase integralmente a subida da Taxa de Iva nos Red Passes.
Já anteriormente abordei este tópico. A falta de visão estratégica desta decisão é assustadora. Porque quebraram a ligação que muitos sócios tinham que os fazia investir no Benfica antes da época começar. Ao optar por subir os preços em vez de internalizar os custos da subida de impostos, a Benfica SAD fez com que muitos sócios deixassem de gastar aqueles 170 ou 310 euros no início do época e desviassem esses gastos para qualquer outro fim. Numa relação, é menor o trabalho para manter a confiança do que para reconquistá-la depois de perdida.
A Benfica Sad quebrou a confiança dos sócios e perante o descalabro que tem sido mais que evidente em termos de asistências, basta ler o post do Ricardo sobre o assunto, publicado há uns dias, para perceber que, à excepção dos jogos com Braga, o 1.º do campeonato e influenciado pelos emigrantes a passar férias, e o jogo com o Barcelona, hoje por hoje considerada a melhor equipa do mundo, as assistências são sofríveis. Em média as assistências, exceptuando esses dois jogos, se calhar, andam pela meia-casa - 32.750, quando era comum rondarem os 40.000. Sim, porque as assistências aos jogos da Taça da Liga que se avizinham obviamente que nem aos valores da média se aproximarão.
Qual é a consequência desta má opção ? Borlas generalizadas. A primeira das quais está agendada para o Benfica-Celtic onde além de estenderem as ofertas que normalmente só se aplicavam ao campeonato relativas ao débito directo, ainda oferecem sem custos bilhetes às Casas do Benfica para fazerem excursões. Resultado, quem quiser ir do Algarve ver o Celtic apenas tem de pagar 30 euros, seja ou não sócio e estes 30 euros incluem a viagem e o bilhete. Cá se fazem, cá se pagam os apoios dos braços armados.
Mas podem perguntar, desde quando é que é grave o Benfica tentar encher o estádio num jogo europeu decisivo. Não é grave, apenas faz com que desrespeitando quem investiu no pack Champions, o Benfica desincentive os sócios a adquirirem este pack em anos futuros, à semelhança do Red Pass, pois obviamente pagaram um valor antecipadamente que outros agora não o vão pagar. Continuem que assim vão bem. Aliás a promessa eleitoral da baixa de preços dos bilhetes e das quotas é efectivamente a consequência directa da quebra nas assistências devido ao erro de Julho.
É verdade que a crise está para durar, e o futebol deixa de ser uma prioridade quando comparada com as despesas de alimentação ou com os filhos e por isso, ao contrário de muitas opiniões da net, acho que a crise é uma das principais responsáveis pelas fracas assistências. Mas acima de tudo, a quebra nos Red Pass, que se traduz pelo fim do hábito de ir ao estádio numa base quinzenal, no mínimo, e consequentes quebras de receitas conexas, por exemplo o merchandising, é a outra razão decisiva para este fenómeno. Só espero, é que o responsável por tal decisão, não volte a ser recompensado em termos de prémios, também conhecidas como remunerações variáveis, como o foi nas duas últimas épocas - 99.000 euros em 2010/11, e 49.950 euros em 2011/12, duas épocas que todos sabemos foram claramente marcadas pelo êxito em termos desportivos e financeiros.
A propósito do tema financeiro, quero dizer que o Benfica esteve muito bem ao propor-se para ser o clube português a ser o representante na comissão do Financial Fair-play da UEFA, sendo o primeiro clube português a preparar a apresentação das suas contas à UEFA segundo o novo enquadramento. No entanto, quero desde já salientar que não basta ser representante na comissão, pois uma das regras fala do limite de prejuízos acumuláveis.
Olhemos então para a evolução dos Resultados Líquidos nos últimos anos:
Época 2009-10 Resultado Líquido -18,998 M€
Época 2010-11 Resultado Líquido - 7,663 M€
Época 2011-12 Resultado Líquido -11,690 M€
Total Acumulado dos Resultados Líquidos 2009-12 = -38,351 M€
Nas últimas 3 épocas a SLB SAD somou mais de 38 milhões de euros de prejuízo e atenção porque não incluí a época 2008-09 onde o Resultado Líquido foi de -34,856 milhões de euros, senão o panorama seria muito mais negativo, mas considero que se deva olhar apenas para o último mandato. Claro que uma análise que se faça às contas diz-nos para olharmos não só para os resultados líquidos mas também para os resultados operacionais.
A variação dos Resultados Operacionais nas 3 últimas épocas:
Época 2009-10 Resultado Operacional -11,304 M€
Época 2010-11 Resultado Operacional + 7,317 M€
Época 2011-12 Resultado Operacional + 5,125 M€
Total Acumulado dos Resultados Operacionais 2009-12 = +1,138 M€
Verificamos pois que a diferença acumulada entre resultados operacionais e resultados líquidos nestes 3 anos é de quase 40 milhões de euros. O que justificará então esta brutal diferença ? A resposta é muito simples, os Resultados Financeiros, isto é, os custos de financiamento deste modelo de gestão. O modelo de financiamento da Benfica SAD está a levar embora o valor criado na actividade regular.
Senão vejamos:
Época 2009-10 Resultado Financeiro - 7,940 M€
Época 2010-11 Resultado Financeiro - 14,649 M€
Época 2011-12 Resultado Financeiro - 16,922 M€
Total Acumulado dos Resultados Financeiros 2009-12= -39,511 M€
Quando uma sociedade tem custos de financiamento que representam entre 10 e 15% dos proveitos, algo tem que ser feito para corrigir esta situação.
Bem sei que quem olha para uma perspectiva mais económica e menos contabilística das contas prefere analisar o EBITDA. E neste aspecto o Benfica tem apresentado rsultados muito interessantes:
Época 2010-11 EBITDA 49,768 M€
Época 2011-12 EBITDA 46,213 M€
Total Acumulado do EBITDA 2009-12= 116,594 M€
Estes resultados confirmam que o Benfica, não só na SAD (em termos individuais o EBITDA acumulado da SAD é de 89,766 M€), pois estes são os resultados consolidados, como no grupo Benfica que consolida as contas, consegue, em princípio, gerar o suficiente para garantir que não terá rupturas de tesouraria. Porém, considero que olhar para apenas para o EBITDA, num negócio onde as amortizações por vezes conduzem à perda total do investimento nos passes dos jogadores e as imparidades são algo frequentes, é uma análise demasiado redutora.
Perante este quadro concerteza que estarão já os leitores a pensar, mas com valores tão positivos em termos de EBITDA porque que é que só se acentuam os pontos negativos na gestão ? Será que temos que ver sempre tudo pelo lado negro ? Não. Mas há riscos substanciais que têm que ser atacados para que não caminhemos no sentido de Porto e Sporting vão desgovernando as suas SADs.
O Benfica conseguiu em 2011-12 um nível recorde de proveitos operacionais, sem incluir as operações com passes de jogadores, cerca de 91 milhões de euros. É certo que os proveitos originados pelo desempenho desportivo na Champions foram essencialmente responsáveis pelo crescimento face à época anterior.
Proveitos Operacionais excluindo operações com passes de jogadores, deduzidos dos prémios das competições europeias:
2010-11 - 68,801 M€
2011-12 - 68,740 M€
Quer isto dizer que apesar da crise que se agravou durante a época de 2011-12, quer através da subida do desemprego, quer através de medidas que limitaram o rendimento disponível das famílias e empresas, em termos de receitas operacionais o Benfica conseguiu manter o mesmo nível de receitas, o que faz supor que em condições normais, sem recessão, o Benfica conseguiria aumentar o seu nível de receitas em pelo menos 5 a 6 %.
O problema é que mesmo que o Benfica consiga um desempenho na Champions similar ao da época passada, o que neste momento se afigura muito difícil, os prémios da Champions vão diminuir, quer porque o Braga também entra no Market-pool, quer porque o Benfica já não terá os prémios relativos aos jogos de acesso à Champions, quer mesmo porque não terá também esses jogos e as correspondentes receitas. Mas não só, as receitas de quotização e bilheteira estão em queda, bem como os valores relativos a cativos e corporate.
Não querendo ser muito pessimista e assumindo que o Benfica conseguiria na Europa um desempenho ao nível de 2010-11, penso que será possível limitar a queda dos proveitos operacionais, sem operações com passes de jogadores, para os 75 milhões de euros. Atenção que este valor pressupõe que não existirão antecipações de receitas, nomeadamente de âmbito ligado às transmissões televisivas. Pressupõe ainda que não existirá assinatura de contrato relativo ao Naming do Estádio, pois penso que seja possível conseguir entre 5 e 7,5 milhões de euros anuais por esta operação.
Se por um lado os proveitos operacionais sem operações com passes de jogadores apresentam uma tendência para cair, por outro lado as operações com passes de jogadores. que na época 2011-12 tiveram um resultado negativo de 2,431 milhões de euros, irão apresentar um resultado muito positivo com a inclusão das operações relativas às alienações dos passes do Javi Garcia e do Alex Witsel.
Não tenho ideia de quanto será o valor positivo relativo a estas duas operações porque existiram notícias que o Benfica não teria a totalidade do passe do belga. Se anteriormente não acreditaria nestas notícias, tendo em conta o que atrás mencionei relativamente ao Nelson Oliveira, actualmente limito-me a aguardar pelos R&C para poder comprovar da veracidade ou não dessas notícias.
A terminar, pois o post já vai novamente longo, quero só alertar para que as despesas com pessoal têm crescido a um ritmo impressionante nestes últimos 3 anos:
Época 2009-10 Custos com Pessoal 38,263 M€
Época 2010-11 Custos com Pessoal 42,343 M€
Época 2011-12 Custos com Pessoal 48,130 M€
Em três épocas os custos com pessoal cresceram mais de 25%.
Juntamente com o crescimento dos custos financeiros, o crescimento dos custos com o pessoal é o aspecto mais preocupante do actual modelo de gestão. E é tão mais preocupante quanto as condições externas são particularmente adversas no que diz respeito ao rendimento disponível das famílias e empresas em Portugal. Neste sentido, já anteriormente apontei a internacionalização como caminho possível para obviar à queda de receitas do mercado interno, mas considero que acima de tudo é do lado da despesa que temos que actuar, à semelhança do país, seja pela renegociação e/ou amortização dos empréstimos obtidos em detrimento de investimentos na equipa de futebol, seja pela contenção nos custos com o pessoal
PS - Acabei de receber um email relativo ao Benfica-Olhanense onde se propõe o acesso ao estádio a 2 adultos e 2 crianças por 25 euros. Volto ao que disse anteriormente, as más decisões de gestão estratégica, levam a péssimas decisões de gestão corrente.
1 comentário:
... " É verdade que a crise está para durar, e o futebol deixa de ser uma prioridade" ...
O futebol só é um prioridade para aqueles que fazem dele uma profissão!
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