9 graus era a temperatura registada hoje nos Arcos.
O ambiente e o jogo acompanharam a frieza do termómetro.
Previsível elevado grau de dificuldade para este jogo, num terreno – batatal - tradicionalmente
complicado, contra um adversário em 4º
lugar na tabela classificativa (com todo o mérito), em que 4 dos pontos
conquistados foram ao F.C. Porto (empate em casa) e ao Sporting (vitória em
Alvalade), acrescido do facto de termos jogado na 4ª feira para a Champions.
Era este o cenário para o jogo de hoje em mais um Estádio deste nosso Portugal a
acompanhar o Benfica que apresentou uma boa casa. A bancada destinada aos
visitantes – nós – estava pintada de vermelho, com as claques em cada uma das
extremidades.
Não foi um jogo bonito, não foi um jogo emocionante nem muito menos de
qualidade. Foi um jogo muito trabalhoso e demasiado sofredor. Quer para a
Equipa quer para nós, adeptos, presentes
no estádio ou em frente à tv.
Os segundos 45 minutos foram, no mínimo, um permanente ataque aos nossos nervos
e capacidade de sofrimento.
Sem Maxi, ausente por lesão, André Almeida ocupou a vaga deixada do lado
direito e juntou-se a Salvio que teve uma noite mais do que desinspirada.
Foi no corredor oposto, com Melgarejo e sobretudo Ola John que o jogo do
Benfica foi fluindo mais e melhores vezes.
Sem qualquer remate digno de registo por parte do Rio Ave, na 1ª parte o
Benfica ía dominando o jogo mas sem grandes consequências. A pior consequência
foi mesmo a perda de Enzo Peres por problemas musculares ainda nem tínhamos chegado
a meio da 1ª parte de jogo. “Chuta Chuta”
é o eleito por JJ para render o
argentino mas que pareceu nunca ter chegado. Ao contrário de algumas opiniões penso
que Bruno César se esforçou imenso mas aquela lentidão física e mental em que
parecia preso foram mesmo a imagem que guardei da sua exibição. Parecia
deambular num espaço estranho. Nesta
mesma linha não será necessário tecer mais comentários sobre Gaitan.
O irrequieto Lima e o inconformado Cardozo íam abanando a equipa com o acompanhamento
da ala esquerda. Na sequência de um lance de bola parada, já no período de descontos, conseguimos chegar
à vantagem. Salvio efectua o lançamento – talvez a sua acção mais determinante
durante o jogo – Jardel desvia para a área de cabeça e Lima não perdoa! Um
suspiro de alívio colectivo fez-se sentir naquela bancada que provavelmente não
imaginava que este suspiro na 2ª parte iria ser substituído pelo permanente
credo na bôca no período seguinte.
A 2ª parte foi penosa. O Rio Ave reagiu, subiu mais vezes e foi criando
situações de desiquilibrio que conseguiam que os adeptos benfiquistas ainda conseguissem
sentir calafrios para além do frio que abraçava os Arcos. Desde o meio campo
passando pela faixa lateral direita, o Rio Ave procurou aproveitar alguma
inércia nestas áreas pelos jogadores do Benfica que pareciam congelados.
Íamos perdendo um meio campo já de si mais do que fragilizado, por isso deduzi que JJ decide chamar Miguel Vitor.
Encostou-se à direita a jogar com André Almeida, e Gaitan desloca-se mais
para o miolo. O miúdo, ainda “verde”, não comprometeu e Miguel Vitor,
claramente sem ritmo de jogo, não deixou de ficar nas covas sempre que foi chamado
a fazer frente aos sprints de Obadeyi.
A falta que um nº 10 nos faz chega a ser dolorosa.
Matic, Garay, Jardel e Artur foram, sem dúvida, o bloco defensivo guardião da
vantagem trazida da 1ª parte, que viria a permitir a conquista dos 3 pontos.
Já quase no final do jogo assisti a uma defesa simplesmente incrível por parte
de Artur, só quando o vi a repor a bola para pontapé de baliza é que percebi
que a bola quando cruzada pelo jogador do Rio Ave antes tinha sido considerada
fora. Mas não deixa de ser uma defesa do outro mundo!
O Benfica e nós sofremos hoje mas já se sabe que destes jogos vamos ter alguns
senão muitos esta época. Que terminem todos com os 3 pontos é o que posso
desejar e o que tanto sofrimento merece.
Para além dos 90 minutos, tenho e não consigo deixar de ser pragmática, tal como o resultado de hoje, mesmo que
isso implique ter que levar com a conversa do “não sei qual é o teu problema,
estamos em 1º”. Estamos, à 9ª jornada estamos em 1º, mas isso não é o
suficiente para me tranquilizar face ao desiquilibrio com que vejo a equipa que
nunca, nunca alinha com o mesmo 11 por motivos de “força maior” relacionados
com o mau planeamento da época, lesões, ausências..
O quebra-cabeças de JJ é bem maior que o nosso, mas a preocupação não deverá ser
menor que a de muitos de nós. Este é um dos casos em que a preocupação de
terceiros não deixa de ser a minha também.
Se dissesse que o que me move actualmente é a confiança estaria a mentir,
estaria a enganar-me a mim e a quem ler o que escrevo. Não é, é a paixão
incondicional que tenho e mantenho por este Clube que me move e me leva a
secundarizar e esquecer qualquer falta de confiança mal a bola começa a rolar,
seja onde fôr.
Hoje nos Arcos houve algo que fez despertar o espectro dessa falta de
confiança: o silêncio. Naquela bancada, durante a maior parte do jogo, não ouvi
os nossos gritos e cânticos. Sobretudo por parte daqueles que se fazem sempre
ouvir. A julgar pelas habituais conversas de bancada, não era por causa do frio
porque as contingências climatéricas nunca foram obstáculo para que a nossa voz
se fizesse ouvir.
A preocupação não é um defeito, é uma virtude. Tal como a paixão e a fé que nos
fazem acreditar nem que seja apenas durante 90m. E de 90 em 90m..
6 comentários:
Pois é Marta, a coisa não esteve para menos...
Mas devo dizer que também não foi um sofrimento de penúria. Sofreu-se, como um bom gigante por vezes tem de saber sofrer, tal quando se olha ao espelho e lá as coisas parecem ser mais compridas e na realidade...
Mais um bom game report Marta. Gostava é que nos dissesses mais sobre o sentir na bancada, o que pensa o povo. Se houve uma explosão de alegria com o apito final ou só um alívio monumental pelo sofrimento imenso que foi a segunda parte.
Obrigada BCool.
Neste jogo, o que mais me “afectou” por parte do público foi o silêncio que se fez sentir nas bancadas que referi. Então por parte das claques era verdadeiramente desolador. Não existiram grandes explosões na assistência, excepção feita ao golo e à fantástica defesa do Artur. Nem palmas..
Houve alguma consternação com a saída do Enzo, muitos desabafos do mau jogo que o Benfica ía realizando, sobretudo na 2ª parte, e a manifestação de clara insatisfação quando JJ mete o Miguel Vitor. Havia um sr atrás de mim que esteve mais de 10m a barafustar e a chamar-lhe de tudo menos de santo por aquela substituição.
Muito nervosismo mas um nervosismo algo silencioso, como se as pessoas estivessem resignadas com o que íam vendo. Uns “piropos” a este ou aquele jogador e alguns vaticínios de que o Benfica ía sofrer um golo a jogar assim era o que mais se ouvia em meu redor.
Quando o jogo acabou o sentimento era de alívio. Não vi saídas antecipadas mas vi que imediatamente após o apito final também não existiram de forma unânime os aplausos à equipa pela vitória. Muitos abanares de cabeça e muitos “não jogamos nada” era o que mais se ía ouvindo.
No estádio realmente vive-se tudo de forma muito mais intensa. Para o bem e para o mal. Sem ajuda de câmaras, sem influência dos comentadores, a verdade nua e crua é vista ali e sentenciada pelo que os nossos olhos vêem. O processamento da informação varia mas na sua génese é muito mais uniforme do que comparada com os jogos vistos na TV. Há pormenores que as câmaras não mostram e que nós vemos mas há outros que nos passam completamente ao lado e são elevados a uma importância tal capaz de condicionar e distinguir de forma inequívoca uma opinião entre quem assiste aos jogos pela TV e quem assiste aos jogos ao vivo e a cores.
Excelente "compte rendu" Marta.
"como se as pessoas estivessem resignadas"
É o que se sente no Estádio da Luz tb. E faço o mea culpa. E sim, sinto-me resignado, sem qqr crença. Sinto q a qqr momento chega aquela fase de queda que Jesus nos habituou.
Vitor é um central rápido, mas um lateral... coiso... :)
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