sábado, 25 de janeiro de 2014

Há 10 anos atrás



Dia 25 de Janeiro de 2004, domingo cinzento e chuvoso. Era dia de jogo do Benfica. Para (não) variar, o meu pai não me havia deixado sair para o café e ver o Benfica – já me tinha resignado à condição de ouvir os sucessivos relatos e ver através da voz de quem os fazia.

Com o aproximar da hora do jogo o temporal ia-se adensando e com isso o sinal rádio ia-se perdendo.

O jogo começava e, tal como a equipa, o relato da antena 1 ia chegando aos soluços.

O jornalista (não me lembro qual) ia referindo algumas quezílias e muito mau futebol. Não sei, nunca fui capaz de rever aquele jogo fosse pelo meio que fosse.

Ao intervalo o nulo, diziam os jornalistas, ajustava-se ao que se havia passado em campo e havia a espectativa que Camacho e Jorge Jesus conseguissem alterar aquele estado de coisas, mas também pairava o temor pela deterioração da qualidade de jogo com o avançar do tempo, por via do mau estado do terreno.

Já com a segunda parte em decurso (talvez a meio? Não sei, não consigo recordar), Camacho decide trocar João Pereira (que actuava como extremo direito naquele jogo) por Miklos Fehér e assim juntar o húngaro a Sokota na frente, apoiados de forma mais directa por Zahovic e Simão.

Diziam as vozes que eram os meus olhos, que Camacho tentava alargar a frente de ataque e explorar um jogo mais directo, evitando assim um relvado que se tornava mais pesado a cada minuto.

Não sou hipócrita, Fehér nunca foi um ídolo para mim, nunca vi no húngaro classe suficiente para jogar no melhor Benfica, mas quem daquela equipa tinha essa classe? Talvez Simão? Talvez Zahovic nos melhores tempos, que nem foram no Benfica? Por isso, não foi com especial entusiasmo que ouvi a alteração promovida pelo espanhol. Escutei-a e recebi-a com a eterna esperança que dali resultasse a saída para mais uma vitória.

Mas as coisas não ficavam melhores, lembro-me que, volvidos alguns minutos, o Vitória tem uma oportunidade soberana de golo, salva em cima da linha por alguém do Benfica.

Mais alguns minutos e entra em campo Fernando Aguiar para o lugar de Zahovic. “Mas que caralho! Estamos empatados e tiramos um 10 para meter um trinco?” Pensei eu. Mas tal como havia acontecido com a substituição anterior, a esperança que ali estivesse a solução para aquele problema não se diluía.

Os minutos corriam e as unhas desapareciam. A transmissão estava agora mais estável e melhor de seguir. As faltas e o mau jogo permaneciam, diziam eles.

Minuto 90, Simão ganha a linha e cruza atrasado, confusão na grande-área e GOLO! Fernando Aguiar, o destruidor de jogo e homem de combate que havia entrado para o lugar do organizador Zahovic empurrava a redondinha para o fundo das redes do Vitória.

“Agora é só aguentar” dizia eu para mim.

Mais alguns segundos e Fehér atrasa um lançamento de linha lateral, é admoestado com cartão amarelo e enquanto sorri… Cai! Não dei grande relevo à situação por estarmos nos minutos finais e prestes a obter uma vitória arrancada a ferros, admito, pensei “mais alguns segundos e está feito”. O quanto me dói e me repulsa a minha figura por este pensamento me ter atravessado a mente.

Ali, a escassos segundos do final do encontro, em dia de aniversário do Rei, em ano de centenário do Glorioso, Miklos Fehér, um jovem que tantos ritmos cardíacos e de tantas cores acelerou com os seus golos, tombava traído pelo seu próprio coração.

Desculpa Fehér. Desculpa a mente e coração de um jovem incauto que não entendeu o momento e que num espasmo de sobranceria te ouviu partir sem compreender a injustiça da vida. Ajustaremos contas no 4º anel.  

3 comentários:

CondedeVimioso disse...


Desse dia só guardo o seu sorriso de bom MENINO e o impacto brutal da sua nuca no relvado.

Anónimo disse...

Boa tarde José. Caso o facto de nunca teres visto o se prenda com os meios técnicos e não com a carga sentimental, fica o link para que o possas visualizar na íntegra: http://www.youtube.com/watch?v=X4ZCrX81tyE

Um abraço.

José Moreira disse...

Obrigado Anónimo das 14:49, mas não vi mesmo por questões sentimentais. Nnunca suportei a ideia de ver um jogo que sei ter acabado na tragédia que todos conhecemos. Mas, mais uma vez, obrigado ;)

Forte abraço.