domingo, 9 de dezembro de 2018
Príncipe Grimaldo, o junta-peças
O talento de um jogador não tem medidas nem quadros nem matemáticas; não fica irrefutavelmente provado nem a Ciência consegue publicar um estudo que demonstre, A+B+C, a indesmentível qualidade de um futebolista. É por isso que 1 milhão de pessoas pode achar o Pizzi "um craque" e o outro milhão achá-lo "um cepo". Tudo depende da percepção que cada um tem do jogo.
Eu gosto sobretudo de jogadores que, a cada acção, estejam pensando e executando o quadro geral: o golo. Pode o jogador estar na defesa e já demonstrar ter visto a bola nas redes segundos antes de ela lá chegar. É o caso de Grimaldo nesta e em quase todas as jogadas em que intervém.
Antes de receber na linha já fez sinal a Zivkovic, anunciando o 2-1. O sérvio, outro talento inato, percebeu o que o espanhol quer e foi-lhe fiel. Aqui o que Grimaldo procura e sonha, ainda antes de receber do central, é ter espaço aberto pelo meio. Já se imaginou a correr pelo corredor central sem muita oposição. E é isso que acontece após a combinação com Zivkovic: miolo aberto, os jogadores do Vitória a terem de ir recuando lentamente e Grimaldo com várias opções. É aqui que, apesar de a Ciência não o poder provar, é possível distinguir os craques dos cepos.
Quando recebe à entrada do meio-campo adversário e se vê com espaço, o craque, 99 em 100 vezes, não pensa em passar de imediato a bola (mesmo que tenha duas ou três opções abertas). O cepo sim, destruindo a possibilidade de aproveitar o espaço e criar outros. O craque vai seguir com a bola enquanto os seus milhares de radares frontais e laterais vão interpretando o movimento colectivo dos dois corpos gelatinosos: o movimento da equipa adversária e o movimento da sua própria equipa.
O craque neste instante não pensa individualmente, não procura meter a bola num jogador específico só porque sim. O craque junta-peças no meio. Aproveita o natural movimento da equipa que defende - movimento de recuo e de aproximação ao centro - enquanto vai esperando o movimento natural da equipa que ataca - vários movimentos laterais e de profundidade. O craque vai esperar pelo segundo certo em que um dos elementos do adversário não aguentar mais aquele passeio pelo relvado e destruir toda a sua própria organização colectiva. É o que acontece quando o lateral-direito do Vitória sai da sua posição e deixa o espaço nas costas.
O craque já estava à espera porque era isso que ele, provocador, vinha a procurar desde que recebeu de Zivkovic. O cepo, quando recebesse de Zivkovic, teria metido imediatamente na profundidade que Gedson estava a pedir, acabando por criar uma jogada sem qualquer vantagem numérica nem espaços para criar desequilíbrios.
Juntar peças no meio, provocar o desposicionamento de uma peça específica, para um cheque-mate pelas alas. Não é para todos. É só para os craques. Craques como o Príncipe Grimaldo.
https://m.youtube.com/watch?v=mX1g1lQeInQ
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1 comentário:
isso até tinha todo o sentido se estivéssemos a falar de um extremo mas estamos a falar de um defesa esquerdo.
logo o que o defesa tem de saber é defender bem, para não dizer muito bem, e depois com essa premissa se tiver qualidades ofensivas então maravilha.
só que grimaldo só defende bem raras as vezes e em muitas defende muito mal.
o exemplo é assim como aqueles guarda redes que são especialistas em livres directos, ou penalties, mas depois dão frangos jogo sim jogo sim.
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