quarta-feira, 6 de março de 2019

O Real e os resultadistas

O mundo futebolístico foi ontem abalado por um terramoto de proporções épicas com a eliminação do todo-o-poderoso Real Madrid aos pés de um jovem, imberbe e profundamente talentoso Ajax. As ondas de choque de tal resultado têm-se multiplicado e prometem não parar nas próximas horas, sendo mesmo imprevisível o seu alcance final.

As reacções ao sucedido têm sido mais que muitas e abarcam uma infinidade de gostos, claro está. Porém, há um traço comum à esmagadora maioria delas: a surpresa, a maravilhosa descoberta de um mundo novo, como se este Real anárquico, aleatório e anémico fosse uma verdadeira novidade. Lamento, não é. Este Real é, aliás, bastante requentado, sendo que a única novidade reside exactamente nos tantos que só agora o descobriram, mesmo que nos últimos 4 anos tenhamos assistido às mesmas coisas que ontem vimos.

E quem desconfia desta bipolaridade de reacções perante factos idênticos, bastar-lhe-á recuar umas semanas no tempo e confrontar o que foi dito sobre o Ajax x Real Madrid, mesmo que nesse jogo a sova holandesa tenha sido, para mim, maior. Diferença? Nesse dia quase nada entrou e ontem quase tudo deu golo, só! Ou seja, entre a primeira mão e a segunda, apenas o resultado foi diferente, tudo o resto foi igual. Os “putos” holandeses deram um arraial de “pancada” nos múltiplos campeões europeus, mas como não ganharam… nada a dizer. Porém, já nessa altura Solari era um profundo incompetente, já este Real andava ao sabor do vento e do que cada jogador soubesse dar, tal qual o era no tempo de Zidane, ainda que o francês, ao menos, colocasse mesmo os melhores em campo, em vez de ostracizar jogadores como Isco, Asensio ou Marcelo.

Os anos passam e continuamos a esperar que os resultados nos indiquem o que dizer, em vez de o dizer independentemente dos mesmos. Agora, será pacifico dizer-se que o Real é um barco à deriva e sem que o seu treinador faça o que é suposto um treinador fazer: dar ideias e identidade que transcendam as individualidades. Dizer isto nos tempos de Zidane, nos tempos em que a mesma aleatoriedade e os mesmos impulsos individuais davam títulos europeus era crime.

Por isso, sim, esta queda no precipício era uma tragédia pronta a acontecer a qualquer instante, desde há 4 anos, e sim, esta eliminação chega com 4 anos de atraso. E porque gosto de falar para lá do resultado, também sim, este Ajax imberbe, talentoso e destemido, também não prima pela organização e, tal como o Real, viverá e morrerá pelo caos de uma desorganização que se sustenta no talento individual e no perfil aproximado dos seus melhores (e tão bons que são!) jogadores. 

3 comentários:

Nau disse...

À atenção dos benfiquistas que não acreditam que o nosso Benfica poderá bater o pé aos «tubarões»... Assim o queiram a SAD e a direção.

Algarviu disse...

"Dizer isto nos tempos de Zidane, nos tempos em que a mesma aleatoriedade e os mesmos impulsos individuais davam títulos europeus era crime."

Não me lembro de ler nesses quatro anos qualquer escrito do José Moreira acerca deste assunto. Agora, é o mesmo que acertar no totobola à segunda-feira. O que parece ser pré-ciência não passa de comentário, ele também, resultadista.

José Moreira disse...

Ainda bem que não se lembra, não é sinal que não tenha escrito, é apenas sinal que eu não tenho grande importância, e isso agrada-me bastante.

Ainda assim, e para que não restem dúvidas, deixo aqui uma das vezes em que o disse:

https://ontemvi-tenoestadiodaluz.blogspot.com/2017/08/o-processo-e-os-ilusionistas.html

Abraço