(Já ninguém liga nenhuma ao Sporting. Percorro a blogosfera benfiquista e um silêncio sepulcral sobre o estado decrépito dos nossos mordomos e organizadores de eventos. Tenhamos algum respeito, caramba. Além de nos servirem peças de comédia do mais alto quilate, ano após ano, devemos-lhes algum fingimento de rivalidade. Para que eles acreditem que ainda são alguma coisa. É mesmo muito importante que eles acreditem que ainda são alguma coisa. O que decididamente não queremos é que eles olhem para a realidade. E depois o espectacular humor, como fica?
Já imaginaram o que seria se o Benfica estivesse em 10º lugar, afastado da Taça em Outubro e ficado nos últimos 3 anos a 80 pontos da liderança? Conseguem prever a loucura por esses blogues lagartos? Eles mesmo agora, no estado comatoso em que se encontram, conseguem arranjar forma de escrever imenso sobre o Benfica. Imaginem se não estivessem mortos.
Já que ninguém liga nenhuma ao Sporting, eu farei uma viagem ao passado. Deixo-vos com um texto que escrevi há um ano, numa altura em que se falava muito no racismo do Eusébio. Nunca se esqueçam, devemos deixá-los a pensar que ainda são alguma coisa)
O sangue verde caqui-cacique
Este
Sábado de manhã tinha tudo para ter sido um dia igual aos outros, não
fosse ter aparecido nas mesas do café "O cacifo do Paulinho", ali como
quem vira à esquina depois do "Sangue Leonino", uma bomba: Eusébio na
capa a chamar racista ao clube de Telheiras!
O povo pôs-se em sentido, caíram cinzas de charuto no maple acolchoado do Senhor Telles Menezes que se levantou de súbito da mesa e gritou: ó Memé, dá cá o jornal que eu quero ler o que esse nhurra anda a dizer do meu querido Sporting!
Lidas as parangonas, Menezes não se conteve e dissertou assim, para toda a plateia ouvir (ver não podiam porque tinham o cabelo à frente):
"Como é que esta merda de Preto pode ser embaixador do futebol português, andar a mamar à custa da Seleção quando esta joga fora, se não tem respeito pela Instituição SPORTING? Devia calar a boca e mesmo que o sentisse, não o dizia! Só espero que quando a Selecção jogar em Alvalade, o atinjam com impropérios que o ofendam a sério. Preto do caralho!",
ao que se seguiu uma enorme e sentida salva de palmas, particularmente de Zacarias Ramalhosa y Mello (de nascença apenas Zacarias Ramiro mas que, entre viagens a Badajoz e uma conquista, mais tarde casamento, com Madalena Lopez Mello, acabou não só com distintos apelidos como com aquele "y" no meio, que tantas portas lhe abririam, mormente na famosa casa de concubinato "Veludo e Primavera", onde passava os serões a injectar heroína e a receber carícias de donzelas altamente qualificadas): "Brilhante, Chico Diogo, brilhante! É pô-lo no espeto, como fazíamos no Ultramar, caralho!". Aqui subiu ao ambiente um ligeiro mal-estar, especialmente na mesa dos Tomaz Britto, que prontamente se apressaram a responder ao bigode extremamente bem cuidado do antigo Zacarias Ramiro, hoje Ramalhosa y Mello: "Ó Ramalhosa, não diga essas coisas. Sabe perfeitamente que nós não dizemos "caralho". No máximo, um "apre" ou um "fosga-se"! Agora um "caralho", Ramalhosa y Mello? Francamente, nem parece seu!"
"Tem toda a razão, Manuel, mas o que é que quer? Quando me falam do meu querido Sporting, sobe-me a gravata ao pescoço!", respondeu Ramalhosa y Mello (antigo Zacarias Ramiro), com a cara intumescida, quase vermelha - o que o irritava duplamente porque, dizia ele, pior do que o objecto da fúria, só a imagem da mesma - tão visceralmente encarnada, cor dos pobres e dos trabalhadores.
Por esta altura, já uma vozearia ecoava por todo o café, sem que se percebesse, no meio dos escombros, palavras definidas ou sons perceptíveis - uma imensa mancha de ruídos alarvemente infectando o brandy do Senhor Leão de Campo de Ourique, que, num salto atlético, caiu em cima do balcão de mogno polido e botou discurso:
"Não diria melhor, Ramiro y Ramalhosa!" (era usual o Senhor Leão de Campo de Ourique, especialmente nos dias em que acordava a torradas e conhaque francês, deixar cair "acidentalmente" o berço de cheiro a sopa dos pobres de Zacarias Ramiro, numa luta intensa pela pureza da raça que já lhe havia custado dois dentes, um prato do Alandroal que muito estimava e uma pequena cadelita rafeira que, na emoção da contenda, acabou debaixo de um cd da Mafalda Veiga). "Embaixador do nosso futebol? Ouve lá ó cabrão: A primeira vez que ouviste um hino português nos jogos olímpicos, não foi ninguém do teu clube galináceo, besta quadrada. Porco preto!"
"Porco preto não, ó Campo de Ourique! Não se ofendem assim os porcos pretos! Tenha lá isso em consideração e continue, se fizer o obséquio...", exclamou Tobias Barbosa Vaz, enquanto dilacerava dois pedaços de gordura de presunto pata negra e fazia por esquecer a afronta a tão distinto animal que ele, com tanto cuidado, criava e assassinava à queima-roupa num terreno baldio numa terra esconsa da Andaluzia.
"Pronto, está bem, retiro o porco preto. É apenas e só um macaco gorila, um preto calcinha. As saudades que eu tenho de degolar-lhes os ventres, as tripas dos animais a saírem-lhes pela boca, aquelas bestas aos gritos a sangrar pelo cu!"
"É isso mesmo", gritava Biba Parvalheira, "ainda me lembro do meu Pai a trazer para a nossa casa de Sá da Bandeira os crânios dos nhurras atados uns aos outros que a gente desfazia o nó e usava como bola de futebol! Ah, bons tempos... as saudades que eu tenho de África...",
Ficaram nisto uma boa meia-hora, entre gritos histéricos, rememorações de genocídios belíssimos e sovas monumentais, quando entrou pelo café um senhor de tez escura.
"É aqui que se discute o sportinguismo?", perguntou, bebendo um carioca de gole.
"É, sim", disse Francisco Fernandes Fernandez , "e diz-se mal de pessoas como o macaia Eusébio, macaco apreciador do marisco tremoço, pessoa substancialmente diferente do que é o verdadeiro negro, como vosselência, que tem orgulho na sua raça!"
O senhor de tez escura olhou-o espantado, quase a rir, mas conteve-se. Virou-se para o resto das pessoas e disse ao que vinha:
"É só para avisar que, daqui em diante, os senhores vão passar a andar enjaulados".
O povo pôs-se em sentido, caíram cinzas de charuto no maple acolchoado do Senhor Telles Menezes que se levantou de súbito da mesa e gritou: ó Memé, dá cá o jornal que eu quero ler o que esse nhurra anda a dizer do meu querido Sporting!
Lidas as parangonas, Menezes não se conteve e dissertou assim, para toda a plateia ouvir (ver não podiam porque tinham o cabelo à frente):
"Como é que esta merda de Preto pode ser embaixador do futebol português, andar a mamar à custa da Seleção quando esta joga fora, se não tem respeito pela Instituição SPORTING? Devia calar a boca e mesmo que o sentisse, não o dizia! Só espero que quando a Selecção jogar em Alvalade, o atinjam com impropérios que o ofendam a sério. Preto do caralho!",
ao que se seguiu uma enorme e sentida salva de palmas, particularmente de Zacarias Ramalhosa y Mello (de nascença apenas Zacarias Ramiro mas que, entre viagens a Badajoz e uma conquista, mais tarde casamento, com Madalena Lopez Mello, acabou não só com distintos apelidos como com aquele "y" no meio, que tantas portas lhe abririam, mormente na famosa casa de concubinato "Veludo e Primavera", onde passava os serões a injectar heroína e a receber carícias de donzelas altamente qualificadas): "Brilhante, Chico Diogo, brilhante! É pô-lo no espeto, como fazíamos no Ultramar, caralho!". Aqui subiu ao ambiente um ligeiro mal-estar, especialmente na mesa dos Tomaz Britto, que prontamente se apressaram a responder ao bigode extremamente bem cuidado do antigo Zacarias Ramiro, hoje Ramalhosa y Mello: "Ó Ramalhosa, não diga essas coisas. Sabe perfeitamente que nós não dizemos "caralho". No máximo, um "apre" ou um "fosga-se"! Agora um "caralho", Ramalhosa y Mello? Francamente, nem parece seu!"
"Tem toda a razão, Manuel, mas o que é que quer? Quando me falam do meu querido Sporting, sobe-me a gravata ao pescoço!", respondeu Ramalhosa y Mello (antigo Zacarias Ramiro), com a cara intumescida, quase vermelha - o que o irritava duplamente porque, dizia ele, pior do que o objecto da fúria, só a imagem da mesma - tão visceralmente encarnada, cor dos pobres e dos trabalhadores.
Por esta altura, já uma vozearia ecoava por todo o café, sem que se percebesse, no meio dos escombros, palavras definidas ou sons perceptíveis - uma imensa mancha de ruídos alarvemente infectando o brandy do Senhor Leão de Campo de Ourique, que, num salto atlético, caiu em cima do balcão de mogno polido e botou discurso:
"Não diria melhor, Ramiro y Ramalhosa!" (era usual o Senhor Leão de Campo de Ourique, especialmente nos dias em que acordava a torradas e conhaque francês, deixar cair "acidentalmente" o berço de cheiro a sopa dos pobres de Zacarias Ramiro, numa luta intensa pela pureza da raça que já lhe havia custado dois dentes, um prato do Alandroal que muito estimava e uma pequena cadelita rafeira que, na emoção da contenda, acabou debaixo de um cd da Mafalda Veiga). "Embaixador do nosso futebol? Ouve lá ó cabrão: A primeira vez que ouviste um hino português nos jogos olímpicos, não foi ninguém do teu clube galináceo, besta quadrada. Porco preto!"
"Porco preto não, ó Campo de Ourique! Não se ofendem assim os porcos pretos! Tenha lá isso em consideração e continue, se fizer o obséquio...", exclamou Tobias Barbosa Vaz, enquanto dilacerava dois pedaços de gordura de presunto pata negra e fazia por esquecer a afronta a tão distinto animal que ele, com tanto cuidado, criava e assassinava à queima-roupa num terreno baldio numa terra esconsa da Andaluzia.
"Pronto, está bem, retiro o porco preto. É apenas e só um macaco gorila, um preto calcinha. As saudades que eu tenho de degolar-lhes os ventres, as tripas dos animais a saírem-lhes pela boca, aquelas bestas aos gritos a sangrar pelo cu!"
"É isso mesmo", gritava Biba Parvalheira, "ainda me lembro do meu Pai a trazer para a nossa casa de Sá da Bandeira os crânios dos nhurras atados uns aos outros que a gente desfazia o nó e usava como bola de futebol! Ah, bons tempos... as saudades que eu tenho de África...",
Ficaram nisto uma boa meia-hora, entre gritos histéricos, rememorações de genocídios belíssimos e sovas monumentais, quando entrou pelo café um senhor de tez escura.
"É aqui que se discute o sportinguismo?", perguntou, bebendo um carioca de gole.
"É, sim", disse Francisco Fernandes Fernandez , "e diz-se mal de pessoas como o macaia Eusébio, macaco apreciador do marisco tremoço, pessoa substancialmente diferente do que é o verdadeiro negro, como vosselência, que tem orgulho na sua raça!"
O senhor de tez escura olhou-o espantado, quase a rir, mas conteve-se. Virou-se para o resto das pessoas e disse ao que vinha:
"É só para avisar que, daqui em diante, os senhores vão passar a andar enjaulados".
1 comentário:
É por isto que cá venho. Sempre
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