Independente de tudo o que podemos discutir à volta da venda
do João Félix para o Atlético de Madrid, este é um dos principais negócios do
Futebol Moderno e os valores envolvldos só confirmam o excelente futebol que o
jogador apresentou (com Bruno Lage) e o potencial tremendo que lhe é reconhecido.
120M por um jogador do campeonato português.
Olhando para este negócio de forma critica tenho de
considerar 5 factores:
- A decisão do jogador
- A decisão do clube
- O valor do negócio
- A estrutura do negócio
- A comunicação do presidente aos sócios.
Quanto à decisão do jogador é compreensível mas imatura. O
João Félix não é um fogacho momentâneo, é um verdadeiro talento que com mais
jogo só poderá evoluir e valorizar. Com mais um ano de Benfica, com mais um ano
Bruno de Lage a orientá-lo, com mais futebol jogado, iria sem qualquer dúvida
continuar na Selecção Nacional, iria jogar na Liga dos Campeões, iria ser ídolo
das bancadas e iria atrair ainda mais o interesse de clubes de campeonatos superiores.
No próximo Verão voltariam a surgir as propostas de salários milionários. Um
jogador de 19 anos não tem de ter tanta pressa em sair, muito menos quando já
actua como titular num clube como o Sport Lisboa e Benfica. Optando por sair o
Atlético de Madrid nunca seria a melhor escolha para o seu futebol e desenvolvimento,
contudo era a única opção que tinha. A sua decisão pecou no timing e na escolha
do destino, tudo forçado por uma pressa muito motivada por outros interesses
que o rodearam.
A decisão do clube em vender tão precocemente um dos seus
maiores produtos é também bastante questionável. O Sport Lisboa Benfica vive
neste momento o ponto alto da sua Formação mas parece continuar a recusar tirar
total proveito desportivo dessa. Se há um projecto Europeu dentro do clube
então é incompreensível que não haja uma politica de aproveitar ao máximo a consolidação
do talento produzido. Esta pressa em vender só se explicaria por dificuldades
financeiras que a Direcção não se cansa de negar – invocando até uma saúde
nesta área de meter inveja a qualquer outro.
120M por João Félix é uma enormidade. Vamos ser sinceros.
Sem toda a politiquice que há à volta das comunicações do clube e do seu
presidente, qualquer proposta acima dos 40M seria uma proposta fantástica.
Hoje, por aquilo que já demonstrou, o jogador não vale mais de 40M. Um negócio
a rondar os 60M – diversificado em objectivos – já seria mais que justo por
tudo aquilo que o jogador fez nos últimos 6 meses.
A estrutura do negócio é que traz algumas questões menos
positivas. Repito, 60M dependentes de objectivos seria já uma excelente
proposta. O que questiono nestes 120M é o que este valor realmente implica e a
quem beneficia. Fica a impressão que tudo foi montado de forma a que muita
gente pudesse beneficiar desta transferência. Quem vai receber o quê? Quando?
Como? E com que contrapartidas futuras? Os benfiquistas não devem nunca aceitar
comer gelados com a testa.
Porque só o Atlético de Madrid se chegou à frente? Porque logo o Atlético de
Madrid? Porquê tanta intermediação do Mendes? Porquê tantos custos de
intermediação? Que instituição financeira é essa que irá fazer o serviço de
factoring? É novamente um fundo/instituição do Jorge Mendes como já aconteceu
em outros negócios? Que compromissos para o futuro ficaram acordados entre Benfica
e Atlético de Madrid? Voltaremos a adquirir fictícias cláusulas de preferência?
A venda do jogador beneficia mais o clube, o jogador ou os vários agentes e
dirigentes que tocaram neste negócio?
Agora o factor que mais me motivou a escrever sobre o
assunto: A comunicação da Direcção com os sócios.
Podendo discordar do timing do negócio a verdade é que os valores envolvidos
são fenomenais. Podendo desconfiar dos interesses este negócio alimenta, a
verdade é que os valores envolvidos são estratosféricos.
Mas e tudo o que Domingos Soares de Oliveira e Luís Filipe
Vieira têm dito aos sócios? Esta politiquice no nosso clube é que me mexe com
os nervos. A necessidade que esta gente tem de mentir aos sócios, de os tratar como
ovelhas não-pensantes, de tornar a voz do clube algo tão insignificante, lixa-me
a cabeça. Qual a necessidade de tanta e tanta demagogia?
Sim, não é novidade. Pelo contrário. Esta direcção já nos habituou de tal forma
à mentira e demagogia, que a maioria de nós já nem sequer se importa. É uma
pena.
Qual a necessidade de tanta garantia aos sócios que o
jogador só saía pela cláusula quando todos sabíamos tal não ser verdade? Depois
claro, a mentira na comunicação aos sócios obriga a negócios mais complexos
onde se recusam propostas mais “limpas”e mais interessantes para o jogador em prol
de outra que nos traga, seja porque caminhos for, o tal valor da cláusula.
Os benfiquista não devem acreditar no seu presidente. Ponto.
Mas devemos aceitar isso de animo leve? Deve ser algo assim tão banal os
adeptos de um clube conviverem tão bem com o facto de não poderem acreditar nas
palavras de quem o dirige?
“Pode chegar uma proposta de 100M que o João Félix não sai”
“O jogador só sai se for batida a cláusula de rescisão.”
“O Benfica não quer vender o João Félix e conta com ele para a próxima época”
Tão simples quanto isto. Se a direcção não quisesse vender o
jogador este não seria vendido. Porque pura e simplesmente a cláusula de
rescisão não foi batida nem nunca o seria.
Bater a cláusula de rescisão significaria o jogador depositar na conta do clube
os 120M e fim de conversa. Não haveria planos de pagamento, não haveria
negociações nem haveria qualquer taxa de intermediação. Unicamente haveria
(talvez) o pagamento dos direitos de formação. Os 10% do Mendes, os custos de
intermediação e o envolvimento de uma qualquer operação financeira da parte do
Sport Lisboa e Benfica nunca existiriam.
A cláusula de rescisão não foi batida e o negócio só se dá
por haver vontade por parte de ambos os clubes em que tal acontecesse. O Sport
Lisboa e Benfica quis vender e fez por isso.
Hoje em dia o actual presidente do Sport Lisboa e Benfica já
só engana aqueles que querem ser enganados, e infelizmente ainda são muitos. Luís
Filipe Vieira só irá continuar a sobreviver às suas mentiras enquanto as
emoções dos adeptos – paixão encarnada e ódios não encarnados – os forem cegando.