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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Champions das Ideias



Confesso que enlouqueci. E confesso que vocês enlouqueceram. Vocês, leitores; vocês, que adoram ou odeiam vir aqui ler o que se escreve. E, no meio, quem definitivamente não enlouqueceu, foram aqueles que precisamente por não virem aqui por amor nem por ódio souberam manter a lucidez necessária. São poucos, quase nenhuns. Eu não sou um deles.

Há dois dias – ou ontem? – dei um giro pelas últimas semanas de textos deste blogue e depois fui ler o primeiro ano de vida deste espaço. Que diferença! Onde terá sido que uma decisão horrorosa – mantenho o “horrorosa” porque me magoou muito, enquanto benfiquista -, a antecipação de eleições, transformou a minha paixão pela escrita do benfiquismo num lugar que desaguou nas últimas semanas numa autêntica loucura de indignas discussões sobre o Benfica? Foi seguramente um trilho crescente, que se foi apoderando dos meus textos enquanto lia opiniões que estranhava e não compreendia; enquanto assistia a mudanças – de todos os tipos, mas sobretudo morais – na estruturas genéticas do nosso clube. 

Noto que sempre consegui tirar tempo para derivar para o que realmente me fez abrir este blogue – a escrita da memória e sangue benfiquistas em mim -, mas noto também que, insano, fui abdicando do prazer para enveredar por uma espécie de luta absurda que, tendo sentido na honestidade com que a cumpria, não tinha qualquer fundamento nem na forma nem na necessária presença de espírito que deve reger um texto que aborda não um qualquer tema quotidiano mas o mais importante dos assuntos, divinos ou humanos: o Benfica.

Enlouqueci, confesso que enlouqueci. E confesso que vocês também enlouqueceram. Fomos todos (quase todos) transportados para uma placa giratória de insultos, ofensas, provocações, baixezas, indignas afirmações e imbecis assertividades. Afinal, que merda de benfiquismo é o nosso, que nem sequer respeita a opinião contrária? Um lugar de egos e benficómetros, medições e analíticas suposições? O Benfica - o que eu idealizo ou o que vocês idealizam (que nunca será o mesmo, porque nenhum Benfica é o mesmo, depende de tantos factores e experiências, conhecimentos, emoções, dependências afectivas) – merece mais, muito mais. Merece ser regado com inteligência e massa crítica mas também com carinho e solidariedade. Concordemos ou discordemos, mas façamo-nos todos um grande favor: amemo-lo na sua grandeza e nas suas falhas. 

As eleições acabaram, ganhou um dos concorrentes. Eu não gosto do concorrente, outros gostam mais ou menos do concorrente e há quem adore o concorrente. De uma coisa tenho a certeza: todos gostam do Benfica. Tendo memória curta ou memória distante; analisando sob o prisma desportivo ou sob o prisma financeiro; tendo medo do passado ou projectando o futuro; suspeitando mais dos árbitros ou suspeitando menos dos árbitros; vendo no vermelho um branco claro ou claramente vislumbrando no branco um encarnado radiante. Todos - sem excepção - escrevem, pensam, comentam, reflectem, dissertam, sentem, querem, sonham um Benfica melhor. E ninguém, no fundo, sabe exactamente como consegui-lo. Temos, cada um, uma ideia; supomos que se fizéssemos assim é que era; quase asseguramos que se formos por aquele caminho vamos vencer; às vezes duvidamos; depois cremos. Queremos muito. Queremos tudo. Por uma razão simples: queremos aconchegar o Benfica no colo e senti-lo tão nosso quanto o imaginámos. Neste processo de intenções e sonhos, vamos em frente. Mas saibamos também olhar o outro que vai ao nosso lado. Passemos-lhe o clube para as mãos, deixemo-lo também brincar e dar afectos, sorrir com o Benfica nos braços.

Estou cansado da blogosfera. Mas não só da blogosfera. Estou cansado da forma como o Benfica está a ser vivido. De um lado, petardos; do outro, um Presidente que manda os adeptos para o caralho. É pouco Benfica, compreendem? Estes são os extremos, precisamos de mais cadeiras no meio. Pessoas que encontrem lugares de comunhão entre duas ideias contrárias. Serão essas que levarão o clube a patamares de exigência que hoje manifestamente não tem. E serão também essas que afastarão do Benfica a oposição bélica. No fundo, no fundo, precisamos de gente boa, inteligente, sábia (sábia de sentir, não só de conhecimento), honesta, credível, ambiciosa, benfiquista. O clube merece mais de nós.
 
De modo que proponho um jogo. Não um jogo apenas lúdico mas voltado para a construção comum de um Benfica maior e melhor. Na vez de facções em lados estanques da barricada, proponho um quebrar de muros e um encontro de sentidos. A princípio talvez fragilizado pelas guerras recentes, mas que vá alargando a sua energia desde o ponto titubeante do recomeço ao encontro completo de almas. Lembro-me de uma foto de dois amantes de mão dada - ela na Alemanha de Leste, ele do outro lado. As mãos uniam-se por uma fresta construída no desgaste dos anos e dos sonhos. Tanta gente sonhou que o muro desabasse que ele próprio foi cedendo, devagar, aos braços em prantos de um lado e de outro, aos gritos que uns e outros lançavam, aos beijos que juravam, às preces que se atiravam contra o betão e paulatinamente o iam corroendo. Primeiro uma fresta pequena; depois um buraco por onde os amantes e amigos e família se tocavam; no fim, sem força para a divisão, as pedras grandes espalmadas no chão e gente em cima delas, em abraços. 
 
Na vez da fragilidade das propagandas, proponho a força das ideias. Façamos, construamos ideias. E, porque elas podem surgir no meio de escombros, usemo-las num jogo para não parecer tão sério. Então o que pensei foi o seguinte: atira-se um tema para a mesa: sistema de votos dos sócios; direitos televisivos; quotização e bilhética; estratégia política com os órgãos de poder; solidariedade e Fundação Benfica; Casas do Benfica; política de aquisições; modelo de formação; modelo da equipa principal; discussão sobre o esquema directivo do clube, etc.. 
 
Cada vez que lançarmos aqui um tema, quem quiser participar enviar-nos-á textos fundamentados com as ideias que têm sobre esse mesmo tema. Dependendo do número de participantes, iniciaremos uma competição. Chamemos-lhe, de forma um bocadinho tonta, a Champions das Ideias – se tiverem nome melhor, agradeço. Imaginemos que 16 pessoas enviam textos sobre, por exemplo, o sistema de votos dos sócios. Nesse caso, iniciaremos a competição nos oitavos-de-final. Faremos 8 duelos, cada um com dois participantes. Cada duelo será um post no qual aparecerão os dois textos que serão votados – e, pede-se, comentados - pelos leitores de 0 a 20. Quem vencer, passa à ronda seguinte, na qual terá de defender as suas ideias sobre outro assunto relacionado com o clube. Se a participação for interessante, teremos não só uma problematização dos concorrentes como dos leitores ao longo de várias semanas. E, claro, nascerão ideias que podem posteriormente ser aproveitadas para o clube. Se não forem, ao menos discutiram-se soluções e projectos. Ganhará sempre o Benfica.

Vamos a isso?