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sábado, 23 de março de 2013

Como nasceu o vosso benfiquismo ?


Cada um terá a sua história. Eu comecei a aprender a ser benfiquista com as estórias que o meu pai contava sobre os seus tempos de juventude. Muito cedo veio sozinho para Lisboa, aos 10 anos, como costuma dizer, iniciou-se na vida militar ao entrar no IMPE. Assim teve hipótese de ver muitos jogos, quer do Benfica, quer do Sporting. Obviamente que não teve dúvidas em escolher o clube cujos adeptos eram mais amigáveis, não elitistas, que apoiavam a nobreza do carácter das camisolas vermelhas que lutavam contra tudo e contra todos, contra um regime ditatorial que se sustinha com os seus bufos e outros cefalópodes e gente que tinha a mania que era superior a todos os outros.

As suas estórias da juventude associadas a uma equipa que verdadeiramente representava todo esse espírito popular e que dominava tudo e todos, que mesmo que perdesse fora de casa com 15 minutos à Benfica punha as eliminatórias no seu devido lugar. e assim, mesmo antes de conhecer os Nenés, os Humbertos, os Tonis, os Albertos, os Pietras, já eu sabia de cor a linha avançada que maravilhou a Europa e o Mundo em  66 - Zé Augusto, Jaime Graça, Eusébio, Coluna, Torres e Simões, sem esquecer o grande Zé Águas, o Santana, o Cavém, o Neto, o Germano e mesmo o Costa frangos.

Mas, não havia nada como a Bola para aprendermos a ler e a conhecer os nomes dos craques, a aprender geografia e vocabulário que mostrava que os redactores da altura nada tinham a ver com os junta-letras de hoje em dia. Para conhecer as caras, então tínhamos que completar as cadernetas de cromos que todos os anos saíam desactualizando a da época anterior e fazendo com que nunca se acabassem, pois todos tínhamos os mesmos cromos para a troca. Ao domingo à tarde, senão saíssemos, era certinho que passava uma tarde a ouvir o transistor em onda média a relatar quer os jogos do glorioso, quer os jogos dos outros clubes que por esse país fora disputavam a primeira e segunda divisões nacionais.

Se por um lado o meu pai pouca ou nenhuma disponibilidade tinha para ver os jogos ao vivo, o mesmo já não se passava com um dos meus vizinhos que sendo sócio, me propôs para sócio, sim porque no meu tempo só se entrava para sócio sendo proposto por outro sócio e me levou as primeiras vezes ao velhinho Estádio da Luz. Domingo de manhã, com o farnel na mochila, zarpávamos cedo, sim zarpávamos pois íamos de cacilheiro para Lisboa. Primeiro, uma paragem na sede para saber as novidades do dia anterior e depois toca de apanhar o metro para Sete Rios.

Chegar ao complexo da Luz era um espectáculo antes do espectáculo. Os Juniores a jogar no campo número 3, sim porque o 2 só servia para os treinos da equipa de atletismo. Os vendedores, a multidão, o sangue garrido dos cachecóis, as bandeiras predominantemente brancas com 2 listas vermelhas e o símbolo bem no meio do alvo pano. O sonoro dos altifalantes anunciando  o homem da Regisconta ou a fama do Constantino, antes de anunciarem os onzes iniciais que se ouviam quase no Califa.

Não, não havia Colombo, nem a segunda circular tinha assim tanto trânsito. O que havia era um pavilhão debaixo das bancadas onde se ia ver o basquetebol ou o hóquei se o dia fosse mais longo. Depois era voltar para a casa a recordar todos os aspectos do dia para poder contá-lo aos meus pais e no dia seguinte para causar inveja na escola.

Acima de tudo, o grande espectáculo era ver a equipa entrar em campo e sentir o apoio dos Diabos que tanto fumo libertavam que mal conseguíamos respirar ou mesmo ver o jogo nos primeiros minutos. Claro que os velhotes, que ao fim de alguns jogos já me tratavam como um deles, não apreciavam o espectáculo da claque, mas quando o jogo começava não havia divisões, pelo menos se a equipa fizesse uma entrada à Benfica. O troar do antigo terceiro anel fazia com que os jogadores adversários se amedrontassem e por causa do público começavam logo a perder o jogo. Mas ai da equipa que descansasse enquanto o resultado não estivesse garantido. O tribunal da Luz não perdoava os fracos, fossem eles adversários ou jogadores da própria equipa.

E vocês, donde vem o vosso benfiquismo ?