segunda-feira, 30 de abril de 2012

Presidentes do Benfica

Visto que apesar do meu balanço anterior parecem continuar a existir dúvidas, vamos ver então a relação histórica entre presidentes e títulos.

O Campeonato começou a ser disputado na época 1934/35, pelo que este ano estará concluída a 78.ª edição. A Taça de Portugal em 1938/39, ou seja teremos no fim da época 74 edições.
Antes de postarem a insultar-me por ser incorrecto na apresentação de dados, foi considerado que um presidente que começou a época e que tenha saído depois de Dezembro é o responsável pela obtenção do título e não quem entrou em Janeiro, Março, Abril ou Maio.

- Vasco Rosa Ribeiro (1933-36) - Campeonato em 35/36
- Manuel da Conceição Afonso (1936-38) - Campeonato em 36/37 e 37/38
- Júlio Ribeiro da Costa (1938-39) - Sem títulos
- Augusto Fonseca Júnior (1939-45) - Campeonato em 41/42, 42/43 e 44/45, Taça em 39/40, 42/43 e 43/44
- Félix Bermudes (45-46) - Sem títulos
- Manuel da Conceição Afonso (1946-47) - Sem títulos
- João Tamagnini Barbosa (1947-49) - Taça 48/49
- Mário Lampreia de Gusmão Madeira (1949-52) - Campeonato em 1949/50 Taça em 50/51 e 51/52 (Taça Latina em 1950)
- Joaquim Ferreira Bogalho (1952-57) - Campeonato em 54/55 e 56/57, Taça em 52/53, 54/55 e 56/57
- Maurício Vieira de Brito (1957-62) - Campeonato em 59/60 e 60/61, Taça em 58/59 e 61/62 (Taça dos Campeões Europeus em 60/61 e 61/62)
- António Cabral Fezas Vital (1962-64) - Campeonato em 62/63 e 63/64, Taça em 63/64
- Adolfo Vieira de Brito (1964-65) - Campeonato em 64/65
- António Catarino Duarte (1965-66) - Sem títulos
- José Ferreira Queimado (1966-67) - Campeonato em 66/67
- Adolfo Vieira de Brito (1967-69) - Campeonato em 67/68 e 68/69, Taça em 68/69
- Duarte António Borges Coutinho (1969-77) - Campeonato em 70/71, 71/72, 72/73, 74/75, 75/76, 76/77, Taça em 69/70 e 71/72
- José Ferreira Queimado (1977-81) - Campeonato em 80/81 e Taça em 79/80 e 80/81
- Fernando Martins (1981-87) - Campeonato em 82/83, 83/84 e 86/87, Taça em 82/83, 84/85, 85/86 e 86/87
- João Maria dos Santos Júnior (1987-92) - Campeonato em 88/89 e 90/91
- Jorge Artur Rego de Brito (1992-94) - Campeonato em 93/94, Taça em 92/93
- Manuel Damásio (1994-97) - Taça em 1995/96
- João Vale e Azevedo (1997-2000) - Sem títulos
- Manuel Vilarinho (2000-03) - Sem títulos
- Luís Filipe Vieira (2003-12) - Campeonato em 04/05 e 09/10, Taça em 03/04

Luis Filipe Vieira ganhou 2 Campeonatos e 1 Taça em 9 anos.

Em 8 anos Borges Coutinho ganhou 6 Campeonatos e 2 Taças.
Em 6 anos Fernando Martins gahou 3 Campeonatos e 4 Taças.
Ferreira Bogalho em 5 anos ganhou 2 Campeonatos e 3 Taças.
Ferreira Queimado em 5 anos ganhou 2 Campeonatos e 2 Taças.
Maurício Vieira de Brito em 5 anos ganhou 2 Campeonatos e 2 Taças e 2 Taças dos Campeões Europeus.

 
Dos presidentes com maior duração, apenas João Santos obteve um registo ao nível de Luís Filipe Veira ganhando em 5 anos 1 Campeonato e 1 Taça, embora possa orgulhar-se de o Benfica ter sido Finalista da Taça dos Campeões por 2 ocasiões (não foi semi-finalista de taças menores).

Como no Benfica nos devemos comparar com os melhores e não com os piores, sugiro que os defensores da actual direcção que andam a agitar com o papão de um novo Vale e Azevedo, de não haver alternativa ou a dizer que estamos muito melhores que na década de 90, realço que no 1.º ano de mandato de Vieira o Benfica ganhou a Taça de Portugal e no 2.º ano o Campeonato, mas desde aí em 7 anos apenas 1 Campeonato.
Eu volto a repetir para ver se nos entendemos - 1 Campeonato nos últimos 7 Anos!!!

Este não é o meu Benfica, será que é o vosso ?


PS - No site do Benfica, no capítulo onde se destacam os presidentes juntamente com as suas fotos (curioso que só a do actual presidente inclua o símbolo do clube, mas enfim), há frases que resumem os principais feitos dos presidentes.

Quando se chega a Bento Mântua, o destaque é: "Bento Mântua foi o presidente que mais tempo esteve à frente dos destinos do Clube, ocupando nove mandatos consecutivos." (LFV também já está há 9 anos, ou seja igualou o tempo de permanência e ameaça ser o Presidente que exerce/exerceu mais anos).

O inacreditável deste destaque, o único que esteve mais tempo que o actual, é que quando se expande a informação sabemos: "Bento Mântua foi o presidente que mais tempo esteve à frente dos destinos do Clube, ocupando nove mandatos consecutivos. Durante este período liquidou as dívidas existentes, pagando do seu bolso quase todas as obrigações, contribuindo assim para uma melhoria da situação financeira. É igualmente durante a sua presidência que o Benfica se muda para o campo das Amoreiras, com uma espectacular audiência de 15000 adeptos. Conquista dois títulos do Campeonato de Lisboa, sendo o primeiro na época de 1917/1918, vencendo o clube nas três categorias da prova, e o segundo na época de 1919/1920, vencendo ainda as Taças de Honra de 1919/20 e 1921/22."

Comentários para quê ?

Até sempre, companheiros*



* Volto quando o futebol português for bonito e honesto.


domingo, 29 de abril de 2012

O Benfica jogará na Lua, um dia destes.

Como um verdadeiro sportinguista, o Jesus prefere o Porto ao Benfica. E, tal qual o clube do seu coração, apesar de se dizerem honrados e diferentes, não lhes importa absolutamente nada beneficiarem, directa ou indirectamente, das manobras de corrupção se desse apoio advierem vitórias. É uma ideologia muito particular, esta, mas que colhe frutos na especial instituição leonina. Jesus, como adepto da mesma, limita-se a seguir a cartilha.

O Benfica para Jesus foi uma oportunidade de ouro, deu-lhe relevo, mostrou-o ao mundo, potenciou-lhe o talento e, chegado ao sucesso, ampliou-lhe os defeitos. Após a conquista do título 2009/2010 pareceu sempre que, entre opções tácticas, a Jesus interessavam outros assuntos, devidamente patrocinado pela Direcção que o apoiava: ganhar dinheiro com compras de jogadores, aposta absurda em atletas sem qualidade para jogar no Benfica (mas que, valorizando-se, acabavam mais uma vez a deixar os patacos na conta do mister).

E mesmo na vertente táctica e abordagem ao jogo, a partir do segundo ano foi óbvia a cultura do "não há nada a perder": jogos e jogos, muitos deles fundamentais, em que Jesus inventava numa perspectiva de ou ganhar tudo ou perder tudo, sem que tivesse a noção (ou a vontade) de que podia apenas perder pouco ou ganhar algo, mesmo que não tudo. Várias derrotas ocorreram nestes dois anos que, se tivesse havido lucidez por parte de Jesus, teriam sido, na pior das hipóteses, empates. Juntemo-los todos e, mesmo com as idiossincrasias próprias de um futebol regido por um Papa peidoso, fariam do Benfica neste momento tri-campeão. 

Jesus teve mérito no primeiro ano, um mérito indiscutível e que será relembrado, sobretudo pela qualidade de jogo, dinâmica ofensiva e capacidade de gerar golos que aquela equipa tinha. Mas, bem vistas as coisas à lupa do tempo, detectamos nesse ano elementos que, ao longo das restantes duas épocas, já lá estavam e que foram encobertos pelo desfecho do campeonato mas que já existiam de forma evidente. Pergunto-me se sem Ramires não teríamos tido a mesma táctica assombrosa do 4132, com dois alas bem abertos com que Jesus nos brindou nestes últimos dois anos. Obrigado, Ramires.

E é até quase poético se nos relembrarmos como a equipa veio, em 2009/2010, de uma atitude temerária, corajosa, lancinante, demolidora do início da época até ao Benfica do medo, da incompetência, do trauma, da dúvida desse final de temporada - basta relembrar o jogo do Dragão em que, numa oportunidade histórica para sermos campeões no terreno do inimigo, acabámos vergados a um 3-1, com os dois golos da vantagem portista a serem marcados com o Porto a jogar em inferioridade numérica. Um ano mais tarde, os portistas não perderiam a oportunidade de selar o feito contrário, numa época que ficou marcada pela conversão definitiva de Jesus ao caos, teimosia, prepotência, originando das épocas mais humilhantes a que tive, tivemos, de assistir, especialmente na Luz.

De relembrar também que, findo o 2009/2010, cheio de si e campeão nacional, homem louvado por todos, tendo atingido o cume maior do futebol português no maior clube do futebol português, o sportinguista Jorge Jesus não pareceu propriamente satisfeito. Algo estava mal. E logo tratou de avisar a navegação: ou aumentam-me o ordenado de forma choruda e me deixam mandar no futebol do Benfica ou vou para o Porto!, numa atitude que já na altura revelava tanto o homem que é como o sportinguista que nunca deixou de ser. Vieira fez-lhe a vontade (como não? acima de tudo, a política) e Jesus, devidamente apoiado numa Direcção que de tanto saber perder nunca teve competência para saber ganhar, anunciou os planos futuros: muito dificilmente não seríamos campeões e a Champions podia esperar pelo gigante adormecido. 

Faltam palavras para descrever tudo isto, tudo de um amadorismo sem paralelo, desde a Direcção incompetente que nada sabe de futebol, gestão de expectativas, humildade, lucidez, história do Benfica, passando por um louco treinador que, tendo talento, sobrevaloriza as suas capacidades e atinge a megalomania com o aval da primeira, acabando nos adeptos que, tendo passado 15 anos de terror, acreditam piamente no primeiro profeta que lhes ganhe alguma coisa. Perdeu-se exigência, critério, honra, benfiquismo. Ganhou-se uma geração (e aqui nada da palavra remete para idades) de falhados mentais, adeptos que desconhecem (ou esqueceram) o que é o Benfica, o que ele significa como clube vitorioso - nunca acomodado a títulos esporádicos, mas sedento de mais e mais e mais títulos após a primeira vitória - e como clube virtuoso - sustentado não na arrogância ou na falta de valores mas no contrário: humildade, trabalho, decência, critério, disciplina, mística, espírito sempre vencedor mas lúcido e atento ao abismo da confiança absurda e desmedida.

Jesus tem acordo com o Porto? Não me espanta, sempre foi o seu objectivo final. Para Jesus, tal como para muitos dos jogadores que hoje passam pelo nosso clube, o Benfica foi uma ponte aérea, do qual ele se usou para mostrar capacidade e depois, com o beneplácito de Vieira, o deixar cair, fazendo o que bem entendeu, comprando quem quis, metendo a jogar épocas inteiras (Roberto e Emerson, lembram-vos alguma coisa?) quem nunca podia ter jogado e fazendo do Benfica - acompanhado, claro, pelo Rei - o seu principado de todas as artes circenses, em que os bobos dos adeptos serviam para animar a corte e baixar a cabeça em gesto subserviente. 

Chegámos a tal rídiculo registo que muitos bobos não querem ver o Príncipe Jesus ir para outras paragens, não vá conquistar guerras contra nós, mesmo que, se se mantiver junto de nós, tenha uma possibilidade ínfima de voltar a vencer seja o que for. Chegámos a isto: estamos mais preocupados com o que pode Jesus fazer no Porto do que empenhados em saber o que ele não pode fazer no Benfica. E Jesus, com Vieira atrelado, nada pode fazer no Benfica. Porque tem demasiados poderes, porque lhe permitem que estrague o talento que tem em decisões que nunca deveria ter tido. 

Tenha Jesus um açaime e gente que o controle - o Porto é obviamente o clube ideal para tais proezas, não fosse ter um historial de domadores de cães, conselheiros matrimoniais de árbitros, guarda pretoriana entregue a ofensas e violências a jornalistas, claques dispostas a partir carros e cabeças de treinadores armados em independentes e toda uma maralha de gente sem escrúpulos que pulula pelos vários órgãos de soberania deste país, futebolístico e não só, alguns devida e inequivocamente patrociandos pelo nosso grande líder - e Jesus demonstrará, no campo em que é bom, e só nele, toda a sua qualidade. Mas isso é problema do Porto e de Jesus, não é problema do Benfica. Embora alguns, muitos, bobos continuem a viver no medo e no terror - o mesmo medo e terror que têm feito dos clássicos jogos em que o Benfica raramente disponibiliza orgãos sexuais para a clássica cópula. Resultado: é enrabado.

Estes bobos deviam antes perguntar-se por que razão um treinador competente não consegue obter sucesso num clube como o nosso, com jogadores como os que temos, com massa adepta como a nossa contra um incompetente treinador que, à custa das nossas baboseiras, vai ser campeão. 

Meus caros: Vítor Pereira será campeão. Assimilaram esta ideia devidamente ou só em parte? Descontem os árbitros e os penáltis e aquilo que todos conhecemos e ainda assim terão de usar o cérebro para encontrar a raiz dos nossos males. O Benfica pede-vos que o usem, de uma vez por todas. Pensem, reflictam, tirem uns dias, analisem declarações de dirigentes e técnicos, passem uma lupa pelos últimos dez anos. Não se envergonhem de terem estado errados, não se culpem por terem andado a insultar outros benfiquistas só porque eles vos diziam as coisas que iam acontecer e que agora vocês sabem estar certas, não se mutilem por terem andado submissos a uma ideia de benfiquinha - todos erramos, todos somos injustos, todos nos submetemos um dia a uma ideia ou a alguém. Mas pensem. E debatam. E fundamentem as vossas conclusões. E oiçam as dos outros. E conheçam o Benfica. E acrescentem algo vosso a uma opinião contrária. E vão aos jogos. E puxem pelo Benfica. E amem o Benfica. Não este ou aquele, amem o Benfica.

Amanhã poderá ser melhor. Só depende de nós. Porque o Benfica estará a jogar quando formos a enterrar ou quando as nossas cinzas esvoaçarem sobre um rochedo com vista para o mar. Sobreviver-nos-á e aos nossos filhos, netos e seres e planetas que nem sequer imaginamos. O Benfica jogará na Lua, um dia destes. E outro século depois, criará adeptos em galáxias distantes que ainda nem sequer foram inventadas. E acham que alguém se lembrará de Jesus e Vieira? 





Miguel Bombarda, regime de meia-pensão

Sabes que estás pronto para umas férias em asilo muito especial quando passas uma época inteira a antecipar problemas da tua equipa e a saber que não vais ser campeão e depois, a duas jornadas do fim, quando é preciso ganhar 5 pontos ao adversário, acordas num Domingo absolutamente certo de que vais ganhar o campeonato.

Vemo-nos, portanto, no Marquês. Nem que seja para uma palestra sobre o livro A Contribuição ao Estudo dos Microcéfalos.


sábado, 28 de abril de 2012

1000 euros a quem conhecer 10 jornalistas portugueses [desportivos, no activo, conhecidos da populaça] que admitem o clube de que são adeptos

Isto - este nojo, que é a capa do jornal "A BOLA" de hoje - é resultado da inexistência de jornalistas desportivos em Portugal. Menos cáustico e mais verdadeiro: eles existem, só que não têm poder, estão arrumados em prateleiras, na horizontal ou então servem cafés aos directores e aos sabichões - aqueles que, com dois candidatos à Presidência do Sporting, fazem notícia com a vitória do candidato errado, por exemplo. Ou então aqueles que abdicam dos serviços de um cronista sportinguista só porque o mesmo respondeu à letra a um cronista portista - igualdades, sim, mas só no dia 25 de Abril e de cravo ao peito! 

Há ainda aquele que não aceita, bem, uma pequena indiscrição de Gobern - quando o comentador festejou um golo do Benfica, pensando não estar a ser filmado - mas não tem problemas nenhuns, o Santos, em manter num programa de grande audiência um senhor totalmente embezanado que, além da estupidez latente que já lhe percorre as veias e a massa encefálica sempre que respira, com o álcool atinge momentos de grande qualidade humorística e até laivos de hilaridade. Mas para o senhor Santos, que gosta de rir, está tudo bem. O Senhor Gobern é que com aquele espasmo faltou ao respeito aos portugueses.

Não há, no mundo desportivo português, muitos que se mantenham direitos. Por medo, por cobardia, por ambição, por degredo mental. Basta ver que é raro o jornalista que tem clube conhecido. Geralmente o jornalista desportivo português é do Casais de Revelhos ou do Cantaria da Alçoita - isto porque são clubes que verdadeiramente mexem com o jornalista. Entende-se: o clube "lá da minha terra" passa os anos a disputar o campeonato, a Champions, a Intercontinental - quem são Benfica, Porto, Sporting, Académica, Belenenses, Vitória ao pé deles?

O jornalista desportivo português é um bicho estranho. Ele sabe de tudo o que se passa no mesmo mas, por ordens superiores e instinto de sobrevivência, tem de fingir que nada sabe. Ele tem de escrever loas ao Porto, ainda que ele saiba que o Porto é o principal beneficiado - mas de muito, muito longe. Ele vê que os penáltis a favor do Porto muitos deles são dúbios e que lances iguais nunca são assinalados a favor dos restantes clubes mas ele tem de dizer que "a vitória por 1-0 de penálti foi o resultado justo, tal foi a torrente ofensiva dos dragões". 

Ele sabe que, nos momentos cruciais, o Porto leva o empurrão que o deixa quase sempre com as taças na mão mas ele não pode deixar de escrever que "estes títulos são a consequência de 30 anos de competência". Ele nunca viu o Benfica ganhar um jogo no Porto com um golo em fora-de-jogo, mas ele lá vai ter de dizer que "um lance não resolve jogos". Ele estranha que Sporting e Benfica nunca possam resolver aqueles encontros bloqueados com um penaltizinho em cima da hora, meio dúbio, ou, como na semana passada, fora da área e com o atacante do Porto a puxar a camisola do defesa adversário - ele nunca viu tal coisa. Ou se viu, foi uma vez, há muito tempo, e provavelmente num amigável ou na Taça de Portugal contra uma equipa fraca. 

Ele leva os cafés aos senhores que mandam nele e ele às vezes, por ressaca, está meio fora da realidade e meio naquela neblina de cansaço e álcool e pergunta, inocentemente: "mas ó xôr director, a gente não investiga?", "a gente sabe que isto não é igual para todos, toda a gente que anda nisto há 30 e tal anos conhece o que se passa, não há forma de ajudarmos a limpar o futebol desta gente?". Pobre do sonhador, que no dia a seguir já tem lá uma cartinha em cima do portártil: "ou deixas-te de merdas ou amanhã podes ficar a dormir".

O jornalista desportivo português escuda-se com a Lei: "isso é coisa para juízes, nós não temos obrigação de julgar em praça pública". Pois não. Mas devias ter a obrigação - e até o prazer, e até a vontade, e até a decência - de querer saber e divulgar a verdade e não este lamacento atirar areia para os olhos dos outros, como se vivêssemos num mundo de cegos em que só passando as mãos pelas notícias podíamos saber e viver a realidade. 

Eu quero lá saber se as escutas não são legítimas nos tribunais, caralho. Eu quero é saber o que elas demonstram e quero que tu e os teus amigos jornalistas vão atrás daquilo que elas dizem e não se elas são aceites ou não em julgamento. Que jornalismo de merda é este que se acanha perante as hipócritas e desviantes formas de evitar a verdade que os dirigentes executam nem sequer com tão grande qualidade artística? Onde vivem as vossas consciências, o vosso brio, as vossas entranhas? Perdidas entre favores e gestos de assentimento com a cabecinha olhando para o chão.

Não têm clube, mas gostam de futebol. Têm um trabalho que envolve maioritariamente um desporto específico, dizem-se amantes do futebol, adoram citar Nelson Rodrigues ou Valdano, mostram-se tão cultos e tão defensores da pureza e arte e génio e transcendência do desporto na sua forma mais primária e depois dizem-nos que não têm clube, que não sabem de nada, que não viram nada, que desconhecem como chegaram até aqui - se de gaivota, andorinha ou cegonha. Que o mundo vos é estranho, que não o entendem. Que, no dia a seguir ao Guardiola se despedir do Barcelona, nem sequer estavam na redacção quando alguém, provavelmente agarrado a um leitão e dois javalis, decidiu esta nojeira de primeira página.

Porque são todos muito puros, não têm provas de nada. Eles amam o futebol. Por eles, se fosse por eles, ai se me deixassem, agarrem-meagoraqueuvoumaeles, isto só lá vai com uma limpeza, estive quase quase para, ou muito me engano ou.

Cortem as asas. Comprem uns colhões.

Força, Sporting - vence por nós!

Acreditemos na vitória do Sporting. E com muita força. Pode ser que as energias mentais de 14 milhões de adeptos possam empurrar mais a bola para a baliza da Académica, visto que será de esperar um jogo mais fraco por parte dos jogadores leoninos - as expectativas baixaram, o sonho acabou; todas as equipas, por mais fortes que sejam mentalmente, sofrem para regressar ao espírito competitivo após uma eliminação como a de ontem, em Bilbau.

A História entre o nosso clube e o Sporting tem muitos episódios deste estilo: umas vezes um precisou do outro para ser campeão; outras, um deixou de sê-lo por um resultado indesejado do outro. É também disto que se fazem as grandes rivalidades, de momentos dúbios, janelas estranhas para o absurdo, em que somos forçados a torcer por um clube que, em 99,9 por cento do tempo das nossas vidas, queremos que perca. E na Segunda todos queremos que o Sporting ganhe.

O cenário é simples: hoje o Braga perdeu - excelente resultado logo à partida porque é o Braga, antiga instituição nobre e honrada e hoje um clube pequeno feito criança de saltos altos copiando o tio que é ladrão. Mas mais do que isso: perdendo, ficará a 6 pontos do Benfica, caso vençamos em Vila do Conde, o que nos dará pelo menos o 2º lugar e a entrada directa na Champions. Mas fundamentalmente - e mais importante ainda do que as duas anteriores - porque abre uma porta para o Sporting poder chegar ao pódio. E isto, naturalmente, interessa-nos. 

Se os de Sá Pinto vencerem a Académica, ficarão a 3 pontos dos bracarenses, a 2 jogos do fim. O que quererá dizer: entrarão como leões no Dragão na jornada a seguir, em busca da vitória para depois conquistarem o bronze em casa contra o Braga, na última jornada. É o que resta ao Sporting: vencer a Académica, ir ao Porto ganhar e acabar com uma vitória em casa. Só assim chegarão ao terceiro lugar. Torçamos, pois, todos pelo Sporting.

A conspiração e a realidade histórica exigem-nos, no entanto, a reflexão: "e se os gajos não quiserem dar o título ao Benfica?". Não querem, não quererão nunca, mas não têm outro remédio que não o de tentar vencer os últimos 3 jogos. Isto por um motivo simples: o clube está falido. Tecnicamente falido. Mais uma ausência da Champions será um descalabro com graves consequências para o futuro da instituição. Toda e qualquer possibilidade que tenham de ainda poderem agarrar o hino da Liga dos Campeões será visto como uma bênção divina. Não têm por onde fugir: ganhem e dêem-nos o campeonato, se fizerem o favor. Estivessem folgados no terceiro lugar - poiso já de si de sonho para o clube - e não temos dúvidas de que no Dragão passear-se-iam sem grandes rugidos. Assim terão de comer a relva e, se possível, os jogadores do Porto. É assim mesmo o futebol: cruel, de tempos a tempos.

E pensar que podíamos estar agora de papo para o ar, quase campeões - este campeonato, a ser perdido, vai ser das coisinhas mais estúpidas alguma vez perdidas em toda a nossa história. Afinal, andamos de calculadora em riste, imaginando milagres consecutivos e combinações quase impossíveis. 

Claro que este cenário - 2 vitórias do Sporting (a última não nos interessa para nada) e 3 vitórias do Benfica - só nos dará o título se, nos outros dois jogos (Marítimo e Rio Ave, fora), o Porto perder pontos, basta um empate num deles. Demasiada matemática? É provável, diria mesmo: quase impossível. Pelo futebol em si e por outros factores que conhecemos já lá vão 30 anos. Mas Aimar me atinja já com um raio na tola se não tenho ainda, mesmo que ténue e nublada, uma esperança enlouquecida em agarrar o 33 na mão. Quando isso deixar de acontecer, afoguem-me, que estarei irremediavelmente são.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Villas-Boas recusou, Scolari reflecte e o Benfica incompetente continua (e outras derivações)

- Se eu tivesse chegado hoje a Portugal e não soubesse já da patológica incompetência da Direcção do Benfica (são 10 anos disto, é muito frango a ser mal virado), bastar-me-ia ter em minha posse a informação que me chegou aos ouvidos para que não tivesse dúvidas de que no clube não há qualquer tipo de organização estruturada e organizada para o sucesso. Quando, em menos de uma semana, Scolari é convidado para ser treinador do Benfica e Villas-Boas também (recusando), penso que está tudo dito sobre a forma como se reflecte sobre estes assuntos. Aliás, o perfil de um e de outro têm tudo a ver. Benfica, Benfica, estás entregue à bicharada.

- Há quem diga que Witsel está de saída. Obviamente, espera-se que seja mentira. Não é possível criar uma equipa competitiva se os grandes jogadores não durarem mais do que um ano no clube e a regra passar a ser a rotatividade de entradas e saídas de atletas todos os anos e em doses industriais (ainda estamos em Abril e quantos já comprámos, mesmo?). Witsel tem de ficar, como têm de ficar todos os bons jogadores do Benfica, exceptuando Gaitán que deverá (deveria) servir como garante de um encaixe financeiro suficiente, aliado à venda de pelo menos 10 por cento dos 40 (?) emprestados que temos pelo mundo, para que o "equilíbrio das contas" seja executado. Equilíbrio que - vem garantindo Soares Oliveira há anos a fio - não está dependente da venda de jogadores. Ou tem estado a mentir aos sócios do Benfica este tempo todo? Não posso acreditar numa coisa dessas.

- Há dois anos que Éder Luís e Fellipe Bastos vão servindo, bem, o Vasco da Gama sem que o clube brasileiro tenha de pagar por eles - para além de uma percentagem dos salários. É uma política que se estende a mais umas dezenas de jogadores que temos emprestados e que perfaz a maravilhosa quantia de quase 40 milhões de euros enterrados em activos que nos não dão absolutamente nada - um até está emprestado por ano e meio (!) a um dos nossos rivais. No entanto, hoje soube-se que o Vasco irá tentar uma "engenharia financeira" para, finalmente, gastar dinheiro com os nossos jogadores. Conhecendo o histórico de solidariedade que temos com o Vasco (e com o Real e com o Atlético e com o Braga) - mas só de cá para lá, já que de lá para cá o Dedé não pôde vir -, ainda acabaremos a emprestá-los por mais uma época. Mas tenhamos esperança.

- Marcelo Bielsa, depois de assumir a responsabilidade pela derrota em Alvalade - aprende, Jesus -, vem agora limitar a sua participação na passagem do Atlético de Bilbau à final da Liga Europa. Volta a aprender, Jesus. É disto que se fazem os grandes treinadores: humildade, defesa dos seus, noção colectiva, altruísmo em prol do grupo e qualidade mental e psicológica para lidar com derrotas e vitórias. É a diferença entre um bom treinador e um excelente treinador. Infelizmente o que temos, pelo menos enquanto não existir uma estrutura competente a dirigir o Benfica que o saiba limitar à suas funções e o ensine o saudável talento da inteligência e humildade, não dá para mais.

- Guardiola saiu do Barcelona. Uma triste notícia por pôr fim a uma relação de grande paixão e conquistas. Só posso agradecer o trabalho fantástico que fez no clube catalão. Foram anos de grande prazer, Pep, obrigado. E tenho a certeza de que, por um lado, o Barcelona irá continuar - porque sabe, ao contrário do Benfica, que antes de nomes vem um perfil que é estudado e escolhido e não em sistema anárquico - a vencer e, por outro, que Pep  terá sucesso no seu futuro clube. Que podia ser o nosso, se houvesse visão e estratégia. 

- O Sporting saiu de Bilbao sem a final da Liga Europa e acima de tudo - para mim, pelo menos - com uma estranha sensação de impotência. Não é muito compreensível que tenha havido tanta falta de ambição e tantos erros consecutivos num jogo crucial para o clube. Comecei por elogiar o que me pareciam ser boas ideias sobre o jogo por parte de Sá Pinto, quando chegou ao Sporting. Continuei a gostar do que ia fazendo, muito para além da "raça", "atitude guerreira", "motivação", mas ontem apercebi-me de algumas falhas graves no seu perfil, especificamente a debilidade com que pensou e executou as mudanças que a equipa pedia. Ontem Sá Pinto ajudou, de forma bastante evidente, a que o Athletic passasse uma segunda parte inteira em cima do Sporting. Esperarei para ver os jogos importantes que o clube tem até final da época. Mas, Sá, se calhar não chegas, pá.

- Llorente. O passe para o primeiro, o terceiro, mas acima de tudo o jogo que fez e aquele fantástico trabalho para o segundo golo. Que maravilha:




QUE MERDA É ESTA ???



Equipamento alternativo para 2012/13 ????
ALÔ ! ALÔ ! ESTÁ ALGUÉM EM CASA ???
SERÁ QUE A DIRECÇÃO DO BENFICA E A ADIDAS NÃO SABEM QUE A COR HISTÓRICA DO EQUIPAMENTO ALTERNATIVO É O BRANCO ???
SERÁ ASSIM TÃO DIFÍCIL ???
JÁ SE ESQUECERAM DA CAMISOLA DO FUNERAL ???



E O BRANCO ? QUE É FEITO DE UM EQUIPAMENTO BRANCO E VERMELHO COMO ALTERNATIVO AO VERMELHO E BRANCO ???

PAREM DE INSULTAR A HISTÓRIA, OS SÓCIOS, OS ADEPTOS, ENFIM, O PRÓPRIO BENFICA!!!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

É um futebol que dá sono

Acho de uma tremenda falta de respeito os jogadores do Barcelona não cruzarem quando todo o café lhes pede que o façam. É tão óbvio: bola na ala, finta um gajo e cruza. Será assim tão difícil de entender isto?

Cheguei atrasado: o relógio marcava 01:34, as cadeiras estavam todas ocupadas, a empregada do "Na Desportiva" cortava folhas de louro para o futuro e eu sem bebida na mão. A televisão flutuava em cima de uma arrecadação com papo-secos, maionese, leite e coisas do dia-a-dia que um café de um bairro sem supermercados nem barbeiro nem papelaria (afinal isto é um bairro?) faz o favor de oferecer aos seus moradores. Ao meio do plasma, na linha do meio-campo, um rasgão de protões faz uma sombra sobre o Busquets. "A ver se ainda esta semana trato disto", "Deixe estar, Dona Ivete, dê-me só uma média".

Sou o único branco, incluindo o staff proprietário, no "Na Desportiva". Os pretos sentados e eu em pé, ao balcão - pergunto-me se isto é justo. Andámos nós a transportar gajos de uns continentes para outros - tão solícitos na nosso altruísmo de mostrar mundo aos outros-, a inventar guerras coloniais e a resgatar jogadores fabulosos e é assim que nos agradecem? Nem uma cadeira. Ao balcão, de pé, à homem. A casa-de-banho era para todos.

A bola cai na linha: "cruza, cruza". Alexis Sánchez não cruza, mete para dentro, atrasa, faz um passe estúpido para o meio. Que futebol é este, caralho? Atrás, a bola nunca é atirada para o conflito, à Luisão; no meio, fazem-se combinações arriscadíssimas, gente que aparece a resgatar o espaço, parece uma brincadeira de crianças. Os jogadores do Chelsea correm e enlouquecem. Freitas Lobo fala ao café: "excelente sentido posicional dos londrinos!" e muitos concordam, sim senhor, defendem como poucos, fosse assim o Benfica. 

Arranjo amigos, pelo olhar. Discordamos do comentador. O Barcelona dá um festival de gestos e coisas ensandecidas e nós, os que achamos Freitas Lobo um gajo que nos últimos 2 anos perdeu o cérebro (ou ganhou dinheiro a mais, escolhem vocês), bebemos e regozijamos. Não é possível não amar este jogo parvo destes catalães. Procurar o meio para encontrar espaços? Recusarem-se teimosamente a cruzar a puta da bola? Ficarem-se em passes curtos entre 6 gajos do Chelsea e saírem de lá felizes e contentes como se o futebol fosse motivo de alegria e exaltação? O mundo está decidida e inexoravelmente perdido.

Golo de Busquets. Não consigo, apesar de em território hostil, conter o grito de amor. Não pelo clube - sou do Benfica, desculpem -, mas pela estupidez da jogada. Ridículo, quase. Alguém grita: "assim também eu, estava sozinho, foda-se". De facto, estava. Patético, mesmo. A seguir mais gajos a não cruzarem bolas. O café inunda-se de um desespero: será possível que não veremos uma merda de um cruzamento decente? Porque, como se sabe, os cruzamentos decentes são muito importantes no futebol, mesmo que para uma área cheia de moscas. No fundo, não interessa tanto o resultado do cruzamento, importa sim livrar a bola. O chamado jogo Fátima Felgueiras: quem vier atrás, que feche a porta.

Um desconhecido olha-me de modo estranho. Quem sou eu e o que quero com aquela felicidade toda que transbordo, entre cervejas e agradecimento aos deuses de ver um futebol tão imbecil? Outro aperta-me a mão: "estes gajos jogam muito, não jogam?". Neste momento, tornei-me o guru do futebol pornográfico. Lanço frases explicativas que atiro do balcão para as mesas, como tremoços: "é tão lindo ele não cruzar"; "o gajo foi para cima de outros 4 e depois passou a bola e ainda a foi receber"; "viram quando ele passou, recebeu, passou e recebeu do mesmo gajo, na linha lateral?". Tudo coisas ofensivas. Do plasma que anda a tapar a área do Chelsea há 40 minutos, oiço qualquer coisa como "o Barcelona está a ter dificuldades em encontrar espaços". Peço um uísque para esquecer.

E, de repente, o "Na Desportiva" inunda-se de uma felicidade transbordante. Ramires marca um golão. Cabeças reviram-se na minha direcção. Eu só noto dois segundos e 34 coisos depois, visto que estou maravilhado com o gesto técnico do queniano de Belo Horizonte. E afirmo, convicto: o que é que este homem está a fazer que não tem a camisola blaugrana vestida? Uma surpresa contagiante, afinal também gosto de futebol e sei gostar de um golo do Chelsea, quem diria? Ganho respeito entre as gentes. O meu novo amigo olha-me com admiração. Quase podia ter direito a sentar-me numa cadeira. 

Também como em Portugal, em Angola e na Guiné o Mourinho é que é.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O adepto-cliente - episódio sobre a falta de vontade de quem nos dirige

N´"ABOLA" de hoje:

"O Sporting decidiu proporcionar aos adeptos a possibilidade de assistirem ao jogo com o Ath. Bilbao no Estádio José Alvalade.

Para o efeito, será instalado um ecrã gigante que permitirá acompanhar, a par e passo, todas as incidências do encontro que pode colocar o leão na final da Liga Europa.

As portas serão abertas às 19.30 horas, 35 minutos antes do pontapé de saída do jogo em San Mamés. A entrada é gratuita.

O Estádio de Alvalade transformar-se-á, depois, no palco da festa com a equipa, que tem chegada prevista entre as duas e as três da manhã, desejavelmente para celebrar o apuramento para a final de Bucareste."

E o que tem isto a ver com o Benfica? Tem muito. O que é uma excelente medida por parte da Direcção do Sporting no nosso clube parece ser uma subida impossível ao alto do Evereste. Não porque seja de uma dificuldade extrema conseguir-se a permissão de uma estação de televisão para que se passem os jogos nos ecrãs do estádio, mas porque no nosso clube o adepto é visto como um cliente que se farta de gastar dinheiro e nunca como o coração e a alma do Benfica que merece respeito, dedicação e uma resposta à altura dos pedidos que este faz aos seus dirigentes.

Há cerca de dois meses e meio perguntava-me por que razão não podiam os benfiquistas menos abastados reunir-se no estádio ou num dos pavilhões para verem os jogos da Champions que a equipa fizesse no estrangeiro. Um encontro de amigos, companheiros, consócios, fazendo dos nossos recintos autênticas festas de benfiquismo. Com fervor, paixão, emoção, amor, apoio. E, em vez de ter ficado só pela ideia, escrevi um texto que fiz chegar ao Director de Marketing, através de um consócio e blogger, o João Tomaz, do Benfiquistas desde pequeninos

E versava assim:

«Serve esta carta para dar voz a uma ideia que penso merecer uma maior atenção e a qual tenho vontade de vê-la passada à prática por julgar ter em seu redor criadas as condições necessárias para uma aplicação directa, rápida e com vantagens para o Clube e restantes empresas que rodeiam o Estádio da Luz.

E ela é, sem mais delongas, muito simples: quero saber da disponibilidade da Direcção do Clube para a transmissão dos jogos europeus que o Benfica fará até, esperemos, à final da competição - começando, se for possível, já esta Quarta-Feira.

Várias ideias vieram dentro desta: executar a transmissão no próprio Estádio, fazê-la num dos pavilhões, na praça Centenarium. Neste particular, deixo à vossa consideração o estudo sobre o melhor local a transmitir os jogos. Decerto que haverá a questão de segurança a ter em conta como outras que desconheço mas que poderão ser importantes para uma boa organização do acontecimento.

Com isto, pretendo promover o benfiquismo apaixonado e reunido entre os nossos, em detrimento do café ou do sofá. Reunir centenas ou milhares de benfiquistas - e se a ideia for bem publicitada tanto pela Benfica Tv como por outros meios, incluindo fóruns, blogues, redes sociais, acho que poderemos, de facto, reunir muita gente -, todos juntos, todos apoiantes, todos a sofrer e a vibrar pelo Benfica, naquela que é a nossa segunda casa: o Estádio da Luz.

Por outro lado, toda a estrutura em redor do estádio sairia valorizada - tanto no plano do merchandisinhg como comercial. A Benfica TV teria uma oportunidade de criar novos conteúdos, com directos e recolha de testemunhos de mais uma acção de benfiquismo, que pretendo ser uma onda que nos leve até final da competição. Um pouco como nos Europeus e Mundiais, em que as pessoas se juntam em redor de um espaço público, acho que o Benfica tem grandeza suficiente para atingir o mesmo nível de fidelidade e paixão.

Gostaria de receber a vossa resposta o mais cedo possível, visto que há um jogo Quarta-Feira que podia ser, mesmo que com menos gente do que nos próximos, um bom ponto de partida para lançar a ideia e começar já a abrir uma transmissão pública aos benfiquistas. Não esquecer que, em tempos de crise, todas as ideias que fomentem a paixão clubística, ao mesmo tempo que possibilitam a quem não pode ver o jogo em casa uma transmissão do jogo, são factores a ser seriamente tidos em conta.

Não sei que valor, em termos de custos, terá a operação de uma transmissão nestes moldes, pedindo-vos que me informem sobre o assunto, mas creio que não será significativo em relação ao que pode gerar entre os nossos - financeira e clubisticamente.

Quero, queremos, apoiar o Benfica, como se estivéssemos em São Petersburgo (e, nos próximos jogos, nas outras cidades onde o Benfica jogar). Queremos estar perto uns dos outros para nos sentirmos mais próximos dos nossos jogadores. Queremos gritar golo em uníssono. Queremos sentir o público, o som do benfiquismo ao longo dos 90 minutos e queremos festejar com os nossos cachecóis e as nossas bandeiras.

Espero uma resposta da vossa parte, se possível já hoje para sabermos com o que contamos.

Somos Benfica. Não há impossíveis neste clube. Apoiem esta ideia e nós apoiaremos o Benfica com a vossa dedicação.»

Resposta primeira: teria de passar a questão para o departamente jurídico.

Um dia depois, resposta segunda: que era "complicado" por causa dos direitos televisivos e tal.

Quando o adepto é visto pelos dirigentes como um cliente e não como um activo fundamental do clube, é nisto que dá. Pelos vistos o Sporting não achou "complicado". É tudo uma questão de vontade. E ela existe ou não existe. No Benfica, há mais vontade em chamar "abutres" aos que encontram nestes dirigentes muito mas mesmo muito pouca vontade. É complicado.

Salgueiro Maia, o benfiquista que, nos tempos livres, derrubava ditaduras

Como único clube verdadeiramente democrático desde que foi fundado - excepção feita ao período que se iniciou em 2008 e que não sabemos se terá fim, em que se vive uma pequena ditadura no clube -, punido, no Estado Novo, por nunca ter embarcado nas ideias obtusas que o Regime defendia, obrigado a mudar o hino por ter no original uma aproximação clara aos ideais comunistas, forçado a ser chamado de "encarnado" para não ferir susceptibilidades, impedido de disputar a primeira época de Taça dos Clubes Campeões Europeus, embora tivesse sido o campeão (foi o clube do regime, Sporting Clube de Portugal, o convidado especial, claro), tinha de ser, obrigatoriamente, o Sport Lisboa e Benfica a enviar um seu adepto para acabar com a javardice que se andava a passar no país. Aqui, Salgueiro Maia, ainda imberbe mas já seguríssimo do seu orgulhoso benfiquismo:






Agora falta a outra revolução.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Ode à Margarida Prieto

Como eu não sou religioso, tenho tempo para pensar. Se eu andasse a planear roubar a caixa de esmolas da Igreja, a inventariar a vida dos outros, a estudar exaustivamente os livros que dizem que Deus existe porque o filho dele escreveu um livro, em rezas ou idas à missa, restar-me-ia pouquíssimo tempo para o resto. E o resto é absurdamente desgastante. Cansa muito pensar, consomem-se dias nisto e não se chega a conclusão nenhuma. Se ao menos Deus existisse para desinventar os que nele não crêem. Se ao menos.

Como tudo seria mais fácil se eu acreditasse que, morrendo, viveria e não esta estúpida ideia que não me sai da cabeça de que, morrendo, morro. Uma luz que me chegasse de fininho, me iluminasse e me criasse crente. Não precisava de ser cinematográfico; um toque no ombro, um pentear de cabelos, uma mão sobre a minha, dois cubos de gelo sobre a mesa, qualquer coisa que me ensinasse o dom da fé sem questões. Mas mantenho teimosamente esta luta comigo próprio, este absurdo necessitar de provas, de coisas tangíveis e claras. Se ao menos Deus existisse e me chamasse pelo nome. Às vezes estou na cozinha a olhar o horizonte nublado, requisitando absolvições divinas e oiço uma voz. "Ricardo, Ricardo" e não sei se é do gin se do adiantado do mundo mas entra-se-me uma esperança de eterno que logo é miseravelmente destruída pela realidade: afinal não é Deus nem Nosso Senhor nem sequer a Fátima que gostava de comer azeitonas em cima de uma árvore. É a vizinha que traz o quotidiano: "podes passar-me as cuecas do meu filho que caíram no teu estendal?". Se ao menos Deus fosse uma dona de casa. Se ao menos.

No outro dia, visitaram-me. Abri a porta e uma senhora muito bem composta com o seu deficiente mental de estimação atrás dela, de óculos muito grandes, vítreos e profundos, umas mãos pequenas e uns olhos que me perscrutavam as pontas dos pés. A senhora de cabelo apanhado, casaquinho de malha, ombros caídos sob a presença do etéreo e uns livrinhos de que, tem a certeza, eu vou gostar muito de ler. Não são bem livros, antes folhetos, páginas a azul e branco com propaganda jeová. "Já leu as crónicas do Dr. Abraham Milzenovky Tratcher Viktus?", "Com imensa pena minha, não li", "Pois é, as pessoas hoje em dia dedicam-se a outras coisas", "De facto", "O que tem a dizer sobre a religião?", "Talvez caia melhor com chourição", "É crente?", "Apenas no que vejo e no Benfica", "Vê este pobre coitado aqui perto de mim?", "Se os olhos não me enganam...", "Foi salvo por Deus", "Tem provas?", "Não são necessárias", "Nem para ele próprio?", "O rapazinho não tem capacidade para isso", "Porquê?", "Tem uma deficiência mental profunda", "Compreendo", "Já leu a Bíblia?", "Aos soluços", "E o que retirou dos ensinamentos?", "Pouca coisa, quase nada, um adultério aqui, uma traição acolá, uns crimes de fraco teor artístico, pão, vinho e pouco mais", "Não se brinca com coisas sérias.", "Precisamente o que sinto", "Então sabe que Deus existe e nos ama a todos?", "Não sei, nunca o conheci barba com barba", "Tem dúvidas sobre a existência de Deus?!?!?", "Todas e mais algumas", "Mas se está escrito no livro..."

De modo que penso, a espaços. Relaciono coisas. Por exemplo: no outro dia vi uma foto do M. tirada na Suíça que me mostrava um jogo de xadrez gigante, com pessoas em volta. Faz todo o sentido. O que peca no jogo é precisamente a diminuta visão que podemos ter dele, quando num tabuleiro ou, pior, na internet, com as pecinhas todas espalmadas e nós a vermos-lhes os cocurutos. Para o jogo de xadrez, é necessária visão e dimensão espacial. Para imaginarmos os ângulos, o jogo de vai e volta, o futuro das peças, a morte ou sobrevivência consoante as várias escolhas do agora. Fosse o xadrez um enorme campo de ténis e o desporto teria outra popularidade entre as gentes. E, no fundo, xadrez, ténis, bilhar, futebol, o jogo da parede ainda no velhinho ZXSpectrum são de um agnosticismo desarmante. Não chega crer, há que ir crendo, aos poucos, em ângulos, devagarinho, ganhando centímetros, teimando, desistindo, escolhendo vias, pondo em causa, acertando. 

A religião é um bocadinho como aquele ser, muito de Cascais, que um dia conheci em estágios futebolísticos e que tinha como conceito de vida o limpar o rabo um número, reduzido e sempre igual, de vezes: se a merda resistisse, tanto pior.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alternativa a Vieira

Como já disse anteriormente, sobre Jesus falarei no final da época desportiva, embora já tenha uma idéia formada. Quanto ao LFV, eu sei que as eleições são só para Outubro, ou seja daqui a 6 meses, porque desta vez não interessa antecipá-las e porque os estatutos já condicionam suficientemente os sócios para que apenas uma pequena minoria possa ambicionar ser líder de qualquer orgão social do nosso clube, mas visto que estamos a falar do mandato desportivo, podemos já prepararmos um balanço.

Comecemos pois pelo futebol, a mim interessam-me os resultados, os títulos, não as séries de vitórias ou as boas campanhas.

Campeonato - 1 (lamento imenso, mas a teoria do matematicamente possível é boa para quem não tem calo suficiente para saber que se fôr preciso, o próprio PdC apitará o que fôr necessário para ser campeão).
Taça de Portugal - 0
Taça da Liga - 3
Supertaça - 0

Se compararmos com o mandato não desportivo que antecedeu temos:

Campeonato 1 vs 0
Taça de Portugal 0 vs 0
Taça da Liga 3 vs 1 (embora só tenham existido 2 edições no anterior mandato)
Supertaça 0 vs 0

Ou seja, o mandato desportivo, aquele onde foram investidos milhões atrás de milhões, onde tivémos os plantéis mais caros de toda história sem qualquer tipo de comparação, rendeu apenas 1 campeonato e 2 taças da liga a mais que um mandato não desportivo.

Será então na formação que obtivémos o domínio ?

Juniores 0  vs. 0 (desde de 2003/04 que não ganhamos 1 título de juniores)
Juvenis 1  vs 1
Iniciados 1  vs 1

Este ano está em aberto a possibilidade de sermos campeões nas 3 categorias, embora a derrota com o Porto neste fim de semana prejudique as nossas ambições em Juvenis.

Passemos então para o Pavilhão e continuemos com a bola no pé, ou seja o Futsal.

Campeonato 0 vs 3
Taça de Portugal 0 vs 2
Supertaça 1 vs 2
Uefa Futsal Cup (AKA Champions do Futsal) 1 vs 0

Conclusões, apostámos tudo na conquista da Champions, no primeiro ano de mandato, mas a nível nacional perdemos a hegemonia para os lagartos, mesmo que este ano conquistemos a dobradinha.

Basquetebol

Campeonato 1 vs 1
Taça de Portugal 0 vs 0
Supertaça 2 vs 0
Supertaça Luso-Angolana 1 vs 0 (De referir que a competição só existiu neste mandato, tendo nós conquistado em 2009/10, tido uma participação vergonhosa em 2010/11 e nem fomos apurados em 2011/12)
Troféu António Pratas 1 vs 2
Troféu Hugo dos Santos 1 vs 0 (A competição só existiu neste mandato)

No Basquetebol devido às constantes mudanças de nomenclatura e à criação e extinção de competições, torna-se difícil fazer comparações, mas não existe uma clara hegemonia a nível nacional, ao contrário do que parecia iniciar-se após as vitórias no campeonato no último ano do mandato anterior e no primeiro ano deste mandato. A derrota no ano seguinte, perante os tripeiros, ditou o fim do projecto em curso, pelo que se espera que o projecto iniciado este ano dê frutos.

Hóquei em Patins

Campeonato 0 vs 0
Taça de Portugal 1 vs 0
Supertaça 1 vs 0
Taça Cers (equivalente à Taça UEFA) 1 vs 0
Taça Continental (equivalente à Supertaça Europeia) 1 vs 0

Embora no campeonato não existam indicações do fim da hegemonia dos tripeiros, os títulos europeus e as taças mostram que se está a trabalhar melhor que nos anos anteriores, a liderança no campeonato perto do fim, embora seja apenas de 1 ponto, deixa-nos a esperança de sermos campeões.

Andebol

Campeonato 0 vs 1
Taça de Portugal 1 vs 0
Supertaça 1 vs 0
Taça da Liga 0 vs 1

O despedimento incompreensível de Aleksander Donner, interrompeu uma trajectória de sucesso que existia no mandato anterior. Neste mandato nunca, em momento algum parecemos fazer perigar o domínio dos tripeiros.

Voleibol

Campeonato 0 vs 0
Taça de Portugal 2 vs 0
Supertaça 2 vs 0

Sem lagartos nem tripeiros, com um investimento sem precedentes, que inclui 3 titulares da selecção nacional resgatados a equipas profissionais estrangeiras, inacreditável foram as derrotas nos 2 primeiros anos de mandato nas fases decisivas após largo domínio nas fases regulares, estando este ano em aberto a possibilidade de finalmente sermos campeões.

Atletismo

Campeonato Nacional de Clubes (Masculinos) 1 vs 0

Após 15 anos o título foi conquistado em Masculinos, como consequência do trabalho realizado em Sub-23 e Juniores, que apesar de ter procurado informação, nem no site do Benfica, nem do da Federação consegui identificar resultados mas tenho ideia que o título de sub-23 foi conquistado pela 2.ª ou 3.ª vez consecutiva no ano passado.

O Atletismo é a modalidade paradigma, onde um investimento na formação e detecção de valores nacionais jovens nos levou a conquistar o título quando foram aliados a valores seguros com alguma experiência. Infelizmente esta prática pouco ou nenhuma vez foi repetida nas outras modalidades onde independentemente dos valores dispendidos, serem muitas vezes muito superiores à concorrência, nem sempre conseguimos os resultados pretendidos.

Cada um retirará as conclusões que quiser do mandato desportivo, na minha opinião os resultados ficaram muito aquém das expectativas, revelando na maioria das modalidades onde os tripeiros participam uma incapacidade em quebrar a hegemonia deles, o resultado do basquetebol este ano ditará se nesta modalidade quebrámos a hegemonia ou não. No futsal, perdemos a hegemonia nacional para os lagartos, no voleibol apesar da quase ausência de concorrência os resultados são pobres, apenas no atletismo se vê um trabalho de fundo, sustentado e digno de todo o realce.

Obviamente que esta é uma pré-avaliação antes de se saberem as decisões dos campeonatos, mas para um mandato desportivo que se queria de êxitos, mesmo que conquistemos alguns títulos este ano, ficará muito aquém do esperado.

Não sei qual o vosso veredicto, mas o meu é muito negativo, mais ainda quando se endividou e acumulou resultados financeiros negativos na SAD e no Clube para tentar obter os resultados que afinal não apareceram.


Tudo o que Vieira fez foi mau ? Não.


Objectivamente o Benfica exponenciou a sua capacidade de marketing e as receitas que daí advêm


O Benfica aumentou significativamente a sua base de sócios e a rede de casas.


Os trabalhos realizados na formação de base, quer ao nível do futebol, quer de outros desportos, é exemplar, mas deverá produzir frutos para as equipas principais, caso contrário poderá vir a ser posto em causa um trabalho meritório.


O Benfica é o clube em  Portugal que tem consciência social e ambiental.

O Benfica foi pioneiro na comunicação, com a criação da Benfica TV, apesar dos maus caminhos pelos quais recentemente esse projecto tem entrado, com o saneamento de benfiquistas que ousam criticar ou pensar diferente da direcção (António Melo ou Alberto Minguéns, por exemplo).


Muito do trabalho feito tem como objectivo o longo prazo, não tem visibilidade actual, pelo que deveremos estar gratos pela visão estratégica.


Mas falta o golpe de asa, aquele que caracteriza as Águias. A cultura dos Yes-man nada de bom traz para o Benfica como a qualquer organização. Introduzir no Benfica infiltrados de outros clubes (incluindo homens para quem o Porto é uma religião), ou pessoal que apenas vê no Benfica um bom meio de promoção pessoal ou de ganhar uns trocos à custa do clube é pernicioso. O romper com os interesses instalados, porque representam o que de podre o futebol português tem tido nos últimos 30 anos, em vez de tentar aproveitar as sobras do sistema (será que não aprenderam nada com as lições dadas ao Sporting ?).

Agradeço o trabalho efectuado, mas pode ser feito mais e melhor e não me parece que esta equipa seja capaz de elevar o Benfica à excelência, seja ela desportiva ou organizativa, pelo que é altura de uma renovação na estrutura dirigente.


Quando me falam de grandes presidentes penso em Maurício Vieira de Brito, Borges Coutinho, Fezas Vital, Adolfo Vieira de Brito, Ferreira Bogalho. Querem comparar o palmarés do Benfica no tempo destes presidentes com o tempo de Vieira ? Nem brinquem comigo. Nenhum deles tem menos palmarés que Vieira e em muito menos tempo, pois o único que esteve 8 anos no Benfica, Borges Coutinho, ganhou 6 campeonatos e 2 Taças de Portugal (e não havia nem Taças da Liga nem Supertaças).

Presidentes vão e presidentes vêm e o Benfica continua. O Benfica é muito maior que qualquer presidente. É pois urgente surgir uma alternativa a Vieira.

Não vou discutir nomes, pois esse não é o meu interesse.

Um Benfica ganhador não pode ser incompetente, aquele que ganha 1 campeonato em cada 5 anos, deixando os adeptos a culpar o sistema, apesar de o Benfica com ele pactuar e o alimentar constantemente.


Quero alguém que seja benfiquista, honesto, vertical, não pactue com esquemas, que imprima uma cultura de exigência em vez de pactuar com a mediocridade e afastar os mais competentes, como foi o caso do Donner, em detrimento de outros menos conflituosos, mas obviamente muito menos competentes.


Quero alguém que tenha uma visão estratégica e que pense o Benfica como sendo maior que o rectângulo onde vive, um Benfica Europeu e Mundial, que não se limite a falar de 6 ou 14 milhões e efectivamente explore e desenvolva a marca Benfica no mundo.


No fundo quero um Benfica à Benfica.



E agora, Vieira? Venha de lá o Plano B.

Bem sei que a cada três palavras do Presidente Vieira sobre o Benfica duas delas são geralmente mentira, mas ainda assim persisto em ler e ouvir com atenção o que vai dizendo o nosso líder, o nosso visionário e o guardião do templo, para que este não se desmorone e volte a ser um pesadelo de dimensões épicas, e gosto de, meses mais tarde, comparar a realidade com o que ele disse aos sócios e adeptos do Benfica- parecendo que não, é importante. Chamem-me um romântico, talvez um sonhador, até mesmo um idealista, quase de certeza um profeta da desgraça, seguramente um mau benfiquista.

De modo que a 10 de Fevereiro eu ouvi - acho que ouvimos todos - que, "no final do mês [a negociação com a Olivesdesportos] estará resolvida". Ou não? Foi imaginação minha, delírio pontual, afinal era o vizinho de cima a comentar sobre as tubagens ou a remodelação da casa-de-banho?

Ora, mesmo sendo de Letras, consigo ter alguma matemática e até mesmo um bocadinho de lógica. Se a 10 de Fevereiro de 2012 o Senhor Excelente Excelso Eloquente Magistral Potente Extraordinário Espectacular Senhor Vieira disse que "no final do mês" os adeptos saberiam da opção que o Benfica tomaria em relação aos direitos televisivos, e se hoje é dia 23 de Abril de 2012 - dois meses depois, portanto -, sou forçado a concluir que o Famigerado Cortês Valoroso Garboso Sacrificial Defensor Altruísta Pneumático Senhor Presidente do Benfica mentiu. Se até aqui estiverem a acompanhar a lógica e sentem que devem dizer algo que contraponha a minha teoria, façam-me por favor o obséquio de mo apontarem. É que isto pode ser tudo ficção e eu não sei, ainda estou de olhos fechados.

E mentiu, o Senhor Vieira, porquê? Ou melhor: o Benfica não anunciou nada aos adeptos no final de Fevereiro por que carga de água? Porque desde que abriu a boca, o Excelentíssimo Magnata Comissionista Empregador Construtor Bolsos Cheios À Custa do Benfica viu o clube definhar desde uma posição quase definitiva na liderança do campeonato para hoje andar dependente de outros e nem sequer com o 2º lugar garantido. Azar para ele, claro, mas sobretudo para o Benfica, que, com mais um campeonato ou menos uma Taça, as construções de "Fifi, o Construtor" no Algarve, em Madrid ou na Póvoa continuarão a frutificar. Mas o timing perdeu-se.

E que timing? Perguntam vós, já esperançados de uma resposta. O timing de anunciar, numa pirueta extraordinária (que Luis Fialho certamente apoiará, visto que conhece bem os malabarismos da espinha), o acordo com a Olivedesportos (presidida pelo amigo do nosso Mais-que-tudo e que é - palavra de Fialho! - apenas e só um homem de negócios; deixem as teorias sobre a corrupção de lado, diz-nos Fialho, o Trapezista). O que estava tão bem previsto - liderança e anúncio oficial à maralha enquanto ela estava distraída - afinal não pôde acontecer. É que bastou a aparição ao povo do nosso Coitadinho Tem A Família Em Casa E Anda Nestes Preparos Que Bom Que É O Nosso Líder para que, nas seguintes 3 jornadas, acontecesse isto: derrota em Guimarães, empate em Coimbra, derrota com Porto em casa. Há gajos com azar mas com esta, por amor de Domingos Soares Oliveira, é que ninguém contava. 

"Abandone-se o projecto!", gritou, agastado, o Senhor Estou Muito Doentinho Das Costas E Não Me Apetece Ir Ao Jogo Ser Insultado (Mas Proíbam As Bandeiras E As Tarjas Das Claques Ai Que Me Dói A Bílis), "isto é caso para o plano B!". 

- Plano B, Senhor Presidente? - perguntou, tímido, Jesus, o Farfalheiro.

- Sim, pá, tu ganha-me mas é a Taça da Liga e vê lá se consegues manter o segundo lugar, a ver se eu ainda vou a tempo de anunciar o acordo que tenho pronto há meses com o meu grande amigo. 

- Quem?

- O Jaquim Oliveirinha, caralho. Mas em que mundo é que tu vives?

- Pensei que era o Jorge Nuno, Senhor Presidente. 

- Nem que percas mais uns pontos, mas na recta final há que ganhar jogos, ouvistes?

- Sim, Presidente. Se for mesmo preciso, até jogo com os melhores, Senhor Presidente.

- Os melhores?

- Pois, o Sá Viola, o Cap da Vila e o Nolite. 

- Então mas tu não jogas com os melhores porquê, caralho?

- Ó, isso era fácil. É munta bom é a gente começarmos os jogos com um tosco e um gajo que nã corre. Só para los mostrar-lhes que eu sou top - aqui, no Mundo e se calhar na Europa. Sou top, Presidente. Nã tenha dúvidas sobre isso.

- Tu vê lá não te ponhas com merdas que ainda vais tu de bode para a populaça. Perdemos o campeonato, não posso anunciar o acordo com o meu companheiro.

- Quem?

- O Oliveirinha, foda-se. Não te tinha já dito?

- Pensei que era o Gomes das facturas. Esse tamém é porreiro. E o Presidente sempe a dar-lhe, duas vezes co apoio inequivel. 

- Inequívoco.

- Isso. Mas os árbitros não têm nos ajudado-nos.

- Pois não. O gajo continua a lamber os colhões ao outro. Mas isso é o menos, quero lá saber. O que conta é que meti o Humberto na Federação e o Rui Costa encostado. Vou ter de me sacrificar por mais 3 anos.

- Xalente, Senhor Presidente. O Senhor tem feito um trabalho notável.


Não há quem jure a pés juntos que a conversa se passou deste modo que em cima relatei - fica a dúvida a balançar entre a ficção e o ensaio. 

domingo, 22 de abril de 2012

Pecados capitais - passado e presente

«Infelizmente para o Benfica parece que a história tem uma tendência para se repetir ciclicamente.

Neste momento, o Benfica atravessa uma crise de valores só comparável ao mandato da presidência de Manuel Damásio.

Voltando atrás no tempo basta recordar o que era o Benfica dos anos 80 e príncipio dos anos 90 e no que se tornou quando Damásio assumiu a presidência do clube. Enquanto o Benfica assumiu uma postura de combate ao polvo durante os anos 80 e princípios de 90 e recolheu frutos dessa postura - cinco campeonatos nos anos 80 e dois no início dos anos 90 (isto apesar de gastos crescentes no futebol para manter a competitividade) - quando Damásio assumiu a presidência do clube decidiu "aliar-se" ao pior inimigo do Benfica. Assumiu a presidência da Liga com o beneplácito de Pinto da Costa e depois deu o beneplácito para que este assumisse a presidência da Liga.

Ao mesmo tempo, destruiu toda a estrutura ganhadora que existia no Benfica, começando com treinadores e jogadores num momento negro da história do Benfica sobejamente conhecido e esmiuçado.
O resultado estava á vista: um domínio absoluto do futebol português pelos Corruptos e o declínio do Benfica (acentuado durante o mandato de Vale e Azevedo - ás vezes interrogo-me como teriam sido as coisas com Luís Tadeu).

Ora e o que isto tem a ver com Vieira? Já lá irei chegar mas antes disso convém fazer um breve diagnóstico das suas presidências.

No seu primeiro mandato Luís Filipe Vieira teve claramente bastante sucesso no Benfica. O clube recuperou a nível financeiro e no plano desportivo teve bastante sucesso sendo vice-campeão atrás do Porto de Mourinho mas ganhando a Taça de Portugal ao mesmo, sendo campeão no ano seguinte com Trap (para mim o melhor treinador que passou pelo Benfica desde Eriksson) e a Supertaça Cândido de Oliveira com Ronald Koeman. Este mandato fica também marcado pelo processo Apito Dourado e por um Presidente que fez de tudo para combater o Sistema instalado no futebol português.


Após um primeiro mandato auspicioso, o segundo mandato de Vieira no Benfica foi completamente desastroso a nível desportivo. Ficou marcado (de novo) pela instabilidade na estrutura do futebol do Benfica e pela saída de José Veiga do cargo de responsável pelo futebol.  Isto levou ao desmantelamento da fórmula de sucesso que tinha garantido títulos na Luz.

A nível desportivo assistiu-se a um dos piores mandatos de sempre do clube com um 2º lugar e dois  quartos lugares no Campeonato justificados pela instabilidade vivida na estrutura do futebol - a instabilidade de treinadores no segundo ano de mandato (um dos piores anos de Vieira no Benfica) e o falhanço Quique.
O Apito Dourado também não dá em nada mas ao menos a estabilidade financeira do clube está garantida.
O terceiro mandato ficou marcado pela afirmação de Luís Filipe Vieira de que este iria ser o mandato do sucesso desportivo - como foi eloquentemente lembrado pelas nossas claques ontem.
Um dos momentos mais controversos deste mandato foram as eleições antecipadas para prevenir uma candidatura forte de José Eduardo Moniz á Presidência e a subsequente revisão estatutária que supostamente iria mudar as datas das eleições para a pré-época (algo que ficou misteriosamente esquecido) e aumentar o número de anos de sócio necessários para se candidatar á presidência do clube para 15 anos (misteriosamente decidiu-se pelos 25).
Independentemente disto o mandato começou bem de novo com uma estrutura de futebol forte com Jorge Jesus a responder a Rui Costa e este a responder a Vieira. O Benfica atinge o sucesso no entanto as nuvens de tempestade voltam a avistar-se no horizonte.
E aqui chego ao ponto principal do meu texto: Luís Filipe Vieira perde todo o crédito que tinha quando desautoriza Rui Costa e desmantela uma estrutura ganhadora e principalmente quando volta a repetir o erro de Manuel Damásio ao apoiar a candidatura de um dirigente dos Corruptos para a Presidência da Liga deixando cair uma Direcção da Liga que primava pela isenção e por tentar manter uma imparcialidade dessa estrutura dirigente relativamente aos clubes grandes. Instado a comentar esta decisão Vieira diz aos sócios "confiem em mim".

Ora o resultado deste apoio foi o mesmo que resultou do apoio de Damásio aos corruptos nos anos 90: roubos o mais escandalosos possíveis e arbitragem submissa aos interesses de um só clube: o Porto. 
Não contente com isso Vieira volta a cometer o mesmo erro voltando a apoiar Fernando Gomes e orgãos de arbitragem controlados pelos Corruptos para a Presidência da FPF após a revisão dos estatutos da Federação. Um momento falhado pelos clubes de Lisboa para contrabalançarem a hegemonia corrupta no futebol português.

Apesar de a nível financeiro o Benfica ter recuperado sob a égide de Vieira o facto é que a nível desportivo o Benfica não melhorou em nada debaixo das suas presidências. Em nove anos (quase uma década) o Benfica ganhou tanto como nos anos negros de 90. E se contarmos os anos em que foi Director Desportivo o quadro é ainda mais negro.

O grande pecado de Vieira neste terceiro mandato foi ter voltado a transformar o Benfica num clube submisso ao Sistema como era no tempo de Manuel Damásio. Porque o fez? Nunca saberemos ao certo (embora eu ache que saiba porquê... Basta ver a imagem abaixo).
Mas muitas decisões tomadas recentemente que levaram a uma aproximação desta Direcção a quem tenta controlar o futebol português por meios ilegítimos ficam por explicar
Isto em vez de assumir a única postura que originou resultados desportivos de sucesso para o Benfica no passado distante e mesmo com Vieira ao leme: o contra-poder com uma estrutura de futebol forte e protegida por um Presidente que não se rende a interesses contrários aos do Benfica. Basta olhar para os anos 80 e mesmo para o primeiro mandato de LFV e o primeiro ano deste terceiro mandato.

Para todos os efeitos, Luís Filipe Vieira falhou. É um Presidente que merece respeito pois deixou obra feita no clube: neste momento o Benfica tem estabilidade financeira, estruturas físicas e capacidade para se afirmar no futebol português. Graças a isto os benfiquistas podem voltar a ser ambiciosos e a aspirar por grandes vitórias.
No entanto, não será debaixo de LFV que estas serão obtidas:

Não quando se apoiam dirigentes portistas para cargos de influência no futebol português - os piores momentos da história do Benfica ocorrem sempre que estes apoios são dados.


Nem quando a gestão desportiva do clube é feita na mesma óptica que uma gestão de mercearia - em que o objectivo primário do clube não é ganhar títulos mas sim valorizar jogadores para realizar receitas e pagar os empréstimos aos bancos - e em que não pode haver uma figura forte a gerir o futebol que faça sombra a Vieira.


Não quando não se assume uma postura de defesa cerrada de todos os benfiquistas e interesses benfiquistas face a jogadas de bastidores e violência.


Não quando se abstém de marcar a agenda mediática defendendo o Benfica e os comentadores que defendem o Benfica e expondo os Corruptos pelo que são.


Claro que LFV muito dificilmente irá admitir que falhou. No entanto, se for um verdadeiro benfiquista dará espaço a que outras alternativas surgam para elevar o Benfica numa altura em que os Corruptos só têm menos seis campeonatos conquistados que o Benfica. Este ano chegou o momento de mudança. O Benfica tem uma base sólida montada (mérito de quem lá esteve) mas não se pode dar ao luxo de mais quatro anos com uma Direcção que se tornou conivente com o Sistema e amadora na gestão do futebol sob pena de o Porto cavar um fosso em número de títulos conquistados.»
 
Vermelhusco, no "NovoGeraçãoBenfica"