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domingo, 29 de abril de 2012

O Benfica jogará na Lua, um dia destes.

Como um verdadeiro sportinguista, o Jesus prefere o Porto ao Benfica. E, tal qual o clube do seu coração, apesar de se dizerem honrados e diferentes, não lhes importa absolutamente nada beneficiarem, directa ou indirectamente, das manobras de corrupção se desse apoio advierem vitórias. É uma ideologia muito particular, esta, mas que colhe frutos na especial instituição leonina. Jesus, como adepto da mesma, limita-se a seguir a cartilha.

O Benfica para Jesus foi uma oportunidade de ouro, deu-lhe relevo, mostrou-o ao mundo, potenciou-lhe o talento e, chegado ao sucesso, ampliou-lhe os defeitos. Após a conquista do título 2009/2010 pareceu sempre que, entre opções tácticas, a Jesus interessavam outros assuntos, devidamente patrocinado pela Direcção que o apoiava: ganhar dinheiro com compras de jogadores, aposta absurda em atletas sem qualidade para jogar no Benfica (mas que, valorizando-se, acabavam mais uma vez a deixar os patacos na conta do mister).

E mesmo na vertente táctica e abordagem ao jogo, a partir do segundo ano foi óbvia a cultura do "não há nada a perder": jogos e jogos, muitos deles fundamentais, em que Jesus inventava numa perspectiva de ou ganhar tudo ou perder tudo, sem que tivesse a noção (ou a vontade) de que podia apenas perder pouco ou ganhar algo, mesmo que não tudo. Várias derrotas ocorreram nestes dois anos que, se tivesse havido lucidez por parte de Jesus, teriam sido, na pior das hipóteses, empates. Juntemo-los todos e, mesmo com as idiossincrasias próprias de um futebol regido por um Papa peidoso, fariam do Benfica neste momento tri-campeão. 

Jesus teve mérito no primeiro ano, um mérito indiscutível e que será relembrado, sobretudo pela qualidade de jogo, dinâmica ofensiva e capacidade de gerar golos que aquela equipa tinha. Mas, bem vistas as coisas à lupa do tempo, detectamos nesse ano elementos que, ao longo das restantes duas épocas, já lá estavam e que foram encobertos pelo desfecho do campeonato mas que já existiam de forma evidente. Pergunto-me se sem Ramires não teríamos tido a mesma táctica assombrosa do 4132, com dois alas bem abertos com que Jesus nos brindou nestes últimos dois anos. Obrigado, Ramires.

E é até quase poético se nos relembrarmos como a equipa veio, em 2009/2010, de uma atitude temerária, corajosa, lancinante, demolidora do início da época até ao Benfica do medo, da incompetência, do trauma, da dúvida desse final de temporada - basta relembrar o jogo do Dragão em que, numa oportunidade histórica para sermos campeões no terreno do inimigo, acabámos vergados a um 3-1, com os dois golos da vantagem portista a serem marcados com o Porto a jogar em inferioridade numérica. Um ano mais tarde, os portistas não perderiam a oportunidade de selar o feito contrário, numa época que ficou marcada pela conversão definitiva de Jesus ao caos, teimosia, prepotência, originando das épocas mais humilhantes a que tive, tivemos, de assistir, especialmente na Luz.

De relembrar também que, findo o 2009/2010, cheio de si e campeão nacional, homem louvado por todos, tendo atingido o cume maior do futebol português no maior clube do futebol português, o sportinguista Jorge Jesus não pareceu propriamente satisfeito. Algo estava mal. E logo tratou de avisar a navegação: ou aumentam-me o ordenado de forma choruda e me deixam mandar no futebol do Benfica ou vou para o Porto!, numa atitude que já na altura revelava tanto o homem que é como o sportinguista que nunca deixou de ser. Vieira fez-lhe a vontade (como não? acima de tudo, a política) e Jesus, devidamente apoiado numa Direcção que de tanto saber perder nunca teve competência para saber ganhar, anunciou os planos futuros: muito dificilmente não seríamos campeões e a Champions podia esperar pelo gigante adormecido. 

Faltam palavras para descrever tudo isto, tudo de um amadorismo sem paralelo, desde a Direcção incompetente que nada sabe de futebol, gestão de expectativas, humildade, lucidez, história do Benfica, passando por um louco treinador que, tendo talento, sobrevaloriza as suas capacidades e atinge a megalomania com o aval da primeira, acabando nos adeptos que, tendo passado 15 anos de terror, acreditam piamente no primeiro profeta que lhes ganhe alguma coisa. Perdeu-se exigência, critério, honra, benfiquismo. Ganhou-se uma geração (e aqui nada da palavra remete para idades) de falhados mentais, adeptos que desconhecem (ou esqueceram) o que é o Benfica, o que ele significa como clube vitorioso - nunca acomodado a títulos esporádicos, mas sedento de mais e mais e mais títulos após a primeira vitória - e como clube virtuoso - sustentado não na arrogância ou na falta de valores mas no contrário: humildade, trabalho, decência, critério, disciplina, mística, espírito sempre vencedor mas lúcido e atento ao abismo da confiança absurda e desmedida.

Jesus tem acordo com o Porto? Não me espanta, sempre foi o seu objectivo final. Para Jesus, tal como para muitos dos jogadores que hoje passam pelo nosso clube, o Benfica foi uma ponte aérea, do qual ele se usou para mostrar capacidade e depois, com o beneplácito de Vieira, o deixar cair, fazendo o que bem entendeu, comprando quem quis, metendo a jogar épocas inteiras (Roberto e Emerson, lembram-vos alguma coisa?) quem nunca podia ter jogado e fazendo do Benfica - acompanhado, claro, pelo Rei - o seu principado de todas as artes circenses, em que os bobos dos adeptos serviam para animar a corte e baixar a cabeça em gesto subserviente. 

Chegámos a tal rídiculo registo que muitos bobos não querem ver o Príncipe Jesus ir para outras paragens, não vá conquistar guerras contra nós, mesmo que, se se mantiver junto de nós, tenha uma possibilidade ínfima de voltar a vencer seja o que for. Chegámos a isto: estamos mais preocupados com o que pode Jesus fazer no Porto do que empenhados em saber o que ele não pode fazer no Benfica. E Jesus, com Vieira atrelado, nada pode fazer no Benfica. Porque tem demasiados poderes, porque lhe permitem que estrague o talento que tem em decisões que nunca deveria ter tido. 

Tenha Jesus um açaime e gente que o controle - o Porto é obviamente o clube ideal para tais proezas, não fosse ter um historial de domadores de cães, conselheiros matrimoniais de árbitros, guarda pretoriana entregue a ofensas e violências a jornalistas, claques dispostas a partir carros e cabeças de treinadores armados em independentes e toda uma maralha de gente sem escrúpulos que pulula pelos vários órgãos de soberania deste país, futebolístico e não só, alguns devida e inequivocamente patrociandos pelo nosso grande líder - e Jesus demonstrará, no campo em que é bom, e só nele, toda a sua qualidade. Mas isso é problema do Porto e de Jesus, não é problema do Benfica. Embora alguns, muitos, bobos continuem a viver no medo e no terror - o mesmo medo e terror que têm feito dos clássicos jogos em que o Benfica raramente disponibiliza orgãos sexuais para a clássica cópula. Resultado: é enrabado.

Estes bobos deviam antes perguntar-se por que razão um treinador competente não consegue obter sucesso num clube como o nosso, com jogadores como os que temos, com massa adepta como a nossa contra um incompetente treinador que, à custa das nossas baboseiras, vai ser campeão. 

Meus caros: Vítor Pereira será campeão. Assimilaram esta ideia devidamente ou só em parte? Descontem os árbitros e os penáltis e aquilo que todos conhecemos e ainda assim terão de usar o cérebro para encontrar a raiz dos nossos males. O Benfica pede-vos que o usem, de uma vez por todas. Pensem, reflictam, tirem uns dias, analisem declarações de dirigentes e técnicos, passem uma lupa pelos últimos dez anos. Não se envergonhem de terem estado errados, não se culpem por terem andado a insultar outros benfiquistas só porque eles vos diziam as coisas que iam acontecer e que agora vocês sabem estar certas, não se mutilem por terem andado submissos a uma ideia de benfiquinha - todos erramos, todos somos injustos, todos nos submetemos um dia a uma ideia ou a alguém. Mas pensem. E debatam. E fundamentem as vossas conclusões. E oiçam as dos outros. E conheçam o Benfica. E acrescentem algo vosso a uma opinião contrária. E vão aos jogos. E puxem pelo Benfica. E amem o Benfica. Não este ou aquele, amem o Benfica.

Amanhã poderá ser melhor. Só depende de nós. Porque o Benfica estará a jogar quando formos a enterrar ou quando as nossas cinzas esvoaçarem sobre um rochedo com vista para o mar. Sobreviver-nos-á e aos nossos filhos, netos e seres e planetas que nem sequer imaginamos. O Benfica jogará na Lua, um dia destes. E outro século depois, criará adeptos em galáxias distantes que ainda nem sequer foram inventadas. E acham que alguém se lembrará de Jesus e Vieira?