sábado, 31 de março de 2012

Da tua justiça

Este é o espaço em que tu fazes a tua equipa. Antes e até depois do jogo, que é mais giro. Vamos imaginar que o Jesus entra assim:

Artur
Maxi, Luisão, M. Vítor, Capdevila
Javi
Gaitán, Witsel, B. César
Rodrigo, Cardozo

E nós, o que faríamos?

A minha equipa seria esta:

Artur
Maxi, Luisão, M. Vítor, Capdevila
Javi
Matic, Witsel
Gaitán, Nolito
Cardozo

E a tua, companheiro?

Panic! At The Stadium

«Não gosto muito de mexer atrás, naqueles três ou quatro jogadores, mas sou obrigado a mudar. Tenho outras alternativas para a posição. Já o fizemos noutros jogos, pelo que Javi poderá jogar a central. Ele antes de vir para o Benfica jogou a central e essa situação foi trabalhada durante a semana»

Portanto, a ver se nos entendemos: o Benfica já só tem 4 médios para 3 posições. Um, expulso, não pode jogar. Mesmo que pudesse, entraríamos em campo no 442 anémico de que Jesus tanto gosta. Não podendo, estão criadas todas as condições (e desculpas) para o 442 tuberculoso. Não chegando, mete-se o nosso médio defensivo a central - posição que não foi reforçada nem em Agosto nem em Janeiro porque supostamente tínhamos 4 centrais que davam garantias, apesar das prestações pavorosas de Jardel e de Miguel Vítor não contar para Jorge Jesus - conta para lateral-direito, de vez em quando. 

Isto dá o quê? Matic e Witsel no meio-campo contra o meio-campo do Braga?  Luís Campos, estás perdoado.


«A prioridade desde a primeira hora é o campeonato e não fugimos dessa ideia. A responsabilidade dos jogadores? Eles sabem perfeitamente gerir essa situação e sabem que estão no limite do risco»

Agora aprendeu esta, o "limite do risco". Em todas as conferências Jesus brinda-nos com o "limite do risco". É curioso: antes de Guimarães, quando tínhamos 5 pontos de avanço sobre o segundo classificado e um calendário que favorecia a manutenção na liderança e até afastamento, podendo gerir a Champions de outra forma, não estávamos no "limite do risco". Mas como nós gostamos de arriscar, perdemos 10 dos últimos 18 pontos possíveis. Tudo para que Jesus tenha uma expressão à treinador de bola até final do campeonato. 


«Podemos ganhar tudo ou nada»

Inclino-me para o "nada".

sexta-feira, 30 de março de 2012

Contra a religião

Os adeptos do Benfica não são os melhores do mundo, embora o speaker de serviço discorde de mim. São adeptos que são pessoas que são do Benfica por uma razão que às vezes as ultrapassa e noutras as elucida. Não há aqui nenhuma metafísica além da natural metafísica que faz uma pessoa amar uma ideia. Intangível e sobrenatural, concedo, mas uma ideia. 

Tivesse o meu Pai um amor impossível pelo Sporting e provavelmente este blogue chamar-se-ia "Ontem vi-te no Estádio de Alvalade". Nada que diminua ou desmereça o meu incondicional amor pelo Benfica, precisamente porque as explicações não são necessárias em casos de crime como este. 

Por exemplo: o meu avô era um sportinguista inveterado, profícuo divulgador do sportinguismo por terras abrantinas, antigo Presidente do Sporting de Abrantes e uma pessoa a quem daríamos o nosso cartão multibanco, para uma eventualidade qualquer. O que mudou na linhagem familiar não foi a paixão pelo futebol - essa manteve-se sanguínea -, mas a qualidade do gesto. E, nesse particular, devemos reconhecer mérito a quem o tem: numa acção de desportivismo e amor pelo jogo, o meu avô, porque gostava do Eusébio e Coluna e José Augusto e tantos outros, um dia levou o meu Pai à Luz. 

Quase ingénuo, achou que o filho merecia ver aquela equipa e provavelmente sentir o futebol para além das linhas da rivalidade. Este acto de heroísmo valeu-lhe o inesperado: o meu Pai apaixonou-se pelas cores erradas. E nunca mais o domou. Como uma águia em voo sobre as montanhas de Marche, o filho desafiou os limites do razoável e metamorfoseou-se em Benfica, vindo de um leonino sentir. Gostou do vermelho e das bandeiras e daquele perfume. 

O que é importante descobrir neste gesto é o que lhe está acantonado: a qualidade do Pai, a honra e dignidade daquele homem que, amante do futebol, levou o filho vezes demasiadas a um estádio alheio. Há aqui uma beleza que perpassa impossível de tornear em palavras e que o meu Pai, demasiado benfiquista, não percebeu de imediato. Ele tinha mudado o rumo do sangue. Já não havia verde, só vermelho. E um choro eterno com que às vezes sou brindado em sonhos demasiado absurdos para dizer. Lágrimas verdes, pesadelos verdes, sonhos verdes. E dois homens que resistem à boçalidade dos cânticos inimigos.

Eu ser do Benfica é uma consequência de várias coisas, uma delas, a mais importante, a de o meu Pai me ter levado ao Estádio da Luz e eu ter visto naquele clube, naquela gente, naqueles jogadores, uma razão. Absurda ou circular, tensa, divina ou apenas real, uma condição para a minha vida. Mas não sou o melhor adepto do mundo. Não somos os melhores adeptos do mundo. Somos do Benfica e isso como existência chega-me bem. Só não quero que vejam nisto uma decadência religiosa como noutros perfis. Vivo bem com a minha noção de mundo. Deixem-me ser do Benfica porque sim. Sem rezas nem missas de sétimo dia.









quinta-feira, 29 de março de 2012

Reerguer o Benfica

«Nada como uma derrota para alertar as consciências que nem tudo vai bem.
O Futebol Português é hoje por hoje uma mentira.
Não, não me interessa falar de arbitragens, deixo isso para os arautos do benfiquismo militante.
A mim interessa-me algo mais estruturante e do qual depende o futuro do futebol.
 
A norte o êxito desportivo mascara o total desgoverno económico-financeiro. Não, não falo da questão de terem apresentado cerca de 9 milhões de euros de prejuízo no 1.º semestre, isso é a consequência, do verdadeiro problema. Para terem uma noção correcta do desvario, dos 40.000.000 euros do Falcão, para a SAD apenas sobrou metade, sendo que do apêndice Micael que dizem ter custado cerca de 5.000.000 euros (dado não confirmado), não houve influxo relevante, basicamente saíu por cerca de 500.000 euros.
Aliás é admitida pela própria SAD que a actividade é permanentemente deficitária e como tal só a venda de jogadores pode colmatar a gestão desportiva. O desplante é tal que admitem que no fim do ano estavam com cerca de 6.500.000 euros de remunerações e prémios em atraso. A dívida ao Standard Liége só pode ser paga após a venda de 1/3 dos passes do Defour e do Mangala a um fundo por um valor inferior ao preço de custo. Mas chega de falar do que se passa a norte, pois continuam a ter vitórias, mesmo com gravatas a treinador.
 
A norte da 2.ª Circular vive uma SAD completamente ligada à máquina. Se os sócios do clube tivessem uma ideia do descalabro que se passa na SAD, haveria concerteza uma revolução. Que a SAD está em falência técnica, já todos sabem, pois essa condição foi assumida pelos dirigentes. Mas pior que isso, este semestre, fruto dum investimento sem paralelo na equipa desportiva, os resultados foram colossalmente maus, cerca de 19 milhões de euros de prejuízo.
Ao contrário da sociedade do norte, esta sociedade acha que tem que equilibrar o resultado operacional excluindo a transacção de jogadores, o que é um bom princípio, porém a exiguidade de receitas, o facto de essas receitas servirem essencialmente como garantia dos empréstimos bancários (situação razoavelmente comum ás sociedades desportivas), a cedência dos atletas a fundos a preços iguais, ligeiramente superiores ou até mesmo inferiores aos preços de custo, leva a valorização dos atletas pouco valor venha no futuro acrescentar à sociedade. Em resumo, falidos e sem resultados desportivos, a menos que exista um grande influxo de um qualquer investidor que compre os passivos bancários, por muito que sigam uma terapêutica correcta, no momento actual de crise do país e sem uma onda mobilizadora, a tendência será para ver o descalabro.
 
Falemos então do que nos interessa, a Benfica SAD. é bom não ter dúvidas que o domínio do futebol português, mais do que por jogadas manhosas, vai ser conseguido pela sociedade que consiga ter maior capacidade financeira e não da que continuar a apostar em maningâncias. Portanto é essencial perceber se aquilo que é normalmente reconhecido a LFV e seus pares é verdade ou não, isto é, se o Benfica está em boas condições financeiras.
 
A verdade é que não.
 
A SAD do Benfica está com capitais próprios muito baixos. é verdade que já não estamos na situação miserável que nos encontrávamos a 30/06/2011, virtualmente à beira da falência técnica.
Imaginem que abriam uma empresa com 11.500 euros e depois de vários anos já só tinham 800 euros, isto depois de terem tido 1.500 euros a 30-9 e 250 euros a 30-6. é essa a situação do Benfica se multiplicarem 10.000.
O nível de capitais próprios é ainda muito baixo e resulta  essencialmente do lucro de 8 milhões de euros no 1.º semestre, no entanto se fôr comparado com o lucro de 15 milhões que a sociedade teve no 1.º trimestre, rapidamente chegamos à conclusão que houve um prejuízo de 7 milhões no 2.º trimestre.
 
A explicação é lógica, no 1.º trimestre houve a venda do passe de Fábio Coentrão, no 2.º não houve nenhuma transacção.
 
Perguntam-se vocês como é possível perder tanto dinheiro em apenas 3 meses ? Ainda por cima, quando ouvimos falar que o Resultado Operacional excluindo transacções de passes de atletas foi positivo no 1.º semestre, mas não é só excluindo transacções, é Resultado operacional excluindo transacções e depreciações de passes de atletas (ROETD).
Portanto se estes forem os resultados analisados temos que:
 
1.º Trim. - ROETD + 5,2 milhões de euros
2.º Trim. - ROETD + 2,2 milhões de euros
 
No entanto, este negócio implica que sejam contabilizadas as depreciações de passes de atletas.
Vamos imaginar que um atleta é contratado por 6 milhões de euros com um contrato de 5 anos.
Imaginemos por exemplo que um jogador cumpre os 5 anos de contrato e sai sem qualquer compensação para a SAD.
Então, temos um activo que no momento da compra vale 6 milhões mas que durante 5 anos se vai depreciando até chegar a 0, ou seja tem que se dividir os 6 milhões por 5 anos, o que dá 1,2 milhões de euros por ano, ou seja, 100.000 euros por mês ou 300.000 euros por trimestre (0,3 milhões euros).
Ou seja se tivermos um plantel avaliado em 96 milhões de euros, com um tempo médio de contrato de 4 anos, podemos esperar 6 milhões de euros de amortizações por trimestre.
 
Quando temos o Resultado Operacional incluindo transacções e depreciações temos que:
1.º Trim. - RO + 18,6 milhões de euros
2.º Trim. - RO - 2,6 milhões de euros
 
Depois ainda temos os Resultados Financeiros
1.º Trim. - RF - 3,6 milhões de euros
2.º Trim. - RF - 4,1 milhões de euros
 
E o IRC
1.º Trim. - IRC - 0,025 milhões de euros
2.º Trim. - IRC - 0,063 milhões de euros
 
Como nenhum clube, ou sociedade desportiva neste caso, gosta de ver partir os seus atletas a custo zero, ou abaixo dos valores pagos por eles, em princípio ao fim de um exercício (12 meses), o valor das transacções será igual ou superior às depreciações. Convém dizer que pode haver um ano ou outro que isso não aconteça, mas numa sociedade bem gerida, este valor vai no mínimo equivaler se olharmos para um período de 5 anos. Daqui sai, que o equilíbrio financeiro deve vir da actividade operacional e não das transacções de jogadores, ao contrário do advogado a norte. É verdade que os custos de financiamento são cada vez maiores, por isso, além da actividade operacional, o negócio dos jogadores deve pelo menos compensar os resultados financeiros cronicamente negativos.
 
Mas afinal de contas, o que é o Resultado Operacional excluindo transacções e depreciações de passes de jogadores ?
 
Em primeiro lugar temos os Proveitos Operacionais, isto é, as receitas da actividade geral.
 
Vamos olhar para os grandes grupos para entender mais facilmente adoptando a terminologia da Delloite, mas com uma diferença, separando a componente do desempenho desportivo das restantes receitas de televisão, isto é os prémios das competições da UEFA.
Matchday - inclui todas as receitas de bilheteira sejam elas de jogos individuais ou de carácter anual, independentemente de dizerem respeito a cativos individuais ou empresariais, aluguer de espaço e quotização
Comerciais - Patrocínios, publicidade e merchandising
Televisão - Receitas das transmissões televisivas das ligas nacionais e de particulares
Prémios de competições - prémios da UEFA e cachets de particulares
 
No 1.º semestre o Benfica teve cerca de 50 M€ repartidos 42% nas receitas de Matchday, 21% de Comercial, 9 % de Televisão e 28 % de Prémios de competições.
 
Quanto aos rivais do norte o valor deles foi de 35 M€ enquanto da 2.ª Circular os nossos vizinhos apresentaram um valor de 20 M€.
No entanto é preciso ter consciência que tirando o valor da Liga dos Campeões, isto é se porventura estivéssemos na Liga Europa, teríamos cerca de 10 M€ a menos de receitas. Quer isto dizer, que além de garantir o acesso à  Liga dos Campeões, é fundamental assegurar a passagem aos quartos de final, caso contrário a nossa receita diminui cerca de 5 a 7 M€.
 
Hoje em dia, a receita da Olivedesportos representa cerca de 10 % das nossas receitas.
No Porto esse valor sobe para 17 % enquanto que no Sporting quase que chega aos 30 %.
Aliás segundo o estudo da Católica para o Liga Portuguesa, o peso das receitas de televisão excluindo as transferências representa cerca de 32 %.
Em França esse valor representa cerca de 66 %, em Itália 60%, em Inglaterra 51%, em Espanha 45 % e na Alemanha 36 %.
Connvém referir que os valores destes mercados são muito superiores aos da Liga Portuguesa, pois o mercado de televisão da Alemanha, o mais reduzido dos mercados em causa, é 9,5 vezes maior que o Português.
Voltando à nossa realidade, os contratos anuais de Porto e Sporting com a PPTV, atingem cerca de 11 Milhões de Euros, por contrapartida com o nosso que apenas chega aos 7,5 Milhões de Euros. Qualquer novo contrato apenas terá validade para a época desportiva 2013/2014 e não para a 2012/13, onde o contrato em vigor implicará 7,5 Milhões de Euros.
Tendo em conta a nossa dimensão, qualquer contrato abaixo dos 25 Milhões de Euros é claramente um valor insuficiente, mas a realidade da sporttv, com o número de assinantes em queda e com a proibição por parte da AdC de cobrar um valor fixo aos pequenos operadores para poderem retransmitir os conteúdos premium, irá contribuir para o abaixamento das receitas. Ao contrário do muitas vezes propalado, não acredito na teoria dos 200 Milhões de Euros de facturação, duvidando inclusivé que essa cifra ultrapasse os 120 Milhões de Euros, pelo que duvido que o valor a oferecer o Benfica ultrapasse os 15 Milhões de Euros.
 
Em segundo lugar, devemos então olhar aos Custos Operacionais.
 
Olhemos então às grandes Rubricas que compõem os custos operacionais:
-Fornecimentos e Serviços Externos - as despesas inerentes aos serviços/produtos prestados/fornecidos por entidades externas às sociedades para levar a cabo as actividades, nomeadamente despesas de organização de jogos, manuttenção de infra-estruturas, scouting, deslocações e estadas, limpeza, segurança, água e electricidade, publicidade, etc.
-Custos com o Pessoal - ordenados, prémios de desempenho e de assinatura, encargos com segurança social e seguros de jogadores, técnicos e dirigentes 
-Amortizações excluindo depreciações de passes - normalmente associadas aos equipamentos e no caso do Benfica, há uma significativa diferença entre o valor consolidado e o valor individual, pois as amortizações do Estádio, dos Pavilhões, Piscinas, Galeria Comercial e do Centro de Estágios têm um peso grande ao invés do que se passa nos nossos rivais
-Provisões e Imparidades excluindo passes de atletas - valores associados a disputas judiciais, cobranças duvidosas ou perdas de valor que não as dos passes dos jogadores
-Outros Custos Operacionais - o que não está incluído nos anteriores, e este valor varia de sociedade para sociedade, pois se no caso Benfica diz essencialmente respeito a impostos indirectos e indemnizações acordadas no decurso de processos judiciais, no caso Sporting inclui despesas de prospecção e no caso do Porto perdas com a recompra do passe do Moutinho, enfim é um saco onde cabe aquilo que não queremos contabilizar noutras rubricas
 
Analisemos o caso do Benfica para o 1.º Semestre da época 2011/12:
-FSE                   11,9 Milhões de Euros
-Pessoal             25,6 Milhões de Euros
-Amortizações      4,4 Milhões de Euros
-Provisões           -0,4 Milhões de Euros
-Outros Custos     1,1 Milhões de Euros
Total                   42,7 Milhões de Euros (diferenças explicadas pelos arredondamentos)
 
Ou seja, dos Proveitos Operacionais, cerca de 50 % são gastos em Custos com o Pessoal para pagar a 2 Administradores (DSO e RC que recebem cerca de 20.000 euros por mês cada um), 67 atletas (não inclui o Djaló), 14 técnicos, 10 funcionários de apoio técnico e 78 administrativos.
Convém referir que nem Porto (21,8) nem Sporting (19,3) gastam tanto em pessoal como o Benfica, o que deveria ser assunto de reflexão.
É verdade que as renovações implicam sempre subidas de salários, em especial dos jogadores que têm tido desempenhos desportivos relevantes. É verdade que em termos de remunerações variáveis, com o acesso à fase de grupos da Champions e posterior acesso aos 1/8 de final, o Benfica pagou quase 4 milhões de euros em prémios.
 
Penso no entanto que acima de tudo será de contestar a permanência de quase 70 atletas sob contrato.
Sob a capa da criação da equipa B se justifica um elevado número de atletas sob contrato, e nesse objectivo terão sido investidos cerca de 10 Milhões de Euros no 1.º semestre, no entanto a generalidade desses atletas não está ainda sob contrato, pelo que se somarão aos actuais 68.
Na verdade a 30/6/2011 eram 70, actualmente serão 68, mas quantos serão no início da próxima época desportiva ?
O plantel profissional do Benfica é constituído por 25 a 28 jogadores, a que se somarão um número idêntico para a equipa B (embora considere que tal não faz sentido se se pretender aproveitar esta equipa para garantir a transição em competição dos júniores), ou seja no máximo com uma equipa B se justificariam 50  a 55 atletas mais uns 5 a 10 emprestados que não joguem na equipa B, ou seja, no máximo 55 a 65 atletas tendo já a equipa B em funcionamento.
No entanto actualmente e só com uma equipa já temos 68 atletas sob contrato pelo que se fizermos uma extrapolação para a altura da equipa B poderemos pensar que o Benfica terá cerca de 90 a 100 atletas sob contrato.
 
Em tempos de crise será isto aceitável ? Eu digo que não, digo que existe uma gestão muito deficiente/ineficiente em termos de recursos humanos através da qual se compra em palette para tentar aproveitar 1 ou 2 jogadores por cada 20 que se compram. Para que não exista o argumento que as aquisições dependem dos treinadores aqui fica uma lista de emprestados, não estão todos pois no RC só se listam os principais jogadores do Benfica:
 
Airton Santos
Alan Kardec
Alípio Brandão
Carlos Martins
David Simão
Daniel Wass
Éder Luís
Elvis
Enzo Perez
Fábio Faria
Felipe Menezes
Filipe Bastos
Franco Jara
Ishmael Yartey
Jan Oblak
Jonathan Urretaviscaya
José Luiz Fernandez
Jose Shaffer
Leandro Pimenta
Leo Kanu
Lionel Carole
Melgarejo
Roderick Miranda
Ruben Amorim
Sidnei
 
Convém referir que da lista, a SAD do Benfica recebeu mais de 15 Milhões de Euros do Benfica Stars Fund. Caso os passes dos jogadores não sejam alienados pelos valores de referência aos quais foram vendidos ao Fundo, o Benfica irá suportar as correspondentes perdas, pois o Fundo tem políticas de risco que o colocam a coberto desses riscos.
As estes 25 atletas podemos somar para a próxima época os 5 internacionais sub-17 uruguaios adquiridos aquando da renovação de Maxi Pereira, mais 3 jogadores que estão a jogar no Leiria - Copetti, Barkroth e Djanini, e ainda Fidelio que foi contratado ao Huelva para resolver a questão do pagamento do Carlos Martins, enfim um manancial de atletas dos quais muitos não têm a qualidade, a mentalidade ou a capacidade para jogar no Benfica.
 
Ainda a propósito do Fundo, convém referir que desde 1 de Janeiro de 2012, por obrigação para com o Fundo que o Benfica tem no mercado os seguintes atletas:
 
Ishmael Yartey
Jose Shaffer
Leandro Pimenta
Miguel Vítor
 
Quanto ao Ruben Amorim, só não está nas mesmas condições que estes atletas pois renovou até 2014.
 
É certo que há apostas que acabam por não dar certo, mas não é admissível continuar a contratar sem critério, muito menos a manter emprestados atletas que custaram vários milhões de euros - Airton, Alan Kardec, Carlos Martins, Éder Luis, Enzo Perez, Felipe Menezes, Franco Jara e Sidnei (este conjunto de jogadores implicou um investimento de cerca de 25 milhões de euros!!!).
 
Se é certo que se pode ser rigoroso na questão dos fornecimentos e serviços externos, pois representam cerca de 24 % dos custos operacionais excluindo passes de jogadores, o essencial é ter uma política/gestão de recursos humanos adequada à nossa realidade e é através das melhorias nessa área que se garantirá o futuro.
 
Falando dos mais de 10 milhões de euros investidos na aquisição de activos para a Equipa B. Para quem perceba menos de contabilidade, esses 10 milhões não foram um custo. À semelhança de quando uma empresa adquire uma viatura não é um custo, mas antes a aquisição dum activo, os custos são suportados com a amortização dos activos adquiridos.
Para melhor exemplificar, vamos por absurdo admitir que esses atletas assinaram todos um contrato de 5 anos anos.
Então vamos dividir os 10 milhões por 5 anos e temos que o Benfica terá um custo anual de 2 milhões com as amortizações dos passes.
Se entretanto um desses jogadores cujo passe custou por exemplo 2 milhões de euros e portanto tem uma amortização anual de 400.000 euros (200.000 por semestre), é vendido transferido após 2 épocas por 5 milhões, então temos que o Benfica terá um proveito de 5 milhões ao qual deve ser deduzido o valor do passe neste caso 1,2 milhões de euros (2 milhões menos os 800.000 relativos a 2 amortizações anuais), ou seja tem um proveito líquido na transacção de 3,8 milhões de euros.
 
O importante conforme acima ficou salientado é que todos os anos os clubes têm custos enormes com as amortizações dos plantéis (os custos serão tanto maiores quanto a valia dos atletas) e que esses custos deverão ser compensados pelas transacções.
 
No 1.º Semestre de 2011/2012 o Benfica teve:
Proveitos com a transacção de atletas     +23,0 Milhões de Euros
Amortizações e perdas de imparidades    -14,4 Milhões de Euros
Resultado com passes dos jogadores        +8,6 Milhões de Euros
 
No caso dos nossos rivais temos que os do norte tiveram um resultado positivo de 3,7 Milhões de Euros e os rivais da 2.ª Circular um resultado negativo de 7,3 Milhões de euros.
Para se perceber da importância desta parcela como factor compensador da gestão deficitária na época anterior, no final do 1.º semestre os valores  FCP 17,0 e SCP 10,5. No nosso caso não era tão relevante, pois tivémos um resultado negativo de 0,2, que deriva essencialmente do facto de apenas ter sido transaccionado o passe do Di Maria nesse período.
Deste modo, e visto que não houve nenhuma transferência em Janeiro, a menos que tal aconteça antes de 30 de Junho de 2012, é previsível que no final do exercício o resultado seja negativo em quase 6 Milhões.
 
A questão das imparidades tem essencialmente a ver com lesões ou castigos graves, péssimas temporadas desportivas ou quaisquer outros factos que nos levem a acreditar que o valor do passe do jogador descresceu significativamente. A prudência aconselha ainda a considerar a diminuição do valor do passe ao saber-se por exemplo que um jogador não está disponível para ser transferido ou renovar o contrato.
 
Se os Resultados Operacionais são importantes, não nos podemos esquecer dos Resultados Financeiros que dependem essencialmente da estrutura de financiamento de uma sociedade. Tendo em conta o enorme endividamento bancário associado a gestões ruinosas que causaram a criação de dívidas, bem como dos financiamentos relacionados com a construção dos Estádios e dos Centros de Estágio.
Essa situação é particularmente mais relevante no caso do Benfica dada a internalização da Benfica Estádio na Benfica SAD e a assumpção dos custos que corriam por conta quer do Benfica clube quer da Benfica Estádio.
 
Para se ter uma ideia, o Benfica actualmente tem 260 Milhões de Euros de Passivo Oneroso, dos quais se destacam 121,9 Milhões de Euros em Empréstimos Obrigacionistas / Papel Comercial que se vencem nos finais de 2012 - 54, 2013 - 43 e 2014 - 25. Tendo em conta, que não é previsível um desinvestimento na equipa de futebol tão grande que implique o abatimento desses valores é previsível o lançamento de novos empréstimos/papel comercial por alturas dos vencimentos dos actuais.
Convém referir que o valor dos empréstimos obrigacionistas (90 Milhões de euros) não é convertível em acções pelo que não implicará mudança na estrutura da sociedade, ao contrário de outras sociedades.
O facto de efectuar grande transferências que não são pagas de imediato - Real Madrid e Chelsea, o Benfica opta por descontar os valores junto da Banca, pelo que 37,4 Milhões de Euros correspondem a valores avançados que serão liquidados com o pagamento das referidas entidades, pelo que o único risco associado é o não pagamento atempado, não correspondendo a dívidas da sociedade mas antes a dívidas por conta de recebimentos futuros. Se por um lado não é previsível um grande risco nestes valores, por outro lado é previsível que futuras vendas de valores elevados venham a implicar pelo menos a manutenção destes valores para já não dizer mesmo o seu acréscimo, com o correspondente aumento de encargos.
 
No 1.º Semestre de 2011/12 o Benfica teve um resultado financeiro negativo de -7,7 Milhões de Euros inerentes ao aumento dos spreads e ao aumento do passivo oneroso. Este valor foi muito superior aos nossos rivais, FCP -3,8 e SCP -1,7. No entanto, tal acontece, à semelhança das amortizações de imobilizado, devido ao impacto das infra-estruturas não estar reflectido nas contas dessas SADs e consequentes financiamentos.
 
Um factor muito importante na condução das sociedades é a sua estrutura accionista. Outro é a titularidade das obrigações bancárias.
No primeiro caso convém referir o seguinte, o Sr. Joaquim Oliveira é accionista qualificado nas três SADs com as seguintes participações, SLB 2,66% (valor nominal +- 3 Milhões de Euros), FCP 10,01% (valor nominal +- 7,5 Milhões de Euros), SCP 5,47% (valor nominal +- 2 Milhões de Euros). Além disso no caso do clube do norte o irmão do Sr. Joaquim Oliveira, António Oliveira detém 11,01 % (valor nominal +- 8,25 Milhões de Euros). De referir ainda a participação da Somague que detém 3,65 % no SLB e 18,79% no FCP. A particularidade da SAD do Sporting é ter 47,9 Milhões de Euros em VMOC que no momento da sua conversão assegurarão a maioria do capital na Sociedade caso as mesmas sejam adquiridas por um investidor único, pois são superiores ao actual capital social de 39 Milhões de Euros.
 
Player importante é o BES que detém 7,97% (valor nominal +- 9 Milhões de Euros) da Benfica SAD sendo ainda credora de financiamentos no valor de 30,8 milhões de euros, bem como membro do sindicato bancário responsável pelo project finance do estádio cujos empréstimos atingiam os 72,5 milhões de euros. Convém realçar que uma das garantias do project finance é o contrato entre a SLB SAD e a Olivedesportos assinado em 2003, razão pela qual não é previsível uma não-renovação do contrato. No SCP o BES tem financiamentos de 10,8 milhões de euros, bem como e, em sindicato com o o BCP 47,8 Milhões de Euros. No caso do FCP não revelam quem concedeu os créditos, mas tendo em conta que também envergam os patrocínios do BES é perfeitamente natural assumir que sejam credores bancários significativos.
 
Em conclusão, o Benfica dos 3 grandes de Portugal dada a sua grande base social de apoio tem que garantir bom resultados desportivos para que estes sejam a base do equilíbrio financeiro, nomeadamente através do acesso à Liga dos Campeões e mobilização dos adeptos no apoio à equipa no Estádio e comprando o merchandising.
 
O aumento das receitas de televisão, a partir da época de 2013/2014 é imperioso e garantirá uma maior folga financeira que permita ir abatendo o passivo oneroso e reforçar a equipa. Desse modo e visto que esse contrato é garantia de um dos empréstimos do project finance, não é crível que a Btv seja uma alternativa à Olivedesportos, pois não me parece que BES ou BCP estejam interessados em perder 7,5 Milhões Anuais por troca de um projectoque comporta riscos elevados e que no curto prazo não terá cash-flows positivos dessa dimensão. Para a Btv ser alternativa à Olivedesportos, muito provavelmente o Benfica teria que dar passes de jogadores como garantias em substituição da manutenção do contrato com o referido operador.
 
Porém, muito do reforço financeiro, poderia ser alcançado caso existisse uma gestão de recursos humanos muito mais criteriosa do que a existente actualmente com a consequente diminuição dos atletas sob contrato.
Mais do que contratar bem, deveria o Benfica procurar vender bem a maioria dos jogadores que estão emprestados, ou pelo menos menorizar as perdas nas vendas, pois a continuação de negócios tipo Makukula ou Yebda, Airton, Alan Kardec ou Éder Luis,  Jara ou Pérez, são altamente danosos e com um impacto significativo ao nível dos resultados económico-financeiros. O mesmo se aplica a jogadores como Schafer ou José Luis Fernandez, Leo Kanu ou Elvis, que não correspondendo a investimento muito elevados não têm capacidade para jogar no Benfica. Um terceiro caso são os negócios tipo Elkeson ou Halliche que apesar de terem sido bem sucedidos, representam apenas o ter dinheiro investido em jogadores que nunca vão jogar no Benfica, ou seja investimentos financeiros e numa altura de crise de crédito não me parece ser prudente efectuar esse tipo de investimentos.
 
Em termos estratégicos, a internacionalização da Marca Benfica é fundamental, numa primeira fase junto das comunidades emigrantes na Europa, na América e em África e numa segunda fase junto dos mercados emergentes é o passo a seguir pois tal implica necessariamente a expansão do mercado televisivo e consequente aumento das receitas, o aumento das vendas do merchandising, bem como o acesso a patrocinadores com maior capacidade financeira que aumentassem as nossas receitas comerciais.
 
Mas a Marca Benfica só se consegue internacionalizar individualmente se a equipa conseguir grandes desempenhos nas competições europeias (acesso a finais e meias-finais) numa base regular. Caso contrário, a aposta passará pela internacionalização da Liga Portuguesa e nomeadamente dos jogos clássicos, sendo que para tal é fundamental assegurar uma estratégia conjunta em especial com os rivais mas também com os demais clubes da Liga. As movimentações do actual presidente dizendo querer pôr em causa o monopólio da Olivedesportos é algo a seguir com atenção, se bem que o historial passado leva a crer que essas ideias não serão levadas à prática.» 

Bcool

Do benfiquismo de rulote

Dois textos de dois companheiros - um do Diego; outro do M. - que comigo professam o benfiquismo de rulote que são bons tratados sobre o que é isto de rulotar benfiquisticamente. Antes e depois dos jogos.

Sábado voltaremos à carga, companheiros. Faça frio, chuva, neve, trovões, com luas fabulosas como a de ontem ou ainda sob o sol escaldante. Sempre pelo Benfica.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Onde é que estacionaste a nave?

«Emerson fez um bom jogo, tenho a máxima confiança nele. Esteve à altura do jogo»

terça-feira, 27 de março de 2012

Aquele abraço do golo

Quando o Simão recebe a bola no meio, a ajeita com um afago e remata para a baliza de Reina, a sala ficou por uns momentos parada, comigo, o meu Pai e a Joplin - a cadela - todos no ar à espera do golo. 

Se pudéssemos voltar a esse momento e o congelássemos em pause, notaríamos os nossos joelhos flectidos, as bocas num princípio de entoação e os braços a crescerem para o tecto. A cadela em salto do sofá para o chão, apanhada a meio da viagem, em voo, as patinhas da frente esticadas, o pêlo todo para trás e as orelhas distorcidas. Na televisão, ver-se-ia a bola na zona do penálti, pelo ar e Reina num gesto horizontal de desespero. 

Atente-se nos copos de cerveja em diagonal, gotas de líquido paradas na atmosfera, pratos de amendoins oblíquos e ervilhas de salada russa pulando acima da linha da mesa, tapando metade do ecrã entre o poste esquerdo e a cabeça de um defesa do Liverpool. O fumo dos cigarros verticalíssimo e também em ondas, congelado no tempo como uma pintura abstracta - com detalhe, ainda é possível ver figuras imaginárias que o fumo faz. Os cabelos do meu Pai soltos e para trás e a minha mão num gesto de movimento que faz desfocá-la. 

Como se estivéssemos empurrando a bola para o golo, há dois pés - um do meu Pai, outro meu - que a chutam no ar por debaixo da camilha e a cadela salta para o cabeceamento oportuno. Vêem-se ainda, se bem observado, os nossos braços em trânsito um para o outro, como se o golo fosse apenas a desculpa para um abraço. 

Não há forma possível de voltar a esse lugar. Ainda o mundo nos não permite a congelação em arca frigorífica dos lugares mágicos, junto aos hamburgueres e bifes de peru. Talvez um dia alguém muito mais novo que nós - porque nascido num mundo mais velho que este - invente a propriedade essencial com que se constroem as máquinas de refrigeração dos segundos antes do golo. Por ora, e sem tecnologias adequadas, coloquemos o dedo no play e vejamos o que acontece.

Explode a bola nas redes! Caem amendois, pedaços de chouriço, o pão voa na direcção da lareira, todas as cervejas inundam a mesa e, como cascata, vão descendo numa visão surreal de quotidiano mal explicado. O golo é cantado com mil gargantas dentro de duas, eu e o meu Pai abraçamo-nos, a cadela assusta-se e foge para debaixo do móvel. Na televisão, os jogadores do Benfica vão de cinzento em direcção a uma câmara. Até Beto e seu cabelo amarelo faz parte da trupe. 

Nada disto vimos, envoltos num abraço milenar povoado de sonhos e alegria. Quando mais tarde virarmos os olhos para o ecrã, já o Liverpool ganhou um fora na direita ofensiva. Mas nada disso conta para esta história. Nada importa que não seja já sabido - Miccoli faria mais tarde, bem mais tarde, uma bicicleta que o faria correr que nem um louco para os olhos do próprio Pai, no meio do apocalipse benfiquista de Anfield Road.

Hoje não haverá Pai nem haverá Joplin. Estão os dois parados no meu tempo e na minha memória, como entidades que sobrevivem ao passar dos minutos e horas e dias. Congelei-os dentro do coração, sem máquinas avançadas nem ciências transcendentais. 

Para hoje peço que muitos joelhos flectidos e muitos abraços no abismo do abraço aconteçam. Com amigos, entre amigos, em família. Um estádio todo suspenso no ar e as bolas em trânsito mortal para o golo.  



segunda-feira, 26 de março de 2012

Podemos ter Benfica amanhã?

Se não for pedir muito, dêem-nos Benfica. 

Daquele que entra nos primeiros 15 minutos feito tornado em busca do golo e geralmente marca pelo menos um. 

Daquele já muito antigo, que, quando se via como menos favorito, despachava o Real Madrid em casa por 5-1.

Daquele menos antigo que foi vencer a Londres e fazer um jogo fabuloso a Leverkusen.

Daquele ainda menos antigo que despachou o campeão europeu Liverpool com duas batatinhas no seu estádio, mesmo tendo Emersons na equipa.

Se não for pedir muito, queremos Benfica. Temos saudades de Benfica. 

Queremos dançar como galinhas sobre Drogba.

Queremos futebol, golos e uma vitória para irmos a Londres com a certeza de que a eliminatória será nossa.

Queremos alma, jogo apoiado, uma equipa entregue ao seu público e o público entregue à sua equipa.

Queremos Benfica. Já temos saudades.

domingo, 25 de março de 2012

Jesus, o Jorge Arcanjo

Depois do jogo de Olhão, o Constantino deixou-me no hotel em Quarteira. Fiz check-in, agarrei no amigo que lá trabalha e fomos beber copos. Sábado acordei, agarrámos um no outro, fomos para Albufeira - nada como o Algarve em Março. Hoje acordei, deitei-me na praia e esperei pela hora de apanhar o autocarro. Meti-me dentro da viatura e cheguei agora a casa.

De modo que ruminar o Benfica no Algarve em copos e praia favorece bastante o processo. Só agora me lembrei decentemente da miséria que vi no estranho José Arcanjo. E, como já estou em preparação para o Chelsea e não me apetece bater mais no ceguinho de forma muito elaborada, deixo só tópicos, verdades que acontecem há muito tempo mas que no Benfica ninguém parece querer ver. E elas são:

- Não temos central suplente com a qualidade necessária. Jardel ainda fez uns joguitos aceitáveis, mas nos últimos dois voltou a demonstrar todas as limitações. Ninguém quer saber disto.

- 442 formato demencial. Alas abertos, dois gajos no miolo, dois avançados perdidos na frente. O nosso 10 chama-se Maxi Pereira: é nele que reside a esperança de um desequilíbrio. Nolito nem a vê, claro, a equipa tem tanto medo do Emerson que faz construção pela direita, sempre. O meio e a esquerda não existem. Os jogadores vão-se direccionado todos para o lado do Maxi, enquanto Gaitán recebe bolas encostado à linha, a dois quilómetros das zonas de decisão. Mas Jesus não quer saber. Ninguém quer saber.

- Aimar vem fazendo uma época ao nível da discussão com os árbitros que roça o ridículo. A culpa é dele, claro, mas também de toda uma estrutura que não avisa os jogadores que, em Portugal, o Benfica tem de evitar a todo o custo situações dúbias e de protestos. E, já agora: aquela merda é vermelho. Claríssimo. Não haver no Benfica quem explique aos jogadores que, num jogo fundamental, há entradas que não podem acontecer é coisa de amadores. Mas Ninguém quer saber.

- Emerson é péssimo. É-o desde que se sentou no avião para Lisboa em Agosto. Já o era antes, mas isso pouco ou nada nos interessava. Não servindo o gajo espanhol que lá anda, devia ter servido outro gajo qualquer em Janeiro. Mas não serviu. Ninguém quer saber.

- A equipa está de rastos fisicamente. As opções do meio-campo foram todas ou dadas ou emprestadas, uma delas a um rival directo. Para os seus lugares, ninguém. Mas ninguém quer saber.

- Eu entendo perder pontos quando os jogadores demonstram vontade, mesmo jogando mal. Não entendo aquilo, aquela primeira parte de atrasados mentais. Jogámos com mais honra com 10 do que com 11. É ridículo e prova de que há muito trabalho mental a fazer - que nunca será feito pelo limitado ao nível cognitivo Jorge Jesus. Mas ninguém quer saber.

- Um gajo (que são muitos milhares de gajos) faz 600 e tal quilómetros para ir ver o Benfica. Gasta dinheiro, deixa a esposa em casa, consome-se física e psicologicamente. O mínimo que se exige é atitude competitiva. E uma equipa que não tenha em Maxi Pereira a única forma de poder chegar com perigo à baliza de uma equipa ridícula chamada Olhanense. Mas ninguém quer saber.

- Depois de amanhã lá estaremos. Imagino que outra vez em 442, visto que Jesus quer dar uma lição táctica à equipa que escolheu para os quartos-de-final mesmo quando ela ainda nem lá estava e havia, por exemplo, APOEL no sorteio. Em modo lunático ou lúcido, bem, mal, assim-assim, lá estaremos. Porque nós somos os únicos que verdadeiramente queremos saber.

sábado, 24 de março de 2012

A prioridade é não ter prioridades

Passeio ao algarve a pensar na terça-feira. Foi isto que eu vi em Olhão. E não me falem de arbitragens, caralho. Sim, a arbitragem foi deplorável. O normal, portanto. Todos nós sabíamos que ia ser assim. Perdão, todos não. Jogadores e treinador, certamente por alguma inexperiência nesta ciência do oculto que é o futebol português, não estavam avisados para o facto. Só assim se explica a toada pastelona com que encarámos toda a primeira parte, à espera de uma qualquer intervenção divina que não a de Jesus para que a redondinha resolvesse aninhar-se na rede adversária. Não entrámos para ganhar, e o Benfica, por mais condicionantes que o jogo tenha e que o impossibilitem de chegar à vitória, jamais pode não entrar para ganhar. Marcar primeiro e descansar depois. Nunca o contrário.

Os primeiros 45 minutos do espectáculo desenrolaram-se com um treinador a condizer, completamente apático e a assistir a tudo de lugar privilegiado. A intervenção divina lá acabou por aparecer, já na segunda parte, mas em nosso prejuízo. Deus, não só não ajudou a resolver a contenda a nosso favor como ainda se retirou da partida. No meio da mediocridade destoou Maxi, esse uruguaio insolente que se atreveu a correr como se não houvesse amanhã. Como castigo foi obrigado a ir à flash interview fazer o papel de revoltado que os dirigentes e treinador insistem em não querer protagonizar, isto quando os colegas de excursão já se encaminhavam de ceroulas vestidas com os dizeres "I Love Algarve" para banhos de hidromassagem.  

Provavelmente perdemos dois pontos nesta jornada. E perdemos Aimar. Perdemos muito e isto, por si só, pode significar que perderemos ainda mais. Resta-me o consolo de saber que com tanta poupança e gestão de esforço nas competições internas a Champions League só poderá ser nossa.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A prioridade é ganhar os jogos todos

Olho o calendário dos próximos meses e apetece-me gritar de dor. Ou de medo? Se calhar medo. Mas a um benfiquista - dizem os entendidos - é proibido ter medo. Preocupação, talvez, alguma hesitação, provavelmente também algum receio. Medo é que não. Então prefiro a dor, sinto dor e apetece-me gritá-la. Teremos nós meios, físicos, psicológicos, estratégicos para enfrentar os jogos que aí vêm? Temo que não, tenho esperança que sim.

É quando me deparo com estes dilemas que mais me solidarizo com a profissão de treinador de futebol. Claro, opções e tácticas, soluções milagrosas, mezinhas, verdades universais todos temos. Só que nós não respondemos pelas nossas ideias - atiramos larachas ao vento e esperamos que elas sejam cumpridas: se resultarem, cá estaremos, todos orgulhosos, para afirmar a frase profunda: "eu não disse?"; se não resultarem, como não somos responsáveis por nada, a razão há-de ser outra que não a nossa incompetência. O treinador é que sofre. Deve ser por isso que ganha mais num mês do que muitos de nós uma vida inteira. Só pode ser por isso. 

E agora as prioridades. Temos final da Taça da Liga, temos quartos-de-final da Champions, temos luta pelo Campeonato até ao fim. O que é que interessa mais? Melhor: por onde começarmos a batalha? Retiremos da equação a Taça da Liga, que é só um jogo e contra um adversário que nos permite alguma confiança, embora moderada. 

Ponhamos os olhos nas outras duas competições: uma ou outra? Aqui o coração amolece sobre um relógio. Todos sabemos as ínfimas possibilidades que temos de chegar a Munique, no entanto dentro de nós uma luz que vem de um ângulo desconhecido ilumina-nos a vontade e a esperança e a loucura. Sim, é pouco provável mas o que fazer deste sonho que temos nos braços? Apagá-lo com um letal gesto no pescoço ou deixá-lo crescer com o tempo? Por mim, que enlouqueço na saudade de ver o Benfica numa final europeia, nunca se despreza uma competição como a Champions. Faça-se um esforço extra, um ultra-sacrifício mental e físico, encontrem-se forças no interior dos corações esforçados, mas vamos, vamos em frente. Só podemos ir em frente. O que diz a História do Benfica é demasiado profundo para que desistamos de uma prova em que somos ainda, e com 20 anos de terror e mágoa, uma das grandes forças europeias. Negar isto, negar o passado, negarmo-nos como clube é desaparecermos. Só há uma via possível: querer chegar às meias-finais. E depois logo pensaremos no assunto.

E o Campeonato, como fica? Fica como sempre esteve e que está no sangue dos que nos representam: é para ganhar. Com avanços e recuos (como dói termos desaproveitado os pontos que hoje nos poderiam deixar soltos e livres para a Champions), medos, temores, hesitações e dúvidas. Com pontos ganhos, outros perdidos, mágoas, esperanças, alegrias, tristezas e muita fome. Temos fome de Marquês. Fome de festa, de apocalipse lunático, temos fome, muita fome, de Benfica. 

7 jogos. É isto que temos: 7 jogos. Ganhá-los todos e sermos campeões. Olhando os rivais que connosco lutam pelo troféu, restam poucas dúvidas: se ganharmos os 7 jogos que faltam, seremos campeões. Mas o Benfica será capaz de tal feito? Duvido. Quero, claro, quero muito, espero que sim, tenho esperança, sonho com isso, mas sei (sei?) que, aqui ou ali, perderemos pontos. Só espero que não seja nos próximos 3 jogos. Porque se os ganharmos - Olhanense, Braga e Sporting -, chegaremos a uma fase do calendário que nos será quase definitivamente favorável: jogos mais acessíveis e os rivais com jogos entre eles e contra a gazela do quinto lugar, o Sporting, esse grande cada vez menos grande mas que pode resolver o título pelo lado em que geralmente o resolve: não ganhando absolutamente nada com isso. 

7 jogos. Hoje há um. Vençam, mesmo jogando mal. Já não peço nada mais do que isto: vençam. O resto deixem connosco. Lá estaremos para vos brindar com o nosso apoio. E sem poupanças nem hesitações nem temores nem dúvidas. O Chelsea fica para depois. Hoje é dia de assar a carne toda.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Adão, Eva e o Benfica

Uma vez estava em Salamanca, numa fábrica de extintores. Fora ali ganhar dinheiro para comer presunto em barda e beber como se o mundo acabasse nos dias seguintes. Trabalhei, comi e bebi, naturalmente. Fui recebido como um alienígena: não só era português como ia para ser operário. Estranho. Tinha outra vertente: usava fita no cabelo e uma barba que ainda hoje Castro pede ao irmão que eu a empreste. Isto segundo os arquivos mais clandestinos que há em Cuba, que se dividem entre historicismos exacerbados e noções de medicina mais ou menos fidedignas. Ninguém sabe.

Nos intervalos, era giro: perguntavam-me coisas. Desde pormenores sobre o meu país - que supostamente era algo muito distante e intangível - até ao meu clube. Respondi: "Benfica" e não disse mais nada sobre Portugal porque Portugal só pode ser entendido se for caminhado de lés a lés - sem fronteiras. Depois fumámos cigarros e comemos sandes de atum com maionese - eu não, que tinha tido a clarividência de comprar chourição da Andaluzia um dia antes.

"Ah el Benfica" e depois fechavam-se, entre barbas e fatos-macaco, num amontoar de quotidiano. Ninguém sabia, nem eles, ao que iam. Eu acabava o cigarro, dizia "Benfica" e continuava a encher extintores como se disso dependesse a minha vida. E dependia. Até à hora em que larguei o trabalho, deixei o meu fato, apanhei a minha roupa, o meu carro e fui beber cervejas para o meio de Salamanca. 

A meio da tarde, um alemão que estudava teologia. Bebia duas cervejas de seguida e esperava por um shot de amor divino. Sentou-se perto de mim, balbuciou coisas indecifráveis - provavelmente do foro divino -, ajeitou o colete com que se maquilhava e perguntou-me: "where are you from?". Respondi: "Benfica". E ele riu-se e falou-me de Estugarda, mesmo sendo de Dresden. 

Naquela altura tínhamos os dois desistido das crenças, mesmo que fôssemos, os dois, de caminho em caminho, pedra sobre pedra, até um futuro que tinha de ter uma história. Acabámos em Brecht, Almodóvar, Rilke, Zola e até Emiliano Zapata. 

O Benfica vivia nele como coisa eterna. Contava-me histórias dos pais e primos e irmãos e amigos. E deus - essa entidade que é como o autoclismo, vai e vem - morreu e definhou na ponte que o levava até ao amor das coisas que se contam e desaparecem. Foi Benfica, ali. E depois foi mais do que isso. E subitamente, sem anúncio, Deus cortou os pulsos e sangrou até ao ponto de deixar a cor numa bandeira. Foi tudo bêbado para casa.


quarta-feira, 21 de março de 2012

Golos e Assistências - 42 jogos oficiais (29v, 9e, 4d)



Golos
Cardozo
26
Rodrigo
14
Nolito
12
Bruno César
8
Saviola
5
Witsel
4
Gaitán
4
Aimar
3
N. Oliveira
3
M. Pereira
3
Garay
2
Luisão
2
Matic
1
Javi
1























Assistências
Gaitán
13
Aimar
10
Nolito
8
B. César
5
Cardozo
4
Witsel
4
Saviola
4
Rodrigo
3
M. Pereira
3
R. Amorim
2
N. Oliveira
            2
Luisão
1
Javi
1