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quinta-feira, 19 de abril de 2012

A arte da guerra

Diz o Ricardo que é um problema o Benfica estar cheio de benfiquistas. Permitam-me ir um pouco mais além: é um problema o Benfica estar cheio de benfiquistas portugueses. É que é muito portuguesa esta coisa de se fazer ruído por tudo e por nada - portuguesíssima a de fazer ruído por nada, focando o acessório em detrimento daquilo que é verdadeiramente essencial. O que é que se discute mesmo? Não interessa. Argumentos? Coisa de somenos. O que importa é esbracejar, vociferar e pontapear o ar violentamente (mas só o ar, que isto é tudo gente pacífica e ninguém se quer aleijar) como forma de mostrar desagrado. E, já se sabe, quem no final fizer o ar mais indignado de todos leva a taça de melhor benfiquista. Ou, pelo menos, leva essa convicção para a almofada - o que, convenhamos, já não é mau.

Nesta modalidade olímpica que é a maratona de autismo conjecturam-se todos os cenários possíveis e imaginários para não enfrentarmos aquilo que está diante dos nossos olhos. E tal como num bom livro encontrado na secção “Crime” da mini-biblioteca lá de casa, o que está diante dos olhos nunca é verdade porque é demasiado óbvio. Também a proliferação da TV por cabo nos lares portugueses na última década tem culpas no cartório: a quantidade absurda de ficção que nos despejam diariamente na sala de estar deixa-nos um bocado alucinados e com a mania de que somos o Gil Grissom lá do bairro. Há que procurar ver sempre mais além, mesmo quando além não há nada para ver.

Vem isto a propósito de andar tudo histérico com as declarações de dois adeptos do Benfica  - e aqui permitam-me o desvario de colocar a hipótese de que dois rapazolas vestidos à Benfica à saída de um jogo do Benfica possam ser mesmo adeptos do Benfica – à porta do Estádio Cidade de Coimbra donde, sem grande brilho mas ainda assim meritoriamente, trouxemos mais um caneco para o Museu da Luz. Nem vou deter-me sobre o teor das declarações dos jovens, até porque a corrente de pensamento que brotou das mesmas é muito mais interessante e divertida. Deliciosa para quem não se nega a uma boa dose de intriga.

Esta inatacável doutrina  - que já fez escola por essa blogosfera fora - baseia-se no sólido pressuposto de que os moços aparentemente chateados com o insucesso desportivo do Benfica nos últimos anos não são benfiquistas. Mais: é óbvio até para a alma benfiquista mais desatenta - mas ainda assim dotada de uma sagacidade acima da média - que aquilo são andrades cujo único propósito é o de tentar minar a estabilidade do nosso clube. Ora isto faz todo o sentido, na medida em que o Benfica está de tal forma ameaçador que desperta nos adversários uma necessidade premente de inventar novas e insuspeitas formas de travá-lo. As arbitragens habilidosas com que nos brindam semanalmente, os sucessivos espectáculos de Harakiri de Luís Filipe Vieira e a incompetência – ou teimosia, ou as duas, nunca saberei muito bem - que o nosso treinador tem demonstrado ao longo das últimas duas épocas já não chegam para descansar os nossos rivais.

Como parar então esta máquina infernal que é o Benfica actual? Simples: envie-se um par de adeptos infiltrados para a porta dos estádios onde joga o Benfica, vestidos à Benfica, com uma sandes de courato à Benfica numa mão e uma mini à Benfica na outra, fingindo estar muito indignados com a ausência de títulos europeus e nacionais que um dia lhes foram prometidos por dirigentes e treinadores. Devem, também, esforçar-se por demonstrar enorme desilusão por um campeonato quase ganho pelo seu clube e que há muito deveria estar ganho pelo clube de que fingem ser. Todo o procedimento atrás descrito deve ser repetido até aparecer um canal de televisão que registe o momento. Muito espertos e imaginativos, estes andrades.

Há que admiti-lo, meus amigos: isto é uma ideia genial! Isto, sim, é desestabilizar os adversários com muita classe. É muito provável que estejamos perante aquela que é apenas a maior invenção do Homem desde os crepes congelados da marca Continente. Qual fruta qual carapuça. Futuramente, a chave do sucesso desportivo de um clube estará na sua capacidade para enviar adeptos disfarçados de outros adeptos para as portas dos estádios adversários. Este plano maquiavélico vindo do norte até podia ter surtido efeito em Coimbra, não fosse o facto de desconsiderar a superior astúcia do adepto benfiquista. Já vos topámos, ó andradagem! Preparem-se para o pior, pois acabam de comprar uma guerra que jamais poderão vencer. No dia em que tiverem 6 milhões de marmanjos à porta do dragão envergando cachecóis com a inscrição “Morte aos Lampiões” tenham noção de que é o princípio do vosso fim. 

"A vitória é o principal objectivo na guerra. Se tardar a ser alcançada, as armas embotam-se e a moral baixa." - Sun Tzu