Como
tinha escrito no final dos dois jogos em solo Suíço, os sinais mais
preocupantes dados nestes jogos de pré-temporada têm sido colectivos, e estes
sinais agudizaram-se nestes dois particulares disputados no Algarve.
O
nível dos adversários subiu relativamente aos dois primeiros, e aqui foi
possível ver a pior versão do Benfica em termos ofensivos.
Como
ficou evidente (como tem sido desde a chegada de Rui Vitória), a equipa tende a
esconder-se do jogo sempre que enfrenta adversários que tenham um pensamento do
jogo que vá para lá do defender com linhas baixas e sair em ataques rápidos.
Na
verdade, sempre que defrontamos equipas que gostem de ser algo afirmativas, por
muito ténue que seja essa vontade, o Benfica remete-se a um bloco compacto,
procurando o erro adversário para sair em rápidas transições. E este, para mim,
é o maior calcanhar de Aquiles da nossa equipa.
Mas
se não há uma grande qualidade no processo ofensivo da equipa, como é que o
Benfica faz campeonatos com um elevado número de golos marcados e, a espaços,
com jogadas colectivas de qualidade? Para mim, isto deve-se a dois factores:
1 – A liberdade que Rui Vitória concede
aos seus jogadores: Visto de fora, sem estar minimamente por dentro do processo
de treino ou sequer das ideias que Rui Vitória transmite ao plantel, fica-me a
clara sensação que, a partir de uma certa zona do terreno (diria que à chegada
ao último terço ofensivo), os jogadores gozam, por parte do treinador, de total
liberdade criativa, isto aliado à excelente qualidade dos executantes que temos
ao dispor cria, à primeira vista, a ilusão de que temos um processo de ataque
posicional bastante forte. No entanto, quando os melhores jogadores, os
jogadores mais criativos e assertivos na decisão saem da equipa, tudo o que
parecia colectivo desaparece e nada do que os melhores jogadores fazem,
aparece. O melhor exemplo disso mesmo é a comparação entre o que fizemos numa
primeira fase frente ao Hull e o que se fez na última meia hora, quando se
juntaram em campo os melhores.
2 – O perfil individual bastante
próximo dos nossos melhores jogadores: No Benfica há um perfil bem identificado
do que deve ser o seu jogador, sobretudo ofensivo – jogador criativo, capaz de
fazer mais do que uma tarefa no mesmo jogo, móvel e muito assertivo na decisão.
Quando os melhores jogadores nestes itens se juntam, a coisa flui e tende a
subir vertiginosamente de qualidade. Quando se associam jogadores como Jonas,
Pizzi, Zivkovic, Seferovic, Rafa e até Cervi, juntando-se-lhes Fejsa que
garante uma enorme qualidade desde o primeiro passe, o carrossel criativo tende
a aparecer com frequência, pois são jogadores que falam todos a mesma língua, ainda
que não haja um idioma colectivo bem vincado.
Outro
dos sinais do défice de qualidade ofensiva é a (in)capacidade que a demonstra
para sair com bola controlada, quando pressionada logo à saída da sua área. A
juntar a esta dificuldade, há a ausência de Ederson e a sua capacidade para
colocar a bola a média/longa distância com qualidade.
Isto
é excessivamente preocupante para a nova época? Não, primeiro porque estas
dificuldades existem desde que Rui Vitória assumiu a equipa e não foi por isso
que deixamos de conquistar 2 campeonatos em outros tantos disputados. Desde que
a qualidade individual se mantenha claramente acima da média e desde que essa
qualidade se mantenha dentro do tal perfil referido acima, os problemas não
deverão ser transcendentes. E depois porque em Portugal, frente aos grandes,
são muito poucas as equipas que procuram jogar um futebol de qualidade ofensiva
e, tão pouco, pressionar alto a saída de bola dos maiores clubes. Por isso,
para lá dos jogos com os restantes candidatos ao título e mais um ou outro
adversário, cujo treinador decida optar por uma ideia fora da caixa Portuguesa,
deverão ser poucos os jogos onde estas deficiências sejam
impeditivas para se
ir chegando às vitórias com maior ou menor dificuldade.
Por
tudo isto, e porque Felipe Augusto (pouco capaz de ser criativo entre as linhas
adversárias) demonstrou não ser uma opção válida para a posição de médio de
ligação (e Krovinovic ainda demorará o seu tempo a entrar em competição de
forma capaz) reveste-se de decisiva a permanência, e em boas condições físicas,
de Pizzi. O transmontano parece ser o único jogador capaz de desenvolver este
papel em campo de forma absolutamente competente e com qualidade suficiente
para dar à equipa capacidade criativa no momento da ligação entre a construção
e a criação. Horta poderia ser outro jogador com esta capacidade, mas os sinais
que me ficam dos jogos disputados até aqui, não são os melhores relativamente à
sua permanência no plantel.
Importante
também seria que este fosse o ano em que Rui Vitória desse a Zivkovic o espaço
de afirmação definitiva que o jovem Sérvio merece e o seu talento reclama.