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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Jorge Jesus de Ontem para Hoje

Não vou aos tempos do Amora recuperar o trio de centrais de Jorge Jesus, importa-me somente perceber o Benfica nas mãos de JJ.


Na sua primeira passagem pela Luz apresentou-se ao clube com a forte afirmação que a equipa consigo jogaria o dobro. Dito e feito. Nas mãos de Jorge Jesus a nossa equipa começou a jogar muito mais.

Agora no seu retorno foi ainda mais ambicioso. Assim que chegou afirmou que a equipa iria jogar o triplo e que nos ia oferecer espectáculo. Dito porém longe de ser feito. Este novo Benfica do Jorge Jesus tarda em carburar e tem reunido apáticas exibições atrás de enfadonhas exibições.

Verdade seja dita, o nome é o mesmo, o homem é o mesmo, mas o treinador está longe de o ser.

Jorge Jesus habituou-me a um futebol aberto, rápido e muito desequilibrado. Só quando a equipa estava muito bem trabalhada é que o dito desequilíbrio nos favorecia. Mas acima de tudo, Jorge Jesus habituou-me a uma equipa forte no jogo sem bola, expert na capacidade de defender com poucos e extremamente potenciadora da criatividade ofensiva.

Com o seu 4-2-4 fazia evoluir os seus centrais, elevava a estrelas os médios com que segurava o meio campo e espremia todo o talento dos criativos da frente, procurando um Benfica dinamizador e goleador.

Partir o jogo e lançar ataques rápidos sempre foi uma característica do futebol de Jorge Jesus. Isso não mudou. Desaproveitar a formação, casmurrar com certos jogadores por si escolhidos e arrogantizar por aí fora, também são características que se mantêm. Aliás, a arrogância é a sua característica mais visível e muitos dissabores nos tem dado, tanto por certos comportamentos quanto devido à cegueira que esta lhe causa na hora de mexer no jogo.

O problema é que o essencial que fazia de Jorge Jesus um potencial magnifico treinador parece estar desvanecer-se com o tempo.

- Extrair futebol de talentos.

- Defender bem com poucos.

- Atacar com criatividade.

A expectativa de ver certos jogadores nas mãos de Jorge Jesus tornou-se numa pura desilusão. Chiquinho, Pedrinho, Jota, Pizzi, Darwin, Waldschmidt, Everton, Krovinovic, Florentino e Gonçalo Ramos. Pouco se espremeu, muito pouco se lapidou.

A velocidade do Rafa, a qualidade de um jogador feito como é o João Mário e um super jogador como é o Weigl, têm sido o destaque individual deste Benfica.

Dedo do Jorge Jesus só mesmo em zonas mais recuadas do terreno. Viu-se logo uma forte melhoria no posicionamento do Rúben Dias e estamos a ver um Otamendi muito mais seguro do que aquele trapalhão que cá chegou.

Quanto ao processo defensivo ficou evidente o fracasso de Jorge Jesus na época passada. A equipa defendia mal e o treinador do Benfica para contrariar isso só teve uma solução: colocar mais um defesa em campo. Foi assim que passámos para os 3 centrais.

E nada tenho contra um sistema de três centrais. Contudo não gosto quando é usado por estes motivos e somente com o objectivo de tapar a baliza, de encher a área defensiva.

Por fim temos a pouca criatividade que o ataque do Benfica tem demonstrado nas mãos deste novo mais velho Jorge Jesus. Não é por acaso que praticamente todos os jogadores criativos têm falhado. Este treinador nunca valorizou a posse de bola mas também nunca descurou do ataque apoiado, mesmo jogando em transições rápidas.

Hoje vemos um Jorge Jesus a fazer das suas armas ofensivas a força e a velocidade – o ataque à bruta. Três homens na frente para correrem de frente à defesa adversária, chocando nela até a partirem.

Para mim assim se define o retrato deste Benfica. Ao menos finalmente temos uma equipa com uma identidade de jogo. Jorge Jesus encontrou o seu 11, finalmente encontrou o seu (novo) futebol. Funciona? É bonito? É prazeroso? É espectacular?

De forma muito simplificada podemos dizer que o 4-2-4 deu lugar lugar a um 3-4-3 - com 3 centrais a servir de tampão na área, com 3 atacantes a baterem-se com os defesas contrários e com 4 homens em compensações.

Os adversários com alguma facilidade conseguem criar várias aproximações à nossa área contudo são constantemente levados ao espaço nas alas tendo de recorrer a cruzamentos que facilmente os nossos 3 defesas conseguem limpar. Jogo partido e o tampão defensivo a funcionar.
Lá na frente é constante o ataque á profundidade e a velocidade vertical dos nossos 3 avançados coloca as defensivas adversárias em constantes sobressaltos. Colocamos igualdade numérica nos ataques e os adversários a correr atrás da bola mas depois falta-nos a criatividade, a técnica e os apoios – o Yaremchuk pode fazer este papel mas não é o seu futebol natural; o Darwin é feito para este jogo mas peca pela fraca qualidade técnica na recepção e condução da bola.

E com a criação desta identidade de jogo surge um problema de plantel. Não temos segundas escolhas. De 11 jogadores só 4 podem ser substituídos sem se mudar o estilo de jogo – Guarda-redes, um Central, Ala direito e o Ponta de Lança.

O Grimaldo, o João Mário e o Weigl simplesmente não têm substitutos. De resto todas as outras opções de ataque são jogadores de posse, de controlo da bola, de jogo interior e futebol entrelaçado – não encaixam nesta ideia.

Os últimos 6 jogos parecem-me bem ilustrativos disto que aqui tenho divagado.

Barcelona – O Benfica foi dono do jogo sempre que o partiu. A defesa esburacada deste Barcelona transmitia insegurança a todo o colectivo sempre que apanhava com os nossos avançados. Com os nossos 3 centrais o catalães simplesmente não tiveram futebol para furar. Só não foi assim quando após o primeiro golo a nossa equipa decidiu recuar, permitindo tempo e espaço para o Barcelona subir linhas, respirar e tentar construir – sem jogo partido ficámos a ver jogar um triste Barcelona.

Portimonense – Em 90 minutos de jogo só durante 20 é que fomos ofensivamente avassaladores. Perante os algarvios bem recuados faltou-nos criatividade no ataque para criar mais perigo durante quase 4/5 da partida.

Trofense – Uma excepção pelo contexto do jogo e do adversário. Não há muito a analisar numa equipa sem identidade. O 11 titular foi mal gerido pelo treinador e tal foi reconhecido quando para tentar segurar o 1-0 se viu obrigado a lançar os habituais titulares.

Bayern – O jogo do Benfica ficou em exposto aqui. Incapacidade de ataques apoiados resumiu a ofensiva encarnada a 3 jogadas de ataque resultantes de 3 cavalgadas individuais. E logo na primeira as carências técnicas do Darwin foram evidentes. Sem bola a equipa foi incapaz de impedir o Bayern de facilmente criar inúmeras jogadas de ataque. Depois perante jogadores deste calibre não é um tampão de 3 centrais que vai impedir incontáveis sustos na nossa baliza – vários bem antes de qualquer um dos quatro golos concedidos.

Vizela – O jogo que confirma as fragilidades desta forma de jogar (e treinar). O Vizela recusou-se a partir o jogo e com isso o Benfica não conseguiu lançar as cavalgadas ofensivas, o que banalizou os seus atacantes. Por outro lado com simples tabelas os jogadores da casa iam criando várias aproximações à nossa área. Porquê? Porque a preocupação dos nossos centrais em fechar a área aumenta o distanciamento para os nossos médios.

Vitória – Em Guimarães, com algumas alterações ao 11 titular, tivemos outras confirmações.
Alternativas como o Meitê são simples aberrações de águia ao peito – há jogadores que simplesmente não têm substitutos.
As nossas alternativas ofensivas trazem um outro futebol à equipa, quebrando-se a tal identidade de jogo. Com Pizzi e Everton a equipa tem um futebol mais rendilhado, mais pensado, mais técnico, mais interior e apoiado. Enquanto quisemos ter bola e jogar fizemos dos nossos melhores jogos da época. Depois foi o descalabro, o desmoronar de uma equipa sem identidade e jogar no medo com jogadores inconcebíveis.
Neste caso o Vitória aceitou partir o jogo, ganhou-nos o meio-campo, meteu mais homens juntos à nossa defesa e não se preocupou com os desequilíbrios defensivos pois desta vez o Benfica não tinha sido montado para os aproveitar.

Agora voltaremos ao 3-4-3, ou melhor ao 3-0-4-0-3. A questão será perceber se o Estoril aceitará ou não partir o jogo. Se não aceitar o Benfica dificilmente sofrerá golos mas também dificilmente marcará.





domingo, 7 de fevereiro de 2021

Dupla Darwin/Seferovic, Porquê?

 

Dia 05/02/2021 o Benfica recebe o Vitória de Guimarães na Luz. O jogo vai empatado a zero para o intervalo. Deus por indicação de Jesus retira Everton do jogo e lança Darwin para atacar os últimos 45 minutos.

E eu pergunto “Porquê?”

A época de 2009/10 foi o ano de grande afirmação de Jorge Jesus. É um ano que está marcado para sempre no Benfiquismo.

Desde a adaptação de categórica do Fábio Coentrão a lateral esquerdo à explosão de Di Maria como um mágico de classe mundial. Desde a afirmação do miúdo David Luiz ao lado do Luisão até à detonação de golos do pé esquerdo de Tacuara Cardozo.
E também trouxe ao nosso dialecto a posição 9,5 – um jogador de ataque que ocuparia o espaço entre o ponta de lança e o médio criativo. Esse ano era Javier Saviola que brilhava com essa camisola – entre o “9” de Cardozo e o 10 de Aimar.

Assim Jorge Jesus brilhava com um ataque construído por um ponta de lança e um atacante mais solto em terrenos interiores na procura do espaço.

Posteriormente as duas duplas de ataque que mais sucesso tiveram com Jorge Jesus foram:

2013/14 – Rodrigo e Lima

2014/15 – Jonas e Lima

É perceptivel que nenhuma destas duplas apresenta um ponta de lança. Jogadores de ataque mais móveis, de futebol de apoios e combinações.

No primeiro caso temos Rodrigo a explorar mais a profundidade e Lima a procurar os espaços para jogar e fazer jogar.
No segundo caso voltamos a ter Lima mas desta vez apoiado por Jonas que junta a sua veia goleadora ao seu posicionamento como 10 enquanto o cérebro do ataque encarnado.

Mais recentemente temos o grande sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Brilhando na América do Sul com um médio de maior contenção, um 8 com mais chegada à área, dois médios ofensivos com maior jogo interior e no ataque um extremo bem aberto à esquerda a dar aceleração aos ataques e um avançado a descair na direita.

Neste Flamengo Jorge Jesus actuava só com um avançado, um avançado móvel a explorar o corredor direito e a abrir espaço para a progressão dos médios.

Na presente temporada desde cedo se percebeu que Jorge Jesus iria querer actuar com um ponta de lança. Não contando com Vinícius – que parecia desligado do futebol que Jorge Jesus pretendia para a equipa – Seferovic apareceu como a solução até ser contratado um novo avançado para o plantel. Veio Darwin, um avançado poderoso, com boa presença na área e capaz de procurar a profundidade do ataque. Apesar do uruguaio não ser um atacante de associação, tem um fantástico sentido colectivo.

Por tudo o que foi visto na pré-temporada e no arranque da época, uma bela discussão no seio benfiquista era sobre quem seria o 9,5 de Jorge Jesus, qual seria o jogador que iria apoiar Darwin alternando entre a ocupação dos espaços entre os médios e o atacante com as chegadas à zona de finalização. Havia o recém-contractado Luca Waldschmidt que cedo mostrou uma incrível ligação com o uruguaio, mas também a possibilidade de Rafa, Pizzi e do Pedrinho.

E daí o meu “Porquê?”

Na Grécia jogámos com Seferovic apoiado por Pedrinho. Dominámos o primeiro tempo com um grande preenchimento do espaço interior faltando só um melhor entendimento – primeiro jogo da época – entre os jogadores para se criarem mais oportunidades de golo. Na segunda-parte o PAOK procurou adaptar-se melhor, equilibrou o jogo e com 30 minutos para jogar os gregos chegarem ao golo. Um bom Benfica com 30 minutos para fazer o empate e Jorge Jesus decidiu quebrar a identidade da equipa. Sai Pedrinho e entra Darwin. Nasce a dupla de ataque Seferovic/Darwin e o futebol da equipa morreu ali.

Assim nasceu o meu primeiro “Porquê?”

Temos uma primeira metade de época na qual o arranque deixou vários sinais prometedores mas que se foram dissipando ao longo dos jogos, ficando a ideia que perante um insucesso Jorge Jesus abdicava da identidade de jogo que andava a ser construída.

O arranque da dupla Luca/Darwin foi fortíssimo. Com algumas exepções onde o JJ tentou ganhar os jogos retirando o 9,5 e lançando outro 9, foi esta dupla que foi dando frutos no ataque do Benfica. Mas quando a coisa descambou no Bessa, pareceu cada vez mais evaporar-se – para Jorge Jesus – a importância do avançado do jogo entre-linhas. Cada vez mais Jorge Jesus começou a optar pelo ataque à bruta em prol do ataque em classe.

Após a derrota na Supertaça a aposta de Jorge Jesus na dupla Darwin/Seferovic intensificou-se, fosse de inicio ou fosse para inverter resultados. Uma mudança no seu futebol e sinceramente um jogo muito menos atractivo por parte do Benfica.

Isto traz-nos ao jogo da última Sexta-Feira, na Luz, com o Vitória de Guimarães.

O Benfica começa com um ataque formado por Seferovic e Pizzi. Weigl no equilíbrio do meio-campo, Taarabt na condução pelo centro, Everton e Cervi em rotação ocupando mais os espaços interiores, Seferovic como referência ofensiva apoiado por Pizzi que ia procurando o jogo entre-linhas para abrir a defesa e o jogo. Algo muito mais parecido com aquilo que vimos Jorge Jesus a trabalhar no inicio da época.

Sim explorámos demasiado as laterais e os cruzamentos para o meu gosto e sim o trio de médios do Vitória actuou mais na contenção tentando somente retirar espaço aos 4 médios criadores do Benfica -  – Weigl, Taarabt, Everton e Pizzi. Mas depois do descalabro dos últimos jogos, soube bem ver o Benfica a surgir dominador, com boas dinâmicas, a preencher os espaços, a retirar possibilidade ao adversário de jogar e a criar várias oportunidades de golo.

Apesar do 0-0 ao intervalo não havia qualquer dúvida que aquela era a fórmula para marcar um, dois ou três golos no segundo tempo.

Então porquê?

Porque é que ao intervalo se muda totalmente a dinâmica ofensiva da equipa? Porque é que se retira um dos médios ofensivos criativos e se coloca mais um ponta de lança? Porque é que o Benfica abdica do preenchimento do jogo entre-linhas? Porque é que opta por ter mais presença na área em prejuízo da zona de criação?
O Benfica continuou superior ao Vitória? Sem dúvidas. Mas ao contrário do primeiro tempo já houve Vitória com bola e a criar algum perigo, ao contrário da primeira parte já não houve um Benfica tão dominador com bola e tão capaz de criar jogadas de finalização.

Porque é que um treinador com o histórico de Jorge Jesus anda agora a recorrer tão frequentemente a um futebol com um duplo pivôt ofensivo?

Com o Vitória, tal como na Grécia, esta substituição matou a reacção do Benfica a um resultado menos favorável.

Por isso pergunto... Porquê?