quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quando um homem tem tantos golos como toda a equipa do 6º classificado

Ele não ri muito e quando ri parece em esforço, não corre muito e quando corre parece em sacrifício, não fala muito ("pienso qué...") e quando fala parece que tem medo que as palavras o traiam.

Mas ele marca golos. De todas as formas. De qualquer lado. A qualquer momento. Marca isolado frente a uma baliza deserta como marca depois de uma triangulação, vindo de um cruzamento, de uma corrida a meio gás, de um pontapé de instinto, de um ressalto, de uma assistência sublime de Saviola, de uma bola aos tropeções. Ele está lá.

Paraguaiolo.

sábado, 28 de novembro de 2009

A oportunidade da década

Não quero com isto dizer que vamos ganhar, embora seja o meu desejo.
Mas é bom que se diga que esta é a oportunidade da década de golear os lagartos.
Grande oportunidade! No trabalho apostei um almoço em como ganhávamos 1-6. Mais do que fé, é um desejo...
Sabia tão bem!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

sometimes you´ll walk alone

Da euforia à depressão, uma viagem tantas e tantas vezes feita pelos benfiquistas, bipolares crónicos. Se a equipa vence, sobem montanhas atrás dela; se vence, goleia e joga um futebol de sonho, ganham asas e voam com ela; se perde, atiram-lhe pedras e abandonam-na numa esquina qualquer.
A derrota em Braga veio avisar os benfiquistas (desavisados) de que não há, nem nunca houve, uma equipa invencível capaz de golear consecutivamente durante todo o campeonato. A derrota em Braga veio lembrar os desavisados de que, mesmo jogando bem (e o Benfica fê-lo), nem sempre será possível, por esta ou aquela razão, vencer. Esta é uma lição que se espera bem aprendida por todos, começando nos jogadores - aliás, espera-se não só o seu entendimento como a capacidade de encaixe, porque uma equipa não pode ir abaixo mentalmente por perder um jogo; ou, pelo menos, uma grande equipa, como é hoje a equipa do Benfica.
A maioria dos adeptos dará nova hipótese de voo aos jogadores mas haverá quem já tenha o assobio guardado para qualquer eventualidade. Mais um ou dois jogos sem pontuar e Jesus perderá o estado de graça em que se viu inundado.

E é por isso que amanhã, em Liverpool, eu só espero uma vitória categórica. Pelo Benfica europeu mas, sobretudo, pelo Benfica campeão nacional 2009/2010.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Orgásmico!

“Com o Everton é que vai ser mais a sério…” “Não, agora com o Nacional é que vamos ter um teste real…” Acreditem, não é o momento, não é sorte, não é conjugação de factores cósmicos. O Benfica joga mesmo muito, a sério! Eu próprio estava descrente, não queria acreditar, era bom demais para ser verdade, mas estou rendido. Ninguém pára o Benfica! As goleadas podem até deixar de ser tão frequentes, é certo. Podemos perder uns pontinhos por aí, o que já duvido um pouco. Mas o inegável é que esta equipa tem um querer, um alento, uma áurea especial… E depois, claro, tem 50 mil nas bancadas a delirar, a não acreditarem no que os seus olhos vêem, a ficarem emocionados, a exteriorizarem um benfiquismo tantas vezes adormecido, mas que agora saí à rua sorridente, confiante, sem fantasmas.
Obrigado por me terem devolvido o Benfica!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Festival!

O ano passado via os jogos do Barcelona e com uma pontinha de inveja pensava "Será que algum dia terei o prazer de ir à Luz e deleitar-me com futebol deste nível"?
Não sei quanto tempo mais vai durar, mas neste momento não sinto inveja de nenhum outro adepto do mundo...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Podem vir algumas derrotas, certamente que se irão cometer erros, mas para já só posso agradecer a todos, desde LFV, passando por Rui Costa, Jesus, os jogadores, e todos os elementos ligados ao futebol, terem voltado a devolver a honra e a glória ao MANTO SAGRADO!!!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O clube dos jornalistas

Já se sabe que em matéria de futebol toda a gente tem uma opinião. Pode ser mal fundamentada, mentirosa, credível, inteligente ou apenas um "isto assim não vai lá", mas toda a gente, sem excepção, diz o que quer, quando quer, como quer e ainda bem que assim é - não faria sentido a exigência de um mestrado sempre que alguém se decidisse a opinar sobre uma bola.
Mas, se a esta liberdade tecemos loas, a verdade é que não podemos deixar passar em claro a eterna fuga de opinião (ou semi-opinião) que os jornalistas desportivos a toda a hora cumprem. Escudando-se sob a camuflagem do direito da escolha pessoal, estes, questionados sobre a sua preferência clubística, preferem responder que são do Amiais de Baixo ou do Merelinese, dizendo em tom jocoso ser o "clube lá da terra". Ora, se a preferência por emblemas que militam pelos distritais do nosso futebol não deixa de ser louvável, visto que revela neles uma aguçada e extremamente criteriosa sensibilidade pelos mais precários clubes, causa alguma estranheza que, num universo de, digamos, 50 jornalistas que têm funções de destaque, nenhum sofra por um dos três grandes do futebol nacional. Há-de ser, quero acreditar, uma coincidência cósmica, uma improbabilidade estatística no país onde a estatística nem sempre bate certo. E, sendo assim, causa ainda mais incredulidade que o Merelinense, tendo em conta o seu grupo de apoio, não ganhe consecutivamente 10 campeonatos nacionais da primeira Liga.
Esta atitude, normalmente associada a um "jornalismo independente e imparcial", mais não é do que a repercussão equívoca de um país cujas fronteiras da independência moral e individual ainda não foram totalmente transpostas. É que pode parecer um assunto insignificante mas, a nosso ver, é um dos obstáculos à transparência exigível nos meandros da bola para a frente. Custaria assim tanto a um jornalista assumir-se benfiquista, sportinguista ou portista? E, se o fizesse, teria forçosamente a sua carreira em risco? Não me parece.
Casos há em que o clubismo é conhecido e nem por isso a objectividade e o profissionalismo são postos em causa por quem os lê, vê ou ouve. Dou como exemplo Fernando Correia, um jornalista inequestionavelmente talentoso, sério e, dentro das suas funções, imparcial. É sportinguista, assume-o e eu gosto disso. Com essa sua escolha, evitou que todas as semanas a sua clubite, aos olhos do público, mudasse, consoante uns e outros olhos o vissem. Mostra-se tal como é, diz ao que vem e, dito isso, deixa espaço para o mais importante: a sua função de jornalista. Não diz que é do Alandroal ou do Nelas, não se esconde sob a capa do "homem que dedicou a sua carreira ao futebol mas, estranhamente, não tem clube". Será assim tão impossível que outros lhe sigam as pisadas?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

I miss you already, i miss you all day

O futebol português está virado de pernas para o ar: umbrasileiro do Sporting marcou pela Selecção no Estádio da Luz e foi aplaudido; o seleccionador português entra em campo e é assobiado; o Ronaldo, depois de uma monumental caralhada há uns anos (e consequente monumental assobiadela recebida), sai sob um caloroso aplauso; o Liedson beijou as quinas na camisola; o Simão não festejou um golo marcado no Estádio da Luz; o Ronaldo saiu de campo aos 20 minutos de jogo e não reclamou.
A lista é interminável. Mas o mais estranho disto tudo é não vermos uma goleada do Benfica há um porradão de tempo. Há exactamente 9 dias. Calculo que, não jogando, seja de todo impossível golear mas, ainda assim, essa merda deixa-me deveras chateado.

sábado, 19 de setembro de 2009

Venho aqui dizer que não tenho nada a dizer.

Com o início de época, os benfiquistas partiram-se em vários grupos opinantes (os que-já-sabiam-que-o-Jesus-era-o-maior-e-esperam-goleadas-todas-as-semanas, os muito-surpresos-mas-optimistas, os prudentó-optimistas, os assim-assim, os que-estam-à-espero-do-regresso-à-normalidade, os que-esperam-o-cataclismo-final, etc...). Não sei onde me inserir. Nem sequer sei bem o que sentir.
A minha vida de adepto benfiquista está, infelizmente, manchada por constantes e tortuosos falhanços do clube nos momentos cruciais, às vezes antes. Por isso, precisarei de vários anos a ganhar regularmente para acreditar sem desconfiar.
Estou naquela fase em que, se por estapafúrdio lógico o plantel e equipa técnica fossem trocados com os do Barcelona, eu ainda estaria aqui com receio do futuro e com dúvidas em torno da capacidade de Messi manter um rendimento constante, ou de Iniesta desequilibrar num jogo contra o Porto. Eu sei que não tem sentido, mas são muitos traumas no lombo, é mesmo assim.
Mas também não quero estar aqui a ignorar todos os sinais positivos. Um gajo não se deixar contagiar por aquela vibração feita de esperança, que anima um adepto ainda longe do campeonato estar garantido, é como comer um robalo de mar no Furnas do Guincho com uma mola no nariz e só a tirar para a última garfada. É uma boçalidade do tamanho do défice do Sporting e tira a graça (quase) toda à coisa.
...e eu não quero ser boçal. Não quero correr o risco de sermos campeões e eu ter passado o campeonato todo de máscara cirúrgica anti-euforia nas fuças e a lavar as mãos com desinfectante depois de cada goleada.
Os sinais de melhoria estão aí. Vocês já os conhecem e caso contrário, há aí gente melhor habilitada para vos elucidar! A extensão dessas melhorias, duvido que alguém saiba, pois até Deus, se existisse, andaria aparvalhado com a deslobotomia que fizeram ao Di Maria, ou mesmo ao Coentrão, tentado pela diabólica fantasia de Aimar, incrédulo com a força de veludo do Queniano, ou mesmo invejoso da omnipresença de Javi Garcia…
Pronto! Calma...Calma que um campeão não se faz assim. Não é num ano, é preciso estabilidade, estrutura...ainda há-de chegar uma batalha ingrata onde havemos de perder estes sebastiões todos…
O que é que eu estou para aqui a dizer? Nada! Eu nada! Não tenho nada a dizer; vão jogando, vão jogando...que estarei a torcer - e já agora, porque não - a acreditar!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sublime 2

Obrigado a todos os intervenientes que me proporcionaram um final de tarde de pleno deleite em Belém...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Dou-te oito doces em troca de um melão salgado

Do jogo, já quase tudo foi dito. Uma viagem grátis e fabulosa ao Benfica, com direito a hotel de 8 estrelas e visita guiada a um futebol desarmante, explosivo e louco. Obrigado.

Quero destacar 4 momentos da noite:

- Aimar, com o Setúbal em posse de bola à saída da sua área, antecipa um erro de um jogador setubalense e, sempre em velocidade e voltado para a baliza, ganha a bola, fá-la voar sobre o último adversário, recebe-a na coxa, depois ampara-a no pé como veludo e, à saída do guarda-redes, um toque ligeiro devolvendo a bola à sua pátria, a baliza. Aimaravilhoso.

- No mesmo lance, Saviola, que assistia a tudo não como jogador mas como adepto - como se apenas ali estivesse porque pagou bilhete mais caro, para a zona do relvado -, vendo o seu espaço, que era de fora-de-jogo, invadido pelo tsunami aimaresco, recusou o brinde e abriu alas ao protagonista. Saviolúcido.

- Saviola, em momento de delírio, finta 3 jogadores como fintava há uns anos as crianças do bairro argentino onde vivia e, de frente para o guarda-redes, decide rematar em vez de passar a bola a dois jogadores isolados. Má opção, porque o golo estaria sempre mais perto através do passe e não do remate. Mas quantos de nós, em peladinhas, depois de deixarmos 3 gajos para trás, passamos a bola? Há na vertigem da jogada perfeita o dilúvio do egoísmo. E, estando já 6 bolas no saco, aceitamos a teimosia, Javier. Da próxima, passa a bola.

- Jorge Jesus, a ganhar por 6-0, via-se no banco como que enfurecido, exigente, louco, sedento de golos, mais golos, de jogadas de ataque, de futebol. Começa no treinador a impressão digital da equipa. Quando, dentro de campo, a ganharem por 6 ou 7, os jogadores vêem o seu técnico na linha lateral a barafustar e a exigir mais, fica mais fácil a uma equipa tornar-se melhor. E este Benfica é-o, de facto. Muito pela qualidade dos jogadores que tem, evidentemente, mas inequivocamente pela qualidade do treinador que tem. E isso, para alguns que faziam a análise não ao seu trabalho mas à sua gramática, espero que esteja a ser um bom sapo de engolir. Ou oito sapos, se quiserem.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sublime!

Obrigado a todos os intervenientes que me proporcionaram uma noite de pleno deleite na Catedral...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Da parvoíce sem fim

Entre ódios ao cabelo do novo técnico - escondendo uma aversão de grau maior e que se caracteriza facilmente por uma aversão a treinadores feios e portugueses no comando do clube - e a usual desculpabilização com as arbitragens, uma parte dos benfiquistas já decidiu, após o empate à primeira (!) jornada, que este campeonato já era. Não temos hipóteses nenhumas, o Benfica assim fica em 10º lugar. Resta-nos suspirar por algo de inequivocamente divino, capaz de levar a equipa a um delírio futebolístico, um milagre, que permita uma época acima das nossas possibilidades e, assim, quem sabe, talvez consigamos uma qualificação para uma taça europeia no próximo ano.

Face a isto, a esta análise extremamente rigorosa, competente, séria e de uma inteligência sem par, nós, os crentes na qualidade do plantel e da equipa técnica, devemos falar baixo e evitar as frases reveladoras de burrice e optimismo exacerbado tais como: "apesar do empate, esta equipa mostrou em campo que tem qualidade mais do que suficiente para lutar pelo campeonato até ao fim" ou "o Benfica mereceu ganhar o jogo; não o ganhou, é certo, mas, do ponto de vista da evolução do jogo encarnado, estamos certos de que vimos trilhando o carreiro do sucesso e do bom futebol" ou ainda "talvez seja cedo para, na primeira jornada, e tendo nós tido uma avalanche de oportunidades de golo, deitarmos a inteligência ao chão".

Meus caros, não sejam burros. Com este pindérico ao leme, nem à Europa vamos. Despeça-se quanto antes o pária.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Déja Vú...

Ontem lá fui com a minha Maria à bola e saí de lá fodido com o empate. Passei o dia a pensar nisso, a lamentar os erros, em grandes disucssões com muitos benfiquistas, até que finalmente um me fez rir com um comentário em tom jocoso, mas muito certeiro, sobre o nosso Benfica. Uma vénia ao Elvecchio do SerBenfiquista:

"1 - Ainda durante o reinado de Quique Flores tentámos a contratação do GR titular da selecção argentina. Depois veio Jorge Jesus e abandonámos a ideia. Não entendo.
2 - Na pré época o "mestre da táctica" quis ver em acção os guarda redes do Benfica. Se conhece assim tão bem o futebol português não devia ser preciso. Mais estranho ainda é ter concedido a titularidade ao GR que mais golos sofreu na pré-época. Não entendo.
3 - Não vi erros defensivos suficientes do Shaffer que justificassem o seu afastamento do onze inicial. Curiosamente JJ colocou reservas aos dois jogadores contratados antes da sua chegada. Não entendo.
4 - Patric não serve. Certo! E Luis Filipe serve? Não entendo.
5 - Dispensa-se Sepsi e Ruben Lima sem assegurarmos primeiro um jogador para essa posição. O escolhido é Cesar Peixoto. Não entendo.
6 - Gasta-se 7 milhões num trinco. E depois não ha mais dinheiro para outras posições carenciadas. Não entendo.
7 - JJ concorda com 2 anos de renovação do capitão. Depois chegam Saviola, Keirrison e Weldon para juntar a Cardozo e Mantorras num total de 6 avançados. Não entendo.
8 - Escolhe-se o losango como modelo de jogo que implica laterais ofensivos para destruir os autocarros colocados á frente das balizas. Depois deixa-se Shaffer no banco para jogar David Luiz. Não entendo.
9 - Cardozo é o homem ideal para rebentar com as defesas compactas. Passa o jogo todo sentado numa cadeira e é Weldon quem abana com a defesa contrária e nos permite chegar ao golo. Não devia ser ao contrário? Não entendo.
10 - Fabio Coentrão jogou sempre bem em todos os jogos da pré-época. A titularidade no entanto é concedida a Di Maria que ainda ha bocado passou aqui em frente a minha secretária a fintar com os cornos enfiados no chão ... Não entendo.
11 - A equipa terá de jogar o dobro e depois de ter assumido que estava surpreendido pelos indices de qualidade apresentados nesta altura da época, a equipa entra a passo e com a mesma atitude dos anos anteriores. Não entendo.

Resumindo: Quem não consegue entender 11 coisas no futebol (Tantas quantos os jogadores da equipa) o melhor que tem a fazer é pedir pra cagar e sair que é que vou fazer!

domingo, 2 de agosto de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Love is in the air?

Quem me conhece da blogosfera, ou até dos poucos posts publicados aqui sabe que sou daqueles benfiquistas fanáticos, mas ao mesmo tempo extremamente críticos, algo que já me valeu insultos de muitos artistas por aí. E apesar de continuar a achar que LFV já devia ter ido à vida dele, de ter sérias dúvidas sobre a capacidade de Rui Costa como Director Desportivo, de achar que Jesus poderá vacilar perante a exigência do cargo, e de muitas outras dúvidas que tantos anos de desgraça me fazem ter todos os anos, há algo de diferente no ar nesta pré-época, tenho visto neste Benfica uma atitude que não via anteriormente. Não sei se é o voltar da mística, se é estofo de campeão, ou se é apenas resultado das tremendas pissadas que Jesus lhes deve andar a dar, mas parece-me que podemos ter uma época de 2009-2010 cheia de alegrias. Espero sinceramente que o mês de mercado que falta não vá levar nenhum destes jogadores, porque a equipa parece-me ter tudo o que é necessário para vencer. E eu apesar de ter chegado mais uma vez ao fim da época completamente desapontado, não resisti a renovar os meus 2 cativos, razão pela qual lá estarei a levar os meninos ao colo até ao título.

FORÇA RAPAZES, DEVOLVAM A GLÓRIA AO MAIOR CLUBE DO MUNDO!!!

domingo, 19 de julho de 2009

Previsões (venham de lá esses euros, se os tiverem no sítio)

Vivemos tempos estranhos. Parece que agora um jogador de 27 anos é um velho em final de carreira, acabado para o futebol. Mesmo quando passou 7 ou 8 dos 9 anos da sua (longa?) carreira a marcar golos de todas as maneiras e a dar outros de maneiras várias. Mesmo quando esse jogador, o tal velho perigosamente a caminho dos 28, se mostrou ser um privilegiado para a arte de afagar a redondinha. Mesmo quando, de velho, só tem em si a cultura ancestral dos que nascem com jeito para o futebol. Porque é disso, ou desse, que se trata: capacidade intrínseca - muito além do treino e da procura por rotinar movimentos ao longo da sua carreira - para pensar o jogo e executar mais rápido que os outros, os normais ou medíocres.
Este ano poderemos ver pelos campos portugueses um jogador que, há um ano atrás, seria uma miragem para qualquer um dos clubes que disputam o principal campeonato do nosso país. Um ano depois, é, para alguns mentecaptos, um velho em final de carreira. Este ano poderemos ver, isso sim, um jogador experiente, a meio da sua viagem pelos campos de futebol, mostrar aos que nunca o entenderam (a ele e ao próprio desporto) que velhos são os que procuram, a cada momento e conforme as situações e desesperos, a crítica acéfala e pouco fundamentada.
Previsão para a época de Javier Saviola em 2009/2010: no mínimo, fará 10 golos e 10 assistências. No mínimo.
Aos que vêem nesta previsão uma demência própria de benfiquista boçal estupidamente esperançado com mais uma promessa de pré-época, proponho que se cheguem à frente. E com dinheiro envolvido. Que é para que a opinião, à míngua de fundamento, tenha, pelo menos, a possibilidade de ser totalmente desfeita. E com um preço.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pandemia

Existe uma pandemia sazonal, para além da gripe A, que anda a contagiar o pessoal. Não há razões para alarme. Acontece todos os anos e não causa vítimas mortais. É a gripe Benfica H09N10, numa nova estirpe que surge neste defeso e que está associada a falta de memória desportiva e tem a sua origem, essencialmente, em tridentes atacantes fantasistas oriundos da América Latina. É uma doença divertida; deixe-se contagiar – se quiser eu espirro-lhe para cima – eu já apanhei o bichito!

O principal veículo de contágio são os jornais e as suas capas infecciosas. Lançam frases acutilantes como quem cospe perdigotos, com consequências letais. Dou exemplos:

Capa da bola de ontem:

“JESUS NÃO LHES DÁ DESCANSO”

“Treinador vive e pensa o futebol 24 horas por dia”

“Palestras convocadas à última hora e em momentos inesperados”

“Exercícios repetidos até à exaustão”

Estas frases são um atentado sanitário, e têm uma consequência devastadora no adepto Benfiquista. Em linguagem benfiquista, esta é praticamente a descrição de uma orgia. Aliás, a conotação sexual é evidente: “não lhes dá descanso”, “24 horas por dia”, “à última hora e em momentos inesperados”, “repetidos até à exaustão”!

E pronto, lá fica o Benfiquista todo excitado, com uma grande fezada em gloriosas e fartas pinadelas (leia-se vitórias) com muitos golos.

Vamos embora! Viva o Benfica!! Aaattchimmm....

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Não, não somos uma família...

Este texto começou por ser um comentário ao pertinentíssimo texto do Ricardo, com o qual concordo plenamente, mas achei que a coisa ganhava mais amplitude se saltasse para fora da caixa de comentários. Foi interessante a intensa troca de ideias que o Sr. Joseph Lemos desencadeou na dita caixa.

De facto, penso que todos os que aqui escrevem, bem como os que vociferam apaixonadamente por cafés e tascos deste país, gostariam de pertencer a esta maravilhosa irmandade: “Uma verdadeira família é una e indivisível e a manutenção desta harmonia só se consegue com a discussão e resolução dos seus problemas no interior do seu próprio seio”. Seria um privilégio. Eu próprio gostaria de ter participado naquele jantar onde LFV convenceu os órgão sociais a demitirem-se em bloco, provocando eleições antecipadas. Gostaria de ter debatido com ele a minha concepção de comportamento e ética a que o presidente do Benfica está vinculado. Talvez um de nós tivesse mudado de ideias!

Mas tal não é possível. E, por favor, deixem-se de sentimentalismos hiperbólicos quando as coisas são sérias. É óbvio que o Benfica não é uma família. Quando o Sr. Joseph Lemos o diz está, ingénua ou maliciosamente, a corroborar um disparate. Mesmo eu já devo ter proferido esse sentimentalismo, mas nunca quando o assunto é sério e racional. Repito, é óbvio que não somos uma família. Por mais que nos una um amor comum, família poderíamos ser se fossemos uns 20 ou 30 sócios e adeptos, se fôssemos um clube da terra. Como qualquer um entenderá, é impossível almejar um comportamento familiar quando nos aproximamos de duas centenas de milhar de sócios, milhões em simpatizantes. Nesta realidade não há debate em família, nem em privado. Tudo será, forçosamente, público. Por ser inconcebível LFV explicar-se em privado a cada um de nós, deve ter um comportamento irrepreensível, que não suscite as dúvidas que não poderá esclarecer. É como a mulher de César: não lhe basta ser séria, tem que parecer.

E isto é que deveria ser A QUESTÃO. Eu já nem quero saber se LFV é sério ou não. Já tenho como garantido que não o parece! Enveredar, junto com os órgãos sociais, por um caminho judicialmente dúbio ao mesmo tempo que opta por privar os sócios de outros candidatos à presidência é demasiado para a minha boa vontade, é mau demais!

Como o Ricardo, não compreendo este ataque endémico de miopia, que beneficiando, ou não, da falta de opositores credíveis ou da aversão dos sócios pelo voto em branco, permitiu resultados que sugerem uma acefalia generalizada. Mas sei que o discurso truculento e pouco escrupuloso de um presidente particularmente indecoroso neste capítulo, permitiu que a multidão perdesse noção do que se discutia verdadeiramente. Afinal, expressões que invocam o ataque à família, a tentativa de roubo do Benfica aos sócios e outras demonizações infantis da oposição servem apenas como cortina de fumo e vil engodo na tentativa de camuflar um último mandato muitíssimo aquém do prometido e exigível, bem como uma série de tomadas de posição e atitudes pouco dignificantes do nosso clube e sua história.

sábado, 4 de julho de 2009

O Templo do Povo

Um dos grandes mistérios da humanidade reside no entendimento da noção de idolatria por parte das massas em redor de um indivíduo. São vários os exemplos do passado a iluminar esta realidade e, embora os mais atentos estejam cientes dos constantes sinais de despotismo que os tiranos, desde muito cedo, alimentam, nem por isso a história se reescreve com novos capítulos nem com diferentes percepções dos indícios que perigosamente adivinham o futuro. É-me difícil assistir à cegueira generalizada das massas em função do seu líder tirano sem que, de dentro de mim, avancem aos tropeções cães raivosos em busca de um motivo, um só motivo que me faça explicar e entender a razão pela qual as pessoas, com ou sem olhos, sofrem de miopia no cérebro.
Assistindo ao discurso formatado de Vieira, na tomada de posse de mais um mandato no trono benfiquista, lembrei-me de um tal de Jim Jones, o homem que levou ao suicídio colectivo, em delírio e de livre vontade, um milhar de pessoas. Pessoas como nós, crentes e descrentes no mundo, pais, filhos, primos como nós, uns aos outros atirados, gente. O cerebelo engaiolado de milhares de pessoas na ideia de um homem e das suas loucuras.
Jim Jones convenceu o povo de que o caminho era ele que o conhecia e, com isso, permitiu-se todos os delírios que o mundo ainda estava para adivinhar: violência mental, violação física, humilhação, aniquilamento, desprezo e homicídio - tudo de forma perfeitamente natural e quase sem contestação (alguns, no fim da crença, desconfiaram do homem mas já seria demasiado tarde). Gente como nós. Pessoas como nós, que religiosamente seguiram aquele homem até à própria morte, desterrados na Guiana, entregues ao cultivo dos alimentos e ao desaparecimento da consciência e do pensamento próprio. No fim, devotados à causa, devotaram-se à morte e entregaram-se-lhe livres, inteiros e preenchidos por, com aquele gesto, seguirem viagem para o lado de lá com o seu líder. Entender isto? Não sei. Explicá-lo? Menos ainda. Só a certeza da incompreensão por tamanho delírio colectivo.
Ao ver o pavilhão da Luz repleto de benfiquistas em louca e desenfreada euforia, gritando "O Benfica é nosso até morrer", idolatrando em êxtase o tirano, não pude, não consegui, deixar de ver naqueles que gritavam a mesma alma de pedra daqueles que um dia foram ao encontro da sua própria demência, cruzando o canal do Panamá.
Ontem, 91,7 por cento dos benfiquistas votantes entregaram o Benfica a quem o desprezou, o humilhou e o desrespeitou. Ofereceram ao líder, de livre e espontânea vontade, a crença na obra feita - a obra dos terceiros e quartos lugares no campeonato (haverá tetra para a medalha de bronze?), a obra da mentira, do enxovalho, da contradição, da falsidade, da injustiça, da desvalorização do que é, ou do que foi?, este clube.
E o líder subiu ao palanque. Não riu porque os líderes não riem, não precisam. Leu o texto que o súbdito lhe escreveu e, ditas as banalidades que o povo queria ouvir, abandonou o local em ombros (mas cuidado com as intimidades), seguro de si e do seu próprio ego. Estava concluída a sessão.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Com este não vamos lá..."

Sempre defendi Jesus como uma opção certa para o Benfica, defendo-o agora e defenderei no futuro, desde que ele mostre tudo aquilo que eu dele espero. É importante falarmos sobre as nossas convicções. Principalmente, antes. Que é para depois não assistirmos a mudanças de rumo nas opiniões ou arrependimentos forçados, depois de o mal estar feito.

Cada vez tenho mais certo que o que falta aos benfiquistas é capacidade e conhecimento futebolísticos. Vão atrás de ilusões, de incompetentes que parecem muito amantes do Benfica ou muito bem vestidos e detestam os portugas do povo, os gajos que dizem asneiras, têm uma atitude desleixada. Não interessa se estes últimos são, do ponto de vista da análise da sua competência, os melhores. O que interessa é que no Benfica "os portugueses não ganham" ou "os portugueses não têm o mesmo espaço de manobra". O irónico disto é que quem diz e defende estes conceitos é o mesmo que comete o pecado. E então criticam: antes de ser contratado, dizem cobras e lagartos do homem; quando é consumada a sua vinda, dizem coisas como "agora é o treinador do Benfica, defendo-o até à morte", ainda que sempre gozando com as suas gaffes e deixando subliminares mensagens de que este não é o treinador certo para o Benfica; depois de uns jogos, começam a dizer mal por tudo e por nada; depois de 3 meses defendem a sua saída; quando finalmente é demitido regozijam-se, viram-se uns para os outros e dizem "eu não disse? este gajo não serve!", chamam-lhe nomes, arranjam epítetos engraçados e curiosos com que o vão tratar nos próximos 10 anos; e, depois, quando o treinador que se sucedeu ao ódio de estimação mostra que é incompetente e estrangeiro, vêm para a rua com ar triste, mas sempre negando que o outro realmente é que tinha qualidade - isto porque o benfiquista não gosta de admitir que estava errado. Mas alguns, poucos, vêm para a blogosfera dizer: "admito que cometi um erro".

Pois cometeste: falaste sobre o que não conheces. Achaste-te no direito de falar, da poltrona, sobre o que serve e não serve o Benfica, sem capacidade para analisar a competência de um treinador. Mostraste a tua ignorância e preconceito, supostamente em nome de um passado sem portugueses ou a moralidade dos estrangeiros em detrimento dos outros, os broncos. E o bronco, no fundo, és tu.

domingo, 21 de junho de 2009

José Torres, o Bom Gigante

O nosso grandão dos anos 60 tem uma doença degenerativa há já uns bons anos e a família tem tido dificuldades em arranjar condições financeiras para poder responder, da forma mais digna, aos requisitos que a própria doença exige.

Visto que a Fundação Benfica - que serve, essencialmente, para ajudar quem precisa mas parece não servir para dar a mão a um dos maiores símbolos da nossa História - não tem tido a atitude que dela se espera, proponho-vos o seguinte, na sequência de uma ideia que este blogue defende e que passa, em linhas gerais, pela aglutinação e dinâmica dos próprios adeptos em redor de causas benfiquistas:

- Combinamos um jantar em que cada benfiquista, no fim do mesmo, dará a ajuda que achar justa ou que puder disponibilizar. O dinheiro recolhido será entregue em mãos à família de José Torres. Sem abrirmos contas nem enviarmos o dinheiro para intermediários. Nós próprios, adeptos, faremos chegar o dinheiro à família do Bom Gigante.

O que acham?

Além de podermos contribuir para uma causa que devia ser tratada de forma mais digna por quem nos dirige, parece-me uma boa oportunidade de unirmos benfiquistas em torno da nossa causa maior, o nosso clube.

Dependendo da adesão que mostrarem na caixa de comentários, seguiremos (ou não) com esta ideia para a frente. Digam de vossa justiça.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vão dar banho ao cão!

Estive uns dias valentes longe das notícias do futebol. Seguiu-se uma reentrada na atmosfera futebolística turbulenta, com o forte impacto astronómico do regresso da constelação galáctica, ou a libertação do homem de longos e multi-coloridos cabelos por parte do Salvador, fazendo Jesus o prometido caminho rumo à Catedral. Deram-se ainda outras minudências, do foro dentário, que rasgam sorrisos saudáveis nos adeptos que não têm mais nada por que sorrir.

Mas quero confessar a minha desilusão por algo que se passou entretanto. Confesso-me profundamente desiludido com LFV, com o Benfica, com os seus sócios e adeptos, e, surpreendentemente, com a blogosfera benfiquista, que julgava com mais capacidade crítica. Preferia levar 10 vezes 7 secos do Celta, a ter que passar pela humilhação de ver um presidente protagonizar (com o apoio dos seus - não me ocorre outra palavra - lacaios) um golpe de teatro que evidencia o mais assustador apego ao poder, uma coisa digna de um qualquer líder birmanês. A humilhação continua: O principal adversário deste pobre de espírito já não pode concorrer porque não tem os anos de sócio. O quê? Isto é mesmo verdade? Eu não quero ser conservador ou retrógrado, mas convenhamos que é completamente despropositado que um benfiquista de 4 anos e meio seja uma opção válida. Se calhar (!), ainda não deu provas para lhe entregarmos o clube, não é? Vamos ter um bocadinho de decoro, ou não? A humilhação suprema surge de malta estar conivente. Chateada mas conivente. Os argumentos do LFV convenceram alguém? Foi isso? Com esta decisão provou falhar num critério eliminatório na escolha de um líder – pôr o Benfica à frente dos interesses pessoais. Vão todos dar banho ao cão - se me querem convencer que eleições agora, e de um momento para o outro, é melhor que em Outubro...vão dar banho ao cão...para não dizer outra coisa...

O Sr. Luís Filipe Vieira é, a partir de agora, e para mim, uma mancha na história do clube. Considero que os benfiquistas se deviam mobilizar na discussão de uma forma de extirpar LFV do cargo que ocupa e, eventualmente, de sócio do Benfica. Parece radical, não é? Mas pensem bem...é o mínimo que se pode fazer a um ditador: exilá-lo da sociedade (benfiquista).

P.S.: Partilho, integralmente, da opinião e ilusão (todo o benfiquista já usa este termo neste contexto) do meu amigo Ricardo pelo senhor Moniz, expressa no texto abaixo. Por isso esta minha fúria, expressa acima. É que, a julgar pelas palavras de Moniz, LFV, com o seu golpe, conseguiu privar-me do meu candidato. Isso é estrondosamente grave. Muito mais grave do que a pueril reacção dos benfiquistas dá a entender e, repito, devia ser impedido a todo custo e de forma implacável.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sou do Benfica e isso me envaidece

A minha primeira camisola do Benfica não estava preparada para evitar o suor que os braços e o peito em chamas destilavam, enquanto eu corria por entre o musgo e as ervas ou rematava de forma perfeita para as balizas que eram pinheiros que só podiam ser defendidas por guarda-redes gigantes.
Era uma camisola quente, com uma marca que não era a oficial e o próprio símbolo parecia estar a cair, meio descosido com a águia parecendo em voo para o céu, com os olhos virados para cima, para mim. Às vezes baixava a cabeça e olhava-a nos olhos, só para ver se ela continuava no meu peito. E depois corria com a bola nos pés, com as asas que ela me dava. Na parte de trás, o meu pai coseu-lhe um número, o 10, e lembro-me de vê-lo a recortar o pano, a pintar no pano os números e, no fim, coser na camisola o orgulho do número mágico, o número do Diamantino e depois do Valdo.
Antes de sair de casa, fazia como eles faziam: puxava os calções brancos para cima, ajeitava as meias e metia a camisola para dentro. Os calções brancos brilhavam, como os do Nené, e as meias encarnadas esperavam a luta de uma tarde contra a terra e o suor, descaindo ao longo do osso sempre que uma jogada mais vibrante as fazia querer o recolhimento junto às chuteiras.

Na plateia principal - que eram os bancos do parque -, o meu Pai e o meu Avô aplaudiam as jogadas de sonho que eu fazia rente à erva; uma finta a uma pinha, um remate contra o pote de resina do pinheiro, duas ou três cabeçadas por entre os ramos de uma oliveira e o público extasiava-se, queria mais. E eu fazia-lhes a vontade, sempre com aquele ar de orgulho de levar no corpo o manto sagrado. O que eles não sabiam é que só fisicamente eu lutava por entre oliveiras e pinheiros; na cabeça, brilhava em todo o esplendor por um relvado a 150 quilómetros de distância, um relvado sem pinhas nem caruma, com adversários às listas verdes e brancas, e um estádio cheio, de sangue colorido. Aquelas grandes árvores que serviam de balizas, dentro de mim eram postes brancos com redes e um guardião à espera de uma bola difícil - era por isso que sempre que me aproximava da área adversária, e mesmo não havendo quem a defendesse, eu procurava colocar a bola no cantinho junto à resina, não fosse o imaginário guardião gigante negar-me o golo.
Pelo Benfica, terei marcado uns 345.000 golos e terei dado a marcar não menos do que duas centenas de milhar de oportunidades de golo, que às vezes eram desperdiçadas porque os meus colegas imaginários (às vezes árvores decepadas) não tinham a qualidade de remate que eu evidenciava. Fui capitão do Benfica praticamente em todos os jogos e só não o fui em circunstâncias muito especiais, como as vezes em que a braçadeira estava na lavandaria ou aquela outra - que ainda hoje recordo como um dos mais negros dias da minha vida - em que o cão decidiu brincar aos capitães da areia, vestindo a braçadeira nos dentes. Joguei, contabilizando jogos no pátio, na estrada, na rua, na cozinha, no corredor, no parque, no pinhal, na eira, na ponte, no ervado e, mais tarde e mais a sério, no pelado e no relvado, cerca de 3 milhões de vezes, quase sempre de encarnado e quase sempre com a camisola do Benfica vestida.
Porém, tempos houve, e peço desde já desculpa a todos os que seguiram a minha carreira, em que vesti de verde. Foi no tempo em que em Abrantes não havia Benfica para os mais novos e eu ingressei no Sporting da cidade. Sim, assumo a heresia. Mas quem de vós o não teria feito se, no contrato, vos oferecessem aquilo que me ofereceram - hipótese de jogar num pelado enorme, a sério, com balizas que não eram pinheiros, marcas brancas direitas no campo, pedras que não as iguais às que vivem junto às pinhas (mas igualmente dolorosas), adversários que não árvores sem cabeça e público, umas 80 ou 90 pessoas?
Se ainda não estão convencidos, digo apenas isto e espero ser declarado inocente em tribunal: no fim de cada jogo, davam-me duas sandes de queijo e um trina de laranja. I rest my case.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sucessor de LFV?

http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/FR24250.pdf

Havia 4 hipóteses para Rui e pelos vistos ele vai pela 1ª. Já percebi que os projectos de Rui Costa valem tanto como os do seu antecessor, ou seja nada.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aí está o primeiro logo da nossa campanha!!!

Campanha SLB










Não se espantem se virem cartazes iguais a este no Marquês.





* Obrigado ao criativo da campanha, Paulo Cb, pelo trabalho desenvolvido.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Pobreza de espírito

O Benfica e a luta interna pelo poder. O LFV teve uma fantástica passagem pelo Benfica e, houve um momento, alguns anos atrás, em que poderia ter preparado uma saída, argumentar que tinha cumprido a sua missão e partir. Teria sido um ciclo marcante e teria ganho, com certeza, um lugar de destaque na história do clube. Talvez um busto em bronze, nunca se sabe! Mas não, tinha que se armar em político e fazer daquilo carreira. Para mim, um presidente do Benfica será alguém que se destacou dos demais no cumprimento da sua vida profissional e pública, e que, aliado ao seu benfiquismo de uma vida, vê esses louváveis atributos reconhecidos pelos seus pares, assumindo o lugar mais alto na hierarquia encarnada com o genuíno orgulho e motivação de servir o Benfica, e saindo antes de se servir dele. Um presidente deve chegar quando o clube precisa dele e não o contrário. Veiga e Vieira revelam-se ambos aquém deste perfil, pobres de espírito incapazes dessa nobre e desinteressada generosidade de que falo. São antes dois bêbados cambaleantes, sedentos dessa vertigem de poder que brota, embriagante, do trono benfiquista.

O Sporting. Bettencourt ainda me enganou durante uns dias, mas essa de que os treinadores de prestígio não fazem pré-acordos, entre outros sinais de arrogância, já vieram garantir mais do mesmo no futebol português. Pergunto-me se continuará com essa pobreza de espírito de ser a dama de companhia do Porto. Deve ser formidável ficar em segundo. Lembra-me a rapariga que era amiga da menina popular, que mandava recadinhos da amiga popular ao rapaz giro e que, no final, ficava com o amigo narigudo e baixo do rapaz giro...

O Porto. Clube com duas décadas praticamente sem par no mundo do futebol dos mais pequenos. Pinto da Costa, esse dirigente mítico, que alcançou num clube o que, julgo, poucos imitaram. E, ainda assim, quando vem ao estádio nacional para conquistar o troféu número trinta e sete mil, oitocentos e quarenta e dois do seu reinado, não se contém e vomita que gostaria de jogar na Luz para nós podermos ver bom futebol. Lindo! O gajo não consegue. É quase cómico. É, também, divinamente irónico. Essa mentalidade tacanha, mesquinha mas tenaz, esse orgulho de minoria, tão salazarista, é, ao mesmo tempo, o segredo do sucesso portista e a derradeira barreira para a sua grandeza. Por isso, o PC chega ao Jamor com uma irritabilidade menstrual, soltando bocas flatulentas e ressabiadas, evidenciando uma incapacidade para atingir o êxtase, a satisfação, a tranquilidade esperada após tudo o que conquistou. A razão é simples: na sua pobreza de espírito é incapaz de encontrar dimensão para ser grande, magnânimo, por uma vez que seja!

domingo, 31 de maio de 2009

No comments...

http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/PCT24157.pdf

A SAD do Benfica comunicou hoje à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) um resultado líquido negativo de 18 milhões de euros correspondentes aos primeiros nove meses da época 2008/09, segundo os resultados do terceiro trimestre.O passivo da SAD encarnada aumentou 20,48 por centoASF O comunicado enviado à CMVM refere que os 18.450.273 euros negativos contrapõem aos 3.684.109 positivos registados no mesmo período da época 2007/08, resultados justificados pelo aumento dos custos (41,5 milhões) e pela quebra das receitas (36,5 milhões contra 41,9 no ano passado).O passivo da SAD do Benfica totaliza agora 150.663.794 euro!!!

sábado, 30 de maio de 2009

Rambla pa'qui, rambla pa´llá, esa es la rumba de Barcelona

Este blogue agradece o futebol de rua visto na passada Quarta-feira, com a ligeira diferença de ser numa rua esverdeada dentro de um coliseu cheio com uns milhares a assistir, e vem proclamar o apoio ao melhor jogador do Mundo: Andrés Iniesta.




quinta-feira, 28 de maio de 2009

Quique, o mágico

Quique Flores. Mais um nome que fez manchetes, que encheu de esperança a nação benfiquista. Após uma época ridícula em que tivemos 2 treinadores e o Chalana, o cargo de treinador do Benfica tinha algo de bom, era difícil fazer pior, talvez por isso se explique o inacreditável apoio que o Quique teve quase até ao final da época. Treinador espanhol, jovem, não tinha grandes feitos no seu passado mas tinha conseguido resultados bastante razoáveis no Valência, o que a juntar à sua postura charmosa, ao seu bem falar, fizeram com que grande parte da nação benfiquista começasse ali a ver um potencial novo Mourinho. A mim confesso que desde o início a quantidade de vezes que ele repetiu a palavra “ilusión” me deixou na dúvida se teríamos o próximo Mourinho ou o próximo Luís de Matos, mas naturalmente que lá dei o benefício da dúvida como sempre.

Na pré-época houve coisas que me desagradaram logo. Todo o mundo teve oportunidade de treinar (até Edcarlos e Luís Filipe) mas houve pelo menos 3 que me pareceram um pouco postos de lado: Zoro, Petit e Adu. Se em relação ao primeiro nem me aqueceu nem arrefeceu, os outros 2 eram dos meus favoritos, e por isso a facilidade com que Petit saiu, e a vontade de despachar Adu não me agradaram nada. Claro que fica por saber se foi decisão sua ou superior, mas se um treinador aceita tudo sem se impor é um banana e não serve, se foi decisão sua ter que ver com os seus próprios olhos cepos como os que viu e nem sequer exigir uns treinos para o Adu, então é um nabo. Também decidiu não contar com Diamantino e Chalana. Decisão legítima, mas tem que abarcar com as consequências. Se eu for trabalhar para a China, se a empresa me colocar um tradutor à disposição e eu recusar, a partir daí não me posso desculpar por não perceber chinês. Infelizmente, por alguns banhos tácticos que Quique levou, deu para perceber que ele não fazia a mínima ideia de como o adversário jogava, ao contrário deles que conheciam o nosso futebol previsível de trás para a frente. Como se isto não fosse suficiente, veio a guerra com o Maradoninha, outro dos meus preferidos. Logo aí, se eu mandasse, entre Quique e Léo eu sei bem quem escolhia…

Passando ao futebol, apesar de alguns lampejos contra a lagartada e o Nápoles, o futebol apresentado não me entusiasmou. Começava-se a ver que seria um futebol razoavelmente eficaz contra equipas que assumissem o jogo, mas inconsequente contra quem não o fizesse, ou seja quase todas as equipas em Portugal. E mesmo algumas equipas que o assumiam conseguiam vulgarizar completamente a nossa equipa, como foram os casos do Gala e do Olympiakos. Entre os milhentos pecados que foi cometendo, vou tentar lembrar-me dos que lhe fui apontando, e resumi-los aqui:

- Filosofia de jogo muito à base da contenção e de transições rápidas, completamente contra-natura com o que o Benfica tem de ser;

- Total ineficácia na gestão da baliza, conseguiu passar a época sem dar confiança a nenhum dos GR;

- A dispensa de Leo conjugada com a titularidade primeiro do Jorge Ribeiro e depois do David Luíz fizeram com que passássemos grande parte da época debilitados no flanco esquerdo com a agravante de sacrificarmos o que podia (e pode) vir a ser um grande central;

- A aposta em Amorim na direita foi uma imbecilidade que nos custou o nosso melhor médio centro, e como se viu pelos jogos do Urreta tínhamos uma solução. Aliás, até teríamos outras, num Benfica mais atacante podiam jogar o Reyes ou o Di Maria no flanco direito. E goste-se ou não, houve um reforço escolhido por ele para esse lugar, se esse jogador falhou então ele será muito culpado;

- O duplo pivot para funcionar tem de ter 2 jogadores muito completos. Para mim só havia 2 no plantel (ou 3, no máximo) que podiam desempenhar bem o lugar: Amorim e Katsouranis. O 3º que me parece ter características para o lugar é o Felipe Bastos. Yebda é limitadíssimo no passe e no remate, Carlos Martins é fraquíssimo na ocupação de espaços, e Bynia está ao nível do Yebda. Perderam-se meses em que não se rotinou a melhor dupla, e isso podia-nos ter trazido mais pontos. E em certos jogos, certos momentos em que tínhamos de arriscar tudo por tudo, acredito que Aimar também podia ocupar uma das posições;

- As declarações sobre Reyes foram completamente inoportunas e a partir daí o rendimento do nosso jogador mais decisivo foi uma sombra do que vinha sendo. Reyes apesar de alguns alheamentos fez uma primeira metade da época em que se mostrou batalhador, motivado, o que conjugado ao seu incrível talento resolveu alguns jogos. Mas Quique é capaz de ter tido inveja de algum jogador aparecer mais nas capas do que ele, e com aquelas declarações parvas no Restelo perdeu um jogador, e que jogador;

- Aimar. Incrível como um ex-nº10 da Selecção Argentina pode ser um problema, mas Quique conseguiu. No seu esquema de 4-4-2 parece-me que Aimar só poderá funcionar num dos lugares do duplo pivot (perdendo-se alguma capacidade defensiva) ou numa das alas, desde que tenha alguma liberdade para flectir para o centro e exista um lateral com muita qualidade ofensiva. Mas Quique fiel ao seu esquema e à sua teimosia insistiu com Aimar a avançado. Foi triste ver o argentino no meio de jogadores corpulentos que o neutralizaram com alguma facilidade, vê-lo a finalizar mais (e mal) que a construir, conseguiu não tirar rendimento dele e queimar um lugar que tanto jeito teria dado a Cardozo;

- Suazo. O que disse a Aimar aplica-se a Suazo, se bem que por motivos diferentes. Este jogador podia ter feito uma dupla de sonho com Cardozo, mas Quique decidiu quase sempre jogar com ele e Aimar, fazendo com que Suazo tivesse que suportar quase todas as despesas de área. Quando nos víamos a ganhar era frequente ver Aimar recuar no terreno e a táctica era biqueiro para a frente para a corrida do Suazo, era deprimente ver o hondurenho completamente rebentado por andar o jogo todo a correr quase meio campo sozinho. E depois já se sabia, estivesse a 100% ou a 30%, ele era a primeira opção, Cardozo a segunda, o que tendo em conta que um é nosso o outro é do Inter, ainda se torna mais estúpido;

- Cardozo. Mesmo com todos os equívocos já referidos de Quique, uma coisa ficou provada neste final de época: com o Tacuara em campo as possibilidades de marcarmos golos e consequentemente ganharmos aumentam exponencialmente. Infelizmente Quique não descobriu isso, a lesão de Suazo é que o possibilitou. Nem quando foi assobiado por substituí-lo percebeu que era para ele;

- Mantorras. É coxo, não aguenta os 90 minutos, blá, blá, blá. Como o Trap percebeu mesmo com estas condicionantes todas Mantorras ainda pode valer ouro. Ou alguém duvida que em meia dúzia daqueles finais complicados de jogos com ele em campo havia sempre a hipótese de golo? Viu-se que Quique ficou surpreendido no último jogo da época, isso diz tudo.
Ainda podia falar do total desaproveitamento de Felipe Bastos e Urreta, mas o post já vai longo. E escusam de vir com a lenga-lenga de “no fim é fácil apontar os erros” porque quem me conhece e segue os meus comentários sabe que eu fazia estas críticas quando ainda liderávamos a Liga, não fui na “ilusión” tão publicitada.

Resumindo, quanto do descalabro foi culpa de Quique? Deve ele continuar?

Respondendo à primeira pergunta, muito. Apesar de reconhecer que hoje em dia no Benfica qualquer técnico se arrisca a ser queimado e não campeão, há uma série de erros de Quique que não têm nada a ver com as (in)competências de LFV e do Rui. Cometeu uma série de erros inadmissíveis, e mesmo num clube extremamente bem organizado corria o sério risco de fazer uma má época. E fez, aliás fez uma péssima época, a “sorte” dele foi como já referi entrar após uma época que roçou o ridículo, logo não era difícil melhorar um bocadinho, se bem que ele se esforçou. E não podemos esquecer que ele não sofreu com a saída de nenhum titular da época anterior, e ainda viu entrarem 10 jogadores que custaram mais de 2 dezenas de milhões de euros ao clube.

Quanto à segunda pergunta, defendo há muitos meses que as eleições deviam ser em Junho/Julho. Se fossem e tivéssemos um novo Presidente, defendi sempre que o Rui e o Quique deviam pôr o lugar à disposição, para que o novo Presidente pudesse escolher sem pressões financeiras. Caso fosse decidido dar um segundo ano a Quique por iniciativa do novo Presidente e o do Rui, tentando mostrar que os problemas do nosso futebol derivavam todos do LFV, eu iria aceitar respeitosamente a posição apesar de achar sinceramente que não ia funcionar. Acho Quique um fraco treinador, com graves problemas em termos motivacionais, e que revelou total ignorância sobre o futebol português, daí preferir a sua saída.

Por mim “vaya com dios” fazer companhia ao Nélson, não deixa nenhumas saudades.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O nosso Rui Costa...

Terminou mais uma época e é tempo de balanço. Farei um post para o Director Desportivo, outro para o treinador, e outro para os jogadores. Deixo de fora o Presidente por várias razões, por um lado acho que nem merece o tempo gasto, por outro vai haver eleições e cada um vota em quem quer, respeito a democracia.

Por uma questão hierárquica, começo pelo posto mais alto, o do Maestro Rui Costa.

Apesar de tornar este post (ainda mais) secante, obrigo-me a fazer um enquadramento histórico: Rui Costa foi o meu primeiro ídolo do futebol. A primeira camisola autografada que obtive é o nº10 da Selecção assinada amavelmente pelo Rui. Chorei inclusivamente algumas vezes com ele, como foi o caso do golo marcado contra nós na Luz. Torci pela Fiorentina e pelo Milão. Numas férias que fiz em Itália, quando passei por Florença, não desisti enquanto não descobri os transportes para chegar ao Artemio Franchi, apesar de estar a chover “cats and dogs” nesse dia, só porque sonhei ter a sorte de chegar lá e ver um treino do Rui (e do Nuno que também lá estava na altura). Não vi nada, não vi nenhum dos 2, mas era fã a esse ponto. E o “era” nem é um passado muito distante, ainda o ano passado, no final de mais uma época degradante, o Benfica fazia o último jogo em casa e eu já tinha jurado que não voltava a pôr os pés na Catedral naquela época, no entanto não resisti, lá convenci a namorada que já quase morria de tédio nos jogos a ir à Luz para nos despedirmos do Rui. Fui, quase vomitei quando vi fazer-se a onda num campeonato que terminávamos em 4º, mas pelo Rui tudo vale (valia?) a pena.

Tudo isto para dizer o quanto eu admirei o jogador Rui Costa. Pela sua classe, pelo seu talento, pela correcção demonstrada, pelo quase romantismo com que vivia o futebol foi um caso único de paixão futebolística. Mas a partir do momento em que passa para Director Desportivo, aí doa a quem doer tem de ser avaliado pelos resultados, seja o Rui, seja o Veiga, seja a minha Mãe, se desempenhar um cargo de responsabilidade no Benfica serei implacável na análise.

Tinha expectativas altas para o Rui. Julgava-o uma pessoa integra, benfiquista, e com alguns skills, pelo que pensei que muita coisa ia mudar na Luz. Confesso que este sentimento foi algo abalado quando alguém que conhece o Rui há largos anos me disse que ele era um vaidoso de primeira que se ia colar ao lugar como uma lapa, tal como o Vieira, e que nada ia mudar, o entreposto de jogadores e comissões na Luz ia continuar. Não quis acreditar, e continuo a acreditar que Rui põe o Benfica acima dos seus interesses pessoais. Daí eu ter esperado uma alteração radical da política desportiva do Benfica, acreditei que íamos começar a fazer 3 a 4 contratações cirúrgicas, apostar nos jovens da cantera, e tentar conservar a todo o custo aqueles jogadores que podiam transmitir alguma mística, já que foi assim que me parece que se construiu um Benfica vencedor, tão diferente deste Benfica que actualmente vemos a definhar. Para ajudar à festa, no início do seu trabalho teve mais de 20 milhões de euros para gastar, algo que aumenta as suas responsabilidades.

Dito o que esperava, vou dizer o que vi acontecer: a mesma merda de sempre. Voltou-se a deixar sair jogadores importantes (Petit e depois Léo), voltou-se a ignorar os jovens, voltou-se a fazer uma dezena de contratações, agravadas com o show-off de chegarem as estrelas em jactos privados a Tires como se de D. Sebastião se tratassem. Contratou-se um daqueles típicos técnicos “moderno, jovem, tacticamente evoluído”, mas que bem espremido nunca tinha ganho nada. Falou-se uma vez mais em “ano 0”, em “projecto de 2 anos”, e quase todos engoliram e bateram palmas porque era Rui que o dizia, logo era lei, como quase tudo o que ele diz. Infelizmente o campeonato não se ganha em Agosto, nem o trabalho do DD termina aí, por isso quando começou a bola a rolar assistimos a mais uma sequela de filmes já bem conhecidos, a gestão ridícula do caso Léo, o encostar de Diamantino e Chalana, a choradeira da arbitragem, a equipa desgarrada que ia jogando cada vez pior, e o triste fim de época em que ficamos sempre com a sensação que se a Liga durasse mais uns meses até a UEFA estaria em risco. Acaba-se mais uma época em depressão, e os resultados são cruelmente frios: 3º lugar, vergonhosa prestação europeia, e apenas a taça da cerveja para disfarçar.

É possível achar bom o trabalho do DD que com mais de 20 milhões para gastar está à frente da equipa que obtém estes resultados? Não vejo como, aliás penso que se em vez de Rui Costa fosse outro qualquer já estava na forca há muito tempo. Mas tenho a certeza que mais de metade dos benfiquistas acham que o Rui esteve muito bem e que “só” errou ao escolher o treinador. Infelizmente esse “só” custará uns milhões largos e mais um ano perdido. Eu não adopto essa teoria, porque é uma escapatória à Vieira, e a última coisa que quero ver é o Rui tornar-se igual a ele. Ou seja, chega ao fim do ano, corre com quem está abaixo dele, e tudo fica bem, o responsável maior passa incólume e continua. É o que Vieira tem feito durante anos e espero que Rui se desmarque já. Porque para mim só existem 4 cenários:

- Ou aceita mudo e calado que se corra com o Quique, contratando-se outro treinador nas suas costas, começando já o novo ciclo a gastar milhões em jogadores novos, e aí está a ser cúmplice de Vieira tornando-se farinha do mesmo saco;

- Ou assume publicamente que errou ao contratar Quique, assume todos os seus restantes erros, e mostra-se confiante que este ano pode ser diferente explicando em que é que consiste a mudança;

- Ou assume que o seu projecto era com Quique, e demite-se com ele, admitindo que as coisas no Benfica actual não funcionam como ele gostaria, e coloca-se à disposição para voltar a colaborar com o clube no futuro, caso outras pessoas com outra forma de pensar tomem conta do clube, e aí ganhará todo o meu respeito;

- Ou então, num cenário que me parece quase impossível, consegue a manutenção de Quique, defende o projecto de 2 anos publicamente, e aí apesar de eu achar que não trará grandes resultados, ganhará o meu respeito pela coerência demonstrada, e pela inversão de estratégia em relação ao Benfica de Vieira.

Resumidamente, ao fim dum ano não estou minimamente satisfeito com o trabalho de Rui Costa. Agora o que não sei é o quanto é responsabilidade dele, e o quanto está acima dele, mas duma coisa tenho a certeza: se ele continua caladinho ao lado de LFV, Paulo Gonçalves, e restantes elementos responsáveis no clube, então será julgado com eles, e com eles sairá em ombros, ou corrido pela porta pequena. Por tudo o que o Rui Costa jogador e homem representou, por mim espero que saia pelo seu próprio pé e volte a entrar pela porta grande, podendo na estrutura certa ajudar o nosso clube a voltar a ser o Glorioso que todos conhecemos. Rui, está na hora de mostrar se és um dos nossos, todos queremos acreditar que sim, e ainda estás perfeitamente a tempo de o fazer.

domingo, 24 de maio de 2009

Bipolaridades

Tenho um amigo lagarto que acusa os benfiquistas de serem bipolares. Sem querer concordar, experimento alguma inquietude face à classe evidenciada por Quique, especialmente nos últimos dias. Sabem quando um gajo acaba (se é que isso acontece) com uma gaja chata, mas dotada? Aquela coisa do “A gaja era burra, mas será que não estou armado em esquisito?” – sensação de arrependimento futuro, apesar do acerto da decisão, sensação de que estamos a mandar embora algo de que vamos sentir (muita) falta...estão ver? Se calhar não...

P.S.(para os menos esclarecidos): Estou só a tentar ilustrar uma sensação, não quero com esta analogia dizer que o Quique tem mamas fixes, ou que é bom a falar ao microfone – o que, por acaso, até é! Estão a ver... sensação lixada...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Este blogue vai a votos!

De há uns tempos a esta parte, este blogue tem sido alvo de ferozes comentários anónimos insurgindo-se contra aquilo que esses dignos comentadores acham que é uma forma subversiva de escrever textos. Na mente desses iluminados, a ideia geral que perpassa é a de que os membros desta tasca trazem consigo uma agenda própria e muito estudada no sentido de defenderem x, y ou z através de mecanismos subliminares de fino recorte artístico mas desvendáveis sob a luz que irradia dos focos dos cérebros anónimos. Argumentar a esses fiéis conspiradores que não passamos de 4 gajos que gostam de um clube chamado Benfica e dizer-lhes que o que nos move é tão-só o amor, a dedicação e a pornografia carnal pela cor vermelha é, já se viu, totalmente inconsequente. Não vale a pena persistirmos no erro de nos justificarmos perante tamanha exibição de clarividência anónima. Resta-nos, portanto, inventar novas motivações que justifiquem a razão de aqui estarmos para ver se, mesmo que os não convençamos, ao menos isto nos dê para rir mais um bocadinho já que a época foi de levar lágrimas aos olhos, mais uma vez.
E é assim que, na sequência de várias leituras de conspirações e conspiradores, eu, blogger Ricardo, representando o quarteto do Ontem Vi-te no Estádio da Luz, anuncio em primeira mão e em diferido ("on-liner", como diz o nosso putativo treinador, para quem nos quiser seguir via satélite de planetas só imaginados por Isaac Asimov) a candidatura destes quatro bípedes à Presidência do Benfica.
As linhas gerais desta equipa são simples e eficazes. Passo a esclarecer os sócios votantes para que nos não julguem parcos em ideias e estéreis em atitudes:
- O nosso treinador será sempre, ao longo do nosso mandato, um treinador português. Porque é mais barato (razão nada despicienda no momento de crise que o Universo atravessa), porque conhece todos os cantos deste bairro degradado que é o futebol português, porque terá a tendência para chamar jogadores portugueses de qualidade com quem trabalhou, porque o Benfica necessita de gente que saiba o que é o Benfica real e ao mesmo tempo conheça o que foi e o que pode vir a ser o Benfica glorioso, porque um treinador português será mais fácil de convencer quando quisermos ir beber copos, porque estamos fartos de estrangeiros medíocres (entenda-se: espanhóis com a mania da superioridade nacional esquecidos já da carga de porrada que, em tempos, levaram dos nossos que os fizeram sair daqui com o rabinho entre as pernas).
- O nosso Director Desportivo será sempre, ao longo do nosso mandato, um gajo que perceba de futebol. Ainda é cedo para lançarmos o nome mas garantimos aos honrosos benfiquistas que temos em carteira um nome consensual que trará ao Benfica não só o conhecimento profundo de todas as áreas ligadas ao futebol como também a noção de que só à batatada é que isto lá vai. Mentimos, temos já o nome: Rui Costa.
- Um cargo diferente, nunca antes visto em clubes de futebol, será inaugurado por esta equipa: o Prospector Universal. Alguém apaixonado por este desporto que domina, do Sudão às Maldivas, todos os campeonatos do Planeta Terra. Alguém capaz de, no domínio maravilhoso da prospecção, reconhecer num campo pelado da Suazilândia aquele trinco fabuloso que o clube precisa, a custo zero (ou, vá lá, a custo de uma feijoada e um jarro de tinto para o seu agente) e sem prejuízos para o nosso clube. Este cargo será ocupado por duas mentes que respiram, mesmo quando dormem, a arte de encontrar bons jogadores: Luís Freitas Lobo e Carlos Azenha. Perguntar-se-ão: "e ordenados para esses gajos?" Está já tratado. No contrato que temos assinado com eles, caso ganhemos as eleições, estão lá muito bem explicadinhos todos os termos: 500.000 vídeos de jogos entre o Burkina Faso e o Togo, desde as camadas jovens aos jogos puramente anónimos como são os que se passaram entre duas minas pelos locais ávidos de uma bola de trapos. Convencemo-los ainda quando lhes explicámos que podiam fazer as análises (com gráficos fabulosos!) aos jogos que se passam diariamente na Cidade Universitária, com o acrescento benéfico de nos descobrirem também aí algum lateral-direito que sobressaia.
- Um director de Comunicação que não seja careca, que não seja parvo e que não tenha a ideia estúpida de ir gozar com os nossos adversários para as conferência de imprensa. Muito menos um que leve uma Taça ganha com um erro do árbitro e que com ela ache que está a fazer um grande serviço ao clube. Temos esse homem: João Vieira Pinto. Não que seja um mestre na oralidade mas aqui pensamos mais no conhecimento de futebol e menos na eloquência verbal. Com JVP, teremos alguém a explicar correctamente a razão das tomadas de decisão do clube. Não está descartada a hipótese - está ainda em negociação, portanto não o afirmamos assertivamente mas quase podemos jurar - de Marisa Cruz ser a acompanhante em todas as conferências de imprensa.
- Uma equipa de futebol! É verdade: iremos ter uma equipa de futebol! Sim, um plantel, 22 jogadores! É aqui que sentimos que fazemos a diferença para as demais candidaturas. Procuraremos, portanto e no limite das nossas capacidades, conseguir uma equipa de futebol e com ela ganharmos coisas. Sim, achamos que é importante ganhar coisas.
Estas são as primeiras ideias que divulgamos. No futuro, outras serão lançadas para a mesa no sentido de todos os benfiquistas ficarem a conhecer todo o nosso projecto. Admitimos, neste momento, a agenda que fez este blogue nascer e, fazendo um mea culpa geral, esperamos que os nossos queridos benfiquistas compreendam que se o não fizemos antes foi por pura especulação, falta de respeito, egoísmo, estupidez e muito medo de que o Senhor Vieira nos chamasse de abutres. O senhor Vieira e todos os cães vieiristas que viessem atrás. Hoje sentimos que o nosso projecto é inatacável. Porque tem boas ideias e porque oferece a todos os que votem em nós 100 quilos de carnes argentinas - não falamos obviamente do Dí Maria que esse não dá nem para entrada.
Votem em nós! Especialmente os anónimos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tiro aos pratos

  1. Já está. O Benfas foi mesmo o terceiro a cortar a meta e acabou por demorar mais uma jornada para chegar ao inglório final. Até o LFV diz que não ganhámos nada, ficando a sensação que a Taça da Liga é um troféu mais metafísico do que real no nosso futebol.
  2. Depois de uma semana a clamar pelo Salvador, este foi traído pelo judas bronzeado e - como é exemplo a votação aqui a decorrer – já há malta pronta a crucificar a possibilidade anunciada.
  3. A verdade é que o peso do banco benfiquista já se fez sentir: Jesus já começa a parecer menos competente, e Quique, mais. Já nem é preciso um contrato para se começar a escolher a cova no cemitério encarnado.
  4. Sim, porque Jesus foi arrogante. Esquecendo o azar que teve no jogo, ficou patente que o treinador do Braga resolveu ignorar a receita, por todos conhecida, para contrariar o Benfica, e tirou da cartola uns truques e baldrocas que fizeram do Braga um dos adversários que mais se pôs a jeito às parcas armas do onze encarnado.
  5. Mas Quique não é bestial, e assinou mais umas quantas besteiras. Tantas alterações na penúltima jornada, com jogadores a trocar, regressar ou alternar de lugar, mesmo que acertadas, só sublinham o desnorte ou, pelo menos, a falta de estabilidade que marcou esta época.
  6. Quem vê Jorge Ribeiro a actuar no lugar que já foi de Léo, automaticamente recorda as palavras de Quique, remoendo os 90 minutos nessa paulada intelectual de que o brasileiro tinha a aprender com o português.
  7. Revelo-vos a palavra mais panisga da gíria futebolística: “acarinhar”. Começa por ser curioso como povoa o másculo léxico dos que giram em torna do futebol, mas fica tudo esclarecido ao ver o que um pouco de carinho fez ao Cardozo; é bonito...
  8. A incompetência e genérica falta de classe dos nossos árbitros é frequentemente subestimada. A arbitragem na pedreira de Braga, com amarelos a torto e a direito, conseguindo expulsar, por acumulação, um jogador em 12 minutos (nem que tenha sido o estouvado Yebda) é formidavelmente estapafúrdia. Ainda para mais, quando não mostrou amarelo no único lance violento de que resultou uma lesão (Katsouranis). Genialmente estapafúrdia, já que nesse lance ainda conseguiu amputar o Rúben Amorim ao último jogo da época. E eu digo que é subestimada porque se o jogo fosse outro, qualquer um duvidaria das intenções do árbitro. Desta vez, só pode mesmo ter sido falta de jeito, ainda que seja difícil de acreditar e, para o árbitro, mais humilhante!
  9. Mas foi mesmo a noite de Quique. Depois de levar na corneta toda a semana, de assistir à oficialização da descrença geral nas suas capacidades, eis que o espanhol prega com três castanhadas que deixaram Jesus de braços abertos, a barafustar com a equipa. E para coroar a noite, na conferência de imprensa ainda lhe perguntam pelo Atlético de Madrid: “Eu nunca falo com outros clubes quando tenho contrato (...)” – Olé!!
  10. Mas que venha o Jesus, que venha, VEM JESUS! Primeiro por que ando verdadeiramente intrigado com as estonteantes madeixas do senhor – tenho que ver aquilo mais de perto e de forma mais sistemática. Segundo, o nome é mesmo formidável e dar-me-ia um prazer monumental passar um ano inteiro a fazer trocadilhos rascas com o Senhor!!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vários estádios

- Numa altura em que os benfiquistas carpem as mágoas de mais uma época decepcionante, o treinador do "novo ciclo" está escolhido: Jorge Jesus. Esquecendo as razões calculistas e interesseiras da actual Direcção com esta escolha e a vontade de, contratando um técnico promissor com boa receptividade junto dos adeptos, ganhar mais umas eleições, diria que é, das opções avançadas e possíveis, uma das que mais agrada. Jesus é competente, é ambicioso, espera ardentemente a possibilidade de demonstrar num grande as qualidades que julga (julgamos?) ter e conhece como poucos a realidade tão específica do lamaçal que é o campeonato português. Por tudo isto, Jesus aparece aos meus olhos como a solução certa para treinar a equipa principal do Benfica. Mas não deixo de ter, bailando, dançando e sapateando, uma dúvida: por quanto tempo a massa benfiquista aceitará um treinador português? Outra dúvida: se Fernando Santos, que fez um excelente trabalho no clube, nunca teve os adeptos do seu lado, será Jesus capaz de operar um milagre na mentalidade daqueles néscios que assobiam jogadores, acenam lenços brancos, cospem na inteligência e comem doses massivas de boçalidade ao pequeno-almoço? Tenho dúvidas, mas está na altura de o Benfica não ecoar infinitamente sob as vozes da tacanhez de espírito. Está na altura de filtrar as opiniões. Que Jesus possa ter um eterno descanso. O descanso que os santos não tiveram. Que Jesus veja a Luz que Santos não viu. E prometo que esgoto aqui os parvos trocadilhos. Mas não juro pelos jornais desportivos.
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- Um benfiquista para cada boa acção que vê na direcção do Benfica vê logo outra má. Não há como enganar. Desta vez, depois da boa escolha de treinador, são as contratações de jogadores sem que o técnico tenha voto na matéria. Não sei quem é Álvaro Pereira, desconheço se é craque ou se é mais um Balboa (parece que custa os mesmos 4 milhões de euros), mas de uma coisa tenho a certeza: contratar jogadores antes de ouvir o novo técnico é um erro crasso na construção de um plantel. Erro que persiste ad eternum. Já vamos com dois laterais. Quantos mais virão antes de Jesus chegar pela primeira vez à Caixa Futebol Campus?
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- Quique sai pela porta pequena. Confesso que acreditei neste homem. Mais pela sua qualidade de discurso do que pela sua qualidade como técnico. No fundo, acreditei que a sua postura inteligente seria capaz de inundar a forma como o espanhol via e vê o futebol. Infelizmente, enganei-me, enganou-se, enganou-me. Quique nunca conseguiu demonstrar no Benfica ser capaz de ver o futebol através dos olhos universais, antes fechando-se na sua concepção de forma autista, teimosamente egocêntrica e nada condizente com a realidade. Não foi humilde, não quis aprender e com isso ganhou um bilhete de volta a Espanha. Acho bem. A estabilidade é um conceito que só pode rimar com competência e essa Quique provou desconhecer ao longo do tempo.
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- Na votação ali ao lado, Veiga domina a intenção de voto dos benfiquistas. Acho curioso, no mínimo. Há dois meses os resultados seriam tão diferentes que, tal como fico curioso com a votação, fico espantado com a força crescente da blogosfera. "Bastaram" uns textos do José Marinho no Mágico SLB para que a opinião pública benfiquista, de repente e sem aviso, tenha encontrado no homem do capacho do Luxemburgo a poção mágica de Panoramix para a debilidade benfiquista. Nem tanto ao mar, meus companheiros. Vieira não será seguramente o presidente eleito por este blogue, mas julgamos manter todos a desconfiança típica dos que se julgam inteligentes. Aqui, Veiga ainda não convenceu ninguém. E terá de penar muito para que algum dia o faça. Entretanto - e julgo que falo pelos meus caros colegas do Ontem... -, sabemos uma coisa: queremos mudar de pneus.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Agora Escolha!

O reinado de Quique parece estar perto do fim. Com a anunciada saída ficarão por responder algumas das questões mais pertinentes sobre o espanhol: Ele frequentava solários ou conseguia aquele tom de pele só à base de creme cenoura? Considerará o seu trabalho ao leme do clube encarnado livre de mácula, ou, no seu íntimo, já terá admitido a enorme arrogância com que encarou o futebol português? Nunca saberemos...

Entretanto, aproxima-se o sucessor. Esbatidos pela bruma Sebastianista vislumbram-se dois vultos a cavalo: Jesus e Scolari.

Sabe-se que ambos não desdenham o cargo. Quando entrevistado pelo repórter do Ontem Vi-te, Jesus foi igual a si mesmo: “Há muito que os méritos das minhas qualidades têm sido despreteridos pelos agentes do futebol e penso que com a humildade de mim mesmo e dos jogadores poderemos ganhar muitas vitórias para o clube! Estou disponível para ir viver para a cidade de Sport e trabalhar muito p’rá prole do clube!”. Quanto ao Sargentão, e quando questionado se gostaria de se sentar no banco benfiquista: “Claro qui sim. Eu gosto do banco benfiquista, e se para mim banco é caixa, a verdadji é que o centro de treinos do Benfica é Caixa, logo eu acho qui está certo. Agora há qui difender os mininos, há qui apoiá! Quem si considera benfiquista tem qui pôr uma bandeira do Benfica na janela, e tem qui ter uma águia como animal di estimação. Tem qui ser – só assim irei pró Benfica!”

Como no mítico programa da RTP2: Agora Escolha! No entretanto, um defeso quase tão empolgante como os episódios de "O Justiceiro" que animavam a votação...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Obrigado, futebol.

O futebol é um desporto maravilhoso. Tem tudo o que os outros só têm em parte. O jogo de ontem entre Chelsea e Barcelona veio mais uma vez, se fosse preciso, confirmar esta ideia. Para quase todos, os catalães iam passear classe, futebol apoiado e lances de génios para o relvado de Stamford Bridge. Para quase todos, o Chelsea ia suar para não ser goleado. Depois o que se viu foi um jogão sem mácula dos de Londres, capazes de aniquilarem na perfeição o jogo rendilhado do Barça, defendendo de forma sublime (sim, também se defende de forma sublime) e em bloco todas as investidas dos espanhóis. Mas talvez até isto fosse ainda previsível. Quase todos não contavam era com a capacidade de, defendendo mais alto, o Chelsea ter sido sempre, repito: sempre, a equipa mais perigosa em campo. Do minuto 1 ao minuto 93, o Chelsea deu um banho de bola não à equipa do Barcelona em si mas à ideia que o mundo tinha da equipa do Barcelona. E não foi preciso recorrer a medidas drásticas: "bastou" fazer daquele jogo um jogo de concentração total, possuir médios capazes de entenderem, a cada segundo, os momentos do jogo e as movimentações excelentes dos catalães. O Barça nem se pode dizer que jogou mal, não jogou, procurou fazer aquilo que faz sempre; o problema esteve no adversário que ontem encontrou, sublime a antecipar passes rasgados, perfeito na forma como os alas (principalmente Malouda no lado de Messi) recuavam em apoio aos laterais, cirúrgicos Essien, Ballack e Lampard na ocupação dos espaços, na teia que ia tecendo em redor dos médios do Barça - houve fases do jogo em que eu juro que vi Busquets, Keita e Xavi todos presos por um fio invisível mas forte toldando-lhes os movimentos. Se em Barcelona a estratégia não resultou (resultou no resultado mas falhou na tentativa de aniquilar o futebol do Barça e também na procura de ser mais incisiva em transição), em Londres o futebol apresentado foi de excelência e de... espectáculo. Espectáculo não é só ver o Messi a fintar 10 jogadores numa cabine telefónica; espectáculo é também, e principalmente, ver uma equipa, como colectivo, como uma entidade una com 22 patas a mover-se em campo, como um bicho de engrenagens mecânicas, dominar cada pedacinho de relvado. O Chelsea ia chamando os jogadores do Barça para a sua zona de acção e depois enrolava-o, como uma cobra, no seu viscoso corpo, abria a boca, metia-os entre os dentes afiados e ia degustando calmamente cada ofensiva barcelonista. No tempo certo, lançava os alas, insistia com os médios pelo meio, fazia recuar Anelka ou Drogba para meter nas costas da defesa os jogadores do miolo. E o Barcelona assistia, incrédulo, a tudo aquilo, incapaz de acreditar que tudo aquilo era possível, orgulhoso que estava de uma viagem recente a Madrid. É certo que Guardiola optou (mal) por retirar Henry de campo. Optou mal por duas razões principais: perdeu a capacidade inigualável do francês nas diagonais, no último passe e no remate mas acima de tudo abdicou do melhor do Mundo (Iniesta) na posição em que ele é o melhor do Mundo. Ainda assim, o melhor do Mundo viria a resolver a eliminatória.

sábado, 2 de maio de 2009

D. Rui Costa

Basta percorrer as linhas de vários livros que vão sendo escritos nos blogues encarnados para nos darmos conta de que ao Benfica pode faltar tudo mas não falta um D. Sebastião. Rui Costa, para os adeptos benfiquistas, é Deus na Terra e coitado daquele que se digne a dizer o contrário. Para estes, todo e qualquer projecto futuro do clube há-de ter a mão misericordiosa do maestro, há-de ser não a via que em seus fins procurará o apogeu do Benfica mas a poltrona óbvia e sucessória que acomodará o actual Director Desportivo no trono da liderança.
Compete-nos, no entanto, repensar este sebastianismo: que provas irrefutáveis sobre a evidência de que Rui Costa é o homem certo para o clube terão estes adeptos para tão grande demonstração de afinidade religiosa? Os 5 anos em que foi jogador profissional, os 12 anos em que, de longe, jurava amor incondicional a um clube que definhava em estádios vazios, goleadas sofridas por terras galegas e arranha-céus de jogadores medíocres que, por passarem perto do Estádio, eram logo apelidados de novos Eusébios? Compete-nos, não deixando nós de sermos, como qualquer homem de coração aquilino, ideólogos do RuiCostismo, entregar a emoção nas mãos do diabo e questionar: que caralho fez mais Rui Costa pelo Benfica que Chalana, Humberto Coelho, Veloso, Eusébio, Simões, Torres, José Augusto, João Pinto (esse mesmo), Nené ou Bento? A menos sabemo-lo bem: passeou aquela camisola pelos relvados menos dois séculos do que qualquer um destes. A menos sabemo-lo bem: gritava benfiquismo a partir de terras transalpinas enquanto os dessa lista falavam dentro de campo a língua do Benfica.
Urge, portanto, relativizar tudo isto e entender o sentimento dos caros adeptos benfiquistas como uma necessidade, em tempos de crise, de uma crença. Uma crença possível, a única crença, aquela que nasce de um país em ruínas, perdido entre a gloriosa memória e a entediante actualidade. Um país onde qualquer bípede que não seja conotado com outras fronteiras é tido de imediato como o grande e possível rei de toda a nação. Sem que se reflicta, sem que haja, do ponto de vista dos neurónios, mais actividade do que aquela existente em jogos no estádio do Sporting. Mas, tal como nos jogos no Alvalade XXI, as cadeiras às cores podem originar grandes ilusões de óptica.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Só um porquê:

Olá, vinha só fazer uma perguntinha aqui, como é que se diz, à blogoesfera:

Porque é que uns são castigados no imediato e outros dizem tudo o que querem, indignam-se que nem putos malcriados a quem o chupa lhes foi roubado e não lhes acontece nada?

Obrigado e bom dia.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O mito da recuperação financeira...

Como este blog já andava a ficar com muitos textos inteligentes e engraçados do Ricardo, venho espetar aqui uma seca sobre contas para verem o que é bom para a tosse :)

Pontos prévios:
Esta não é uma análise extensiva, é uma análise simplista que pretende focar apenas alguns pontos para que todos percebam o que na minha opinião é essencial;
Do que apurei LFV tomou posse a 3/11/03, pelo que a minha análise resultará da comparação entre o Relatório e Contas da Benfica SAD em 2003/2004, e o último que se conhece, ou seja o 1º semestre de 2008/2009.
No final da época poderei fazer uma análise mais completa com as contas anuais.

Principais dados dos Balanços:

O Balanço reflecte a posição duma entidade num determinado momento. Conforme o que referi em cima, a comparação vai ser entre 31/07/03 (uns meses antes da chegada de LFV, mas mais próximo que no final da época), e 31/12/08:

Total do Activo
31/07/03: 110.732.672
31/12/08: 161.059.599

Aumento de aproximadamente 51 milhões, dos quais 28 milhões são um aumento na rubrica “Plantel de Futebol”, e 16 milhões no Imobilizado Corpóreo, maioritariamente devido à construção do nosso Campus.

Total do Passivo
31/07/03: 83.966.121
31/12/08: 147.382.449

Aumento de aproximadamente 64 milhões (com as consequências que se verão a seguir), dos quais 45 milhões é um aumento das dívidas relacionadas com operações bancárias (que geram custos financeiros, como é evidente). Registe-se que em Janeiro foi feita a emissão do papel comercial no valor de 40 milhões, sendo que apenas 28 são para pagar empréstimos já existentes, pelo que se prevê um aumento relacionado com estas dívidas.

Total do Capital Próprio
31/07/03: 26.766.551
31/12/08: 13.677.150

Metade do que existia foi “comido”. Acrescente-se o facto do capital social da SAD serem 75 milhões para se perceber em que estado estão as nossas finanças. Aqui, valha a verdade que a maior “delapidação” é anterior a LFV, mas o facto de metade do capital que existia aquando da sua chegada ter ido ao ar não abona muito a seu favor. O Benfica tem preparada uma fusão com a Benfica Estádio para contabilisticamente resolver este problema, mas é disso que se trata, uma mera operação contabilística entre sociedades do grupo, nada mais.

Principais dados das Demonstrações de Resultados:

A DR reflecte a performance duma entidade num determinado período, que no nosso caso corresponde à época desportiva. A comparação vai ser entre a época 2003/2004 que apanha a chegada de LFV, e os 6 meses da época 2008/2009 que se conhecem.

Custos com pessoal:
2003/2004 (12 meses): Aproximadamente 26 milhões
2008/2009 (6 meses): Aproximadamente 17 milhões

A manterem-se os valores para a segunda metade da época (tendo em conta a poupança em prémios, á natural que seja semelhante), chegaremos aos 34 milhões, o que representa um aumento de 30% em 4 anos e meio, ou seja acima do crescimento médio de salários em igual período. E não me parece que a qualidade do plantel tenha crescido 30%, mas isso já será conversa para outra análise.

Custos Financeiros:
2003/2004 (12 meses): Aproximadamente 3.4 milhões
2008/2009 (6 meses): Aproximadamente 2.8 milhões

Iremos para os 5.6 milhões, mas tendo em conta que o passivo bancário aumentou mais que o dobro, este valor é “normal”, apesar de não deixar de ser muito preocupante ter aproximadamente 500.000€/mês de custos financeiros.

Prestações de Serviços:

2003/2004 (12 meses): Aproximadamente 35 milhões
2008/2009 (6 meses): Aproximadamente 24 milhões

Chegando aos 48 milhões não há dúvidas que se nota uma evolução nestas receitas, a que não é estranho o aumento de sócios, quotizações, cativos, etc. Infelizmente o Relatório de 2003/2004 não desenvolve muito este proveitos, pelo que não dá para fazer uma análise mais profunda.

Finalmente um rácio que considero vital, custos com pessoal/proveitos operacionais:
2003/2004 (12 meses): Aproximadamente 70%
2008/2009 (6 meses): Aproximadamente 66%

Este rácio ilustra quantos dos nossos proveitos operacionais, ou seja os “normais” em que se exclui venda de jogadores, por exemplo, são absorvidos pelos custos com pessoal. É um indicador chave, não é por acaso que quase todas as empresas em momento de crise atacam os custos com pessoal. A própria Deloitte, no brilhante estudo que fez sobre as finanças no futebol, salientou o evidente, são os elevados ordenados pagos que estrangulam completamente as finanças dos clubes. Seria positivo registar a ligeira evolução, mas na minha opinião este indicador nunca pode estar acima dos 50%, daí eu criticar tão veemente a inversão nesta área que aconteceu esta época, bem ao jeito de “fuga para a frente” típica do último ano de mandato de qualquer governante. É que em igual período da época 2007/2008, este indicador estava nos 48%, valor que considero excelente no nosso futebol.

Por esta e por todas as razões apresentadas é que não engulo o mito da recuperação financeira. Em alguns aspectos estamos piores que quando LFV chegou, noutros estamos mais ou menos na mesma. E temo sinceramente que o pior ainda se esteja para descobrir.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Andrés

Bola no meio campo, um anão com o pé em cima dela, 21 jogadores a correrem em direcção a pontos diferentes do relvado, uns mais do que outros, e os olhos do anão a ver aquilo tudo. Quase arrogante, o anão segue, pé ante pé, olhar ante olhar, fingindo ser difícil a arte de ver o que mais ninguém vê. A bola, no entanto, não precisa de óculos, fica ali, debaixo, de lado, à frente dos pés do anão e ele, como um oráculo, antecipa-lhe a dança. De repente, ainda os outros dançarinos continuam a correria sem fim, o anão aplica na bola um passe de linha recta (todos os passes do anão são em linha recta, mesmo quando são curvos) que encontra um dos outros que correm e, surpreendido este, atira para golo. Nas bancadas, louvam-se a ciência e o toque mortífero do marcador, os jogadores festejam junto à bandeirola de canto e o anão vai, saltitando, recolher o abraço de agradecimento. Ali agradece-se não só o passe mas o nível de q.i., não só a visão mas a superioridade moral para passear em campo. O anão tem direito a estar em campo porque ele é, mais do que os outros, o dono da verdade. Ele não é grande nem é forte, não é rápido nem sabe driblar 5 jogadores numa cabine de peep show; mas é ele quem, no fim, sai de campo com tristeza. Porque queria mais. Mais duas horas de jogo, mais tempo para lançar os dados, ver as cartas, rir-se do bom que é jogar futebol.
Como em tudo, há os medíocres, os bons, os muito bons e os melhores do Mundo. O anão faz parte daqueles que nunca será o melhor do Mundo. Porque é tão bom que o Mundo não teve tempo de olhar para ele.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O meu nome é Sérgio e hoje torço pelo Manchester

AVISO: Se só tem tempo para um texto e quer ler algo com qualidade, cheio de Benfica nas linhas, passe de imediato para o post seguinte: “Kentucky fried entremeada”.


O meu nome é Sérgio e hoje torço pelo Manchester!
Torcer contra uma equipa portuguesa num jogo europeu é sinal de tacanhice e pequenez, fraqueza moral e patriotismo ambíguo. Apoiar os portugueses na Europa é sinal de sensibilidade, responsabilidade e nobreza de quem o pratica, é (quase) sinal de evolução antropológica, afastando o protagonista de grunhos neandertais que mais não vêm que o próprio clube.
Eu cá discordo. Acho uma parvoíce. Passamos os dias da vida a racionalizar o mundo: racionalizamos dinheiro, trabalho, trânsito, crises, decisões e confusões e nem no escape do fim-de-semana, no futebol, se cansam de racionalizar. Não digo a gestão ou a organização da coisa; digo as duas horas passadas no estádio, ou em frente à televisão, digo essa patetice de se meter a razão em assuntos do coração.
Pergunto: mas vocês torcem mesmo pelo porto? Ou sporting? É que um gajo para torcer tem que gostar, querer! Não entendo isso! A mim o Manchester nem aquece nem arrefece, mas o porto? Epá, o meu coração mirra assim que os tripeiros sobem ao relvado...
A sociedade é dura, eu sei. Também eu já me armei em evoluído. Lembro-me perfeitamente do dia em que o fiz pela última vez: jogavam os mesmos porto e Manchester, em Manchester. Estava com amigos e o porto ia perdendo por um golo, e com ele as hipóteses de seguir em frente. Eu, ia dizendo alarvidades do tipo: “Ah e tal, coitado do porto, até merecia passar, que os ingleses são uns merdosos...” e nisto o camelo do costinha marca golo. Caíram-me os colhões ao chão e fiquei uns segundos a fitar o ecrã e os festejos – merda! Jogadores do porto a festejar?! Foda-se. Esta merda está errada! - É óbvio que passei os restantes minutos a torcer pelo M.U. mas o mal estava feito, e os gajos acabaram a ganhar a Liga dos Campeões. Nunca mais me perdoei...
Agora esforço-me por manter as coisas simples. Torcer pelo porto, qualquer que seja o atenuante, é como casar por dinheiro. É uma prostituição. É açaimar o sentimento, aparelhar o coração e encavalitar-lhe a razão em cima, feita bem maior, feita pontos da UEFA ou prestígio nacional. Há quem o faça, mas não é para mim; não tenho jeito. Durante aquelas duas horas dou o comando à alma benfiquista e ao coração escarlate e só chamo a razão em instâncias derradeiras, para prevenir males maiores. Dou um exemplo: Este Sábado via o Benfica no Grogs no Bairro Alto, e nisto o árbitro anula um golo encarnado, iludido por não sei o quê mais o teatro do guarda-redes da académica; o meu coração gritou-me logo: “Vamos já a correr ao estádio e espancamos até à exaustão árbitro e jogador!” – já vestia eu o casaco, interveio a razão: “Calma! Olha que isto a pé até ao estádio é um grande esticão. Quanto ao carro, está bem estacionado e quando voltarmos do espancamento o Bairro vai estar um pandemónio, não vai haver lugar. Além disso, acabaram de nos servir mais uma imperial e quando regressarmos vai estar pior que mijo. É melhor não ir.” - E fiquei.

Kentucky fried entremeada

Ali, onde agora vive um senhor mamarracho de nome Colombo, era um baldio de terras aos solavancos, couves, armaduras de príncipes antigos e casas da idade do Fernando Pessoa. Ali, onde a esta hora senhoras elegantes e meninas petulantes encontram mais uma fantástica bugiganga para encher a vaidade dos quartos e salas de estar, foi, um dia, um parque arcaico de estacionamento, um caminho tortuoso até à catedral e uma enorme sala de repasto benfiquista. Ao ar livre, como tinha de ser.
O carro estacionava-se a 2 quilómetros do Estádio e a partir daí punham-se galochas e enfrentava-se o lamaçal. Antes de chegarmos ao repasto, deliciava-nos todo aquele benfiquismo em forma de gente: grupos de 10, 15 pessoas faziam círculos imperfeitos em volta de uma fogueira, de um fogareiro e de uma panelona digna de reis que no seu interior aquecia e amparava um bruto cozido à portuguesa ou, para os mais sensíveis às vicissitudes das transformações gástricas, um belo de um caldo verde, recheadinho com chouriço do melhor que podia haver; para beber, tinto, que era a cor e bebida naturais de quem, por dentro, levava acesa a chama imensa.
Normalmente, eram homens, pais e filhos, poucas mulheres e ainda menos filhas. No entanto, a equipa feminina de cada família tinha também o seu ofício, visto que vinham das mãos delas os repastos que tanto aconchegavam o estômago e o coração dos seus mais-que-tudo. A fome e a sede, ali, naquele sítio onde hoje ardem galinhas de Kentucky e carnes do Sr. MacDonald, não eram mais do que a medida certa para o impulso de noites de glória. Começava com o ritual de comer e beber; acabava em goles de golos.
Para quem não levava metade da casa atrás, esta era uma visão que aproximava e apaixonava e servia de entrada ao que viria a ser a refeição, sentados que ficávamos em banquinhos corridos de madeira rodeando as casas de repasto, quase sempre entregues a famílias inteiras. O ritual era simples: fazia-se um rectângulo de balcões, em volta bancos para os benfiquistas não comerem de pé e lá dentro era uma festa de cerveja, vinho e cheiros de carnes com muita gordura. Para os meninos, trina de laranja, para os pais, vinho em barda, que a noite era uma criança. Nos entretantos, enquanto se trinchavam pedaços de entremeada, febras e as sopas iam ao lume, e regados, bem regados, a cerveja, a tinto, a branco e, para os mais friorentos, a abafadinho, discutiam-se onzes, dizia-se mal do treinador (sim, já na altura acontecia) e ansiava-se pela hora da visão gloriosa de um relvado iluminado por 4 focos de luz. Os pais faziam a sua pedagogia, perguntando aos filhos o nome dos 11 heróis que iriam entrar em campo, os filhos acertavam em 3 ou 4 jogadores mais conhecidos e de tempos a tempos até aparecia um que falava no nome de um jogador de um rival nacional. O pai não gostava, batia com o copo com força na madeira e gritava: "esse é lagarto, filho!" e o filho, que nunca se tinha apercebido de que os homens tinham a capacidade de se metamorfosear em répteis, bebia mais um gole de trina enquanto dizia para dentro que nunca mais abria a boca para dizer o nome daquele jogador.
E o mais bonito de tudo era quando, na mesma mesa, se juntavam avô, pai e filho. E todos eles, ali sentados em redor de um objectivo, apesar das idades, a sentirem o mesmo: a pulsação acelerada, a ansiedade, o nervosismo, a paixão. Todos eles com o coração da mesma idade.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Arte

Há uma arte no futebol a que o mundo da bola dá pouco relevo. É a arte de dar porrada.

Verdadeiros caceteiros pretendem, geralmente, duas coisas – meter medo e castigar. Serve o mesmo propósito pedagógico. A arte passa por conseguí-lo sem que o árbitro ou a televisão testemunhem. Uma grande referência é o Jorge Costa. Um senhor na arte de aviar. Do seu reportório destaco a arte de saber tropeçar no adversário quando este se preparava para escapar. E com isto evitar um amarelo. No Benfica, não há um único jogador que saiba fazer faltas. Talvez o menos mau seja o Katsouranis.

Mas existe um sucessor. Na minha opinião, já superou o mestre. Primeiro, porque é fisicamente mais capaz. O Jorge era lento e não conseguia levantar a perna acima da cintura e, como tal, não conseguia cravar pitons acima da cintura dos adversários atingindo-os a velocidades baixas. O Bruno não. Consegue elevar o pé à altura da goela do opositor e sendo mais ágil é também muito mais fluído – todo o lance se transforma num movimento homogéneo e plástico em que corre, projecta-se, corta a bola e aterra com uma zona dura numa parte frágil do adversário. Aquele lance, no último clássico, em que tenta pontapear o Suazo na sua área após ter sido pressionado pela bola exalta uma elegância que um bailarino de Conservatório não desdenharia. O seu domínio das Leis de Newton, fundamentalmente da Inércia e a sua aplicabilidade à arte de atingir articulações após disputas aéreas envergonha muito doutorado em Física Clássica.

O Bruno, nos últimos quatro anos a jogar em Portugal tem visto um cartão a cada 8 (8!) jogos (691 minutos). O caceteiro-mor do panteão benfiquista, Petit, um bípede, na minha opinião, muito menos mau, demorava 3 jogos (260 minutos). Entre os jogadores mais violentos/incumpridores encontram-se Suazo, Quim, Moreira, Aimar ou Reyes (Benfica) ou os carniceiros colegas Hulk, Lucho, Benitez (com apenas 4 jogos), entre outros...É ou não é arte?

Para os interessados (www.zerozero.pt):

Bruno Alves (todas as competições):

2005/2006 - F.C. Porto - 668 minutos (2 A / 1 V)

2006/2007 - F.C. Porto - 3185 minutos (7 A)

2007/2008 - F.C. Porto - 3360 minutos (3 A)

2008/2009 - F.C. Porto - 3150 minutos (2 A)

Petit (todas as competições):

2005/2006 - Benfica - 3832 minutos (17 A)

2006/2007 - Benfica - 2808 minutos (8 A)

2007/2008 - Benfica - 2293 minutos (9 A)

2008/2009 - F.C. Koln - 2229 minutos (9 A)


P.S.: É engraçado como sempre ouvi que o Petit era protegido em Portugal. Afinal, também é protegido na Alemanha. É preciso ter influência!