Quando eu deixar de acreditar na vitória do Benfica, seja contra que adversário for, atirem-me para a frente de um comboio ou, se não quiserem sangue mas o mesmo efeito, façam-me sócio do Sporting.
O racional pode dizer muitas coisas - como nos explicou, bem, o JC ali mais em baixo -, mas há um lado em mim (imagino que em todos nós) que não deixa nenhum espaço para a coisa pensada e reflectida. E ainda bem. Foi por esse tubo fino de bestialidade ancestral que, submergido nos anos 90, respirei quando em campo entrava o cabelo do Paulo Madeira ou essa avestruz escandinava de nome Martin Pringle.
Hoje tudo é substancialmente diferente. Mesmo a necessária fé irracional que pode aparecer nos momentos em que vemos uma equipa sem aquela luzinha mágica dos campeões tem um espaço próprio e muito mais cómodo: hoje, a 4 dias do dia mais importante das nossas vidas, respiro por uma mangueira larga de regadio. Consigo até produzir sons tubulares: Wiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitsel, Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaimar, Nooooooooooooooolito, Cardoooooooooooozo, Rodriiiiiiiiiiiiiiiiigo, Artuuuuuuuuuuuuuuuuur, Luuuuuuuuuuuuuisão, Gaaaaaaaaaaaaaaray e todos eles soltam para o mundo mas também para dentro de mim aquela crença que me faz saber - já não só acreditar, saber - que na próxima Sexta-Feira, com o apoio de gente grande (falo de cantar e gritar e levantar o cu do asfalto em vez da pose de quem está a assistir a um velório), iremos sair do Estádio da Luz com 4 pontos de vantagem. E que nunca mais sairemos da liderança.
Neste momento, após demorado luto e introspecção, esqueci os pontos que podíamos ter se tivéssemos sido mais competentes. Já não me recordo de onde viemos, o que podia ter sido ou o que acabou por acontecer. Já só penso em Sexta-Feira e na vontade que tenho que o Benfica comece a jogar o seu destino. Sem medos nem hesitações. Contra o temor idiossincrático dos últimos 20 anos, tenho fé num Benfica que, além de acreditar em si, tem vontade de subjugar o Porto, de o humilhar, de o deixar no chão. Não por ódio nem por outro qualquer sentimento demasiadamente fútil - deixemos esses sentires para os outros -, mas por querer o seu lugar natural na cadeia das grandezas.
O Benfica precisa - e é urgente, é para ontem - de demonstrar que a cultura de vitória chegou para, definitivamente, ficar. Não como um rasgo que logo desaparece no ano seguinte; não como um momento esporádico na época que se esvai quando se perdem pontos em jogos consecutivos; mas sim como um clube que aceita a sua dimensão, a respeita e faz dela o veículo para o sucesso desportivo recorrente e consecutivo.
Chega de medos, de temores, de hesitações. Somos melhores em tudo: adeptos, jogadores e treinador. Jogamos em casa, a família estará toda unida. Não há desculpas nem meias palavras. Nem sequer árbitros que possam mudar o nosso destino se entrarmos em campo com o coração à Benfica. Somos tantos, somos muitos, somos melhores, somos gloriosos, somos o Sport Lisboa e Benfica.
A distância do título não está a 7 ou 8 jogos, está a 1 - este. Se vencermos, ficaremos com 4 pontos de vantagem. Com o calendário mais apertado para o Porto, restar-nos-á (não sem dificuldades) cumprir as nossas obrigações mais básicas para que sejamos campeões. Não há volta a dar, companheiros: um jogo que vale 4 pontos não pode ter outro desfecho que não a vitória. Conhecendo a mentalidade de uns e de outros, um empate favorecerá os lá de cima. Não pode ser, não tem de ser e não será. Basta que para isso os jogadores saibam o que é o Benfica. Expliquem-lhes, façam vídeos, montagens, apresentações bonitas em powerpoint, saiam à rua, levem os jogadores à conversa com sócios e adeptos, entendam o que é o sentir e pulsar deste clube, compreendam o que nos move e descubram quem queremos derrotar de todas as formas possíveis.
O Porto é o anti-desporto. Representa a podridão do futebol. A maldade, a tirania, a corrupção, a mentira, a falcatrua, a falsidade, a pobreza de espírito. Ganhem pela vontade de vencer, ganhem pela génese da liberdade que sempre respirou no Benfica, ganhem pela verdade, pela bondade, pela amizade e ganhem pelas outras ades todas que andam por aí e são muitas. Ganhem por vós, que merecem este título. Ganhem pelo Jesus, que merece este título. Ganhem por nós, que merecemos e queremos poder ir à festa com a nossa grande família de milhões e milhões de almas num caos vermelho e branco. Ganhem pelos que estão no 4ª anel a ver os jogos numa nuvem-plasma com ligação directa aos nosso corações.