segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Terapia de choque

O jogo de Quarta-feira não é só mais um jogo. Não o é pelo adversário, não o é por ser onde é, não o é por ser "apenas" para a Taça e, principalmente, não o é porque é, historicamente, o jogo mais difícil, em termos mentais, que o Benfica tem desde há duas décadas atrás.
Jogar no Dragão é, para a nossa equipa, uma espécie de última fortificação psicológica depois de uma grande e exaustiva viagem: é o Adamastor para a nossa nau. 
Todas as questões tácticas que queiramos abordar para este jogo, embora relevantes e condicionantes do que poderá vir a acontecer, passam para um segundo plano se a questão mental não for ultrapassada. 
O Benfica tem um trauma profundo em jogar no Porto. Por questões históricas extra-futebol (ou que deveriam sê-lo) - como a chegada a um balneário infestado de excrementos, gente bizarra e violenta nos túneis das Antas, arbitragens deploráveis, recepção por parte dos adeptos com insultos e arremeso de objectos e mais um sem número de barbaridades que, ao longo dos anos, aqueles cães amestrados, de trela ao pescoço (mas sem açaime), espumando de raiva, a mando do dono, exerceram sobre os nossos jogadores -, mas também porque, dentro de campo, o Porto tem sido quase sempre superior - basta pensar que nos últimos 25 anos o Benfica ganhou apenas por duas vezes em terras invictas. E não chega desculparmos esta incapacidade desportiva à luz dos caricatos acontecimentos que vêm ocorrendo por parte daqueles energúmenos porque a um clube e a uma equipa como o Benfica exigem-se sempre a superação e a transcendência nos momentos difíceis.
Foi, aliás, numa das vezes em que cheirava a merda no balneário, em que a pressão dentro do Estádio (no relvado mas principalmente em zonas interiores dele) era sufocante, que o Benfica foi vencer o jogo e o campeonato com dois golos de César Brito em 1991. Aqui, o Benfica superou-se, encontrou, na adversidade, a razão para demonstrar a sua superioridade futebolística - e é sempre isto que esperamos do nosso clube. Que alguém ensine esta lição aos nossos jogadores e que eles entendam o jogo de Quarta-feira como a crucial oportunidade da época para, além de ganharem um novo impulso para o que dela resta, poderem fazer abanar a estrutura consistente que o adversário tem revelado.
Ganhar ao Porto, depois de amanhã, não será só ganhar ao Porto. Será ganhar uma segunda vida no campeonato, uma ida ao Jamor mas, fundamentalmente, será ganhar a todas as fraquezas mentais que o Benfica tem tido nos últimos 30 anos sempre que se desloca àquele terreno pejado de imundos acéfalos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Números que dão confiança para um futuro próximo

Com a vitória de ontem em Vila do Conde (2-0), o Benfica completou o seu 30º jogo oficial esta época. Curiosamente, ou talvez não - dado que a equipa sofreu de uma grave crise psicológica nos primeiros dois meses -, nem um único empate.
Esta curiosidade não é fruto do acaso, advém da capacidade que a equipa tem, quando em vantagem, para conservar o triunfo e da incapacidade que a equipa teve, quando em desvantagem, para conseguir dar a volta ao jogo ou, pelo menos, empatá-lo. Esses dois/três primeiros meses da época originaram quase na totalidade as derrotas sofridas - são 9 em 30 jogos, 7 delas até ao momento que marca a transformação da equipa, o jogo e derrota no Dragão.
Desde esse momento traumático, o Benfica jogou por 14 vezes, perdendo apenas duas, ambas para a Champions League. A nível interno, entre Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga, jogaram-se 12 jogos e por 12 vezes consecutivas o resultado pendeu para a nossa equipa, num total de 36 golos marcados e 7 sofridos. É uma série notável de um conjunto que devia ter começado logo desde o princípio com estes números e que, por uma série de razões já anteriormente apontadas, umas por culpa própria, outras nem tanto, acabou por hipotecar tanto a possibilidade de liderança no Campeonato como a prestação europeia, sendo que aqui ainda tem uma segunda vida para chegar ao sucesso.
O que não sofre nem pode sofrer contestação é a qualidade óbvia destes jogadores e desta equipa como colectivo. O futuro será o que nós quisermos que ele seja, desde que se mantenham (ou até melhorem) os níveis de concentração e intensidade e que se façam, pontualmente, alterações tácticas que procurem adaptar-se às especificidades de cada jogo. E, se possível, que David Luiz não saia e entre um médio de características diferentes dos que temos actualmente no plantel.

domingo, 23 de janeiro de 2011

75 minutos de luxo, 15 minutos de lixo

Duas ideias principais - uma boa, outra nem tanto - sobressaem do jogo de ontem e corroboram os indícios que a equipa vinha dando nos primeiros jogos deste 2011: a melhoria qualitativa do futebol da equipa, tendo períodos de beleza e classe impossíveis de igualar por qualquer outra equipa portuguesa da actualidade; consequência dessa qualidade individual mas sobretudo colectiva, a equipa deslumbra-se, ganha confiança em demasia e perde os níveis de concentração (aconteceu em Coimbra, depois da expulsão de um jogador da Académica, ainda na primeira parte, aconteceu com o Olhanense e aconteceu ontem, a ganhar por 3-0). Se a primeira nos deixa confiantes e orgulhosos no futebol que os nossos jogadores praticam, a segunda deixa-nos hesitantes em relação à real capacidade desta equipa em manter-se coesa durante todo o jogo quando chegar a fase em que um erro pode ditar o sucesso ou insucesso de um jogo e de uma prova. Mas são boas as notícias: é que, se o entrosamento e qualidade demonstrados em grande parte dos jogos são difíceis de alcançar (e alcançámo-los), a perda de intensidade em determinados períodos do jogo é, espera-se, facilmente reparada por quem dirige e treina. Aproveitem-se estes sustos para exemplificar o que não deve nunca ser feito e teremos Benfica até final de época em várias provas e vários desafios importantes.

Roberto - É o de sempre: bolas pelo ar para o segundo poste, não existe - ou sai mal ou hesita (ficando desde logo afastado da possibilidade de as defender), raramente as intercepta; bolas de frente, seja em remates de fora da área, seja a sair-se a um jogador isolado, é muito bom. Belíssima defesa a 10 minutos do fim.
Maxi - Está menos interventivo em termos ofensivos, mas justifica-se pela capacidade de Salvio em criar espaços. Defensivamente, cumpre, não andando particularmente inspirado em termos posicionais. Mas isso sempre foi assim. Comepensa com entrega total.
Luisão - Está numa forma soberba. Varre aquela zona toda com imponência. A acrescentar, uma fabulosa assistência de calcanhar para Cardozo no terceiro do Benfica.
Sidnei - Ainda não é o jogador competente que queremos ter quando David Luiz sair (será já em Janeiro?). Tem talento, muito, mas falta-lhe entender a forma como funciona a linha defensiva da equipa e melhorar no timing de saída aos adversários. A jogada que acaba com um jogador do Nacional em frente a Roberto é o melhor exemplo disso. Mas Sidnei só crescerá se jogar. E hoje até marcou e tudo.
Coentrão - Voltou a estar empolgante em termos ofensivos. A defender, esteve bem até que... perdeu duas vezes o duelo com o adversário nos dois golos do Nacional. Não se pode considerar essas falhas de somenos.
Javi - Perdeu menos bolas em zonas perigosas do que é normal, o que pode ser um sinal de que está avisado de que deve corrigi-las. Controlou a sua zona de acção. No resto, o mesmo de sempre: joga simples.
Salvio - Já é o jogador do qual os adeptos esperam que abra as defesas adversárias. Ontem, mais uma vez não desapontou: desequilibrou no lance que abriu o marcador. Além disso, foi sempre procurando os espaços e a profundidade. São fantásticas as cavalgadas pelo flanco, à boa maneira antiga. Às vezes lembro-me de Vítor Paneira, quando o vejo correr quilómetros junto à linha, com a bola sempre controlada. É um belíssimo jogador. Comprem-no. Se o Roberto custou 8,5 milhões de euros, não vejo onde está a dúvida sobre dar 15 milhões por este menino.
Aimar - Que grande jogo! Já há uns meses que não se lhe via um jogo destes (principalmente, porque esteve lesionado). Tem tudo: agressividade no pressing, poder de antecipação das ideias do adversário, criatividade, visão de jogo, inteligência. É um luxo ter este homem no nosso clube.
Gaitan - Eu já não sei o que hei-de dizer mais sobre Gaitan a extremo-esquerdo. Tirando o jogo de Leiria, em que esteve muito bem, o normal dele, desde o princípio de época, é isto: talento desperdiçado. Posicionalmente, melhorou, já acompanha mais o adversário e compensa as subidas do Coentrão mas é só. Tem um número de perdas de bola inacreditável, a decisão é quase sempre errada ou de risco (mesmo quando passa pelo adversário ainda na defesa, muitas vezes decide-se pela finta em vez do passe, que seria a escolha óbvia e mais segura). Expõe a equipa várias vezes durante o jogo a transições perigosas do aversário. Nas provas internas, e com equipas mais fracas que a nossa, isto vai passando. Na Europa, será suicídio persistir neste erro - que só é de casting por estarmos a querer fazer dele aquilo que não é nem será.
Saviola - Esteve no primeiro golo, com um remate forte, esteve no terceiro, recuperando uma bola praticamente perdida, e esteve no quarto, fintando, ganhando a linha e assistindo na perfeição Jara. Dito isto, dizer que não esteve tão bem na decisão em zonas de finalização. Podia ter marcado e assistido em algumas jogadas em que decidiu mal. Acontece, é humano.
Cardozo - Esteve bem na movimentação e fez um golo. Depois saiu. É isto, o paraguaio. Se os penalties a favor do Benfica, fossem assinalados (como são a favor de outros, mesmo quando não existem), o Cardozo já devia ter mais, pelo menos, 4 ou 5 golos. Ontem ficaram mais dois por marcar, enquanto em Aveiro o Porto ganhava 3 pontos com um lance que, sendo penálti, é muito menos óbvio do que os que existiram na Luz, tanto o cometido sobre Salvio como o que aconteceu sobre Saviola. E assim estão 8 pontos de diferença. Este campeonato é uma mentira.
Martins - A culpa não é só dele mas, poucos minutos depois de ter entrado, a equipa passou de um futebol notável para um futebol hesitante e displicente. Perdeu muitas bolas, algumas em zonas perigosas. Precisamos de um médio com outras características como Pinto da Costa precisa de uma cela.
Jara - Ainda peca por alguma euforia e sofreguidão demasiadas, sempre que entra. Mas está lá qualidade e capacidade colectiva. Dêem-lhe espaço para ir entrando. Ainda foi a tempo de marcar o golinho (segundo consecutivo, depois de ter marcado ao Olhanense).
Menezes - Teve frio.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sou do Benfica...

... e isso me envaidece.

Confissão

Pinto da Costa: "Do Benfica só queria o Elmano Santos".

Ora aqui está a confissão, na primeira pessoa, que este homem se dedica mais a comprar árbitros do que jogadores!... Será que é aceite em tribunal, ou é como as escutas?


P.S.: Levando o gajo a sério, e admitindo que o Elmano é do Benfas (aí é?), pergunto: será que isto quer dizer que é o único que lhe falta comprar?



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Procura-se médio

Uma das razões que levou ao mau início de época da equipa esteve relacionada com o mau planeamento e organização do plantel. Foram vendidos três jogadores fundamentais e para o seu lugar vieram cinco ou seis que ou não tinham a mesma qualidade ou tinham potencial mas não eram, ainda, jogadores totalmente formados. Esta queda qualitativa revelou-se fatal e o Benfica comprometeu, veremos se a título definitivo, o resto da época.
É também e fundamentalmente por isso que nesta reabertura de mercado interessava reajustar o plantel, comprando com critério e apontando cirurgicamente às deficiências do mesmo. E, entre as compras já efectuadas, que pelas características dos jogadores em causa revelam uma estratégia a médio prazo e não para o imediato, o problema mantém-se: falta um médio ao Benfica. Se era importante colmatar essa falha há uma semana atrás, com a lesão do Amorim, é, mais do que necessário, fundamental pra o sucesso da equipa nos exigentes quatro meses que nos esperam.
Neste momento, não há um único médio de construção no plantel. Há dois pivots defensivos (Javi e Airton), três alas (Gaitan, Salvio e Fernandez) e três médios ofensivos (Aimar, Martins e Menezes). Pensar o Benfica nos próximos meses sem um médio que assegure, nos muitos jogos de dificuldade acrescida que a equipa irá ter, estabilidade, segurança e equilíbrios no miolo é projectar o fracasso. Este cenário é-me incompreensível essencialmente por dois motivos: o clube no início de época e em Dezembro procurou contratar esse tal médio, pelo que não se compreenderá se até final de Janeiro o não fizer, porque revelará não uma lacuna na interpretação das deficiências do plantel mas a assumpção de que, não conseguindo comprar antes, abdica de procurar o equilíbrio do plantel por questões financeiras; o segundo prende-se com a questão táctica: achará Jesus que o Benfica terá sucesso se, nos grandes jogos, persistir em jogar com Gaitan e Salvio nas alas, sem necessitar de dar outro tipo de qualidade em posse ao meio-campo? Se sim, e parecendo um erro tremendo, mesmo nesse caso precisaria de alternativas credíveis (que não tem); se não, de que é que estão à espera para contratar o tal jogador de que necessitamos?

Pensar este Benfica com os actuais jogadores de meio-campo (Amorim provavelmente terá mais dois meses de recuperação) é projectar o fracasso. Não pela qualidade (que há em barda), mas pelas características dos jogadores que temos. Urge comprar alguém com outras características. E que venha preferencialmente de um campeonato europeu, experiente e com facilidade de adaptação ao modelo de Jesus.  

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Adoro o doce sabor dos golos logo pelo final de tarde...

Cheirou-vos ao ano passado? A mim também. Podemos considerar oficial: a equipa voltou aos níveis de intensidade do ano passado. Quando assim é, muito dificilmente se pode não perder contra o melhor futebol praticado em Portugal. Veloz, desconcertante, mudando constantemente de flanco desequilbrando a estrutura adversária, letal. Só não é igual num aspecto do jogo: as bolas perdidas. São muitas e em zonas perigosas. Aparecem mais agora porque os jogadores estão mais confiantes e arriscam mais do que no início de época mas é um ponto a ser revisto rapidamente. Contra outro tipo de equipa, mais evoluída técnica e tacticamente, perder tantas bolas em zonas cruciais do campo poderá ser fatídico.

Júlio César - Bem. Sem trabalho, praticamente. Tem, no entanto, de soltar a bola mais rapidamente. Isto não é o Belenenses.
Amorim - Grande, enorme jogo. Este rapaz, venha de lesão ou esteja a jogar constantemente, é um pêndulo. Jogue a médio direito, médio esquerdo, pivot, lateral, é sempre a mesma bitola. É daqueles para fazer carreira no clube. Repito: gostava de vê-lo a pivot defensivo.
Luisão - Patrão. Controla a sua área como quer e nos últimos tempos tem procurado subir mais no terreno, para dar opções no processo de construção. Indiscutível.
David Luiz - Voltou a exceder-se na forma como aparece na frente e procura os desequilíbrios ofensivos. Regra geral, quando o faz, cria desequilíbrios, sim, mas na própria equipa. No resto, no que faz bem, esteve excelente. Terá sido o seu último jogo de águia ao peito?
Coentrão - Podemos respirar de alívio. O de Caxinas está de volta. Que jogador monstruoso. Sobe, desce, aparece em zonas de finalização, logo a seguir está junto à defesa a cortar uma bola. Quem me (nos) dera que este ficasse por cá por muitos anos...
Airton - Bom aproveitamento da oportunidade. É muito forte onde Javi é fraco: na qualidade na posse e critério no passe. Tem de melhorar ainda a forma como se posiciona - por vezes parece esquecer-se de que joga sozinho naquela zona e descai sobre um lado. A médio prazo, se continuar a evoluir, tirará o lugar a Javi.
Salvio - Um jogo de intermitências. No cômputo geral, esteve bem, voluntarioso, aguerrido, procurando a profundidade umas vezes, outras iniciando a construção pelo meio. Mas perdeu algumas bolas. No resto, mais um golo marcado e esteve na jogada do último.
Martins - Depois da fraca prestação em Leiria, mais do mesmo. Um número incrível de perdas de bola, displicência total em campo, pouca intensidade e capacidade para aparecer em zonas mais avançadas a desequilibrar. Fê-lo uma vez: deu golo. Este Martins sem ânimo é desolador.
Gaitan - Era fogacho. Após uma belíssima exibição, ontem teve provavelmente uma das 3 piores desde que chegou ao Benfica. Defensivamente vem crescendo, e ontem até esteve bem nesse particular, ofensivamente foi, salvo raras excepções, uma nulidade: péssimas decisões, perdas de bola, cruzamentos mal tirados, egoísmo, sobranceria. Cada vez mais dá ideia que Gaitan é psicologicamente débil.
Saviola - Duas assistências e um golo. Nos últimos 7 jogos, marcou 8 golos. Mas Saviola é mais do que os números mostram. Muito mais. O melhor jogador do campeonato.
Cardozo - Mais dois golos. Qual deles o mais fabuloso? Leva 87 com a camisola do Benfica vestida. Tenho a certeza absoluta de que este ano chega aos 100.

Aimar - Foi bom ter jogado para ganhar ritmo, depois da lesão. Mas ainda está longe do Aimar que conhecemos.
Kardec - Procura movimentar-se, cabeceia bem e é só, por enquanto. Ainda não está feito jogador.
Maxi Pereira - Entrou para o lado esquerdo e não fez grande coisa. Melhor: fez. Um penalty totalmente estúpido. Às vezes tem estas paragens cerebrais.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ontem à noite

O talento organizado OU Gaitan como nunca o vimos

 Os nossos medos revelaram-se infundados: com Salvio e Gaitan nas alas, o Benfica fez ontem um dos melhores jogos da época. Não sendo brilhante em grande parte do jogo, foi ainda assim uma equipa totalmente organizada em campo, consistente, compacta, segura na rectaguarda, pressionante e dinâmica no meio-campo e criativa, embora perdulária, no ataque. É, aliás, na segurança defensiva e na qualidade de pressão que a equipa de ontem foi diferente de todos os outros Benficas que vimos esta temporada. Essencialmente por dois factores: maior qualidade nos movimentos de transição (defensivos e ofensivos) e a boa exibição de Gaitan (de longe, o seu melhor jogo desde que chegou a Portugal) - se ofensivamente, todos sabemos das qualidades do argentino, residia na sua incapacidade de entender o movimento defensivo uma das deficiências do jogo benfiquista. Ontem, Gaitan foi o ala que o Benfica procura desde o começo de época. Esperemos que tenha sido um crescimento sustentado na assimilação das ideias de Jesus e não apenas um acaso.
Ainda assim, como ponto negativo, destaca-se o número absurdo de perdas de bola em zonas de perigo que os jogadores continuam a cometer - especialmente Javi Garcia (recorrente em todos os jogos), mas também Maxi Pereira, Coentrão e Martins. Contra equipas mais letais, algumas perdas ser-nos-ão fatídicas.

- Roberto é Roberto, não mudou nada nas saídas da baliza: não me dá segurança nenhuma. Pode fazer bons jogos (e tem feito), mas há sempre a possibilidade de um erro a cada bola bombeada para a área (ontem teve mais uma das suas estapafúrdias saídas), o que obviamente não constitui perfil adequado a um GR do Benfica.
- O Maxi fez o pior jogo desta época. Inseguro, trapalhão, mal a defender no um-para-um e com um número de passes errados inaceitável. Tendo em conta a boa época que tem feito, foi provavelmente um momento menos bom. Não há razões para alarme. Mas ajudava ter no plantel outro lateral que lhe fizesse concorrência.
- Os centrais estiveram muito bem. Luisão, vindo de lesão, esteve intransponível e David Luiz fez bem o que faz bem e não fez o que faz mal.
- Desde o jogo no Dragão, Coentrão andava tímido, hesitante, pouco participativo nos movimentos ofensivos da equipa. Ontem voltou a ser o lateral fantástico que todos conhecemos. Esperemos que seja para ficar. Também passou pela sua exibição o bom jogo do Benfica.
- Javi - o pior em campo, ontem. Luta, agressividade, sentido posicional, tem; o que lhe falta, e ontem foi o expoente máximo disso, é qualidade no passe e critério de decisão. Se virmos estatísticamente a eficácia de passe do espanhol, deparamo-nos com um número elevado; o problema passa pelos momentos em que erra: quase sempre em zonas perigosas, com a equipa balanceada para a frente. Umas vezes porque falha o passe, outras porque perde a posse, exagerando no tempo de soltar a bola. Airton é, neste ponto específico, muito mais forte.
- O Salvio andou em boa parte do jogo ausente das luzes da ribalta. Mas não haja enganos: pela sombra, trabalhava bem os momentos defensivos e criava linhas de passe em construção. Quando os focos o iluminaram, fez uma assistência, criou o desequilíbrio no segundo golo (excelentes a mudança de velocidade e cruzamento), apareceu bem para finalização (cabeceamento ao segundo poste que passou perto da baliza) e atirou uma bola ao poste. É um diamante já não em bruto. E tem tanto ainda para crescer.
- Como disse atrás: Gaitan fez o melhor jogo desde que chegou ao Benfica. Muito capaz em termos defensivos (Jesus fala numa melhoria desde que Amorim entrou para a esquerda, mas discordo da razão: não era Gaitan o problema, mas Martins) e criativo e desequilibrador sempre que rasgava a ala. Tenho sido muito crítico da utilização deste talento puro naquela posição mas, tal como a crítica foi justa, é justo reconhecer que ontem Gaitan foi o médio esquerdo de que a equipa precisa desde que começou a época. Esperemos por mais jogos para ver se é fogacho ou fogo eterno.
- Não esteve bem, Martins. Perdas de bola, pouca agressividade sem ela, menor fulgor para aparecer na frente. Saiu bem.
- O que dizer de Saviola? Podia ter marcado mais? Sim, mas também podia ter jogado menos. Minto, não podia. Ele não sabe jogar menos do que bem. Às vezes joga bem, outras é genial.
- Este é daqueles que anda ali aos tropeções, a levar porrada, a saltar, a passar a bola com a cabeça, a cair, em esgares de quem está com caganeira e não pode rir. No resto, cabeceia para uma grande defesa do GR adversário, faz um golo e dá outro. É o Cardozo, olé, olé! É oficialmente o melhor marcador estrangeiro da História do Benfica. É fraquinho, dizem alguns. Ele responde com aquela cara de parvo que tem e com... golos.
- Amorim, bem. Entra para qualuqer posição do meio-campo e cumpre. Gostava de vê-lo, em certos jogos, a pivot defensivo. Traria outra qualidade e dinâmica ao momento de construção. Merece jogar mais.
- Jara tem vindo a ser mais produtivo e consequente. Ontem jogou menos de 10 minutos mas foi a tempo de fazer uma assistência. Como Amorim, merece mais minutos.
- Menezes jogou muito pouco, é quase impossível poder mostrar alguma coisa de qualidade. No entanto, pelo tempo que leva de Benfica e pela (pouca) vontade que demonstra em querer mostrar o que tem para dar, parece-me que em Junho deixará de andar de águia ao peito.

11 vitórias nos últimos 10 jogos de campeonato. Dá pena pensar naquelas 3 derrotas nos 4 primeiros jogos do campeonato. Não fosse isso, e estaríamos em cima do Porto. Ainda assim, eu acredito. Somos a melhor equipa a jogar futebol em Portugal. Passámos pelo trauma causado pela megalomania e prepotência de princípio de época, ganhámos confiança, melhorámos a consistência defensiva (embora ainda haja trabalho a fazer em termos de organização colectiva), falta-nos sermos mais letais na frente. Eu ainda acredito no Marquês de Pombal. 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Que seja o que Jesus quiser

Já é um clássico termos dúvidas sobre o pensamento de Jesus. O jogo de ontem, parecendo ao primeiro olhar poder dissipá-las por completo, veio trazer uma das grandes: Jesus apostou no nosso velho meio-campo desequilibrado porque realmente acredita ser possível conciliar Salvio e Gaitán nas alas como conceito para um onze-base ou apenas por acreditar que o Marítimo (e equipas similares) na Luz não tem qualidade para explorar as claras deficiências colectivas que a equipa teima em apresentar? Se a resposta a esta pergunta é a primeira hipótese, estamos tramados; se é a segunda, estaremos tramados a espaços, dividindo jogos em que golearemos com empates e derrotas, sempre que o tal adversário mais frágil tiver uma noite mais inspirada. Pela última vez: Gaitán e Salvio nas alas ao mesmo tempo... NÃO. Se o segundo, apesar de ontem ter tido momentos menos felizes, continua, teimoso, a demonstrar que merece a titularidade, o primeiro, embora seja o titular indiscutível de Jesus e tenha óbvia qualidade, persiste em provar que não é jogador para ficar preso na esquerda deste meio-campo. Que Jesus use Gaitán à esquerda, colocando alguém à direita que equilibre a equipa, estamos em desacordo (por remeter Salvio para o banco), mas ainda aceitamos a teimosia; que o faça, colocando Salvio mais vertical na ala direita, é, mais do que preocupante, intrigante e até - permita-se o devaneio - revoltante. A equipa abre buracos por todos os lados, permite transições rápidas do adversário pelas linhas, pelo corredor central, entre as linhas de meio-campo e defesa. Qualquer adversário mais capaz fará mossa num meio-campo com dois jogadores ainda em fase clara de adaptação aos automatismos e modelo de Jesus (ainda que, e insistimos nisto há muito tempo, Salvio esteja num patamar superior em termos de entendimento do jogo). Que o próprio insista religiosamente nisto, quase como querendo provar à exaustão não necessitar de um médio mais posicional, é daqueles mistérios que nem Poirot nem Gregory House saberiam desvendar.
O Benfica fez o que devia, entrou com a atitude correcta, respeitando o adversário e a competição, o que obviamente é aquilo que todos esperamos que a equipa faça em todos os jogos. A vitória é justa, de um onze com várias alterações e proposto a, depois de estar a ganhar com vantagem tranquila, "congelar" o jogo. Teve alguma sorte também, diga-se, e beneficiou de um adversário demasiadamente ingénuo defensivamente e pouco capaz de jogar com os espaços que o Benfica foi dando. Não se retiram conclusões praticamente nenhumas em relação ao que poderá vir no futuro, além da positiva agressividade com que os jogadores entram em campo e que parece estar, finalmente, assimilada por todos. O trauma terá passado - bom indício de sucesso. Falta agora dar o salto qualitativo em termos de segurança colectiva.

O Moreira esteve bem, gosto do Moreira. O Sidnei começa a ganhar ritmo, que é o que ele precisa, mas voltará rapidamente ao banco. O David Luiz tem tanto de bom atleta como de acéfalo, o que fará dele um eterno central do Benfica ou um flop de um qualquer monstro europeu. Fábio Faria sem ritmo, Maxi certinho. Airton, apesar de um ou outro erro, demonstrou ser uma alternativa credível a Javi Garcia - oferece até outras possibilidades e tem outras características que o espanhol não tem; a questão é que, neste modelo de jogo, Javi é a opção certa para aquela posição. Gaitán continua o mesmo: talento em barda deslocado e desperdiçado numa prisão em que ou reluz individualmente a espaços ou apodrece, perdendo bolas, abdicando do movimento colectivo ou até, coisa pouco habitual, fazendo maus cruzamentos - é uma heresia jogar amarrado. Salvio é o que se tem dito dele aqui, não é de hoje, embora as análises que se lêem por aí falem num jogador aparecido há pouco tempo (o futebol é esta caixinha de surpresas). Martins bem, embora ainda à procura de ritmo (uma curiosidade: fala-se muito no bom pontapé do Martins. Faz-me alguma confusão essa ideia. Para cada bom remate, tem 10 desajustados). Saviola é Saviola, recuso-me a fazer mais comentários. Foi o ano passado e tem sido este ano. Só que agora marca, deve ser por isso que já se lê por aí que está de volta o Saviola do antigamente. Kardec desiludiu. Peixoto simplesmente deplorável, embora para ele vá a minha solidariedade: se os adeptos assobiadores procuram criar um jogador totalmente desmotivado e incapaz de decidir, estão de parabéns, o homem já não consegue dar um passo no relvado sem se borrar todo nos calções. Amorim igual a si próprio, merece jogar mais. Jara mostra capacidade, agressividade, atitude, qualidade de movimentos, mas também mostra pouco entrosamento com os colegas, algum egoísmo, (ainda) inadaptação às ideias de Jesus. Mas faz-se. Não o queimem já. Já chega haver um gajo a deixar cagalhões pelo relvado.