segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

É só um cheirinho

Esta coisa de passar duas semanas sem ver o Benfica a jogar não deve ser lá muito saudável para a saúde, sabendo, no entanto, que o contrário - o que quer dizer: ver o Benfica a jogar - também é altamente repudiado por qualquer médico de reputação minimamente razoável. Há um comprimido que ajuda a passar a dor: estamos em primeiro no campeonato. Outro (mais forte): não estávamos em primeiro há 15 anos. Tudo isto deveria fazer de mim um doente feliz, com direito a visitas dos palhaços e cantorias mais ou menos esquisitas cantadas por pessoas mais ou menos esquisitas com manias de voluntariados e sorrisos colgates a cada virar de esquina. Não é, porém, o que se passa neste quarto de hospital. Há algo em mim que não consegue ser feliz - o que até não seria novidade, se abordássemos o tema do ponto de vista filosófico e metafísico mas não é bem por aí que esta conversa quer ir; não consigo ser feliz porque tenho medo do vazio, esse buraco insondável onde cabem Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Maio e uma intuição qualquer de treinador de bancada de rua que pensa que vai continuar a ver no relvado um Binya ou um Balboa, um Quique a procurar, contra tudo, todos e a própria realidade, um entendimento possível por parte dos seus jogadores sobre aquela espécie de táctica em que insiste e insiste e insiste ininterrupta e estupidamente como se não houvessem no mundo outras formas de mandar os homens estarem em campo. O gajo, quando andava na escola de futebol, a tirar cursos nível 1, alínea 3, ponto 4, versículo 6º do 9º salmo do novo testamento, deve ter passado os dias a atirar papelinhos com cuspo para o tecto. A única vez em que se dignou a ouvir alguém naquela escola foi uma vez em que um tipo qualquer falava em duas linhas de 4, desconcertante conversa que o interessou, tendo em conta que se falava que o tipo que abordava o tema costumava ser um gajo sério e não ratava muito. Os ouvidos do Flores ouviram e o cérebro pensou: "duas linhas de 4? A este preço, não nego!". E foi assim que, querendo comprar droga, o espanhol acabou a ouvir a única dissertação táctica de todo o curso. Aquilo ficou-lhe na cabeça de tal forma que ainda hoje julga que o 442 é a única maneira de jogar futebol. O meu avô é que me costumava dizer: "larga a droga, filho". Como eu não era seu filho, decidia não acatar o conselho. Pelos vistos, o Quique também não.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

100%

Pois é, este blog foi criado em 2008, e pela primeira vez em 15 anos o Benfica vai passar o Natal à frente. Acreditam em coincidências? Eu não.

Feliz Natal a toda a família benfiquista (e que logo tenhamos a prenda que todos desejamos e merecemos) e como primo pelo fair play, os votos são extensíveis a todos os loosers que vêm atrás de nós, mesmo aqueles que mostraram o seu espírito natalício ao agredir o desgraçado do motorista que por azar conduzia o namorado da Inês Simões.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Opção (muito) discutível

Gostava de dizer, ANTES DO JOGO, que não concordo minimamente com esta opção de Quique em deixar os melhores jogadores de fora e dar tempo e oportunidades a outros. Por várias razões:

- o Benfica ainda tem uma hipótese de passar à fase seguinte. É certo que muito remota mas real. Isto, só por si, devia ser razão suficiente para que entrassem em campo os melhores. A ideia de que desistimos de um objectivo (mesmo que ele seja praticamente impossível) antes de esse mesmo objectivo ser impossível, causa-me apreensão. O Benfica não pensa em impossíveis. Muito menos quando eles não são, apesar de tudo, impossíveis.

- Depois da eliminação na Taça de Portugal, seria importante uma vitória. Se possível, da forma mais clara que conseguíssemos. Ora, não é a meter as reservas que temos mais probabilidades de conquistar essa vitória. É fundamental evitar empates ou mesmo derrotas. Neste sentido, acho que é arriscar demasiadamente num plano que, se não der certo, deixará todos (jogadores, adeptos, dirigentes) ansiosos e pouco libertos para o jogo que tem de ser para ganhar frente ao Nacional.

- Se é para aproveitar este jogo para testar soluções (tanto na observação de alguns jogadores como na mudança de modelo de jogo), não se pode mudar mais de meia equipa. Ninguém testa nada mudando 6 ou 7 jogadores, isso está mais que visto em futebol. No máximo 3, um em cada posição, para ver como reagem os jogadores à equipa e não o contrário. Num ambiente colectivo mais forte, é mais fácil um jogador conseguir singrar e mostrar valor. Num ambiente em que se mudam, como dizem os jornais, Binya por Maxi, M. Victor por Sidnei, Bastos por Katsouranis, Balboa por Amorim, Urreta por Reyes, Gomes por Aimar e Cardozo por Suazo, para além de não se conseguir perceber onde a equipa melhora (se melhorar) corre-se o risco de ver em campo uma equipa desligada e de queimar, aos olhos dos adeptos, jogadores que, num ambiente mais favorável (com menos mexidas na estrutura-base da equipa), poderiam ser reais mais-valias.

Por mim, era meter a carne toda no assador e ir em busca dos 8 golos. Nem mais nem menos. E, se fosse para poupar jogadores, poupava os 3 mais utilizados. Não é razão falar-se na poupança de mais de metade da equipa quando o nosso jogo é só na Segunda-Feira. O Porto não jogou ontem? Não joga no Domingo? Os jogadores não são profissionais de futebol? Não ganham o que nós nunca ganharemos e não sabem que têm de jogar, por vezes, 2 e 3 vezes por semana? Essa conversa da poupança já chateia. Acho que até tem um efeito mais negativo que positivo metermos os titulares a descansar. Para além de terem perdido a eliminatória para a Taça, perdem ritmo de jogo e fome de vitória para esquecer o último resultado. Hoje seria o cenário perfeito para acabar com essa fome e preparar, com dinâmica de vitória, o jogo contra o Nacional.

Por tudo isto, discordo totalmente da opção de Quique.

Se já era quase impossível darmos 8, com a equipa que está escalada para jogar hoje, pergunto-me se conseguiremos sequer ganhar. E isso é arriscar em demasia.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Não, afinal quero ser jogador de futebol...

Na senda do magnifico texto anterior, resolvi também recuperar um texto meu, mais ou menos da altura em que o Ricardo escreveu o dele. Aliás, chegamos a comentar a coincidência de termos escrito sobre quase a mesma matéria praticamente em simultâneo...
Ctrl V
Decididamente devia ter sido jogador da bola. Porque é que não fui bafejado por um talento fenomenal e descoberto por um olheiro de um clube grande quando esbanjava magia nos improvisados campos do Largo da Feira? Dias inteiros ao sol e à chuva, na lama ou no pó, por entre calhaus e estendedouros de roupa, com bolas mais ou menos boas, normalmente más. Com amigos com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos, gordos, magros, com fome, asseados e menos limpos, ciganos e de outras etnias, para quê???
Mais tarde no campo do Matuzarense, eu de barquinho ao peito, electricista de coração, chegava na Casal de 4 e treinava no pó ou na lama, com amigos da mesma idade e alguns com habilidade para a coisa… Jogos no fim de semana, flatulências nauseabundas nas carrinhas e passear gloriosamente pelo distrito. E nem aí fui descoberto! Porque é que não abri o livro, como se diz na gíria, num jogo em que havia alguém importante a ver? Chamavam-me e diziam: “Vens para tal sítio assim assim, pagamos-te um balúrdio e tu só tens que jogar à bola todos os dias…”
Jogar à bola todos os dias e ter uma conta bancária volumosa… Que mais se pode querer?
Quando era pequeno e assistia a jogos do Benfica e quando corriam mal, uma das formas que tinha de me confortar era pensar para mim: “Não há problema, quando eu for grande, vou jogar para lá e ganhamos sempre…” Era com a maior das naturalidades que acreditava nisto. Porém cedo o sonho se foi desvanecendo e a percepção das minhas qualidades futebolísticas limitadas ajudou. Ok, não há problema, sou bom na escola, hei-de arranjar aí um curso que me pareça bom e ter uma profissão... Bom, agora que tenho o curso e a profissão, jogo à bola de vez em quando e não tenho uma conta bancária volumosa. Pois é…
Um dia destes estava num bar aqui em Vilamoura e vejo chegar um carro fenomenal: um Maserati não sei quantos com matrícula italiana… Quem é que salta lá de dentro enfiado numas calças coiso e tal, numa camisa xpto e com um relógio reluzente, portanto caro? O bronzeado Rui Costa, esse mago da bola, esse poeta dos relvados, para não lhe chamar maestro que isso toda a gente chama.
Ora eu, que não tive a fortuna de ser jogador da bola ali estava, a beber o meu cafezito, depois de um dia de trabalho num contentor de uma obra, a olhar preocupado para o galgar dos minutos, subtraindo mentalmente cada um que passava ao número de horas que me restava de sono. E o Rui Costa feliz, de férias, sendo que as férias dele, basicamente, são não jogar à bola por um período.
Foi depois disto e de ter cumprimentado o simpático e acessível artista que pensei: “Não, afinal quero ser jogador da bola… Ah, não, já não dá… Ok, amanhã às nove na obra!”
(Quem quiser falar sobre a taça de Portugal esteja à vontade... Que não pareça isto uma fugida com o rabo à seringa , what ever that means..)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fim de carreira

Provavelmente nunca contei isto a ninguém, mas eu já ganhei por 5 vezes a Champions League. Mentira: a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Perdi duas finais também, mas isso deveu-se ao acumular na barriga de pães com tulicreme e manteiga, levando-me a falhar os penalties decisivos por clara dor de estômago e desconcentração na hora de apontar por duas vezes (e em dias consecutivos!) os lances capitais do jogo. A bola não quis dar-me a alegria das 6ª e 7ª taças por capricho: na primeira, saiu alta demais, esvoaçando por cima do muro, indo rebolar pela barreira abaixo, apenas parando lá no fundinho, onde o Zé Careira vivia com os dez cães; na segunda vez, eu estava avisado, e decidi – no penalty que decidia tudo – bater a bola a meia altura, com efeito para o lado esquerdo, para que ela não subisse – saiu perfeita, longe do alcance do guarda-redes, mas, infelizmente, vi-a esbarrar-se no vaso com orquídeas. “ao poste!”, gritou o guardião, e eu fiquei na zona de penalty marcado com uma bola branca de cal no chão a olhar o prédio em frente: estava perdida a segunda final da minha vida.
Apesar da desilusão por ter perdido em dias seguidos duas finais dos Campeões Europeus, sabia que o meu trajecto como jogador estava, ainda assim, muito acima do que era esperado. Tinha vencido por 5 vezes o troféu mais ansiado por todos, tinha sido considerado o melhor jogador de todas as 7 finais que havia disputado. Estava na hora de arrumar as botas.
Nesse dia em que a sorte não quis nada comigo, enquanto das varandas dos prédios as pessoas me aplaudiam de pé, enquanto o cão vinha pedir uma festa e consolar-me, no meio do pátio, em cima da linha de meio-campo, eu agradecia aquele apoio incansável ao longo de duas longas semanas àquele público fantástico, agradecia especialmente à senhora que bebia suminhos de laranja na varanda do topo sul, agradecia o apoio incansável daquela empregada que esticava a roupa na varanda da Central e, emocionado, abandonava o campo com o sentido de dever cumprido.
Abandonava o futebol já veterano. Sentia que a minha altura tinha chegado. Os meus 12 anos não me permitiam manter o nível exibicional que até ali tinha deliciado a plateia. Saía triste por abandonar o futebol, mas feliz por tudo o que o futebol me tinha dado. Tive propostas para jogar em campeonatos menores, como o campeonato semanal em Vale de Rãs e o 24 horas no pavilhão do Pego, mas achei, na altura, que o pão com chouriço e o sumol de laranja com que me acenavam para prolongar a minha carreira eram insuficientes. Apesar de tentadores, não os achei suficientes para que a bola continuasse a rodar sob os meus pés. Além disso a família pedia-me encarecidamente que voltasse. Que voltasse a casa. E eu acedi. O jantar já estava frio.

[Este texto já tinha sido postado no meu outro blogue, Um Homem Não Chora, mas achei que fazia sentido recuperá-lo para um lugar mais futebolístico. Qualquer queixa que queiram fazer, façam o favor de se dirigirem ao Paquete de Oliveira deste blogue, que não existe mas que, ainda assim, receberá com agrado e dedicação as vossas palavras.]

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Talvez porque foi fácil...

Ganhamos este fim-de-semana! É curioso, estive sem acesso à net durante o fim-de-semana e pensei: “A malta lá do blogue de certeza que vai escrever sobre esta retumbante vitória, devem estar excitados com isto…” Chego aqui… E nada!
(Mais tarde veio o post do Americano, mas que não se refere à vitória de Domingo…)
É estranho como reagimos com tanta naturalidade a uma vitória por seis a zero. Eu falo por mim… Pelo contrário, cada vez que os gregos marcavam mais um no outro dia, era uma faca que me espetavam no peito. A dor crescia a cada golo e quando o jogo acabou fiquei numa tristeza profunda, pelo menos durante umas horas. Mas agora, cada vez que dávamos mais uma ao Marítimo, não regozijava proporcionalmente à tristeza que acumulava, quando encaixava mais uma dos gregos… Visto do lado do goleador, pareceu-me tudo muito normal. E pensava calmamente: “o futebol é assim e tal, os gajos também tiveram azar e a gente sorte, na volta ainda levam outro…”
Será que reajo assim por ser benfiquista? E porque, mesmo que nos últimos anos não tenha tido muitos motivos para celebrar, exista uma qualquer áurea de vitória, associada a este estádio evolutivo, que me leve a interpretar com naturalidade uma vitória por 6-0? Não, deve ser porque gosto de coisas difíceis…

Líder

Não podia deixar o nosso blog passar em claro a primeira liderança desde que existimos. Aliás acredito que a partir de hoje, e em homenagem ao "Ontem vi-te no Estádio da Luz", o Benfica não mais sairá desta posição, se for o caso encontramo-nos todos no Marquês, ou na Catedral, ou em ambos...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A frio...

Com tudo o que se tem passado nos últimos dias, com tudo o que se tem dito, queria deixar bem claro que, na minha opinião, o Benfica só tem um caminho a seguir: Continuar! E nisso em tudo subscrevo e faço coro com o que disseram os meus caros colegas de blogue. São, de facto, gajos formidavelmente inteligentes e perspicazes!

Mas existe um mas. Existe quase sempre, não é?

E o meu mas é o seguinte: É que um gajo tem olhos na cara. Um gajo já assistiu a três ou quatro épocas de futebol cá do burgo. Sem que isto retire um grama ao apoio que me merecem dirigentes e equipa técnica, há este mas: Era possível fazer melhor...
Qualquer um de vocês já viu fazer melhor. Sim, com estes jogadores e esta conjuntura, vocês todos têm que concordar que era possível fazer melhor, e não é preciso invocar nomes de gente especial. Isto também não quer dizer que o Quique seja incompetente, ou que não tenha qualidade para o nosso Benfas – não, não é isso, é futebol, é simplesmente futebol. Mas, era possível fazer melhor. E isso dói. Dói que se farta, por exemplo a mim, que escondia no discurso prudente a angústia inocente de um coração que acreditava nas vitórias do clube que carrega dentro dele. E como eu não falo em nenhum programa de televisão, e como não escrevo em nenhum jornal e como as minhas palavras só têm eco entre nós, vou ter que gritar sempre que as facas se espetarem na carne, é visceral, é humano.
Agora não me venham dizer que não era possível fazer melhor. Era! É! Aliás, é essa a minha esperança. Esta equipa não precisava de ter passado (e nós por arrasto) pelo que passou. E a culpa não morre solteira. Muita dela tem o nome do espanhol patilhudo. Muita mesmo. Naturalmente, tal não me vai impedir de continuar a aplaudi-lo. E à minha equipa. 

Agora uma coisa é certa: o Benfica de Trapattoni dava na boca a este (só por 1-0, com golo de Mantorras)... e isso não deixa de ser, como dizer, desagradável.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Qualquer coisa...

O leitor mais atento já se deve ter interrogado:”Então mas supostamente há mais um gajo que escreve e nunca vi nada dele?!” Tem razão, ou tinha até há instantes. Esse outro gajo é este que vos vem maçar pela primeira nesta bela taberna.
Esperava poder estrear-me em melhor hora e aguardava por isso mesmo, que esses bons tempos regressassem para poder explanar aqui o meu futebol de letras (e aqui letras são mesmo letras e não aquela espécie de arte que o Aimar executa).
Já deve haver quem pense: “Pois, este é daqueles que só quando as coisas vão bem é que apoia e se manifesta, quando corre mal não sai da toca (ou ninho para nós aves de rapina).” Não é isso, é que ao contrário de certos poetas que procuram a melancolia e sentimentos soturnos para se inspirarem, a minha inspiração é mesmo a glória do Glorioso. E não havendo essa fonte, seco também…
Depois desta introdução descontraída, talvez para amenizar o clima tenso que se vive por aqui, gostaria então de concordar com o Ricardo e com o seu post anterior. De facto, a equipa e o treinador precisam de tempo… Sim, é verdade que se podem enumerar algumas situações pontuais em que claramente se verificaram erros de Quique na análise ao jogo e de determinadas escolhas goradas. Mas na minha opinião, resultaram exactamente do facto deste ainda se encontrar num estágio de aprendizagem e/ou habituação da peculiar realidade que é o futebol português.
Depois de esfriados os ânimos (ou desânimos) que estes últimos desaires nos provocaram, acho que podemos e devemos continuar a depositar esperanças neste grupo. Sim Sérgio, quando dizes que já não acreditas e falta qualquer coisa, compreendo perfeitamente (talvez no momento em que li, a identificação com tal posição fosse total), mas pergunto: que qualquer coisa é essa que leva o Quim a abrir a capoeira ou o árbitro a não apitar e apitar e a bola na baliza e o golo sem valer, ou os Gregos irem lá ao 4º minuto e molharem a sopa e em 4 remates, 4 golos, etc.. Essa qualquer coisa é o que torna isto do futebol engraçado, que não tem graça nenhuma quando nos toca no osso…
Vou então continuar esperançado num bom desfecho, pelo menos até que não me dê um vipe autofagico inerente à minha condição de benfiquista quase acéfalo…
Ultras!

Assim é que não: o gajo tem patilhas que parecem suíças!

E, com dois resultados negativos, instalou-se a descrença; os adeptos começam a pedir cabeças, ninguém naquele clube vale um chavo, outras soluções técnicas (nunca se fala em nomes ou, quando se fala, são nomes absurdos como Manuel José ou Carvalhal) estão já em plena destilação cerebral nos crânios polidos e brilhantes de grande parte dos adeptos. Meus amigos, este Benfica, estes jogadores, este espanhol é que não!!! Arranjem alguém competente, se fazem favor.

Já vi este filme em tantas ocasiões que acho que desta vez prefiro ficar no café do cinema a beber gin-tónico e a fumar cigarros. E, se ligarem a televisão, a meio de um gole, começarei a ver golos dos outros, ininterruptamente, enquanto uns palhaços na bancada assobiam e dizem "eu não disse? eu avisei que este Benfica assim começava a perder" nunca entendendo que foram eles uma das principais razões para que uma ideia colectiva, um projecto, não tivessem podido subsistir e sobreviver à crítica acéfala de grande parte dos que amam (amam?) este clube. E esses palhacinhos estariam na linha da frente, se necessário fosse, já daqui a uns meses, quando o Manuel José ou o Luís Campas começassem a "inventar" onzes e a empatar jogos em casa. E nessa altura eles teriam, claro, toda a legitimidade e toda a força para a crítica (os palhacinhos acham sempre que têm legitimidade para a crítica, mesmo que ela seja inspirada pela ingestão de uma dose grande de mata-cérebros logo pela manhã).

Então eu abstenho-me de falar em equipa nova, técnico novo, direcção desportiva nova, de um facto que não interessa para nada que é a realidade de virmos de um 4º lugar, de uma época horrível, de precisarmos de tempo (sim, de tempo, senhores, as equipas novas, com treinadores novos, com dirigentes novos, depois de horríveis épocas, precisam de tempo, essa palavra que vos causa urticária mas que define tudo quando se pensa e analisa a nossa situação) e de, e é aqui que eu desisto porque simplesmente na lógica bipolar autofágica de muitos benfiquistas esta palavra não tem sentido, apoio. Apoio nas horas más (ou, no caso, nas horas assim-assim, que, acho eu, ainda estamos a um ponto do primeiro e à frente dos rivais directos, acho), meus caros, apoio nas horas más, já tinham ouvido falar neste conceito? Ah foram formatados para dizer que o Benfica é o maior e que vamos ser campeões, como acontecia há uma semana (não foi há 1 mês sequer, foi há uma semana), e agora estão formatados para dizer mal de tudo e que assim acabamos a época em posições de descida, como agora acontece? Então força nisso! Aquele Suazo já te parece andar a falhar golos a mais, não parece? Na próxima ida ao Estádio, a ver se lhe mandas umas caralhadas e uns apupos jeitosos, pá! Não sentes falta de poder soltar a tua estupidez latente? O cabrão do espanhol, com tanto apoio que tinha concentrado nele e na sua equipa, não te estava a deixar libertar e aliviar as frustrações, que é, afinal, para isso que vais ver o Benfica.

O Gin-Tónico estava razoável. Na televisão, entrevistavam um adepto do Benfica. Parece que com o Campas o Benfica não vai a lado nenhum. Era bom era que o Quique voltasse.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A quente...

É mesmo a quente... mas tem que sair!

Esqueçam os árbitros, arrumem as violas, fechem os blogues e queimem os rabiscos tácticos...O Benfica não vai ganhar nada este ano. Estes gajos não têm o que é preciso!

P.S. (Na sequência de comentários do post anterior):

Americano - Tens toda a razão, em Dezembro já tem que haver mais crescimento para "apalpar".

Algarviu - Tens toda a razão, eu e as minhas teorias de panisga com o crescer e o pró ano e o raio que o parte! Seria legítimo pedir o campeonato este ano. Sinceramente, já não acredito! - ... pelo menos até à próxima vitória retumbante...

Alergia ao 1º lugar???

Quando o Benfica voltar, alguém me avise, se faz favor.
Inadmissível que uma equipa que joga bem como jogou dos 45 aos 60 minutos passe o resto do jogo a ver o adversário a trocar a bola.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

2ª feira...

Paguem com juros a vergonha que nos fizeram passar hoje!!!

2 notas apenas:

- David Luíz vem duma lesão, não tem nenhuma experiência com Sidnei, porque o Miguel Vitor não teve uma oportunidade, ele que com Sidnei já tinha secado os calimeros?

- Jogámos num inferno grego, que poucos já conheciam. Não teria dado jeito o único jogador que conhece aquele ambiente???

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cuspidelas

Fico sempre maravilhado quando um qualquer dos nossos jornais desportivos, perfeitamente em transe com uma qualquer (magra) vitória (quase sempre do glorioso), e na vertiginosa possibilidade de não ter muito mais a dizer para além de: “o clube X facturou uma batatinha e ganhou” - empreende uma demente fuga para o desconhecido e decide fazer capa com aquilo a que eu chamo de facto do siso. E facto do siso porque, geralmente há uma loucura latente e, principalmente, porque estamos perante uma facto (não poucas vezes uma estatística) arrancado(a) a ferros, mas FERROS mesmo! Já viram onde tento chegar?

Pois:

SIDNEI ENTRA NA HISTÓRIA COM 3 GOLOS NAS PRIMEIRAS 7 PARTIDAS (Exclusivo Record)

NÃO VOU FICAR POR AQUI

Primeiro que tudo, há aqui uma pérola, logo dada de barato quando se chama a isto um exclusivo…

É uma grande capa e o desenvolvimento no interior não lhe fica atrás! Algures encontramos um quadro com os defesas goleadores da história do Benfica, encabeçado pelo grande Humberto Coelho com 56 golos. Grande não sei…é que quando vou a ver, o pé frio do Humberto Coelho, à 8ª jornada da primeira época no clube não tinha um único golo…nada…nada de nada. Que vergonha. Não há dúvida, o Sidnei vai ser o defesa mais goleador da história do Benfica, é só dar-lhe tempo!

Estas estatísticas são mesmo fantásticas e ajudam-nos a entender melhor o jogo. É por isso que acho que ainda há trabalho a fazer neste capítulo. Penso, aliás, que o que se tem feito até aqui é de um amadorismo arrepiante. Temos que levar a estatística do jogo mais além, aprofundar a análise e chegar aos dados que realmente interessam.

Tenho uma proposta: Monitorize-se, mas com meios, as cuspidelas que um jogador dá durante o jogo, de jogo para jogo, de competição para competição. Compile-se os dados e chamem-se os estudiosos para interpretar. Dúvidas? Eu dou um lamiré:

A cuspidela é uma realidade essencial para entender o estado físico e anímico do jogador. Provavelmente todos vocês já jogaram à bola, sabem como surge essa saliva “seca” enquanto se joga, sabem como está relacionada com o cansaço, os nervos, etc. Gostaria de ver um jornal de grande tiragem a estudar a fundo o número de vezes que o Nuno Gomes cospe nos primeiros 3 jogos de cada temporada, e assim melhor podermos avaliar o preparador físico.

Já estou a imaginar a malta no café, comentando:

- Viste? O Aimar ontem só cuspiu 13 vezes durante os 90 minutos face às 17 do jogo de domingo passado...Está mesmo em crescendo de forma!

- Vi, vi! E o Miguel Victor, 31 cuspidelas...o puto estava nervoso, mas para o fim a cadência já só estava em 1 cuspidela por cada 7,5 minutos, já estava a ficar mais entrosado.

Isto sim, seria jornalismo e claro, o adepto agradeceria – provavelmente até treinadores! Por enquanto, teremos que nos contentar com o que temos e esperar que os nossos 3 grandes jornais vão crescendo e aprofundando esse inolvidável talento e queda para a estatística.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A possibilidade de o Benfica voltar a ser Benfica

Na última sondagem deste blogue a resposta com mais votos ("Quique Flores? Passa por ele a possibilidade de o Benfica voltar a ser Benfica" - 70 %) foi tão avassaladoramente maioritária em relação às demais que eu confesso a minha preocupação. Não que eu não goste ou não acredite no trabalho do espanhol, mas a crença evidenciada por grande parte dos que aqui votaram faz-me pensar nas consequências de uma desilusão, mesmo que parcial, lá mais para a frente deste campeonato. Sabemo-lo bem: a massa benfiquista tem tanto de crente - quando as coisas tendem a correr bem - como de acérrima e destruidora crítica - quando aparecem os primeiros infortúnios. Louva-se a entrega a este projecto, claro, admira-se nos benfiquistas a capacidade inequívoca e indesmentível de ir crescendo exponencialmente no apoio quando, em campo, a equipa ganha jogos mas teme-se a queda, ou o trambolhão pequenino, quando por qualquer motivo a bola bater no poste mais vezes do que as desejadas. O meu medo é que esta onda vermelha suba, suba, suba ao sabor dos golos e fantasias dos artistas que finalmente vemos de camisola vermelha para cair a pique caso os artistas decidam ter um dia de má figadeira. Medo, mas medo real, porque, se houve conclusão a tirar destes últimos miseráveis 15 anos, a mais importante, e auto-destrutiva, foi a de que no Benfica a autofagia é uma realidade incontornável; os adeptos têm muita pressa e algumas vezes, muitas vezes, poucos neurónios para entenderem que os projectos têm e devem ter uma continuidade, que as equipas não se constroem num mês e que as equipas vencedoras são o resultado de um ambiente tranquilo que preserva e favorece a qualidade do trabalho de técnicos, dirigentes e, claro, jogadores. Enquanto esta ideia de tranquilidade, respeito e ponderação não fizer parte do dia-a-dia de todos os que sofrem pelo clube, o Benfica nunca voltará a ser Benfica. Importa, portanto, acreditar. Sempre. Mas convém, quando a crença abalar e um ou mais resultados não aparecem aos nossos olhos como verdades vencedoras, mais do que tudo sobreviver à desilusão. E apoiar, se virmos no projecto uma ideia de futuro que não se resume a um jogo, dois ou dez, mas a uma ideia maior de um trabalho sustentado na qualidade e no profissionalismo (que hoje, me parece, temos), na compreensão do que este clube representa e na forma como, dentro dele e por ele, chegar ao sucesso que é, afinal, a sua genética. Por isso, amigos, fico muito feliz que 70 por cento dos votantes acreditem com todas as forças em Quique Flores e na sua ideia para o Benfica. E espero ver semelhante votação quando, por qualquer motivo, o guarda-redes adversário fizer o jogo da sua vida.

sábado, 15 de novembro de 2008

Da Amadora, com fome.

Amanhã, no Estádio da Luz, iremos assistir ao embate entre dois grupos distintos de jogadores: de um lado, os da casa, com dinheiro suficiente no banco para contratarem todas as mulheres que forem ver o jogo e lhes lamberem os cheques sem cobertura (os delas); do outro, gajos que não vêem um euro na continha suburbana há mais de três meses. Fico a ruminar sobre o que pensará um jogador do Estrela quando entra naquele Estádio, ao lado dos ricos, com a mulher e o filho em casa a comerem comida do gato e a tentarem forjar um rádio a pilhas para ouvirem o marido e pai a jogar. É possível que apeteça ganhar. Só pelo gozo. Só porque sim. Só para, no fim do jogo, pedirem orgulhosamente as camisolas do Reyes, do Suazo, do Aimar e do Cardozo e as venderem na feira da ladra da semana seguinte. Há qualquer coisa de obsceno nisto e eu não sei bem o que é nem me apetece pensar muito no caso, porque amanhã, quando estiver sentado na cadeirinha vermelha, não me vai apetecer ter a consciência de que aqueles gajos de encarnado, com contas milionárias no banco, mal entrem no relvado já têm uma vantagem pornográfica sobre os outros, os pobrezinhos da Reboleira. Portanto, se empatarem ou perderem, ao menos façam o favor de ir ao Lidl comprar 300 latas de comidinha de gato para oferecer aos heróis. É o mínimo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Dá-me lume

Encontro-me ligado à máquina. Os fios que me envolvem e me ligam - dizem eles, os entendidos! - à vida encontram-se quase desligados. Disseram no outro dia (eu sei porque os ouvi, falando em cima da minha cama, apesar de eu estar em coma) que o Benfica ia ser campeão. Eu acreditei, acredito sempre. Faz parte de mim acreditar que os outros têm razão. É verdade: souberam da última? O Maxi Pereira fez um bom jogo - uma fatalidade! A sério!!! O Maxi Pereira, aquele cepo que é pior do que eu, o outro e todos os outros amigos que eu conheço e - atenção! - eu já estou a contar com aquele outro bípede que raramente vai jogar connosco e que fica no banco a fingir que está a atar as chuteiras até ao final do jogo. Eu se não estivesse em coma acreditava nestas merdas todas; estando, acredito ainda mais. O uruguaio fez um bom jogo. Pá, juro, não precisam de insultar um gajo, caralho! O man fez bons passes, bons cruzamentos, decidiu bem, cortou bolas, ajudou os centrais e ainda teve coragem de ir lá à frente marcar um golo. Ãn? Não digas isso, foda-se! "O Maxi Pereira é incapaz de jogar bem"? Eh pá tu não percebes nada de bola, é o que eu te digo! O Maxi fez alto jogo. Jogou bem contra o Aves! Sim, em casa, contra o Aves, e depois? Não me digas que é um jogo menor, ó filho de uma porca com o cio? É um grande jogo, pá! O gajo esteve apertado pelo Zé Diogo, pelo Manel e pelo Quim das Aves! Sim, mesmo estando frente a frente com o Jaquim da Trigueira ele conseguiu marcar golo! Não é espectacular? Eu acho. Agora vou morrer, se fazem favor. Quando acordar juro que o Maxi Pereira vai ser o cepo que ele é. Eh pá mas eu juro! A sério, sem brincadeiras. E vão todos ali ver se eu já pago impostos, que eu não tenho tabaco e puta que pariu fazia-me falta um cigarro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aii..Aii..Aii..Aii..Aii Aimar...Cucurrucucu Suazo...

Tão lindo...
Daqueles lances que hei-de repetir mentalmente milhares de vezes...( o golo 5000!)

P.S.1: O Cardozo é mesmo mole.
P.S.2: O Mini tentou, em tudo, corroborar as palavras do Ricardo.
P.S.3: O Xistra é parvo...para não dizer violador de ovelhas...ou bacilo de batráquio..ou...

Acho que sonhei com um passe de primeira - de letra - em que a bola saía aí uns 30 e tal metros por cima de um defesa e apanhava o avançado em corrida

Só uma coisa: o que vimos ontem no primeiro golo foi a assistência mais fabulosa que já vi fazer em campos de futebol. A sério, sem benfiquismos estúpidos. A melhor de todas. Primeiro, porque é genial, depois porque é uma assistência. É que, além de o Aimar saber o quão bom o Suazo é, há também o facto de o Suazo saber o quão bom o Aimar é. E ainda temos o facto - nada despiciendo! - de que a partir do momento em que um gajo faz aquela coisa absurda de passe, o gajo que apanha a redondinha só pode fazer uma coisa: metê-la no buraco. É que só assim é que este lance vai ser eternizado. Pena o João Pinto não ter tido o mesmo respeito pelo João Pinto, naquela vez em que o João Pinto quando estava em frente ao GR alemão não se lembrou que o João Pinto só tinha mamado o Reuter, o Sammer, o Eilts e o Kohler. O João Pinto nunca gostou muito do João Pinto!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A puta da simetria OU serei obsessivo-compulsivo?

Serei, mas não estamos aqui para falar de mim. Falo de uma lista infindável de seres que de alguma forma têm as suas existências ligadas ao futebol. Do mais simples e dedicado jogador de CM ao mais reconhecido treinador de topo num campeonato de ultra-qualidade europeia há uma característica que parece ser transversal e comum: a puta da simetria na hora de pensar no posicionamento dos jogadores em campo - há excepções, como o Cajuda, o Luís Campos ou o treinador do Monte Abraão mas esses não entram nestas contas porque eu não quero. Se eu ando por ali a contratar e a dispensar jogadores, a ver de bípedes que me proporcionem fantásticas épocas na segunda divisão regional no Abrantes, isso é irrelevante; a verdade e a relevância vão todas para aquele momento em que me deparo com o rectângulo verde e começo a escolher jogadores. Depois de escolhidos, a regra impõe-se-me como se não pudesse viver sem aquelas setas ridículas (eu acredito mesmo que se puser o lateral a subir até à zona dos stewards, o gajo vai fazer cruzamentos e remates do melhorzinho que o CM alguma vez já viu) e aquela filha da puta da simetria começa aos gritinhos, histérica, como que insinuando que sem ela eu vou perder os jogos todos. No futebol profissional acontece o mesmo. O treinador quando está no balneário em prelecções interessantíssimas sobre as basculações, os triângulos invertidos e as pressões altas, não perde a oportunidade de realizar a sua mais veemente fantasia: colocar num quadro as posições dos jogadores que ele quer ver preenchidas, enquanto eles coçam os tomates ou lêem o Financial Times e discorrem sobre a problemática financeira actual e como isso influi nas suas contas pornográficas no final do mês - alguns, por exemplo, não poderão comprar o novo Bugatti nos próximos minutos, o que é, está bem de ver, uma chatice das grandes. Há em cada técnico a cuequinha molhada da simetria em campo. Se na direita o mister tem um gajo que pode fazer a ala com mais interioridade e menos profundidade, avança logo o treinador para outra solução porque, sejamos sérios, uma equipa sem simetria não funciona e lá entra o gajo que é mau mas que fornece ao quadro a giz aquela perfeição de olhar, aquele quadro organizado e feliz que se define por ver dois extremos tão bonitos encostados na ala, dois médios no miolo, juntinhos, à mesma distância do "10" e lá na frente, claro e simétrico, curtando ângulos iguais para os extremos, para o médio ofensivo e para a baliza adversária, o ponta-de-lança.
Tudo isto a propósito, já compreenderam, do Benfica. Andava a ruminar sobre o nosso 11 e deparei-me com problema antigo: aquele caralho daquele jogador que nos falta e que tem de jogar na direita do meio-campo. Está mais que visto, revisto, estudado, pensado e leccionado em Harvard que o Benfica não pode jogar com um Reyes 2 na ala direita. Concluída esta aprendizagem (que Quique demorou a apreender), uma nova disciplina intromete-se: que tipo de jogador pode completar na perfeição, simultaneamente equilibrando a equipa nos processos defensivos e dando profundidade ofensiva, a táctica de pirilau do espanhol? Eu respondo: um tipo de jogador que seja a antítese de Reyes, embora possa ser Reyes naquilo que em Reyes há de muito bom. Eu diria, assim de repente e completamente em delírios masturbatórios: um Simão!, um gajo que ajudasse esta besta mitológica que é o Maxi Pereira, que fizesse diagonais a cada 2,34 segundos de cada partida, que rematasse como vem nos livros, que fizesse cruzamentos como quem lê um poema e que, em transições defensivas, soubesse "fechar" muitas vezes ao meio, em ajuda aos dois médios do miolo. Se isto fosse o CM, lá entrávamos nós na aventura de ir à procura de um gajo desses; na vida real, sempre menos efusiva e espectacular, temos o Balboa, essa espécie de jogador que nem é jogador nem é de espécie alguma. Mas há algo nele que entusiasma: dá simetria ao esquema! com Reyes na esquerda, Katsouranis e Yebda no meio, Martins a médio ofensivo, um Balboa traz toda uma panóplia orgástica ao conceito de simetria - basta colocá-lo na direita, com uma setinha para cima e temos o esquema mais bonito da Liga Sagres! O problema, e há sempre problemas nestas coisas, é que o Balboa é uma nulidade como extremo-direito. Dirão: mas o que é que isso interessa, Ricardo, se podemos construir a mais bela arquitectura posicional que a história do Benfica já conseguiu? Direi: vão para a puta que vos pariu, o Balboa ali nem que a vaca tussa! A simetria perde, é bem verdade, mas sempre dá para ganharmos jogos, o que até vai sendo engraçado.
No entanto, não pensem que sou o típico benfiquista que votou o flop do ano ao insucesso, apenas dizendo mal e "queimando" o jogador. Nada disso. Tenho a solução que ninguém ainda sequer pensou e que parece ser de uma genialidade assinalável, até para mim que, como se sabe, sou um gajo capaz de fazer do Vila Franca um clube semi-finalista da Champions League. Pensem só nisto e atentem na capacidade Chalanística que eu demonstro: Balboa a lateral-direito! Por um lado, tínhamos um preto na direita da defesa, o que seria a sequência lógica de um historial recente com laterais de tez mais escura: de um tímido Armando, passando por um eléctrico Miguel a um bipolar Nélson, chegaríamos à síntese de todos, sem perder a cor nem a vivacidade requeridas para um lugar desta importância; depois, já se percebeu que o ex-Madrid é melhor a defender do que a atacar e que, se há esperança para a vertente ofensiva do homem, ela estará na disponibilidade de aparecer de trás e não tão junto à zona ofensiva. A velocidade, a propensão para o drible q.b. e o cabelo fariam o resto. E matem-me se isto for mentira: qualquer gajo do plantel faz melhor do que o Maxi Pereira naquele lugar. Mas eu sou obsessivo-compulsivo e não estamos aqui para falar de mim.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Hertha 1 – 1 SLB

Antes de tudo mais:

  1.  Acho estúpido perder a fé num treinador em Outubro. Ainda mais estúpido o é na actual conjuntura benfiquista, em que é imperativo crescer, deixar de voltar repetidamente à estaca zero.
  2. Vi este jogo na área de serviço de Aveiras, no regresso do emprego.

Sento-me à mesa. Bom lugar. A televisão tem som alto. Estou próximo q.b. Ok.

O Jornalista lê a ficha de jogo. Comento, mentalmente, com o outro adepto benfiquista que tenho dentro de mim e vê todos os jogos comigo: “Este 4-4-2 do Quique não soa um bocadinho anacrónico? Sei lá, pouco sofisticado; como que saído dos anos oitenta. Parece que hoje em dia, a ser 4-4-2, é sempre qualquer coisa com uma figura geométrica não-rectangular incorporada (tipo losango)?”.

Olha! Na transmissão dizem que joga o Binya e não o Yebda. “Quique! Não! Quique, não! O Binya não… Chiça penico. Ainda para mais com este 4-4-2. Epá, então mais vale tirar um dos avançados e pôr o Carlos Martins. Sempre compensa. Sempre ficam 2 gajos no miolo a saber o que é uma bola. Quique! Nãoooooo!

O jogo começa.

(A meio do 1º tempo) – Pois e tal que o Cardozo é um grande valor. Grande pé esquerdo. Sim… Mas olha lá: O gajo é pastelão como o camandro, mas à força toda…e fino, também! O gajo não curte muito disputar bolas, e quando o faz fá-lo sempre com visível enfado. E com o insucesso daí decorrente. E depois há aquele talento indiscutível, que partilha com o Nuno Gomes, de estar sempre exactamente no sítio para onde o GR não chutou, ou o defesa, ou mesmo para onde o ressalto quis que a bola não fosse. E quando vai na direcção dele (ou do NG), bate ligeiramente à frente dele e passa-lhe por cima. Lindo!

Minuto 39 – Bynia acerta um passe a 3 metros, apesar de o companheiro não conseguir dominar o esférico à primeira.

Minuto 41 – Binya tenta receber uma bola, escapasse-lhe e acaba por ir parar aos pés de um jogador do Benfica.

Intervalo – Estes gajos são fraquinhos, equipa macia. Estaria tão ao nosso alcance…

2ª Parte – Suazo por Cardozo. Obrigado.

Existe uma desalentada resignação (futebolística) quando, após 45 minutos de Binya, o vemos voltar a subir ao relvado. Só experimento sensação igual naquelas noites em que, já bem tarde, e com uma fome descomunal, se olha para aquele pacote de bolachas manhosas e bafientas, que resistiram à última década fechadas num pote na despensa, e se resolve comer aquilo, sem água sem nada, que só há da torneira e sabe a lixívia.

O jogo recomeça. Suazo, de facto, é outra coisa.

Minuto 51 – Golo de Di Maria (exibição inconsequente, até aqui e até final). Ia falhando... Mas isto está bom…podemos marcar mais destes, em contra-ataque. Reyes ou Suazo vão fazer estragos. Quiçá o Nuno.

Minuto 66 – Carlos Martins junto à linha lateral. Boa! Vamos tratar de ter mais bola que isto está a começar a escapar. Fortalecer o meio-campo, gosto…Carlos Martins por Katsouranis. Não! Quique, não! Isso não. Não Quique! Tira o NG, o Reyes, o Di Maria…Porra, tira o Suazo…o Katsouranis não! Não é por ele! É que Binya e Carlos Martins sozinhos aí no meio…não pá! Não Quique!

Minuto 74 - …

Fim do Jogo. Punheta! 17º Jogo em território Germânico sem ganhar…e este esteve bem ao alcance. Levanto-me. Vou à casa de banho. Passagem pelo urinol, lavar as mãos…Sabonete, carregar no botão, água e upa…fechou-se. Carrego no botão e menos de um segundo depois a torneira volta a secar. Agora pressiono o botão durante alguns instantes…largo e…foda-se…a úlcera que terei aos 40 dá os primeiros passos…então mas a puta da torneira não se mantém aberta? Vou ter que lavar as mãos vez à vez? Suspiro…

Eu tenho um sonho…Eu sonho com dia em que a civilização humana, mais evoluída e cultivada, se reúna em torno de si mesma, e do mais singelo dos consensos surja a convicção plena de que um ser humano qualquer, a uma distância de uma simples casa de banho pública, possa ter uma torneira, com um manípulo para a abrir e a fechar…a seu belo prazer! AH! E QUE A NOSSA EQUIPA FAÇA SENTIDO…TAMBÉM SONHO COM ISSO!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"O Burro"

Antes de começarem a refilar (os nossos 3 leitores podem tornar-se agressivos de vez em quando), aviso já que este post não é sobre o Benfica, e é sobre um ódio de estimação de alguns, mas um ídolo meu. É sobre um treinador, mais conhecido como o "burro", que nunca se vai livrar da fama de ser um brazuca que não percebe nada de futebol, e que só vai ganhando alguma coisa porque é bom na motivação, tem sorte, e tem uma santa protectora. Ora, concluída que está a primeira dúzia de jogos no Chelsea, são estes os números de Scolari:

- 12 jogos, 9 vitórias e 3 empates, 28 golos marcados e 3 sofridos!!!
- Liderança na Premier e no grupo da Champions

Podem dizer, "no Chelsea também eu", mas lembro que isto foi obtido quase sem Drogba, quase sem Essien, e ainda com lesões em Joe e Ashley Cole, Ricardo Carvalho, Ballack e Deco, obrigando a dar minutos ao Di Santo e a fazer de Belletti um médio bem razoável.

Uns pedem tempo, outros conquistam-no...

P.S. - Este post é oportuno por 2 razões: primeiro o Benfica joga hoje, pelo que logo à noite isto já deve ter descido na página. Segundo o Chelsea joga este fim de semana com o Liverpool e o registo pode piorar. Mas fique bem claro, acredito que Scolari vai limpar os reds, pena não ter lá o Simão para ajudar!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Prémio Cepo da História do Benfica

À pergunta "Quem é o maior cepo da História do Benfica?" os nossos estimados visitantes responderam assim:

- King - 4 votos (12 %)
- Manuel Damásio - 6 votos (18 %)
- Artur Jorge - 19 votos (57 %)
- Pinto da Costa - 4 votos (12 %)

Ganhou o suspeito do costume, nada de novo. Enquanto alguns preferiram esquecer dirigentes e técnicos e dedicar o seu voto aos que, de facto, chutam (no caso do King, tentam chutar) a bola, outros - a grande maioria - optaram por apontar chumbadas aos que decidem por fora. Se, para mim, a fraca votação em Damásio constitui alguma surpresa, visto ser este, aos meus olhos, o responsável máximo da degradação pós-94 do nosso clube (ainda mais do que Artur Jorge, sim), já a votação em Pinto da Costa, entre a ironia, o humor e, talvez, a luta pela verdade desportiva, está nos valores esperados.
O prémio fica, assim, atribuído ao "coisas bonitas" e também está muito bem. Ainda que custe a muitos, a verdade é que há uma grande parte dos benfiquistas que inveja o leão Sá Pinto. Eu invejo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nightmare...

Caros leitores (partindo do princípio que temos),

Era para escrever sobre o jogo(?!) de ontem, mas como não sei se o site é só para maiores de 18, e também não sei como pôr bolinha no canto superior direito do ecrã, é melhor não.

No entanto, tenho de deixar uma palavrinha para o regresso do "meu" nº1:
Obrigado Moreira, espero que tenha sido a primeira de muitas titularidades!!!

sábado, 18 de outubro de 2008

(Chego um pouco atrasado – tive uma mialgia de esforço e passei a semana em trabalho de ginásio, só ontem comecei a fazer corrida – será recorrente, primazia ao fim de semana para, domingo a domingo, dar o meu melhor de mim em prol da equipa!)

Bom… - pega numa mini Sagres e gira os dedos em torno do gargalo, introduz o polegar na garrafa, roda novamente e retira-o produzindo um som tamponado. Finalizado o ritual com resultados satisfatórios, dá dois goles consecutivos e arrebanha alguns amendoins da taça ao centro da mesa. – Bom, junto-me aos escribas aqui ao lado embriagado pelo benfiquismo com que começamos; é galvanizante e sabe bem. Está-se bem aqui! Venho para ficar, Benficar.

Sou um benfiquista autodidacta. O meu pai não gostava de futebol, nunca me levou à bola. Mas havia qualquer coisa. Tenho a perfeita noção da cor preferida ser o vermelho, bem cedo. Deve ter havido influências externas, admito, mas conservo a firme convicção que era inevitável, que não poderia ser de outra forma! Encontrei o Benfica, ou o Benfica encontrou-me, e começou essa viagem que a partir de agora partilharei, o mais possível (na medida certa?), convosco. Parte da viagem já foi partilhada com o Ricardo, o bípede com quem mais discuti o Benfica (basta dizer que fui pela primeira vez ao estádio – o antigo – com ele e com o pai dele, que não bastando ter iniciado o filho a ver o Benfas fez o mesmo pelo filho do próximo, há que realçar a nobreza da acção!). Hoje orgulho-me do telefonema que o meu pai me faz após os jogos do Glorioso, para dividir a desilusão ou partilhar a ilusão feita de fintas e golos de encher o olho – é fã daquele espanhol, o Reyes – “o tipo tem um bom remate!”.

Fica o compromisso de seguir o trajecto Encarnado de perto, ensaiando umas análises à Luís Freitas Lobo… – Olha o gajo, já armado ao pingarelho! Não, não é nada disso, é uma maneira de dizer. Eu quando tentei triplo salto também o fiz à Nelson Évora, enchi o peito, inclinei as costas para trás e corri, corri, saltei e aterrei três passadas depois e a 3,47m da tábua, apesar de não ter conseguido homologar o resultado. É que o meu vizinho da frente disse que o vento estava a favor e acima da velocidade regulamentar. Foi pena.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O meu primeiro post

Hello blogosfera!!!

Fica bem um gajo apresentar-se no primeiro post, certo? Então cá vai disto:

Sou o Americano, um maluco que o Ricardo conheceu na blogosfera, e que resolveu convidar (provavelmente sob o efeito de álcool ou drogas) para contribuir para este blog, que como é óbvio se vai dedicar muito ao GRANDE, ENORME E GLORIOSO BENFICA!
Resolvi escrever já porque daqui a pouco joga a Portugal, e não me quero desconcentrar...

Como disse sou “o” Americano, benfiquista fanático, sócio, accionista (comprei 100 contos de acções numa altura em que o meu ordenado era 80 contos!) e dono dum cativo desde que existe a nova Luz. Curiosamente não nasci benfiquista, até porque nasci nos EUA, e quando cheguei cá em 85 nem sabia o que era futebol. Felizmente tenho um primo mais velho que me explicou rapidamente que aqui não havia football, basketball, ou baseball, apenas o nosso futebol e que acima do futebol estava o nosso Benfica. Era daqueles que tinha o quarto cheio de posters daqueles jogadores que na altura me pareciam um bando de labregos de bigodaça, mas que rapidamente aprendi serem símbolos do maior clube do Mundo. Interiorizei os ensinamentos, e por ironia do destino ele foi viver mais tarde para os EUA, mas eu por cá fiquei para dar continuidade ao legado da família.

Para finalizar, aviso novamente que sou fanático benfiquista, por isso se de vez em quando for algo rude na defesa das minhas posições, não levem a mal, o Benfica liberta o melhor e o pior que há em mim. Prometo que a partir de agora só voltarei a escrever quando houver algo de jeito para comentar, espero que seja para comentar as centenas, milhares de vitórias que o nosso clube nos vai proporcionar.

Saudações benfiquistas!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Nome de número

Hoje fiz-me sócio do Benfica. Comprei o kit, preenchi o formulário, entreguei uma foto e a fotocópia da minha identidade de bípede benfiquista (ainda continuo sem compreender como é que o BI não possui um espaço em que possamos dizer que somos do Benfica) e, antes de respirar duas vezes, lá estava a minha cara num cartão vermelho. Uma delícia. Sou o 187.955, número tremendamente superior (mais do dobro, bem mais) ao que tive entre os meus 3 e 15 anos. Na altura, eu era um benfiquista que ia de mão dada com o pai e via, 4 horas antes do jogo, gente a beber garrafões de 5 litros de vinho, a comer feijoada, cozidos à portuguesa e pães com presunto dentro do estádio. A ida a um jogo do Benfica não era como agora, em que se chega 5 minutos antes da bola começar a rolar: era como uma peregrinação a um santuário. Começava na estrada, em que os 150 km de Abrantes a Lisboa eram festejados com cachecóis apertados entre os vidros das janelas do carro e sinfonias de buzinadelas, sempre que alguém ao nosso lado fazia a sua viagem religiosa da mesma forma e com o mesmo sentimento. Acho que começou aí (antes ainda de me espantar pela primeira vez com um gigante de betão onde cabiam 130.000 pessoas) o fascínio por esta espécie de seita que ninguém consegue explicar. É impossível provar, cientificamente, a razão de ser de ser-se benfiquista. Talvez procurar nessa empatia de ver milhares de pessoas dentro de carros, felizes e sorrindo-nos, como se fôssemos seus irmãos, talvez encontrar num grito milenar a céu e sol abertos, coroando 11 indivíduos de vermelho que entravam no relvado, entre sons, buzinas, cores, fumos, papéis e sol, muito sol, sempre. Quando a equipa do Benfica entrava no tapete verde, o puto de 10 anos que eu era ficava estarrecido a ouvir o bruááá de pés a chocalhar no betão e de gritos de loucura, quase demencial, que eram todo o ruído que o mundo conseguia ter naqueles minutos. Em 1988, agarraram-me no ar como uma bola, quando um gajo - filho de outro gajo dos nossos - decidia resolver a situação com dois golos e uma ida directa para Estugarda, sem que Bela Guttmann o adivinhasse (e o quisesse?); em 1990, quase me lançaram de felicidade para dentro do relvado, quando um outro dos nossos decidiu que o destino só seria moldado à chapada - uma chapada na bola, a melhor chapada na bola que alguém, algum dia, deu, bem melhor do que o toque paneleiro do Maradona. Não, não foram estes os melhores momentos, porque todos eles faziam nascer em mim a certeza de pertencer a algo grandioso que eu não sabia descrever. O orgulho de levar relva para a escola no dia a seguir ao campeonato de 94; a vez em que, sob um sol aterrador, alguém decidiu ganhar meio metro de cimento aos rabos que se amontoavam e comprimiam, só para que eu me deitasse ("abram alas para o miúdo, pá, não vêem que o puto está mal-disposto?", consigo ainda ouvir nos ecos abertos de uma memória de um estádio que não desaparece). Ser do Benfica não requer um cartão nem uma identidade mas, confesso, hoje senti-me de regresso à minha natural condição. Como se me tivesse traído estes 12 anos por não ter a minha cara associada à palavra "sócio". O meu nome é 187955.