quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cuspidelas

Fico sempre maravilhado quando um qualquer dos nossos jornais desportivos, perfeitamente em transe com uma qualquer (magra) vitória (quase sempre do glorioso), e na vertiginosa possibilidade de não ter muito mais a dizer para além de: “o clube X facturou uma batatinha e ganhou” - empreende uma demente fuga para o desconhecido e decide fazer capa com aquilo a que eu chamo de facto do siso. E facto do siso porque, geralmente há uma loucura latente e, principalmente, porque estamos perante uma facto (não poucas vezes uma estatística) arrancado(a) a ferros, mas FERROS mesmo! Já viram onde tento chegar?

Pois:

SIDNEI ENTRA NA HISTÓRIA COM 3 GOLOS NAS PRIMEIRAS 7 PARTIDAS (Exclusivo Record)

NÃO VOU FICAR POR AQUI

Primeiro que tudo, há aqui uma pérola, logo dada de barato quando se chama a isto um exclusivo…

É uma grande capa e o desenvolvimento no interior não lhe fica atrás! Algures encontramos um quadro com os defesas goleadores da história do Benfica, encabeçado pelo grande Humberto Coelho com 56 golos. Grande não sei…é que quando vou a ver, o pé frio do Humberto Coelho, à 8ª jornada da primeira época no clube não tinha um único golo…nada…nada de nada. Que vergonha. Não há dúvida, o Sidnei vai ser o defesa mais goleador da história do Benfica, é só dar-lhe tempo!

Estas estatísticas são mesmo fantásticas e ajudam-nos a entender melhor o jogo. É por isso que acho que ainda há trabalho a fazer neste capítulo. Penso, aliás, que o que se tem feito até aqui é de um amadorismo arrepiante. Temos que levar a estatística do jogo mais além, aprofundar a análise e chegar aos dados que realmente interessam.

Tenho uma proposta: Monitorize-se, mas com meios, as cuspidelas que um jogador dá durante o jogo, de jogo para jogo, de competição para competição. Compile-se os dados e chamem-se os estudiosos para interpretar. Dúvidas? Eu dou um lamiré:

A cuspidela é uma realidade essencial para entender o estado físico e anímico do jogador. Provavelmente todos vocês já jogaram à bola, sabem como surge essa saliva “seca” enquanto se joga, sabem como está relacionada com o cansaço, os nervos, etc. Gostaria de ver um jornal de grande tiragem a estudar a fundo o número de vezes que o Nuno Gomes cospe nos primeiros 3 jogos de cada temporada, e assim melhor podermos avaliar o preparador físico.

Já estou a imaginar a malta no café, comentando:

- Viste? O Aimar ontem só cuspiu 13 vezes durante os 90 minutos face às 17 do jogo de domingo passado...Está mesmo em crescendo de forma!

- Vi, vi! E o Miguel Victor, 31 cuspidelas...o puto estava nervoso, mas para o fim a cadência já só estava em 1 cuspidela por cada 7,5 minutos, já estava a ficar mais entrosado.

Isto sim, seria jornalismo e claro, o adepto agradeceria – provavelmente até treinadores! Por enquanto, teremos que nos contentar com o que temos e esperar que os nossos 3 grandes jornais vão crescendo e aprofundando esse inolvidável talento e queda para a estatística.

3 comentários:

Ricardo disse...

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

Melhor!!!

(acho que ontem no Brasil os portugas não estiveram bem ao nível da cuspidela)

Ricardo disse...

Excelente texto do Miguel Góis, no "Record":

«SER BENFIQUISTA
Conhecem aquela do elemento de uma claque que, quando chega ao estádio, percebe que a polícia montou um dispositivo de segurança tão perfeito que torna impossível qualquer tipo de desacato e, por isso, vira-se para o lado e diz: “Bom, já agora vemos o jogo…”?

É natural que não conheçam, uma vez que a história é fruto da minha prodigiosa imaginação, que, por sua vez, está assente num estupendo poder de observação (e, sim, estou preparado para que haja leitores que achem mais piada a esta frase do que à anterior).

Seja como for, parece-me que o acto mais irracional de todos não foi cometido por nenhum elemento dos No Name Boys, mas sim pelo poder político. Legalizar as claques de futebol faz tanto sentido como liberalizar a Camorra.

Aqui há umas semanas, li umas declarações do Diabo de Gaia que me pareceram bastante significativas. Para quem não se lembra, trata-se do indivíduo que entrou no relvado da Luz para praticar um gesto que denegriu ainda mais a imagem do futebol português. Até aqui, podia ser o Balboa. Mas não: refiro-me ao adepto que deu num árbitro assistente uma pancada daquelas que se dá, por exemplo, nas máquinas de flippers para ajudar a moeda a descer.

Tratou-se, como toda a gente notou na altura, de uma atitude eminentemente estúpida - basta estar atento ao processo Apito Dourado para se perceber que os elementos da arbitragem não são pagos com moedas.

Depois de ter sido presente a juiz, o Diabo de Gaia confessou que estava muito desiludido com os seus consócios, e que tinha a certeza de que se ele fosse do FC Porto o tribunal teria estado cheio de gente para o apoiar. Até hoje, não ouvi melhor definição (se bem que involuntária) do que é o Benfica.»

Obrigado, Diabo, por, apesar de não perceberes e até estares chateado com o facto, teres dado das melhores definições do Benfica e dos benfiquistas.

Anónimo disse...

Epá muito bom.

Afinal o Record ainda dá para alguma coisa... estou a ver que tenho de voltar a ler.
Principalmente se me apetecer rir!

Quanto ao texto, Ricardo, assino por baixo...