Como vos disse anteriormente, a
minha filha tem seis meses e é sócia do Glorioso. Já a minha consorte, essa,
não liga grande coisa a futebol, o que é facilmente explicado pelo facto de ser
sportinguista. De maneira que o ritual nos últimos tempos tem sido este: peço educadamente à minha esposa que vá ver televisão para o quarto - não porque eu
seja supersticioso, mas porque ela é uma ave agoirenta com provas dadas e
nestas coisas um gajo não pode facilitar (levei-a três ou quatro vezes à
Catedral e não ganhámos um jogo que fosse). Abro duas cervejas - uma para mim e
outra para a petiz (que, como é óbvio, acaba por ser para mim) e um saco de
aperitivos, ajeito as almofadas do sofá e sento-me confortavelmente com a
pequena ao meu colo. Ponho o cachecol do Benfica ao pescoço e deixo as pontas
caídas sobre os ombros dela. Normalmente fica com um ar imperturbável, muito
atenta ao que se passa no ecrã. Claro que ainda não percebe o que por ali acontece,
mas sou capaz de jurar que os olhos dela brilham quando descortinam aqueles
rapazes de vermelho a entrar em campo. Sei que esboça um sorriso delicioso quando
a faço pular no meu colo ao mesmo tempo que a ensino a puxar pelos nossos
bravos: “Ben-fi-ca!!! Ben-fi-ca!!! Ben-fi-ca!!!”.
Hoje, não será diferente. O
ritual repetir-se-á, na certeza, porém, de que no final dos noventa minutos da
contenda, aconteça o que acontecer, o meu pequeno projecto-de-benfiquismo terá
cumprido mais uma etapa do seu longo caminho de aprendizagem e eu já não terei
minis no frigorífico. A lição de hoje é duplamente importante na medida em que
para além de uma lição de benfiquismo, será a primeira subordinada à temática
da eterna disputa entre o Bem e o Mal. Não espero nada menos do que um Benfica
altamente pedagógico, que me apoie na importantíssima tarefa de ensinar à cria que
o Bem, o Benfica, acaba sempre por levar a melhor.
Em jeito de prognóstico, estou
muito, muitíssimo confiante na vitória e sinto que a generalidade dos adeptos
do Benfica também o está. Não vou entrar em considerações tácticas nem
alinhamentos iniciais desejáveis. A receita para o jogo de logo é simples: que
os nossos heróis acreditem nas suas capacidades - que as têm - como nós
acreditamos, derrubem eventuais barreiras psicológicas que se atrevam a
surgir-lhes até ao apito inicial e entrem em campo sem qualquer tipo de temor,
jogue quem jogar de início. Lutem enérgica e honradamente pela camisola que
envergam e por tudo aquilo que os seus 108 anos de história significam.
O resto acontecerá com
naturalidade: a avalanche de fé que hoje inunda os corações benfiquistas
espalhados por esse mundo fora, personificada no incansável e ensurdecedor
apoio vindo das bancadas do estádio, irá atingi-los de tal forma que nos
conduzirá a todos à inevitabilidade da glória.
Em boa verdade vos digo: hoje vão ser 3-0.