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segunda-feira, 7 de março de 2016

Leonor Pinhão e o Ontem

A Leonor Pinhão decidiu presentear-nos com palavras bonitas na sua crónica do jornal "Record":

"No último sábado, nesta mesma página, recordando aquele marketing primordial de uma inventiva campanha de recolha de fundos e a origem coeva do termo "lagartos" - uma ideia do próprio Sporting que chamou "lagartos" aos títulos de subscrição pública que lançou em prol da construção do Estádio José Alvalade - terá ficado, no entanto, por dizer que os documentos que suportaram a nota biográfica do epíteto nascido na década de 50 foram divulgados pelo blogue 'Ontem vi-te no Estádio da Luz' que, só por si e cá para nós, é uma das mais belas frases da língua portuguesa. O blogue de Ricardo Silveirinha abriu atividade em 2008 e, para além do amor ao Benfica, trata também com desvelo a dita língua portuguesa, o que, por ser raro, é sempre empolgante."

Tanto elogio vindo de quem é quem é e de quem é filha de quem é só pode ser motivo para continuarmos a tentar dar o melhor Benfica possível a todos os que gostam do blogue. Só uma pequena correcção, Leonor: o blogue não é meu, é de todos os que aqui escrevem e sobretudo de todos os benfiquistas que se identificam com um Benfica simultaneamente glorioso e digno. E é por isso que o Ontem vi-te no Estádio da Luz é também teu.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cortez e o anedótico da coisa

«Bruno Cortez, o lateral-esquerdo que chegou ao Benfica emprestado pelo São Paulo, foi quase sempre titular na pré-temporada e foi sempre titular nos primeiros jogos a sérios desta nova época. Não agradou à torcida, esse é um facto.

Aparentemente também não terá agradado à equipa técnica. No espaço de 24 horas, na semana passada, ficou Cortez a saber que o seu nome não constava da lista dos inscritos para a Liga dos Campeões e, pior ainda, ficou a saber que o Benfica contratou um novo defesa-esquerdo chamado Siqueira, brasileiro, com provas dadas no Granada.

Desejam muito os benfiquistas que Siqueira seja o “tal”. Isto é, o lateral-esquerdo de raiz que o Benfica não tem desde que Leo se zangou com Quique Flores e regressou ao seu Santos.

A não-inscrição de Bruno Cortez na UEFA deu algum brado, o que se compreende. Enganos, enfim, toda a gente tem, mas os enganos do Benfica para aquela posição começam já a ser lendários, para não dizer anedóticos, com o devido respeito por Emerson e pelo próprio Cortez.

Por estas razões, a contratação de Siqueira foi bem recebida pelos adeptos. O noticiado interesse do Real Madrid pelo jogador também deu um forte ânimo aos benfiquistas. Esta coisa de ganhar um jogador em despique com o Real Madrid faz sempre bem à auto-estima, que é uma coisa que na Luz anda muito por baixo desde o último mês de Maio (...)»

Leonor Pinhão

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Fernando Gomes e o apoio inequívoco, pela neo-abutre Leonor

"O presidente da Federação Portuguesa de Futebol está preocupado com a Benfica TV. Esta temporada o canal do Benfica assegurou a transmissão dos jogos do campeonato inglês e passa a transmitir todos os jogos do Benfica disputados no Estádio da Luz. Não é com a transmissão dos jogos do campeonato inglês que Fernando Gomes está apreensivo, o que se compreende. A Inglaterra é a terra do fair-play, é tudo gente séria e aprumada. 

 O problema é que tal como a Inglaterra é a terra do fair-play, Portugal é a terra da verdade desportiva, coisa completamente diferente. E o presidente da FPF não pode deixar de estar, por inerência de cargo, sempre aflito não vá a verdade desportiva descambar.

 Segundo algumas consciências, a última segunda-feira terá sido um dia mau para a verdade desportiva. Foram divulgadas as medições das audiências televisivas e soube-se que a transmissão do Benfica-Gil Vicente na Benfica TV bateu a transmissão do Vitória de Setúbal FC Porto na Sport TV. Ambos os canais funcionam por subscrição livre do público, é importante não esquecer. 

 As declarações de Fernando Gomes ao “Diário Económico” sobre a questão dos direitos televisivos foram amplamente divulgadas na net no mesmo dia. Para o presidente da FPF trata-se de “uma situação que não é normal”. E levantou uma questão premente o ex-vice-presidente do FC Porto sobre os “constrangimentos” de um “canal próprio”, reconhecendo que, ele próprio, ainda não tem “traquejo” nem “experiência” para concluir “se isso pode ter algum tipo de implicação que condicione a verdade desportiva”. 

Lá está, justamente, a nossa velha amiga verdade desportiva. Fernando Gomes, que era vice-presidente do F.C. Porto à época da investigação policial do Apito Dourado, é a figura desprevenida quem o senhor António Araújo, o da “fruta para logo à noite”, solicita bilhetes para “as três deusas” que quer levar consigo ao futebol. Tudo isto é lamentavelmente público graças ao YouTube. Com o traquejo até então adquirido, o então vice-presidente do FC Porto, actual presidente da FPF hoje preocupado com “a verdade desportiva” posta em causa pela Benfica Tv, diz simplesmente ao empresário que suba “ao 14.º andar” para tratar do assunto em causa. 

- É daquele assunto que falámos, não é? –pergunta Fernando Gomes, prudente e avisado, ao senhor Araújo das três deusas. 

- É, é – responde prontamente o senhor Araújo. 

 Ouvindo-o responder à solicitação do sr. Araújo, quase dez anos depois da gravação dessa conversa, não parece ter ficado muito preocupado com as três deusas o actual presidente da FPF. Certamente porque não viu ali nada que, tal como a Benfica TV ameaça presentemente vir a fazer, pudesse “ter algum tipo de implicação que condicione a verdade desportiva”. E com certeza que não teve implicação nenhuma. Deusas são deusas, gente bendita, e logo três… Já a Benfica TV pode vir a tornar-se num perigo público e com isso todos os cuidados são poucos não vá a verdade desportiva fenecer ou mesmo falecer. E isso seria uma grande tragédia. Como benfiquista, constato com satisfação que o actual presidente da FPF não apoia inequivocamente a Benfica TV

 As situações normais resolvem-se no 14.º andar, é verdade. Mas sendo esta uma situação anormal, falta traquejo a Fernando Gomes. Assim é que é bonito (...)»

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O abre-olhos III

«Por norma, aos adeptos pede-se o mesmo que se pede aos guarda-redes. Isto é, que defendam o indefensável. Às vezes é extraordinariamente difícil.

O Benfica apresentou-se hoje, 18 de Agosto, no Funchal num estado alma que se aceitaria se estivéssemos a 27 de Maio, o dia seguinte à final da Taça de Portugal perdida para o Vitória de Guimarães Aceitava-se à míngua de tempo, esse grande escultor, como diz o povo.

Do Jamor aos Barreiros já lá vão quase três meses espampanantemente desaproveitados. Isto se o objectivo da Sociedade Anónima Desportiva que gere o futebol for, precisamente, esculpir vitórias em jogos de futebol, de preferência, umas atrás das outras. Refiro-me às esculturas.

Desconheço, naturalmente, quais seriam as expectativas dos nossos altos comandos para o jogo inaugural do campeonato. Entre os adeptos, custa-me dizer que não conheço um único – e conheço muitos numa amostra vasta e heteróclita – que acreditasse que seria hoje no Funchal que o Benfica ia, abnegadamente, colocar um ponto final a uma inenarrável série de anos a desperdiçar pontos à primeira jornada sob o comando de vários treinadores, nacionais e estrangeiros.

Lamento ter de dizer que o desastre frente ao Marítimo estava anunciado. É este o caso da jornada. Não é o caso Jesus, nem o caso Cardozo. É o caso Benfica.

(...)

Adiante. Falar de árbitros é uma coisa que hoje até fica mal aos benfiquistas. Haja decoro.

(...)

Por estes dias, entre benfiquistas, fala-se do Benfica como se fala à beira do leito de um doente não o querendo, de modo algum, despertar. Fala-se em voz baixa, quase num sussurro, num tom de consternação que só um Camilo Castelo Branco saberia pintar.

«Quando o sofrimento nos ameaça, e receamos que as forças defensivas nos faleçam, suspendem-se os outros movimentos do nosso coração, e então pouco há que esperar de nós, por que se torna incerto o nosso destino», escreveu Camilo em Cenas Inocentes da Comédia Humana. E muito nos faleceram também as nossas forças defensivas na ilha da Madeira, o que já aborrece.

O doente aparenta estar no nível zero no que respeita a capacidade de reacção. Pura e simplesmente, não reage. E já lá vão três meses desde os primeiros sintomas de ataraxia. Não se entende, por exemplo, a não-resolução do caso Cardozo com data de 26 de Maio. Não se entende se é uma impossibilidade do mercado, o que seria compreensível, ou se a manutenção do paraguaio em stand-by é uma arma de arremesso para disparar a conta-gotas contra o treinador, o que seria lamentável.

(...)

Os jornais contam-nos hoje que Luís Filipe Vieira foi ao Seixal apoiar Jesus e, consequentemente, desapoiar o seu vice-presidente que foi à televisão dizer que estava farto de notas artísticas. Triste enredo de final previsível.»

A Leonor Pinhão, tal como alguns outros - anónimos e menos anónimos -, finalmente começa a perceber que há que acabar com os paninhos quentes. Defender o Benfica não é ver uma realidade decrépita e fingir, sob o boçal pretexto de que se está a defender o clube, que está tudo bem. 

Ainda bem que abriste os olhos, Leonor. Que nunca mais os feches.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A invenção do amor

Em primeiro lugar, gostaria de perguntar publicamente aos senhores do Grupo da Luz a razão de não terem chegado à minha conta bancária aqueles euritos que estavam previamente acordados se eu criticasse convenientemente esta Direcção. Ora, desde 2008, data da inauguração deste blogue, não raras vezes assumimos o nosso competente papel de abutres e abutrizámos bastante e de forma extraordinariamente assertiva - diria mais: fomos maus benfiquistas como ninguém nunca soube ser. Parece-me, por isso, e assumindo os respectivos rectroactivos, da mais elementar justiça que os senhores do Grupo da Luz tenham tudo isto em consideração e me paguem chorudos honorários por tamanha fidelidade à causa. 

Dito isto, e esperando que a pinga nunca acabe, é com regozijo que anuncio a contratação de mais dois abutres - estes famosos e tudo! - à nobre causa da abutrização benfiquista. Gente que, de tão maus escrúpulos e parca noção do que é defender o Benfica, vem com novas motivações para este futuro que está quase a chegar: querem tacho, se possível com direito a camarotes e muitos repastos gourmet. Tudo contra o Benfica, naturalmente, que é sempre o que (n)os move. É evidente que chegaram agora a este estado por terem lido consecutivamente este blogue, nem sequer há outra possibilidade. A nojice ideológica, mesmo que a conta-gotas, acaba por verter e convencer os mais teimosos e extraordinários benfiquistas. Como tal, espero receber percentagens também nos honorários de Leonor Pinhão e Pedro Ribeiro, que passam a partir de hoje a fazer parte do maravilhoso Grupo da Luz, seja lá o que isso for.

Estes dois verdadeiros abutres maledicentes inventaram coisas muito bizarras e muito pouco gloriosas: atacaram vilmente o Benfica! Tornearam-lhe o flanco, deixaram de apoiar na internet, nunca mais disseram "é preciso apoiar nos blogues" e meteram-se em estranhos romantismos hipócritas, falando num Benfica qualquer que havia, não dando o merecido destaque ao senhor que nos salvou do inferno e que, contra a vontade de amigos e família - inclusivamente do cão, que encarecidamente lhe exige aos soluçãos ãos ãos que abandone estes sacrifícios de enriquecer pelo Benfica -, persiste na teimosa ideia de manter o mais puro benfiquismo à tona, contratando para lugares de destaque portistas e sportinguistas, é bem verdade, mas porque recheados de competência e altruísmo desmedido.

Não, isto assim não pode ser. Há que atacar pela base todo e qualquer tipo de abutre que se digne a dar uma opinião crítica. Um mundo sobrevive pelo método, pela disciplina, pela capacidade de engaiolar mentalidades. Basta uma voz discordante e todo a pedra e tijolo com que se constrói um império de "valorização de jogadores", "excelente capacidade negocial", "vice-campeonatos consecutivos", "equilíbrio de contas" começa a ruir de forma vergonhosa. 

É suficiente um abutre que se indigne contra a incompetência generalizada (maus feitios, obviamente), um papagaio que papagueie ideias estranhas como aquela bizarríssima clemência: "não sejamos iguais aos portistas na estúpida justificação dos nossos erros", um travestido adepto que anuncie o fim dos valores do clube; bastam pormenores e pessoas mal-formadas desta estirpe para que todo este sublime colectivo dirigente se mexa muito em corredores esconsos, palavras assertivas saiam da boca de Pedro Guerra (em defesa do Benfica!), movimentações, questionários, interrogações, sanhas, ofensas, tratados de seguidismo avancem para todas as Casas do Benfica, todos os telemóveis dos sócios, todos os emails dos adeptos, todas as caixas de correio dos verdadeiros benfiquistas. Urge estancar este fluxo e refluxo que se manifesta, dar-lhe curativo, controlá-lo, engaiolá-lo numa zona do estádio que não acabe em incêndio.

Nesta caça aos bruxos e às bruxas, nesta identificação e arquivo, perseguição e insulto, ofereço - a troco de uns euritos, claro está - a minha mudança de ideologia (qual ideologia? abutrismo!) se alguma empresa ligada a algum funcionário do Benfica me quiser receber. E, como teaser, lanço um nome para a arena, um nome de um homem perigosíssimo que "inventou o amor" e ironicamente (devem pensar que somos todos Pedros Guerras) escreveu sobre isso: Daniel Filipe. É preciso encontrar este homem. Descobrir-lhe o blogue onde escreve. Desmascará-lo. Se necessário, ressuscitá-lo e voltar a matá-lo. O benfiquinha urge.



«Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e
detergentes na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa
esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor


Em letras enormes do tamanho do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções paras os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as suas consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas


Fechem as escolas
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste
Inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros. É absoIutamente vital que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio
das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde quer que se escondam
ao temor do castigo

Que todos estejam a postos
Vigilância é a palavra de ordem
Atenção ao homem e à mulher de que se fala nos cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem denunciem
Telefonem à polícia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade o país a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer às medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio o habeas corpus o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade nocturna
É preciso encontrá-los
É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz
Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
Lhe lembravam a infância
Campos verdes floridos Água simples correndo A brisa nas montanhas

Foi condenado à morte é evidente
É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Impõe-se sistematizar as buscas Não vale a pena procurá-los
nos campos de futebol no silêncio das igrejas nas boîtes com orquestra privativa
Não estarão nunca aí
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
A identificação é fácil
Onde estiverem estará também pousado sobre a porta
um pássaro desconhecido e admirável ou florirá na soleira a mancha vegetal de uma flor luminosa
Será então aí
Engatilhem as armas invadam a casa disparem à queima roupa
Um tiro no coração de cada um
Vê-los-ão possivelmente dissolver-se no ar Mas estará completo o esconjuro
e podereis voltar alegremente para junto dos filhos da mulher

Mais ai de vós se sentirdes de súbito o desejo de deixar correr o pranto
Quer dizer que fostes contagiados Que estais também perdidos para nós
É preciso nesse caso ter coragem para desfechar na fronte o tiro indispensável
Não há outra saída A cidade o exige
Se um homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão
já sabeis o que tendes a fazer Matai-o Amigo irmão que seja
matai-o Mesmo que tenha comido à vossa mesa e crescido a vosso lado
matai-o Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza líquida
até ao fim da noite Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para impor o silêncio secreto e inviolável

Procurem a mulher e o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atónito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios Crê-seque a situação vai atingir o climax
e a polícia poderá cumprir o seu dever

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
A voz do locutor definitiva nítida
Manchetes cor de sangue no rosto dos jornais

É PRECISO ENCONTRÁ-LOS ANTES QUE SEJA TARDE

Já não basta o silêncio a espera conivente o medo inexplicado
a vida igual a sempre conversas de negócios
esperanças de emprego contrabando de drogas aluguer de automóveis
Já não basta ficar frente ao copo vazio no café povoado
ou marinheiro em terra a afogar a distância
no corpo sem mistério da prostituta anónima
Algures no labirinto da cidade um homem e uma mulher
amam-se espreitam a rua pelo intervalo das persianas
constroem com urgência um universo do amor
E é preciso encontrá-los E é preciso encontrá-los

Importa perguntar em que rua se escondem
em que lugar oculto permanecem resistem
sonham meses futuros continentes à espera
Em que sombra se apagam em que suave e cúmplice
abrigo fraternal deixam correr o tempo
de sentidos cerrados ao estrépito das armas
Que mãos desconhecidas apertam as suas
no silêncio pressago da cidade inimiga

Onde quer que desfraldem o cântico sereno rasgam densos limites entre o dia e a noite
E é preciso ir mais longe destruir para sempre o pecado da infância erguer muros de prisão em circulos fechados impor a violência a tirania o ódio

Entretanto das esquinas escorre em letras enormes
a denúncia total do homem e da mulher
que no bar em penumbra numa tarde de chuva
inventaram o amor com carácter de urgência

COMUNICADO GOVERNAMENTAL À IMPRENSA

Por diversas razões sabe-se que não deixaram a cidade o nosso sistema policial é óptimo estão vigiadas todas as saídas encerramos o aeroporto patrulhamos os cais há inspectores disfarçados em todas as gares de caminhos de ferro

É na cidade que é preciso procurá-los
incansavelmente sem desfalecimentos
Uma tarefa para um milhão de habitantes
todos são necessários
todos são necessários
Não sem preocupem com os gastos a Assembleia votou um crédito especial
e o ministro das Finanças
tem já prontas as bases de um novo imposto de Salvação Pública


Depois das seis da tarde é proibido circular
Avisa-se a população de que as forças da ordem
atirarão sem prevenir sobre quem quer que seja
depois daquela hora Esta madrugada por exemplo
uma patrulha da Guarda matou no Cais da Areia
um marinheiro grego que regressava ao seu navio

Quando chegaram junto dele acenou aos soldados
disse qualquer coisa em voz baixa e fechou os olhos e morreu
Tinha trinta anos e uma família à espera numa aldeia do Peloponeso
O cônsul tomou conhecimento da ocorrência e aceitou as desculpas
do Governo pelo engano cometido
Afinal tratava-se apenas de um marinheiro qualquer
Todos compreenderam que não era caso para um protesto diplomático
e depois o homem e a mulher que a policia procura
representam um perigo para nós e para a Grécia
para todos os países do hemisfério ocidental
Valem bem o sacrifício de um marinheiro anónimo
que regressava ao seu navio depois da hora estabelecida
sujo insignificante e porventura bêbado


SEGUE-SE UM PROGRAMA DE MÚSICA DE DANÇA

Divirtam-se atordoem-se mas não esqueçam o homem e a mulher
Escondidos em qualquer parte da cidade
Repete-se é indispensável encontrá-los
Um grupo de cidadãos de relevo ofereceu uma importante recompensa
destinada a quem prestar informações que levem à captura do casal fugitivo
Apela-se para o civismo de todos os habitantes
A questão está posta É preciso resoIvê-la para que a vida reentre na normalidade habitual
Investigamos nos arquivos Nada consta
Era um homem como qualquer outro
com um emprego de trinta e oito horas semanais
cinema aos sábados à noite
domingos sem programa
e gosto pelos livros de ficção cientifica
Os vizinhos nunca notaram nada de especial
vinha cedo para casa
não tinha televisão,deitava-se sobre a cama logo após o jantar
e adormecia sem esforço

Não voltou ao emprego o quarto está fechado
deixou em meio as «Crónicas marcianas»perdeu-se precipitadamente no labirinto da cidade
à saída do hotel numa tarde de chuva
O pouco que se sabe da mulher autoriza-nos a crer
que se trata de uma rapariga até aqui vulgar
Nenhum sinal característico nenhum hábito digno de nota
Gostava de gatos dizem Mas mesmo isso não é certo
Trabalhava numa fábrica de têxteis como secretária da gerência
era bem paga e tinha semana inglesa
passava as férias na Costa da Caparica.

Ninguém lhe conhecia uma aventura
Em quatro anos de emprego só faltou uma vez
quando o pai sofreu um colapso cardíaco
Não pedia empréstimos na Caixa
Usava saia e blusa
e um impermeável vermelho no dia em que desapareceu

Esperam por ela em casa: duas cartas de amigas o último número de uma revista de modas a boneca espanhola que lhe deram aos sete anos
Ficou provado que não se conheciam Encontraram-se ocasionalmente num bar de hotel numa tarde de chuva sorriram inventaram o amor com carácter de urgência mergulharam cantando no coração da cidade

Importa descobri-los onde quer que se escondam antes que seja demasiado tarde e o amor como um rio inunde as alamedas praças becos calçadas quebrando nas esquinas

Já não podem escapar Foi tudo calculado
com rigores matemáticos Estabeleceu-se o cerco
A policia e o exército estão a postos Prevê-se
para breve a captura do casal fugitivo
(Mas um grito de esperança inconsequente vem
do fundo da noite envolver a cidade
au bout du chagrin une fenêtre ouverte
une fenêtre eclairée)»


quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Ontem foi à televisão

A pedido de várias famílias e amigos aqui do estaminé, fica o vídeo do programa "Sacanas sem Lei", no qual participei. Foi uma experiência bonita, agradável, benfiquista. Peço desculpa aos mais sensíveis pelas imagens chocantes de uma lontra de t-shirt azul fingindo ser um adepto do Benfica. 



quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Ontem hoje. No Canal Q.

Eis que é chegado o momento de glória suprema deste blogue. De uma coisa estamos certos: a partir daqui será sempre a descer. O Ricardo, esse espécime de mau-benfiquismo, é um dos convidados do programa de hoje à noite “Sacanas sem Lei” especialmente dedicado ao benfiquismo romântico. O outro convidado é Medeiros Ferreira e a entrevista será conduzida pela Leonor Pinhão. O programa vai para o ar às 23h no Canal Q (não é bem a Odivelas TV, mas foi o que se arranjou).

Não percas isto, ó Lemos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Entrevista - Leonor Pinhão

As crónicas da Leonor Pinhão n´"A BOLA" são, para muita gente do universo benfiquista, a única razão pela qual compram o jornal nos dias que correm - só isto basta para saber o respeito, admiração e agradecimento que todos temos pela defesa intransigente que a Leonor faz do nosso clube. Não são precisas mais apresentações. Venham as suas respostas às nossas perguntas. E o agradecimento por ter aceitado de imediato o convite.


Costumas acompanhar a blogosfera benfiquista? 

A blogosfera não é, decididamente, a minha esfera. Embora, às vezes, haja quem me chame a atenção para um ou outro texto.


Rui Gomes da Silva tem-se especializado na função de vigilante dos blogues do Benfica, não raras vezes criticando a forma como estes abordam os assuntos do clube. Faz sentido um Vice-Presidente do Benfica participar num programa televisivo, abrindo o jogo sobre assuntos internos do Benfica e chamando abutres aos que discordam do caminho traçado pela actual Direcção?

Depende. Se, por exemplo, o Ricardo Araújo Pereira fosse vice-presidente do Benfica eu acharia muito bem que fosse ele a defender-nos em todos os programas de televisão. Portanto trata-se de uma simples questão de talento e de inteligência. 


Que balanço fazes do trabalho da actual direcção do SLB?

Notável do ponto de vista da imposição do Benfica como uma marca comercial e do tratamento dos mais de 200 mil sócios como clientes putativos de uma base de dados vocacionada para o marketing. Penso que naquilo que é essencial e que é o “objecto” número um do clube, o futebol, ainda estamos longe da competência e da criatividade exibidas na área comercial.


Que explicações encontras para a perda do último campeonato após termos uma vantagem de 5 pontos sobre o 2ª classificado?

Falhanços a mais na área da política e das relações com as instituições e nas áreas das equipas adversárias. 


Jorge Jesus tem qualidade suficiente para ser treinador do Benfica ou o que lhe sobra em talento falta-lhe em humildade?
Jorge Jesus é um bom treinador.


Por que razão o clube não aproveita melhor os jogadores saídos das camadas jovens?

Provavelmente porque não são de qualidade indiscutível.


A estratégia que passa por comprar jogadores ao desbarato na esperança de encontrar dois ou três que compensem o investimento faz sentido?

Ao “desbarato” é como quem diz… Penso que é essa, de alguma forma, a prática corrente do negócio do futebol a nível mundial. 


Por que razão no jornalismo desportivo em Portugal quase não existem investigação rigorosa e consequente divulgação de todos os interesses, manobras de bastidores e corrupção em que o futebol português é fértil?

Porque as represálias são muitas e interiorizando-se o conceito, justo, de que os jornais não são tribunais nem esquadras da polícia, fica resolvida, do ponto de vista da consciência, essa transcendente questão. 


O jornalista desportivo em Portugal tem total liberdade de processos?

Desejo que sim.
  

Assumes, sem problemas, o clube de que és adepta. Isto é uma raridade no jornalismo desportivo porquê?

Na verdade eu não sou jornalista desde 1998. No sentido em que não tenho vínculo a nenhum quadro de redacção de nenhum jornal. Escrevo textos de opinião, a minha opinião. Por isso sinto-me absolutamente à vontade para assumir publicamente o meu benfiquismo doa a quem doer e, por norma, é a mim que me dói mais… 


Estás satisfeita com a política de comunicação do Benfica? Se não, quais os problemas principais?

Em termos de marketing de produtos é muito boa. Em termos de marketing do futebol depende sempre da posição da equipa na tabela classificativa. E por ser assim uma relação tão directa, às vezes torna-se confrangedora. 


Gostarias de ter algum cargo no clube ou preferes a condição de adepta e nada mais do que isso?

De modo algum. Tenho a capacidade mais do que suficiente para me enxergar… 


O Benfica deve aliar-se a pessoas com um passado duvidoso - como actualmente - ou deve seguir o caminho do "se é para nos lixarem, ao menos não o fazem com o nosso aval"?

Como benfiquista incomoda-me mais a presença de ex-funcionários de rivais no interior do próprio clube. Provavelmente, tenho uma visão romântica e ultrapassada da realidade. Mas é a minha visão. 


Percebeste a estratégia(?) do apoio inequívoco de Luís Filipe Vieira a Fernando Gomes? Se sim, explica-nos porque nós não percebemos.

Boa-fé e misticismo, talvez. Crença na redenção, provavelmente. Péssimos conselheiros, certamente. 


3 palavras que caracterizem Luís Filipe Vieira (orelhas não vale).

Presidente do Benfica. 


3 palavras que caracterizem Jorge Jesus (Rod Stewart da Reboleira também não vale).
 
Treinador do Benfica. 


De que forma lês as mudanças drásticas de ideologia de alguns ilustres benfiquistas, com António-Pedro Vasconcelos à cabeça?

Francamente, nem sei do que estás a falar. Não sou uma consumidora ávida das opiniões e ideologias dos outros. Nunca vejo programas de debates televisivos e não tenho qualquer tipo de curiosidade pelo que se diz na praça. Sou um bocado autista, confesso. 


Os nossos leitores sabem que admiramos muito o Luís Fialho, do blogue "A VEDETA DA BOLA" e cronista no jornal do clube. Confirmas que ele tem um número em que faz a espargata, o pino e o mortal à rectaguarda, tudo isto em simultâneo e enquanto equilibra um copo de leite meio-gordo na ponta no nariz?

Não faço a mínima ideia quem seja o Luís Fialho, com o devido respeito. 


Confirmas-nos que João Gabriel é afinal Juan?

A única coisa que posso confirmar é que o João Gabriel já era há muito benfiquista antes de ser funcionário do Benfica. Parece-me um bom princípio. 


Com eleições à porta, acreditas que Vieira vai enfrentar uma forte concorrência ou a vitória é tão certa como nós ganharmos a próxima Taça da Liga?

Nesta altura do campeonato é impossível fazer prognósticos pela razão simples de que… não há campeonato. Pela minha experiência nestas coisas, que é igual à experiência de todos nestas coisas, penso que se o Benfica iniciar a próxima temporada com qualidade e vitórias, Luís Filipe Vieira ganhará facilmente as eleições por mais forte que seja a concorrência. Dando-se o caso contrário, ou seja, um arranque de época titubeante e fraquinho, por mais fraca que seja a concorrência, teremos uma campanha eleitoral mais agitada com uma concentração de forças opositoras ao regime em vigor e muito estardalhaço nos jornais, nas rádios, nas televisões e nas paredes do nosso Estádio. 


Estaremos condenados a umas eleições entre Vieira e Veiga (este através de uma figura que possa candidatar-se) ou crês na possibilidade de várias candidaturas em Outubro?

Desejo muito que isso não aconteça. Aborrece-me à partida a ideia de ter de ouvir os nossos adversários mais sagazes a atirarem-nos cruelmente à cara que as eleições no Benfica se disputam entre dois ex-sócios do FC Porto. E o que é que a gente responde a uma coisa destas? 


Se, para além de Vieira, pudesses escolher mais 2 candidatos para as próximas eleições, quem seriam? E desses 3, em quem votarias?
 
Joaquim Ferreira Bogalho, Duarte Borges Coutinho. Votaria em Luís Filipe Vieira por razões óbvias. Tenho estima e respeito pela figura de Luís Filipe Vieira. Penso que ele próprio é, frequentemente, o mais surpreendido por as coisas – e refiro-me ao futebol profissional – não tomarem o rumo com que sonhou. Não é uma falha de carácter acreditar, como aparentemente acredita, na bondade das pessoas e na bondade das instituições. É apenas falta de intuição política pura e dura. 


Qual o perfil ideal de presidente para o SLB?

A um presidente do Benfica exigem-se “desumanidades” que são estranhas à índole de Luís Filipe Vieira. Por exemplo esta: o melhor amigo do presidente do Benfica só pode ser o Benfica. Ou esta: saber não dar ouvidos a lisonjas. Tudo isto se aprende. 


O que diria Carlos Pinhão deste Benfica?


Penso muito nisso. A demolição do Estádio da Luz teria sido um desgosto, certamente. Mas ninguém tem o direito de falar pelos que já cá não estão, não é?