Olho para os nossos adversários e
penso em como seria uma tremenda injustiça não nos sagrarmos campeões esta
época. A equipa do Benfica apresenta a regularidade e consistência exibicionais
que fazem os campeões, conseguindo com frequência aliar a estes dois factores o
sempre desejável futebol-espectáculo, determinante para entusiasmar os adeptos,
fazendo-os entrar numa perfeita comunhão com a equipa que transcende e relega
para segundo plano as mais prementes necessidades do adepto benfiquista. E,
como todos bem sabemos, não há nada nem ninguém que afecte o estado de espírito
de um benfiquista empolgado. Ou há?
Se os factores atrás descritos me
dão motivos para encarar a segunda metade do campeonato de uma forma
optimista, outros há que me deixam algo apreensivo. E já não falo das carências
óbvias do plantel, nomeadamente da qualidade (ou falta dela) de alguns
jogadores que envergam o manto sagrado. Fechado o mercado de Inverno não nos
resta grande alternativa senão rezar para que a velha máxima “fazer das
fraquezas forças” se aplique em todo o seu esplendor, pois é com estes
jogadores que temos de contar até ao final. O que me deixa apreensivo - e,
certamente, a todos os benfiquistas -, dizia eu, é verificar que o triste
espectáculo das nomeações de árbitros continua a passear o seu perfume
pestilento de forma desavergonhada. Isto vai requerer outro tipo de trabalho
por parte de Jorge Jesus, muito para além do treino físico ou táctico: urge
preparar mentalmente os jogadores para o que aí vem. Um gesto irreflectido por
parte de um deles poderá comprometer irremediavelmente tudo o que de bom se fez
até aqui. De um jogador nervoso a uma equipa à beira de um esgotamento vai um
pequeno passo. Parece-me que Jorge Jesus já percebeu isso, a avaliar pela forma
como Luisão afastou e mandou calar os colegas que protestavam o ridículo penalty
assinalado por Jorge Sousa
a Emerson. Não foi um simples “calem-se” que eu vi ali. O que eu vi ali, quero
crer, foi um “calem-se que a gente já mete mais duas ou três no bucho a estes cabrões”.
Este é, indubitavelmente, o caminho para atingir a vitória. Não há outro.
Daqui a poucas horas temos um
jogo complicadíssimo. Desenganem-se aqueles que pensam que o jogo do título é o
de 2 de Março. Ou bem que chegamos lá com a vantagem pontual merecidamente conquistada até este momento, ou tudo poderá desmoronar-se que nem um castelo de cartas. Sim, é
uma visão pessimista, mas já tive visões destas em cor-de-rosa e só me
trouxeram dissabores. O jogo que decide o campeonato é hoje e se a equipa não
encarar isto desta forma está dado o mote para o fracasso. O Vitória de
Guimarães é, tradicionalmente, um adversário difícil de superar. Jogando em
casa, é duplamente mais complicado. Com Xistra a arbitrar, as dificuldades mais
do que quadruplicam. É chegada a altura de sermos espertos e Jesus, com todos
os defeitos e virtudes que possa ter, é esperto. No meio da inquietude que
sinto neste momento, a esperteza de Jesus descansa-me um pouco. Se é certo que
o campeonato ainda está muito longe de estar decidido a nosso favor, não é
menos verdade que a glória suprema pode estar ali ao virar da esquina.
Fevereiro é, portanto, o mês das
grandes decisões. É em Fevereiro que vamos saber se recebemos os azuis com uma margem
confortável, se apagamos as luzes do campeonato mais cedo ou se as mantemos
acesas até ao final. E é também em Fevereiro, conforme garantiu o nosso
presidente, que se decide o negócio dos direitos de transmissão do clube,
fundamental para o Benfica dos anos vindouros, onde se saberá se o Ás de trunfo “Benfica TV” não era apenas uma manilha seca.