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domingo, 13 de outubro de 2013

Vieira: o nosso pequeno ditador

Excelente texto do David Duarte, no Cabelo:


«Vieira : o nosso pequeno ditador

Por vàrias vezes ouvimos a oposição a Vieira criticar a natureza da relação que o actual presidente do Sport Lisboa e Benfica tem com o poder. Esta critica traduz-se na comparação entre os métodos utilizados pela governação de Vieira e aqueles que estiveram na base da consolidação dos regimes autoritàrios/totalitàrios, sejam eles de esquerda ou de direita. Ora, a gravidade destas acusações merece uma reflexão sobre a sua legitimidade, partindo das vàrias anàlises realizadas pela Ciência politica que fizeram de tais regimes não apenas o resultados de pulsões e medos das populações, mas estruturas pensadas e conscientes.

O poder

Um dos principios bàsicos de todo o regime autoritàrio/totalitàrio é a alteração da lei fundamental do Pais de modo a que o Chefe tenha um fundamento legal para guardar o poder, mesmo se tal fundamento consiste na negação da propria legalidade. Foi o caso do regime nazi ao negar a validade dos textos constitucionais. Porém, os regimes autoritàrios/totalitàrios não têm necessidade de ir ao extremo do regime nazi para conservar o poder do Chefe. A grande maioria destes limita-se a uma alteração constitucional que centra o poder no Chefe e dificulta, através da legislação, a emergência de oposições, ou pelo menos a sua representatividade politica. Tais mudanças constitucionais podem ser realizadas através da unica vontade do Chefe, mas igualmente através de métodos "democràticos" como o recurso a referenda. Um bom exemplo de tais métodos "democraticos" foi a mudança constitucional realizada por Hugo Chavez hà alguns anos na Venezuela que transformou uma democracia popular de tipo sul-americana em regime autoritàrio.

Neste ponto, é clara a legitimidade da comparação entre Vieira e os regimes autoritàrios/totalitàrios. Tal como os Chefes, o pequeno chefe Vieira alterou a lei fundamental do Benfica, a sua Constituição, de modo a fechar as portas do poder a toda a oposição. O método utilizado foi o método "democràtico", visto que tal mudança foi legitimada pela votação dos socios.


Fonte : Ontem vi-te no Estadio da Luz

A diversidade

Aqui convém fazer uma distinção conceptual entre o que é um regime autoritàrio e um regime totalitàrio. Esta diferença conceptual encontra-se no facto de, enquanto nos regimes totalitàrios toda a diferença é anulada, eliminada em favor de uma unica visão do mundo, uma unica ideologia, nos regimes autoritàrios uma certa diversidade é tolerada se ela não coloca em causa a ideologia predominante. De qualquer das formas, nos dois tipos de regime toda a oposição que representa um perigo para a ideologia predominante deve ser eliminada. Os casos mais extremos levam à eliminação fisica dos elementos da oposição. Nos casos mais "brandos" ao simples apagamento no espaço publico dos meios susceptiveis de favorecer a comunicação das ideias da oposição.

Neste ponto, Vieira apresenta-se como um excelente chefe mostrando um dominio quase perfeito dos métodos autoritàrios. Ao recusar debater com o seu adversàrio aquando das ultimas eleições, Vieira eliminou toda a possibilidade que este tinha de apresentar aos benfiquistas uma visão diferente (melhor ou pior, não interessa, não sendo essa a questão aqui) daquilo que é o Benfica. Não apenas decidiu não debater com a oposição como igualmente o meio de comunicação do proprio clube, que deveria defender os interesses do clube e não de uma pessoa, absteve-se de entrar na campanha, mesmo se era por demais evidente para quem acompanhou a campanha as constantes tomadas de posição em favor de Vieira. Não debatendo e tirando a possibilidade ao seu adversàrio de utilizar um meio de comunicação previligiado como é o canal do clube, Vieira reduziu o espaço publico do seu adversàrio à Internet, meio em que os proprios Estados têm dificuldade em controlar.

Outra forma que o Chefe nos regimes autoritàrios/totalitàrios tem para acabar com a oposição ou pelo menos controlà-la é através de negociações pelas quais consegue o apoio de uma parte da oposição em troca de algum poder. Este método é evidente em todos os regimes, inclusivé nos regimes democraticos (as ditas alianças). Foi o método previligiado pelo Partido Nazi na sua relação com os partidos conservadores até chegar ao poder. Ao conseguir o apoio do principal partido conservador, Hitler "calou-o" pela integração, tirando do espaço publico aquele que era na altura o seu principal rival.

Ora, foi o método utilizado pelo pequeno chefe para com aquele que era o seu principal adversàrio a dada altura. Ao integrar Moniz na sua equipa em troco de algum poder na estrutura do clube, Vieira conseguiu controlar um dos maiores perigos para a sua governação, deixando, no mesmo acto, muitos opositores sem a representatividade que Moniz incarnava.

Propaganda

A propaganda sempre foi o meio mais eficaz que os regimes autoritàrios/totalitàrios utilizavam nas suas relações com o povo. Ela consistia numa simplificação dos argumentos que reduziam estes a uma visão binària do mundo onde Bem e Mal se combatiam, o Bem sendo representado pelo Chefe/Partido e o mal pela oposição. Este principio da propaganda é bastante eficaz na medida em que um discurso simples tem maior aceitação da parte do publico, sobretudo porque faz mais apelo à emoção do que à razão.

A propaganda tem um objectivo simples : reduzir a realidade da Nação e do Estado à figura do chefe. Esta redução faz-se através de uma mistificação do Lider, transformado em "salvador" que retira a Nação do estado de degradação no qual se encontrava. Este fenomeno é visivel tanto nos regimes autoritàrios, como o foi o regime de Salazar, como nos totalitàrios, como o regime Nazi. A Nação estava à beira do suicidio, salvando-se graças à intervenção do Salvador que limpou-a da influência das causas do degredo. esta imagem sendo alimentada com a construção de toda uma narrativa que fortalece a imagem do Salvador, mesmo se o que é contado està longe de corresponder à realidade concreta. A queda do Lider corresponderia assim à queda da Nação.


Fonte : site do Sport Lisboa e Benfica

A consolidação do poder do chefe através da construção de uma imagem não apenas literària como visual acompanha-se de todo um imaginàrio do inimigo transformado em Diabo que deve ser combatido para que não exista o perigo do regresso ao passado desastroso. Ao criar um mundo reduzido a dois polos, o Bem e o Mal, a propaganda consegue fazer com que o controlo da oposição seja feito por elementos exteriores à propria estrutura do Estado. Hannah Arendt demonstrou muito bem como o crescimento do Partido Nazi e o controlo da oposição dependeu mais de uma parte da população alemã do que dos proprios grupos militares do Partido. Era esta população afeta ao Partido Nazi sem contudo ter aderido a ele quem controlava as praças, as ruas, os prédios, sempre atenta a todo o desvio ideologico para depois, no pior dos casos, praticar a denunciação ou então, no melhor dos casos, descredibilizar socialmente as pessoas responsaveis pelos comportamentos desviantes.

Neste ponto igualmente, o nosso pequeno chefe não tem nada a dever aos grandes Chefes do século XX. Vieira construiu todo um discurso bàsico onde ele, e apenas ele, representa o Bem do Benfica enquanto toda a oposição, por muito variada que seja, é a incarnação do Mal, entenda-se do Vale e Azevedo. Neste sentido, toda a critica ao vieirismo é entendida, para uma boa parte dos benfiquistas, como um ataque ao proprio clube e uma vontade, mais ou menos consciente, de regressar aos tempos da podridão (quantas vezes não vemos nos blogs ou mesmo da boca de Vieira o argumento do regresso aos tempos de Vale e Azevedo?). E, tal como nos regimes autoritàrios/totalitàrios, esta propaganda fez nascer toda uma classe que, não pertencendo à estrutura, é-lhe bastante util na medida em que ela actua em seu nome e com a profunda convicção de estar a defender o clube. Trata-se da Guarda vieirista bem presnte nos diferentes blogs e que, assim que sente que existe um desvio em relação ao discurso oficial, procura descredibilizar os autores de tal heresia não pela argumentação mas pela caricatura (melhor forma de reduzir um argumento à logica binària na qual se encontram). Tais personagens são bastante visiveis e facilmente diferenciamos um vieirista como eles de um benfiquista que votou Vieira.

Igualmente interessante nesta comparação é a utilização da parte da Guarda vieirista da ameaça de violência fisica como forma de intimidar os opositores ao lider. Não preciso de demontrar a utilização deste método nos ditos regimes autoritàrios/totalitàrios... e uma pequena busca nos blogs benfiquistas mostrarà que trata-se de um dos métodos previligiados pela dita Guarda.

Conclusão

Por estas razões aqui demonstradas, a comparação entre os métodos do Vieira e os métodos dos regimes autoritàrios/totalitàrios não apenas é legitima como a proximidade dos mesmos deveria despertar uma atenção especial dos benfiquistas. Isto porque, como jà disse num outro post  (http://cabelodoaimar.blogspot.fr/2013/08/o-que-e-apoiar-o-benfica.html), a identidade do Benfica, a alma do Benfica é indissociavel do principio democràtico, da liberdade e da existência de uma pluralidade no interior do proprio clube

Muitos, alguns de boa-fé, outros pretenciosamente, afirmam que em nada tal comparação pode ser feita visto que se trata de alguém que està no poder graças aos votos dos benfiquistas. Gostaria de recordar a quem apresenta tal argumento que em nada o facto de existirem eleições implica que o poder seja democràtico. Foi através de eleições que o Partido Nacional-Socialista chegou ao poder na Alemanha, em Cuba sempre se realizaram eleições, em Portugal também existiram eleições durante o fascismo. A democracia não se reduz a um acto eleitoral Este, sem o respeito dos principios fundamentais da liberdade e da dignidade, é apenas uma forma vazia que retira todo o conteudo à democracia.

Contudo não culpo Vieira por esta situação. Vieira é alguém de inteligente que soube muito bem ganhar o poder num momento extremamente dificil para o Benfica e que mantém-se como pequeno chefe graças a uma eficaz manipulação da realidade benfiquista. Eu critico os socios, os benfiquistas. Porquê? Porque, como Kant muito bem dizia, em ultima instância a responsabilidade é sempre do individuo, cada Nação sendo aquilo que o seu povo merece. Se Vieira està no poder, isto deve-se mais ao facto do Benfica do Vieira ser aquilo que os benfiquistas merecem do que a uma qualquer manipulação, por muito inteligente e eficaz que seja, do universo benfiquista da parte do actual presidente... pensar o contràrio seria dar demasiada importância a quem não a merece. O Benfica são os socios, são os adeptos : o que de bom tivemos no clube sempre se deveu ao amor que os benfiquistas sentem pelo clube... da mesma forma que o que de mau tivemos (temos) no clube sempre se deveu à propria vontade dos benfiquistas.»

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Benfica-Sporting: o jogo dos jogos.

Para eles. 

Para nós, é mais um jogo, contra um bom adversário. Como não odiamos ninguém, nem passamos meia-hora de um jogo da Taça contra o Braga a insultar o Sporting, como amamos o nosso clube e é para ele que canalizamos todas as nossas energias, o jogo de Sábado será igual a tantos outros: um jogo para ganhar. E o Sporting até tem sido boa clientela ao longo da História - geralmente, sai vergastado da Luz, de cauda murcha, para baixo, em prantos. 

O jogo dos jogos, no fundo, só tem uma via: a de Alvalade para a Catedral. O sportinguista tem três dias importantes no ano: o primeiro, ainda em férias na praia de Carcavelos, enquanto se banha nas águas límpidas de preservativos e dejectos humanos, quando vai comprar o "Record" logo pela manhã e avisa a mulher "querida, hoje vou sair mais cedo, não consigo pensar noutra coisa" e só descansa quando vê o calendário da Liga Portuguesa, em que vê, nervoso, os dias em que o seu clube irá defrontar o Benfica. Chegado a casa, avisa logo: "estive a fazer umas contas: no fim-de-semana X deste ano e no fim-de-semana Y do próximo não contes comigo, tenho ódio a cumprir". Liga aos amigos, prepara um jantar na Ericeira em que discutirá os detalhes e passará o resto dos dias a pensar no jogo, o grande jogo, o dérbi, o clássico dos clássicos. Acabado esse segundo dia mais importante do ano - em que normalmente sai com uma cabeçorra maior que a estupidez cancerígena de Eduardo Barroso -, logo o sportinguista ganha novos ódios e novas esperanças. Até desaguar no fim-de-semana Y, em que, mais uma vez, acaba trucidado mas não perde nem a esperança de odiar mais um bocadinho nem o ódio de não ter esperança de coisa nenhuma. 
 
Desta vez, o sportinguista não tem razões de queixa. Arranjaram-lhe uma boa jaula no Estádio da Luz, terá a companhia dos seus dirigentes, poderá vociferar sem que lhe oiçam as asneiras (que ficam sempre mal em homens decentes), visto que, como defende o cérebro Salema Garção, uma rede tem essa poderosíssima capacidade de abafar o som. Ideia de tal forma genial, que é pena não ter sido descoberta pelos grandes ditadores do século passado. 

 Teríamos evitado muito mal-estar e noites mal-dormidas se, em vez de colocarmos os presos em salas obscuras, os tivéssemos posto em pleno Marquês de Pombal, com uma rede a cair dos dentes dos leões até à calçada. Com o suplemento extra: poderíamos observar os animais a céu aberto, com as consequências favoráveis que daí adviriam para o sucesso panfletário do próprio país. Ah António de Oliveira, António de Oliveira, quanta estratégia bélica que ficou por cumprir!

Ao que parece, a ASAE já deu o aval: é uma jaula com condições nível A, bons acabamentos, excelentes condições higiénicas e respeitadora dos direitos mais primitivos das bestas. O próprio Victor Hugo Cardinalli já veio a público orgulhar-se do relatório de que a sua estrutura foi alvo, respondendo inclusivamente que pensa ir passar férias à jaula num futuro próximo, como prova de que, e cito, "para os meus leões, tudo! só não tiro da minha própria boca e meto na deles porque aqui há um ano tive um problema com o tranquilizador do Jubas e acabei sem braço". 

 Exceptuando este pequeno incidente, Victor Hugo garante estar de boas relações com os animais e só pede que "o Benfica não marque muitos golos, que é para eles não chegarem à Malveira [local da próxima apresentação do circo] com instintos suicidas", pedido que não sabemos se terá eco nos corações dos benfiquistas mas que - não custa pensar -, dadas as boas relações entre os dois clubes, será tido em linha de conta.