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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um clube cheio de imbecis

Mesmo quando olho para um imbecil tenho-lhe ternura, basta que ele leve o cachecol do Benfica. Ele deve sentir o mesmo, visto que ainda no outro dia vinha a cantar à saída do estádio e quase toda a gente achou comovente. É próprio dos imbecis reconhecerem-se uns aos outros. E eu, imbecil, me acuso.

Há, porém, uma diferença: quando tinha 7 anos, todos os imbecis deste mundo me pareciam pessoas da mais alta importância. Bastava que usassem cachecóis do Benfica ao pescoço, enquanto nos atrelávamos, corpo, fígados, pernas, à massa disforme que ia para o túnel e depois ficava no túnel em coros de eco e ainda no fim, quando aquela água acabava e cada um ia pisar as couves e os bróculos que brotavam do Colombo que ainda não existia. Hoje sou mais recatado: continuo a amar os imbecis mas vejo-lhes, desfocadas, as incapacidades. 

No outro dia até aconteceu imbecilizar-me com outro imbecil. Tudo por uma questão que não vem ao caso mas que tem a ver com coisas a que um imbecil, por mais que se imbecilize, não consegue fugir: o benfiquismo adormecido. Dizia-me esta nódoa de ser humano (e valeu-lhe a camisola vermelha): "temos de apoiar, tu não apoias". E eu imbecilizei-me de tal forma que só não o imbecilizei porque tinha de ir imbecilizar para outro lado. 

Os benfiquistas são muito imbecis. São iguais aos outros que, não sendo imbecis como nós, continuam imbecis com cachecóis mais imbecis porque de outros clubes. Só que há ternura num gesto de um imbecil que não sabe mais: avisa os outros da imbecilidade que leva atrelada, quer domesticar os outros imbecis e fica imbecilizado quando descobre que há imbecis, apesar de diferentes, quase tão imbecis como ele. Ou mais imbecis do que ele. Ninguém sabe, porque ninguém deixa de imbecilizar.

Já me custa mais o imbecil que podia não ser imbecil mas que mantém a imbecilidade por comodismo ou convenção ou necessidade ou característica. A esse geralmente voto um silêncio cheio de cores e sons que acabam numa violência imbecil de gritos e gestos e braços no ar e pedras nos braços e murros na mesa. Aceito-te, imbecil, mas tem algum pudor, por amor aos imbecis que não sabem ser mais do que isso.

Aprende-se muito nas rulotes e nada disto tem que ver com a formação do alcoólico. É mais profundo: imbeciliza-se na visão dos outros. Que gente estranha, esta: camisolas, calções com águias, chapéus ridículos. Prováveis homicidas, não fosse o Benfica. Dormem com um cão chamado Coluna, a sala repleta de espelhos com o símbolo do clube e animais de loiça na varanda. A mulher prepara o repasto, alguém horas depois dirá que está bom mas que é preciso domar aquele piri-piri tão nefasto ao fígado, enquanto bebe uísque de Sacavém aos tragos e atira entremeadas para o bucho. Não, nós somos mesmo muito imbecis. De tal forma que acreditamos que se gritarmos muito vai acontecer golo ou a vida vai mudar.

Não vai. Quando chegares a casa, vais ter a mesma mulher, os mesmos bibelots e a mesma crença. Vais foder a mulher porque estás bêbado e no outro dias vais culpá-la pela diarreia que o picante te causou nas entranhas. Mas ao menos tu não tens a noção de que o Benfica podia ser melhor. Deixa isso para quem fala na Benfica TV. De imbecil em imbecil, o nenúfar da hipocrisia é aquele de onde vou fugir.