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domingo, 2 de abril de 2017

Minúsculo Pereira


Não sou, nunca fui, um odioso de Maxi Pereira por ele ter saído do Benfica para o Porto. É parecido com o Manu Chao - o que me leva sempre a querer gostar dele - e eu não espero que um uruguaio sinta o clube da mesma forma que eu sinto. Além disso, muito haveria a dizer sobre quais as culpas de empresário,  Presidente do Benfica e do próprio jogador. Não,  eu não era o tipo que chamava nomes ao Maxi Pereira.

Mas ontem o Maxi entrou na lista negra do benfiquismo. Não por fazer o golo, que só fez a sua obrigação como jogador do Porto, mas pelos festejos. São festejos de alguém que, tendo estado 8 anos no Benfica, o revelam como pessoa menor. E isso eu não posso aceitar. Um jogador não deve confundir nunca uns assobios de uns idiotas com o clube que representou quase uma década.

Maxi Pereira é hoje um homem que não é do Benfica nem é do Porto - não é amado por uns porque mostrou ser de fraca índole e não é amado por outros porque já foi capitão do rival. Maxi Pereira é hoje o exemplo de um jogador-mercenário que nunca ficará na História dos clubes portugueses por onde passou. E isso, meus amigos de coração largo que ainda gostam deste jogo e de ler os génios que o transformaram em pátria de chuteiras, é o pior que pode acontecer ao futebol.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

La rumba de Benfica

Não me perguntem mais a que horas é o Benfica, em dias de Champions. Exceptuando talvez da namorada, da velhota que me vende litros de cerveja em horas de aperto e dos sportinguistas - que suporto com simpatia e até alguma compaixão -, não consigo ouvir esta pergunta de mais nenhum ser humano ou desumano, animal, vegetal ou quadrúpede. Estou até capaz de abrir um tópico no facebook - "Vamos matar os que desconhecem as 19:45" - e depois lançar apelos de grande logorreia a clamar pela participação das pessoas. É a democracia a fazer valer-se.

Quando eu vi pela primeira vez o Barcelona no Estádio da Luz era tão pequeno que acho que levava ainda as mangas largas de golos do Rui Águas contra o Steaua de Bucareste e a mão do Vata escondida dentro de uma pastilha Gorila. Do terceiro anel, os jogadores pareciam mosquitos - digo isto porque ainda só havia Elifoot; se tivesse sido anos mais tarde, os jogadores teriam parecido bolas do FM e uma barra em baixo, feérica, vermelha e branca, branca e vermelha, histérica com o golo. Sempre foi o problema destes jogos: não filmavam as bancadas. Era por isso que avançávamos nós, em frente ao computador, fazendo gestos de milhares de adeptos, para ver se os nossos jogadores, metodicamente escolhidos na pré-temporada, compreendiam o que era jogar no Benfica e davam mais aquele bocadinho, aquela corrida que chegasse ao golo. Nunca gostei dos cruzamentos para a área em que apareciam várias bolas que se juntavam todas numa e a bola saía a rasar a trave. 

O Bakero tinha um problema óbvio: era de si pequeno, o que compunha uma imagem que, do Terceiro Anel, se me afigurava difícil de perceber. Seria um jogador ou uma mancha de tinta blaugrana no relvado? Só me dava conta de que aquilo se mexia quando via a bola chegar-se-lhe e sair redonda para um lado e para o outro; um ponto no meio do campo que lançava a equipa para um acordeão, às vezes tudo dançava em expansão, outras comprimiam-se num azulejo mágico. O Bakero devia ter a minha altura e eu, não sei bem porquê, sentia que se ele podia estar ali dentro eu também podia apoiar os pés no cimento coberto a cores da Shell e voar para as costas do Paneira para ver o jogo mais de perto. 

Ao longo dos anos, enquanto crescia, fui vendo do Terceiro Anel os jogadores mais crescidos, como se tivessem feito obras no estádio sem que eu tivesse notado. Ou então cresci uma imaginação galopante que me permitia alucinar gigantes numa visão de mosquitos. Era normal: não se ficava indiferente às tardes e noites de tanto Benfica acumulado - até os bancos de suplentes, onde o Toni vociferava impropérios gloriosos, de repente, a meio do meu crescimento, já me parecia que tocavam nos holofotes. Era assim: primeiro chegávamos ao terceiro anel e ficávamos uns minutos a sentir o ar frio de estar do lado de fora da estratosfera; a meio, entre fumos, chouriças e vinhos a martelo (eu só Trina de Laranja e talvez um golito de carrascão, mas não sei prometer), sentíamos que podiamos mesmo estar em território terestre; no fim, o relvado subia-nos sangue adentro e era como se estivéssemos a ver o jogo deitados no campo, com as cotovelos encostados à grama e os ouvidos cheios de peculiares vociferações dos jogadores e o toque da bola sempre que apanhava uma chuteira no caminho.


O Barcelona tinha o Eusebio, que não era o nosso Eusébio e tinha, entre tantos e tão bons, o Laudrup - que esteve quase para ser o Pedro Barbosa ou então o contrário porque eles se confundiam muito naquele lugar que é o da genialidade. Nós tínhamos o Thern, que foi dos primeiros jogadores a confundir ataque com defesa, largura e profundidade e outros nomes para aquilo que afinal é simples e facilmente descodificável: o futebol. Na direita, lembro-me de ver um pequeno ponto vermelho fazer de lateral e extremo e médio criativo e segundo avançado chamado Vítor Paneira, que era aquele tipo de jogador com quem eu gostaria de casar, se eu quisesse casar com um jogador. A perninha direita estava sempre no ar, à espera de um olhar desatento do adversário, enquanto a esquerda mantinha a ligação do atleta ao relvado. A bola ficava à frente, sem lugar definido, mas sempre ao alcance de um qualquer imprevisto. Depois era ver o isco lançado sobre um lado de Paneira e a bola a sair para o meio, o trote de Paneira em crescendo e depois Isaías ou Thern ou Yuran ou Rui Costa ou algum ponto vermelho que, por algum milagre ainda não explicado, sempre surgia tocando ao de leve a bola ou rodopiando em roleta russa o relvado que ia dar ao Pacheco, que, rodando não a perna mas o bracinho direito aos círculos antes de fintar, avançava pelo campo e descobria pequenos nenúfares de onde aparecia em situação de golo. Chapelou Pacheco Zubizarreta mas foi um quase golo. 

A bola no Benfica levava mais ou menos 10 segundos a chegar do guarda-redes à baliza adversária. Eu não sei bem como eles faziam aquilo, uma vez que estava com os olhos e a boca e os braços parados lá do tecto do mundo, mas acontecia começar uma pergunta sobre os detalhes do placar electrónico ao meu Pai, enquanto o Veloso recebia a bola, e ainda estar a concluir o interrogatório fundamental e já a bola estava lançada no Yuran que falhou um golo com o guarda-redes pela frente. O Yuran ia, assim naquele jeito de tractor acolchoado, passar para o lado com o pé esquerdo mas depois passava a bola por entre as pernas do adversário e já estava em frente à baliza. Isto lá de cima parecia tudo um carrossel de certezas, ou era golo ou era quase golo, não havia terceira opção.

Num espaço de ano e meio, vi o Barcelona duas vezes: uma empatámos, esse de que este texto é feito, e outro em que ganhámos por 2-1, numa Pepsi Cup entre Ailton, Rui Águas e Romário e outras coisas que não vêm ao momento. Fiquei muitos anos sem ver o Barcelona na Luz e depois ocorreu Moretto e dias diferentes. Amanhã vou ver a melhor equipa do mundo de todos os tempos contra o melhor clube do mundo de todos os meus vários corações. Seja o que for, será um dia feliz.




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um clube cheio de imbecis

Mesmo quando olho para um imbecil tenho-lhe ternura, basta que ele leve o cachecol do Benfica. Ele deve sentir o mesmo, visto que ainda no outro dia vinha a cantar à saída do estádio e quase toda a gente achou comovente. É próprio dos imbecis reconhecerem-se uns aos outros. E eu, imbecil, me acuso.

Há, porém, uma diferença: quando tinha 7 anos, todos os imbecis deste mundo me pareciam pessoas da mais alta importância. Bastava que usassem cachecóis do Benfica ao pescoço, enquanto nos atrelávamos, corpo, fígados, pernas, à massa disforme que ia para o túnel e depois ficava no túnel em coros de eco e ainda no fim, quando aquela água acabava e cada um ia pisar as couves e os bróculos que brotavam do Colombo que ainda não existia. Hoje sou mais recatado: continuo a amar os imbecis mas vejo-lhes, desfocadas, as incapacidades. 

No outro dia até aconteceu imbecilizar-me com outro imbecil. Tudo por uma questão que não vem ao caso mas que tem a ver com coisas a que um imbecil, por mais que se imbecilize, não consegue fugir: o benfiquismo adormecido. Dizia-me esta nódoa de ser humano (e valeu-lhe a camisola vermelha): "temos de apoiar, tu não apoias". E eu imbecilizei-me de tal forma que só não o imbecilizei porque tinha de ir imbecilizar para outro lado. 

Os benfiquistas são muito imbecis. São iguais aos outros que, não sendo imbecis como nós, continuam imbecis com cachecóis mais imbecis porque de outros clubes. Só que há ternura num gesto de um imbecil que não sabe mais: avisa os outros da imbecilidade que leva atrelada, quer domesticar os outros imbecis e fica imbecilizado quando descobre que há imbecis, apesar de diferentes, quase tão imbecis como ele. Ou mais imbecis do que ele. Ninguém sabe, porque ninguém deixa de imbecilizar.

Já me custa mais o imbecil que podia não ser imbecil mas que mantém a imbecilidade por comodismo ou convenção ou necessidade ou característica. A esse geralmente voto um silêncio cheio de cores e sons que acabam numa violência imbecil de gritos e gestos e braços no ar e pedras nos braços e murros na mesa. Aceito-te, imbecil, mas tem algum pudor, por amor aos imbecis que não sabem ser mais do que isso.

Aprende-se muito nas rulotes e nada disto tem que ver com a formação do alcoólico. É mais profundo: imbeciliza-se na visão dos outros. Que gente estranha, esta: camisolas, calções com águias, chapéus ridículos. Prováveis homicidas, não fosse o Benfica. Dormem com um cão chamado Coluna, a sala repleta de espelhos com o símbolo do clube e animais de loiça na varanda. A mulher prepara o repasto, alguém horas depois dirá que está bom mas que é preciso domar aquele piri-piri tão nefasto ao fígado, enquanto bebe uísque de Sacavém aos tragos e atira entremeadas para o bucho. Não, nós somos mesmo muito imbecis. De tal forma que acreditamos que se gritarmos muito vai acontecer golo ou a vida vai mudar.

Não vai. Quando chegares a casa, vais ter a mesma mulher, os mesmos bibelots e a mesma crença. Vais foder a mulher porque estás bêbado e no outro dias vais culpá-la pela diarreia que o picante te causou nas entranhas. Mas ao menos tu não tens a noção de que o Benfica podia ser melhor. Deixa isso para quem fala na Benfica TV. De imbecil em imbecil, o nenúfar da hipocrisia é aquele de onde vou fugir.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Não tem de quê, Senhor Elias.

Apesar de toda a discriminação e silêncio a que sou votado por parte do Senhor Elias - nem uma estatisticazinha depois dos jogos, um bilhete de borla, uns croquetes, nada -, não quero deixar de dizer, muito humildemente, que o Senhor Elias não tem de agradecer o extraordinário contributo que este blogue deu à iniciativa que visa chegar ao milhão de fãs no facebook.

Se bem se lembram, a 27 de Outubro recordei os adeptos benfiquistas com um post cirúrgico ao qual juntei uma foto e uma frase a roçar o genial logo à entrada do tasco. Com isso, não só garanti a profusão de "Likes" pela página do Sport Lisboa e Benfica como, numa primeira instância, pensava ter ganho a corrida ao convite para ser integrado numa comitiva até Manchester ou, quem sabe?, à final da Liga dos Campeões. Fraca tentativa, no entanto, que, do Departamento de Multimedia, ainda nada chegou e eu já estou cheio de fome.
Fica para a posteridade, então, o meu contributo a todos os títulos revelador de ser este um blogue que mexe com o povo (pense nisso, Senhor Elias) e que, por tal facto, fez arrancar a iniciativa para uma velocidade tal que, mais dia menos dia, terão de inventar outra que esta estará concluída.

Para terem uma ideia da dimensão do contributo: a 27 de Outubro, aquando do fantástico post que aqui se escreveu, o Benfica tinha 826.059 fãs. Hoje, após publicidade ao mais alto nível neste espaço (pense nisso, Senhor Elias), tem:

949.037! Em duas semanas, cerca de 123.000 "Likes", Senhor Elias! Envia os bilhetes para Old Trafford por correio ou tenho de ir ao estádio?
E, Senhor Elias, veja o crescimento dos nossos rivais, de 27 de Outubro para hoje:

Sporting - De 222.368 para 226.640 -» Nem 4.500, Senhor Elias, nem 4.500!
Porto - De 420.202 para 421.978 -» Nem 2.000, ó Elias Multimedia!

Não tem de quê, Senhor Elias. A morada para o cheque chorudo envio-lha por email, se não se importar.

E, como não sou de ressentimentos, deixo-lhe uma música do Maxi Pereira:










Bom fim-de-semana, lampiões.