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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O futuro presente

24 de Outubro de 2025. O antigo estádio do Sport Lisboa e Benfica, também carinhosamente tratado pelos seus adeptos como Estádio da Luz - agora Estádio Luís Filipe Ferreira Vieira, como homenagem ao grande Presidente que leva mais de duas décadas ao leme da instituição -, recebe uma equipa grega numa noite de chuva torrencial. Jogo grande, de Champions League. 

A fase da equipa não é a melhor, mau princípio de época, pontos perdidos, muita contestação, nota-se que o lugar do treinador Bruno Alves pode estar em perigo, caso se verifique uma derrota. Observa-se uma natural saturação por parte dos adeptos com a forma como o técnico vai cometendo os mesmos erros consecutivamente - há mesmo quem diga que o faz propositadamente, maldosamente insinuando ser Bruno Alves um portista doente e um anti-benfiquista primário.

Mas recuemos a 2020, altura em que o Presidente Vieira o contratou. Viviam-se tempos de grande azáfama no Benfica. Augusto Inácio havia sido demitido em Outubro por perder em casa com o Calipolense para a Taça de Portugal, acrescentando essa trágica derrota às outras cinco com que tinha iniciado o campeonato nacional. Não havia outra forma de procedimento: havia que demitir o treinador. Apesar de já levar 4 anos e apenas um só campeonato, Inácio vira, meses antes, o seu contrato renovado pelo Presidente por mais duas épocas. Era um dilema que Vieira tinha de resolver. 

Como sempre, funcionou com a competência que lhe é característica: despediu Inácio, pagando-lhe choruda indemnização, provou aos sócios e adeptos que a responsabilidade daquele mau momento era exclusiva de quem treinava a equipa e convocou para o seu lugar um técnico com as qualidades essenciais para o cargo: passado ligado ao Porto (o mesmo será dizer: conhecia a estrutura competente dos portistas), valores fundamentais como a raça, o querer, a impetuosidade, o conhecimento profundo do princípio bélico "olho por olho, dente por dente". Alves aparecia assim como o verdadeiro salvador e os adeptos acreditavam. Em Alves mas sobretudo na visão profissional, competente e credível do Presidente. Se Vieira escolhera um ex-portista para técnico do Benfica, só podia ser por uma razão fortíssima que não estaria ao alcance de todas as mentes, em especial das suas, que, apesar de poderem gerar laivos de alguma esperteza - inteligência, mesmo, de tempos a tempos - não estavam, é evidente, no mesmo nível da superior genialidade do Grande Dirigente.

Entre os Outubros de 2020 e 2025, Bruno Alves fez um trabalho que poderá ser considerado a todos os níveis brilhante. Somou pontos na Europa - o Benfica é hoje o 17º no ranking europeu -, a espaços pôs a equipa a fazer um futebol maravilhoso - houve mesmo uma goleada de 3-0 ao Sarilhense em 2021 no Estádio da Luz -, deu ideias sobre futebol à UEFA que foram prontamente aceites (um orgulho para o Benfica!), espalhou toda a sua sabedoria dos tempos em que jogava por universidades, bibliotecas, livrarias e alguns ginásios dedicados ao ensino das artes marciais (fundamental exercitar o lado mental do jogo), tornou-se num dos treinadores mais bem pagos de sempre no futebol mundial (prova da sua visceral competência!) e chegou mesmo a ganhar ao Porto num encontro de pré-época entre as duas equipas. Um notável 1-0, com um golo em fora-de-jogo, é certo, mas milimétrico e muito difícil de ajuizar por parte do fiscal de linha. 

Tem, além disto tudo, um discurso muito forte contra as arbitragens, que é uma missão que qualquer benfiquista saudável, lúcido e racional deve ter. Falar sempre nos árbitros. Com razão ou sem, falar sempre nos árbitros. É imperioso dar a conhecer ao mundo a nossa condição de vítimas do mundo. Nos árbitros, nos jornais, nas condições meteorológicas, na saliva dos cães, nos botões de punho, corruptos botões de punho que conspurcam as melhores camisas do Benfica. Bruno Alves entendeu o que era a mística do Benfica de Vieira e disso fez eco ao longo destes anos. Infelizmente, após 5 épocas, começa a haver alguma saturação, algum desprendimento, algum desânimo. Os títulos de facto não abundaram. Desde que entrou em 2020, em 5 anos não ganhou qualquer Campeonato nem Taça de Portugal. Venceu uma Taça da Liga, festejada a preceito por todo o mundo numa demonstração maravilhosa de benfiquismo; desde o Canadá à Patagónia; de Timor à Índia; Austrália, Japão, Sri Lanka, Malásia, Djibouti, Namíbia, Pólo Norte, Vaticano. Em todo o mundo saíram à rua os benfiquistas, loucos com novo título e ávidos de demonstrar a excelência daquela governação. 

Seriam poucos os títulos ganhos por Bruno Alves? Ou melhor: em 5 anos uma Taça da Liga era pobre pecúlio? Sim e não. Sim, se fingirmos que não existem factores externos a prejudicar o Benfica. Não, se descortinarmos os ataques cerrados que o mundo faz ao clube. Como esquecer as rajadas de vento que se levantaram naquela derrota no Dragão? O ângulo da chuva que impediu o nosso guarda-redes de ver a bola no lance que decidiu quem ficaria em 4º lugar na época 2021/2022? A qualidade dos átomos que favoreceram claramente o Sion e o empurraram para uma copiosa goleada sobre nós na fase de grupos da Liga Europa em 2024? Haja decoro, lucidez e seriedade. Não fora vivermos no Planeta Terra e o Benfica teria ganhado nestes últimos 22 anos de Vieira uns 4 campeonatos! E, se assim fosse, alguém poria em causa a competência de quem nos dirige, como hoje o faz uma minoria de incapazes selváticos, mentecaptos anti-Benfica, que não sabem que só apoiando conseguiremos lutar contra o sistema corrupto?

Infelizmente, os ciclos tendem a cumprir-se e o de Bruno Alves parece ter chegado ao seu fim. Foi assim com Jesualdo Ferreira, assim com Camacho, Trapattoni, Koeman, Fernando Santos, Camacho outra vez, Chalana, Quique Flores, Jesus, Domingos Paciência, Pedro Emanuel, Manuel Machado, Nuno Espírito Santo, Helton, Vítor Baía, João Pinto, Secretário, Bandeirinha, Fernando Couto, Costinha, Octávio Machado, Augusto Inácio e também será assim com Bruno Alves. Trabalharam em prol do clube, trouxeram-nos grandes alegrias, aumentámos o número de sócios com os seus fantásticos contributos mas há sempre uma hora de despedida e outra de novos encontros com o futuro. 

Importa é confiar no projecto que o Presidente tem para o Benfica. São 23 anos à frente dos destinos do clube. São 3 Campeonatos Nacionais, 2 Taças de Portugal, 5 Taças da Liga, 1 Taça do Alentejo, 1 vitória na final do Portuguese Day (ilustre prova de reiki para os emigrantes idosos de uma cidade na Nova Zelândia). Temos hoje um Estádio, um Museu, três televisões, duas rádios, uma Casa de Repouso, um Manicómio, 3 Enfermarias, 2 Hospitais, 10 táxis, 3 Restaurantes, Pastilhas Benfica, Lentes de Contacto Benfica, Vendas para os olhos Benfica, Aparelhos Auditivos Benfica, Pacemakers Benfica e, fundamental não esquecer, a Lavandaria Benfica (mais um projecto inovador do nosso Presidente quando ainda ninguém tinha pensado em usar um clube de futebol para lavagens de todos os tipos, a altas e baixas temperaturas, lavando-se roupas, lençóis, cérebros, dólares, tudo o que estiver apto a ser gloriosamente lavado). 

Bruno Alves sairá nos próximos meses, é seguro. Outro virá, o Benfica não morre com o afastamento de ninguém. Muitos vieram, passaram, foram. O cemitério está cheio de insubstituíveis. Na verdade, só um verdadeiramente o é e esse já tem estátua em frente ao estádio. Luís Filipe Ferreira Vieira. O fundador do verdadeiro Benfica desde 2002 e honroso senhor que dá nome à nossa Catedral.