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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Gestão de LFV 6


Conforme todos sabemos, o Benfica é um clube que não tendo a capacidade financeira dos maiores clubes, nem em termos de salários pagos, nem em termos de passes adquiridos, tem que ser um clube vendedor dos seus maiores talentos.

Apesar desta realidade, há 2 opções em termos de gestão enquanto clube vendedor:

- ser um clube que se dedica à valorização de jogadores como forma de equilibrar as suas finanças
- ser um clube que principalmente quer ter bons resultados desportivos e que a consequência desses resultados é a alienação dos melhores jogadores.

Sejamos realistas, com o desequilíbrio estrutural do Benfica, é natural que durante muito tempo fosse a primeira opção a única verdadeiramente viável. Hoje em dia, se tal acontece e não tenho dúvidas que assim é, apenas se deve à incapacidade da gestão em mudar de modelo. A falta de capacidade em conquistar títulos e em atingir as fases finais da Champions League de uma forma consistente são a principal razão para não mudarmos o paradigma.

Perante esta afirmação perguntar-me-ão porque razão digo isto quando temos um Witsel vendido por 40 milhões, um Coentrão por 30 ou um Di Maria  por quase 35 (em termos brutos) ? A questão tem essencialmente a ver com a força negocial e as relações com agentes. A força negocial tem a ver com as condições associadas às vendas. As vendas ao Real Madrid ainda não foram totalmente liquidadas, bem como as do Chelsea não tinham sido no início desta época. O Witsel não foi pago à vista, assim como o Javi, o Ramires, ou o David Luiz não saíram pelo valor das cláusulas de rescisão. Basicamente, não há um único jogador que tenha saído pelas cláusulas de rescisão, pois mesmo os que atingiram tais valores, foram pagos a pelo menos 12 meses.

Com isto não quero dizer que não tenham sido bons negócios para o Benfica, muito pelo contrário. Independentemente das formas de pagamento e dos consequentes custos financeiros associados, por exemplo os descontos financeiros dos pagamentos do Real Madrid e do Chelsea custaram juros a taxas na ordem dos 10% ao ano, todos os negócios representaram uma valorização muito significativa dos jogadores.

A grande questão é que sendo o Benfica um clube que se dedica à detecção e valorização de talentos, o seu modelo de gestão deveria procurar o equilíbrio entre as mais-valias geradas com a transacção de passes de jogadores e o valor das amortizações do plantel. Basicamente o Benfica deveria procurar que os lucros (mais-valias) obtidas na venda dos passes de jogadores deveria ser igual ao valor anual da depreciação dos passes dos jogadores, pois esse valor representa a anualização dos investimentos.


A verdade é que nas últimas 5 épocas, o resultado de operações com jogadores, isto é a diferença entre as mais-valias com as vendas de passes de jogadores e as amortizações de passes de jogadores, tem sido quase sempre negativa, excepção feita à época de 2010-11 nomeadamente devido à venda do passe do David Luiz a meio da época, uma prática que com certeza ninguém defende que aconteça dados os prejuízos desportivos inerentes a alienar o passe de um jogador titular em Janeiro.

Em vez das operações com jogadores serem uma forma de equilibrar os orçamentos, a verdade é que têm sido uma forma de os desequilibrar. Os dados desta época parecem inverter a tendência e é expectável um valor final positivo que ronde os 10 a 15 milhões de euros. Este valor será tanto mais importante quanto é previsível uma quebra significativa dos proveitos operacionais, sem que os custos operacionais acompanhem o nível dessa quebra.

O mais importante é perceber qual é o futuro em termos de opções estratégicas. E esse é tanto mais importante quanto o perceber que vender de forma pensada é diferente de vender de forma apressada. Em 2010/11 os custos com a transacção de atletas, essencialmente comissões pagas nas vendas dos jogadores, chegaram aos 812 mil euros, cresceram para 1,213 milhões de euros em 2011/12 apesar das vendas terem sido um pouco menores e dispararam para os mais de 6,5 milhões de euros no início da época de 2012/13. É natural que se for o Benfica a procurar os empresários para colocarem jogadores no fecho de mercado terá que pagar comissões muito mais altas para que estes apresentem negócios atractivos.

Um exemplo a não seguir é o Porto. O Porto que ficou conhecido pelas vendas fantásticas, em especial na sequência dos êxitos do Mourinho e da selecção portuguesa, hoje em dia é um clube nas mãos dos empresários, jogadores e fundos, tanto nas aquisições, quem não se recorda dos mais dos 4 milhões de comissões pagos por Danilo ou dos 3 milhões de comissões pagos por Hulk, como nas renegociações de contratos - os mais de 6,5 milhões pagos aos representantes do Falcão antes da venda ao Atlético de Madrid ou o quase milhão pago aos representantes de Álvaro Pereira, como ainda nas vendas é só olhar para os mais de 6,8 milhões pagos na época de 2011-12 relativa à intermediação nas vendas, isto sem mencionarmos as negociatas que se conheceram recentemente relativa à recompra dos passes de Moutinho e James aos Fundos que implicaram perdas superiores a 3 milhões em cada caso.

Quem estiver a ler e não acreditar nestes valores, especialmente os apaniguados desse clube, sugiro que leiam os relatórios e contas e comunicações à CMVM da Sad do vosso clube e descobrirão estas e outras pérolas de gestão. Afinal de contas, um prejuízo de 35 milhões de euros num ano em que venderam os passes do Falcão por 40 e do Guarin por 11 milhões de euros não caiem do céu.

Se a má gestão do Porto está bem visível devido ao nível de detalhe do Relatório e contas, lamento que esse mesmo nível de detalhe não seja seguido pelo Benfica, pois apenas conseguimos ver os valores agregados e não os valores por negócio. Mais ainda, ninguém se esquece que o Doyen Group indicou ter estabelecido uma parceria com o Benfica no caso do atleta Ola John em Agosto de 2012 e o relatório trimestral a 30 de Setembro de 2012 é omisso relativamente a essa parceria e nem a Administração da Sad desmentiu tal informação.

Pior que isso é a Benfica Sad considerar que não tem que comunicar à CMVM os investimentos que faz na equipa de futebol. Se anteriormente todos os negócios que representassem no mínimo 5% do capital da Sad eram comunicados,hoje em dia tal não acontece. Salvio e Ola John terão sido adquiridos por valores a rondar os 11,5 e 10 milhões de euros respectivamente, valores muito superiores aos 5,75 milhões (5% do capital da Sad), e mesmo assim os negócios não foram comunicados à CMVM, pois o regulamento na verdade não obriga a essa comunicação mas apenas aconselha.

A falta de informação apenas pode conduzir à criação de suspeitas. Não é isso que se pede a uma Administração que quer ser conhecida pela credibilidade e transparência. É certo que hoje em dia os relatórios e contas da Benfica Sad incluem informação mais discriminada que anteriormente, mas ainda há um caminho muito longo a percorrer.

Espero que esta série de posts tenha ajudado quem não gosta ou não liga para as contas a perceber que as opções desportivas futuras estarão sempre dependentes de decisões que não estão directamente relacionadas com o pontapé na chincha. A renegociação/exploração dos direitos de transmissão televisiva, dos patrocínios técnicos e corporativos, a obtenção de novos patrocínios, por exemplo um patrocinador específico para os equipamentos utilizados nos treinos ou parceiros estratégicos nas áreas das utilities em mercados específicos onde existiam significativas comunidades portuguesas como Angola, Brasil, França ou EUA, o naming do estádio e a renegociação dos namings de bancadas/outras instalações, a amortização/renegociação de parte do passivo bancário, as políticas de preços de bilhetes, cativos, por exemplo a criação de bilhetes anuais para não-sócios, quotas e merchandising, são factores que devem ser geridos por forma a melhorar a capacidade competitiva do Benfica.

Mas em termos desportivos também é essencial melhorar a gestão dos recursos humanos, não desperdiçando tantos recursos em jogadores sem potencial que consomem recursos tanto em valores despendidos com passes de jogadores como também em salários e rentabilizando os investimentos efectuados na formação. Uma parte importante nessa estratégia é o treinador da equipa principal e caberá à Sad fazer a avaliação do trabalho de Jorge Jesus.

Há quem o compare com Ferguson, mas também quem o compare a Wenger. Não em termos técnicos pois cada um terá  seu modelo táctico e aí até duvido que os outros lhe sejam superiores. Se o primeiro é reconhecido pelos títulos a que continua a guiar o Manchester United, o segundo obteve títulos com o Arsenal nos primeiros anos, mas vítima de uma administração que prefere as finanças aos títulos, passaram-se já muitos anos desde o último sucesso no campeonato. Para outros a culpa também é de Wenger, pois opta por contratar jogadores que sendo caros não desempenham consoante o que custaram/recebem, além de defensivamente não saber organizar as suas equipas. Isso é uma discussão irrelevante, pois é sobre o trabalho desenvolvido pelo Jorge Jesus que a Sad deve decidir. 

A verdade é que daqui até ao fim da época há muitas decisões importantes a tomar. Esperemos que as mudanças existentes em Outubro tenham trazido para a Sad a competência que permita transformar o Benfica de um clube que ganha de 5 em 5 anos um campeonato para um clube que ganha com maior regularidade.

Fontes: Relatório & Contas da SLB SAD e FCP SAD.