Eu não posso acreditar que um treinador que trabalhe o ano
todo e é campeão nacional consiga todo o seu sucesso à base da sorte.
Por mais água que se beba a sorte não pode ser o guia de
todo o percurso futebolístico de uma equipa.
No final da época passada houve um consenso de opinião sobre
a evolução do Benfica ao longo do campeonato. Foi uma evolução que se deveu
muito à integração do Renato Sanches no meio campo e à deslocação e afirmação
do Pizzi à direita.
A equipa ganhou força no centro do terreno, ganhou maior capacidade de
recuperação da bola, de pressionar alto, de rotura ofensiva e de aproximação
dos sectores. Era o monstro Renato a funcionar.
Mas a equipa ganhou muito mais do que essa força. Ganhou um futebol mais
apoiado, mais pensado e com maior qualidade pelo interior do terreno. Era o
futebol do Pizzi a funcionar.
E este consenso foi tão geral que até o treinador do Benfica falou nele no
final da época.
Rui Vitória foi peremptório a afirmar que a grande
transformação do Benfica devia-se ao posicionamento do Renato a 8 e do Pizzi na
linha.
Rui Vitória não se coibiu de elogiar o mérito de ter
devolvido o Pizzi à direita.
Rui Vitória não se escondeu ao afirmar que no Seixal o Benfica não iria
conseguir outro Renato e que por isso teria de ir ao mercado.
Foi? Não.
O que me traz aqui é unicamente a incoerência deste
discurso. Onde antes havia o mérito de uma opção que lançou o Benfica para o
Tri, agora há um retrocesso total no modo de operar.
Como pode Rui Vitória explicar os seus méritos na redescoberta
do Pizzi se agora o trouxe de volta para o meio? Não faz sentido.
E por isto me questiono quanto na Sorte tem apostado o
treinador do Benfica. A lógica do Tri
não retiraria o Pizzi da linha em prol de um jogador com características tão
opostas às suas. A lógica do Tri não colocaria a 8 um jogador tão distinto do
Renato.
A sorte diz-me que a aposta no Renato e a deslocação do
Pizzi foram um golpe não pensado e não trabalhado do treinador. Esta situação
revela que não fossem as lesões do Salvio e nunca o Pizzi teria jogado à
direita nem o Renato teria sido chamado à titularidade.
Porém eu recuso-me a acreditar que seja tudo um bafo de sorte. Recuso-me a
acreditar que em nenhum momento do processo o treinador teve um desenvolvimento
racional que o levou a tomar as suas decisões, a perceber os méritos destas e a
reconhecer o seu sucesso.
Por isto tenho de perguntar: Que raio se passou Rui?