Tenho ainda um 34 para discutir, um Benfica – Marítimo para
assistir, competições extra-Benfica para olhar, uma Taça da Liga que quero
celebrar e o futuro do Benfica para analisar.
A alegria de ser bicampeão é tanta que não estou com
qualquer vontade de falar sobre as tristezas que aconteceram na festa do 34.
Infelizmente são situações tão más que não tenho como não lhes fazer
referência.
Enquanto benfiquista a minha revolta neste momento vai para com os do Benfica
que não souberam dignificar o 34. Sobre vergonhas de terceiros, como a
inqualificável acção do polícia para com uma família benfiquista na entrada do
estádio em Guimarães, deixo para outro momento.
O foco está sempre na festa no Marquês mas para mim a grande festa benfiquista
aconteceu no pós-apito final do jogo e em vários focos do país.
O final do jogo trouxe aquela alegria espontânea a todos os adeptos
benfiquistas. Estivessem onde estivessem todos celebraram e cantaram e
buzinaram e gritaram e dançaram. Festejaram sozinhos, com os amigos, familiares
e com todos os não conhecidos com que se cruzavam na rua. Ainda não era noite e
já ocorria a verdadeira festa benfiquista.
Foi assim comigo.
Entusiasmo com uma grande primeira parte. Nervosismo e má
disposição com um mau segundo tempo.
Golo do Belém tudo mudou. 10 Minutos para acabar. Uns já cantavam. Eu ainda me
agarrava aos nervos. “Não estamos a jogar nada mas eles também não!” Pensava.
Acabou o jogo e festejei. Ri-me e desfrutei. Com os amigos e
com todos os benfiquistas com que me cruzei. Festejei no local onde assisti ao
jogo. Já sem bateria festejei no caminho para o Saldanha. Festejei enquanto
rapidamente comia um hambúrguer. Festejei enquanto discutia o Benfica numa
esplanada acompanhado por benfiquismo, benfiquistas e umas imperiais. Festejei
até quando um casal estrangeiro quis registar em foto a alegria de ser
bicampeão. E continuei a festejar enquanto caminhava para o Marquês.
A partir daí o espírito mudou.
Cheguei ao Marquês e fiquei desiludido com a menor afluência comparativamente
com os títulos anteriores. O Benfica foi bicampeão, 31 anos depois, e as
pessoas não aderiram como em outros títulos. Fica para a direcção a
responsabilidade de ponderar quais as causas e como reverter esta situação.
No Marquês fui obrigado a conter o grito benfiquista e a tentar desfrutar de um
show previamente montado.
Rapidamente percebi um dos motivos de muita gente lá chegar e rapidamente ir
embora. Que banda sonora era aquela que inundava os ouvidos de todos e abafava
os cânticos das nossas gargantas?
Anteriormente discutimos aqui a artificialidade de uma previsível festa. E foi
isso mesmo que aconteceu. Artificializaram a Festa do Marquês. Infelizmente.
Por volta da meia-noite já se discutia se valeria a pena continuarmos
ali.
“Isto não me diz nada, bazamos?” Falávamos uns para os outros.
Decidimos esperar que a equipa chegasse. Não faltava muito e
pelo menos queríamos receber os jogadores.
Valeu a pena esperar porque vale sempre a pena receber e
saudar os nossos campeões. Pena que mais uma vez a recepção tenha ficado aquém
das experiências anteriores.
Eu gosto do autocarro a passar no meio da multidão com os jogadores a dançar ao
som dos adeptos.
Um palco montado a impedir o acesso ao centro do Marquês. Um
palco montado a separar ainda mais os jogadores dos adeptos. Um palco montado
para jogadores festejarem e adeptos olharem. E como acredito que até os jogares
teriam preferido uma maior proximidade…
Isto não é uma festa do Jet 7. Queremos, ou quero, menos preocupação com a
estética e mais com o sentimento. Olhem para 2004-05. Olhem para a festa que os
adeptos vivem antes, durante e depois das deslocações, sem colunas, sem palcos,
sem DJs, sem luzes e sem nada que não seja a garganta, o coração e o cachecol.
Esta artificialidade do Marquês foi o menos bom da festa.
O mau da festa, o péssimo da festa, apareceu-me depois.
No Marquês já tinha assistido a famílias a fugir de petardos
e de tochas. No Marquês já tinha presenciado cenas de porrada entre dez ou mais
adeptos.
Quis desvalorizar mas quando liguei o rádio não consegui.
Relatos de inicio de confusão entre adeptos e a policia. Relatos
de vândalos a atirarem pedras à polícia. Relatos de fim de festa. Chego ao
computador e deparo-me com essas imagens. Mantenho-me no computador e
apercebo-me de relatos e imagens de selvajaria em Guimarães, tanto no estádio
como nos seus arredores.
Pena que certas pessoas não se saibam comportar em sociedade. Pena
que certas pessoas não saibam respeitar os outros. Pena que certas pessoas
tenham decidido manchar e arruinar os dois principais focos na festa
benfiquista: Onde a equipa jogou e para onde a equipa se encaminhou.
Isto é triste. Isto é mau. Isto não vai ser esquecido. Infelizmente esta gente
conseguiu contribuir para uma ainda menor afluência à festa do Tri.
PS: Não sou contra a preparação de uma festa. Posso ser contra o modo como é
pensada. Tem havido boas ideias, ideias que bem trabalhadas podem ser geniais.
Por exemplo, as duas gigantes transmissões televisivas no Marquês foram muito
bem vindas. É uma ideia que melhor trabalhada e inserida numa preparação
diferente pode trazer muito mais benfiquismo e festa ao próximo título.