Na passada segunda-feira o país futebolístico acordou
de um conto de fadas de única forma que podia acordar: Com estrondo!
A equipa que conta nas suas fileiras com o melhor
jogador do mundo e um dos dois melhores da sua história, foi copiosamente
goleada por uma das mais fortes candidatas à vitória neste mundial, obtendo
assim o seu pior resultado de sempre em fases finais de Mundiais.
Procuram-se agora causas para esta hecatombe, desde a
convocatória elaborada, passando pela forma de preparação para esta competição
e acabando na arbitragem. Tudo é colocado em causa, tudo é motivo de crítica,
servindo tudo de abstracção do essencial desta derrota: A diferença de
qualidade abissal entre os dois conjuntos.
Nesta diferença de qualidade entra o handicap qualitativo de cada um dos 23
eleitos por cada seleccionador, mas sobretudo a incomparável base de
recrutamento ao dispor de cada treinador.
Sim, há jogadores que ficaram de fora desta lista
final que justificariam a ida ao Brasil, mas pergunto: Com Adrien, Quaresma,
Antunes ou outro qualquer a história desta partida havia sido muito diferente?
Não. Não, porque simplesmente não é comparável a qualidade ao dispor de Paulo
Bento e de Joachim Low.
Após o Euro 2000 e aquela derrota humilhante da
Alemanha frente às segundas linhas Portuguesas, o futebol Alemão iniciou um
processo de reinvenção que passou pela aposta clara nos jovens futebolistas que
militam no futebol alemão, culminando em gerações sucessivas de jogadores de
qualidade indubitável.
Desde então que também o futebol Alemão ao nível de
clubes sofreu uma grande transformação, suportada na necessidade de revitalizar
a selecção e na oportunidade de renovação de infra-estruturas que ofereceu o
Mundial 2006.
Em sentido inverso, desde o Euro 2000 que Portugal não
voltou a apresentar uma convocatória tão rica quanto a desse Europeu, sendo
esta falta de qualidade atenuada pelo FCP de Mourinho que, em contraciclo,
montou uma equipa constituída por diversos jogadores nacionais de qualidade e
até ali escondidos nas profundezas do futebol nacional.
Desde então fomos vivendo à sombra dessa geração e de
um ou outro sucedâneo como Ronaldo, Moutinho e Nani, bem como da naturalização
de jogadores Brasileiros como Deco ou Pepe (escuso-me a referir Liedson) e uma
tentativa recente e frustrada de naturalização de Fernando.
Ou seja, desde a geração de ouro que a selecção
nacional vive de fogachos pouco ou nada sustentados e que, mais dia, menos dia,
teria o seu epílogo final.
A FPF, afundada em jogos cosméticos e de poder,
demitiu-se da sua principal função: Defender os interesses do futebol nacional.
A Federação, uma vez provada pouca vontade dos clubes nacionais em apostar no
jovem futebolista Português, deve regulamentar nesse sentido. Se os clubes,
erradamente, não têm essa vocação natural, então cabe à entidade reguladora –
leia-se FPF – “obrigar” a que assim seja, pois os jogadores também deveriam ser
parte representada pela Federação.
Mas em vez disso, a FPF parece mais interessada em
explorar ao máximo a imagem de Cristiano Ronaldo, esquecendo-se que nada fez
para que o jogador surgisse e muito menos para que outros lhe sucedam.
E não me apresentem o exemplo do Sporting como
excepção à regra, porque é falso! É verdade que o clube leonino tem sido o que
mais tem apostado no jovem futebolista Português formado nas suas fileiras, mas
tem-no feito por necessidade e não por opção. Exemplo disso foi o “reinado” de
Godinho Lopes à frente do clube que, tendo dinheiro da banca, não se inibiu de
comprar muito, mal e caro no estrangeiro, escondendo assim um qualquer William
Carvalho que pudesse aparecer.
Neste aspecto Benfica e Porto têm sido os que mais têm
contribuído para a ruina da selecção. Há quantos anos não tem o Benfica um
jogador que se afirme como titular da selecção e que seja formado no clube, à
excepção de João Pereira? E não me falem de falta de qualidade na nossa
formação, porque terei de perguntar quantas vezes tiveram de errar Emerson ou
Cortez para que JJ desistisse deles, enquanto o clube dispensava Luís Martins?
Luís Martins é um lateral de topo? Não, pelo menos por agora. Mas em que é
inferior a estes dois exemplos?
E como este exemplo, outros e como no Benfica também
no Porto. No futebol nacional está instituído o compadrio e os interesses dos
agentes dos jogadores. No futebol nacional mais do que se tentar valorizar os
jogadores formados nos clubes e assim rentabilizar os milhões que se gastam por
ano nos elefantes brancos que são os centros de estágio, tenta-se oferecer o
melhor negócio possível aos agentes, sendo que a FPF compactua com este regime
podre, esquecendo-se que os empresários não se importam com o sucesso ou
insucesso desportivo de ninguém, mas tão só com o lucro próprio.
Parabéns! Temos o que tanto procuramos.