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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Jorge Jesus de Ontem para Hoje

Não vou aos tempos do Amora recuperar o trio de centrais de Jorge Jesus, importa-me somente perceber o Benfica nas mãos de JJ.


Na sua primeira passagem pela Luz apresentou-se ao clube com a forte afirmação que a equipa consigo jogaria o dobro. Dito e feito. Nas mãos de Jorge Jesus a nossa equipa começou a jogar muito mais.

Agora no seu retorno foi ainda mais ambicioso. Assim que chegou afirmou que a equipa iria jogar o triplo e que nos ia oferecer espectáculo. Dito porém longe de ser feito. Este novo Benfica do Jorge Jesus tarda em carburar e tem reunido apáticas exibições atrás de enfadonhas exibições.

Verdade seja dita, o nome é o mesmo, o homem é o mesmo, mas o treinador está longe de o ser.

Jorge Jesus habituou-me a um futebol aberto, rápido e muito desequilibrado. Só quando a equipa estava muito bem trabalhada é que o dito desequilíbrio nos favorecia. Mas acima de tudo, Jorge Jesus habituou-me a uma equipa forte no jogo sem bola, expert na capacidade de defender com poucos e extremamente potenciadora da criatividade ofensiva.

Com o seu 4-2-4 fazia evoluir os seus centrais, elevava a estrelas os médios com que segurava o meio campo e espremia todo o talento dos criativos da frente, procurando um Benfica dinamizador e goleador.

Partir o jogo e lançar ataques rápidos sempre foi uma característica do futebol de Jorge Jesus. Isso não mudou. Desaproveitar a formação, casmurrar com certos jogadores por si escolhidos e arrogantizar por aí fora, também são características que se mantêm. Aliás, a arrogância é a sua característica mais visível e muitos dissabores nos tem dado, tanto por certos comportamentos quanto devido à cegueira que esta lhe causa na hora de mexer no jogo.

O problema é que o essencial que fazia de Jorge Jesus um potencial magnifico treinador parece estar desvanecer-se com o tempo.

- Extrair futebol de talentos.

- Defender bem com poucos.

- Atacar com criatividade.

A expectativa de ver certos jogadores nas mãos de Jorge Jesus tornou-se numa pura desilusão. Chiquinho, Pedrinho, Jota, Pizzi, Darwin, Waldschmidt, Everton, Krovinovic, Florentino e Gonçalo Ramos. Pouco se espremeu, muito pouco se lapidou.

A velocidade do Rafa, a qualidade de um jogador feito como é o João Mário e um super jogador como é o Weigl, têm sido o destaque individual deste Benfica.

Dedo do Jorge Jesus só mesmo em zonas mais recuadas do terreno. Viu-se logo uma forte melhoria no posicionamento do Rúben Dias e estamos a ver um Otamendi muito mais seguro do que aquele trapalhão que cá chegou.

Quanto ao processo defensivo ficou evidente o fracasso de Jorge Jesus na época passada. A equipa defendia mal e o treinador do Benfica para contrariar isso só teve uma solução: colocar mais um defesa em campo. Foi assim que passámos para os 3 centrais.

E nada tenho contra um sistema de três centrais. Contudo não gosto quando é usado por estes motivos e somente com o objectivo de tapar a baliza, de encher a área defensiva.

Por fim temos a pouca criatividade que o ataque do Benfica tem demonstrado nas mãos deste novo mais velho Jorge Jesus. Não é por acaso que praticamente todos os jogadores criativos têm falhado. Este treinador nunca valorizou a posse de bola mas também nunca descurou do ataque apoiado, mesmo jogando em transições rápidas.

Hoje vemos um Jorge Jesus a fazer das suas armas ofensivas a força e a velocidade – o ataque à bruta. Três homens na frente para correrem de frente à defesa adversária, chocando nela até a partirem.

Para mim assim se define o retrato deste Benfica. Ao menos finalmente temos uma equipa com uma identidade de jogo. Jorge Jesus encontrou o seu 11, finalmente encontrou o seu (novo) futebol. Funciona? É bonito? É prazeroso? É espectacular?

De forma muito simplificada podemos dizer que o 4-2-4 deu lugar lugar a um 3-4-3 - com 3 centrais a servir de tampão na área, com 3 atacantes a baterem-se com os defesas contrários e com 4 homens em compensações.

Os adversários com alguma facilidade conseguem criar várias aproximações à nossa área contudo são constantemente levados ao espaço nas alas tendo de recorrer a cruzamentos que facilmente os nossos 3 defesas conseguem limpar. Jogo partido e o tampão defensivo a funcionar.
Lá na frente é constante o ataque á profundidade e a velocidade vertical dos nossos 3 avançados coloca as defensivas adversárias em constantes sobressaltos. Colocamos igualdade numérica nos ataques e os adversários a correr atrás da bola mas depois falta-nos a criatividade, a técnica e os apoios – o Yaremchuk pode fazer este papel mas não é o seu futebol natural; o Darwin é feito para este jogo mas peca pela fraca qualidade técnica na recepção e condução da bola.

E com a criação desta identidade de jogo surge um problema de plantel. Não temos segundas escolhas. De 11 jogadores só 4 podem ser substituídos sem se mudar o estilo de jogo – Guarda-redes, um Central, Ala direito e o Ponta de Lança.

O Grimaldo, o João Mário e o Weigl simplesmente não têm substitutos. De resto todas as outras opções de ataque são jogadores de posse, de controlo da bola, de jogo interior e futebol entrelaçado – não encaixam nesta ideia.

Os últimos 6 jogos parecem-me bem ilustrativos disto que aqui tenho divagado.

Barcelona – O Benfica foi dono do jogo sempre que o partiu. A defesa esburacada deste Barcelona transmitia insegurança a todo o colectivo sempre que apanhava com os nossos avançados. Com os nossos 3 centrais o catalães simplesmente não tiveram futebol para furar. Só não foi assim quando após o primeiro golo a nossa equipa decidiu recuar, permitindo tempo e espaço para o Barcelona subir linhas, respirar e tentar construir – sem jogo partido ficámos a ver jogar um triste Barcelona.

Portimonense – Em 90 minutos de jogo só durante 20 é que fomos ofensivamente avassaladores. Perante os algarvios bem recuados faltou-nos criatividade no ataque para criar mais perigo durante quase 4/5 da partida.

Trofense – Uma excepção pelo contexto do jogo e do adversário. Não há muito a analisar numa equipa sem identidade. O 11 titular foi mal gerido pelo treinador e tal foi reconhecido quando para tentar segurar o 1-0 se viu obrigado a lançar os habituais titulares.

Bayern – O jogo do Benfica ficou em exposto aqui. Incapacidade de ataques apoiados resumiu a ofensiva encarnada a 3 jogadas de ataque resultantes de 3 cavalgadas individuais. E logo na primeira as carências técnicas do Darwin foram evidentes. Sem bola a equipa foi incapaz de impedir o Bayern de facilmente criar inúmeras jogadas de ataque. Depois perante jogadores deste calibre não é um tampão de 3 centrais que vai impedir incontáveis sustos na nossa baliza – vários bem antes de qualquer um dos quatro golos concedidos.

Vizela – O jogo que confirma as fragilidades desta forma de jogar (e treinar). O Vizela recusou-se a partir o jogo e com isso o Benfica não conseguiu lançar as cavalgadas ofensivas, o que banalizou os seus atacantes. Por outro lado com simples tabelas os jogadores da casa iam criando várias aproximações à nossa área. Porquê? Porque a preocupação dos nossos centrais em fechar a área aumenta o distanciamento para os nossos médios.

Vitória – Em Guimarães, com algumas alterações ao 11 titular, tivemos outras confirmações.
Alternativas como o Meitê são simples aberrações de águia ao peito – há jogadores que simplesmente não têm substitutos.
As nossas alternativas ofensivas trazem um outro futebol à equipa, quebrando-se a tal identidade de jogo. Com Pizzi e Everton a equipa tem um futebol mais rendilhado, mais pensado, mais técnico, mais interior e apoiado. Enquanto quisemos ter bola e jogar fizemos dos nossos melhores jogos da época. Depois foi o descalabro, o desmoronar de uma equipa sem identidade e jogar no medo com jogadores inconcebíveis.
Neste caso o Vitória aceitou partir o jogo, ganhou-nos o meio-campo, meteu mais homens juntos à nossa defesa e não se preocupou com os desequilíbrios defensivos pois desta vez o Benfica não tinha sido montado para os aproveitar.

Agora voltaremos ao 3-4-3, ou melhor ao 3-0-4-0-3. A questão será perceber se o Estoril aceitará ou não partir o jogo. Se não aceitar o Benfica dificilmente sofrerá golos mas também dificilmente marcará.





segunda-feira, 19 de abril de 2021

Exclusive Silly League (ESL)

 Uma competição que nasce somente da ganância, do sentimento de superioridade. Clubes – na maioria comprados por milionários de fora do contexto do futebol – decidem que são a elite deste Desporto e que merecem uma competição onde tenham de competir só entre si.

Querem fechar o Futebol neles, estagnar a dinâmica de crescimento de clubes menores e impedir a queda de clubes de renome – eles próprios. Encontraram um escape para os seus insucessos, para as suas más gestões. Não querem correr o risco da sua incompetência lhes custar lugares de destaque. Não querem correr o risco da sua incompetência os colocar abaixo de clubes com menores condições.

Pessoas fracas a fazer fracos fortes clubes.

O Futebol tem uma história e essa história é a base da sua paixão, da sua magia. O que move o Futebol não é dinheiro, é sentimento. Mas querem apagar esse sentimento. Querem colocar um ponto final na história deste Desporto e aproveitarem a posição onde agora estão – não por mérito de quem lá está mas de quem lá esteve e fez parte desta história.

Estes clubes tornaram-se uma vergonha para o Futebol.

Na sua arrogância elitista decidiram tentar criar um Futebol onde eles mandam em tudo. Sabiam como iam ser vistos mas não tiveram vergonha na cara. Criaram uma história da carochinha onde dizem que o facto de eles ficarem ainda mais milionários irá beneficiar o Futebol mundial porque vão ser muito solidários. Pó caralho.

Querem mandar no Futebol e com a sua “solidariedade” agirem como os Reis desta porra toda.

Todas as organizações avançaram com a sua posição – UEFA, FIFA, EFA e a Premier League, RFEF e a La Liga, FIGC e a Serie A.

Se estes clubes querem uma competição só deles, um Futebol só deles, então que o tenham. Que vão viver o seu elitismo e nos deixem a todos viver o nosso Desporto.

Fiquem com a sua ESL mas não metam o pé em nenhuma competição FIFA, em nenhuma competição UEFA e em nenhuma competição doméstica.

E os jogadores têm de optar pois não podem ter tudo. Terão de escolher em que Futebol irão querer jogar. No Futebol exclusivo ou no Futebol inclusivo – aquele onde ainda competem nas suas selecções.

Nos últimos anos muito temos falado de como a paixão no Futebol tem ficado dormente, escondida por baixo de toda a comunicação tóxica, de toda a propaganda e de todo o marketing.

Numa década onde entre milhões de jogadores só dois pareciam existir, tanto para a opinião pública como para as entidades regentes, é normal que estes “donos” achem que só os seus clubes existem.

Sim, a culpa também é da FIFA e da UEFA que foram alinhando nesta palhaçada do Marketing futebolístico que minou a magia do jogo em prol do impacto mediático. E sim também é nossa, de todos nós que alinhámos nisso.

Estes clubes já se envergonharam e já nos envergonharam. Que a mão pesada sirva para se redimirem ou para realmente partirem e nos deixarem reencontrar a verdadeira natureza do Beautiful Game.

Agora os verdadeiros protagonistas têm a palavra:

Ronaldo Nazário, Totti, Zidane, Maldini, Raúl, Ryan Giggs, Xavi, Cannavaro, Rio Ferdinand, Henry, Iniesta, Figo, entre tantos outros.

E chamo especialmente aqui à atenção destes nomes para que se cheguem à frente e recusem esta farsa:

Zlatan Ibrahimovic, Alessio Romagnoli, Antonio Conte, Aleksandar Kolarov, Chistian Eriksen, Ivan Perisic, Romelu Lukaku, Mikel Arteta, David Luiz, Granit Xhaka, Alexandre Lacazette, Pierre-Emerick Aubameyang, Pep Guardiola, Kevin de Bruyne, Bernardo Silva, Ilkay Gundongan, Raheem Sertling, Ole Gunnar Solskjær, David de Gea, Harry Maguire, Paul Pogba, Bruno Fernandes, Edinson Cavani, Jurgen Klopp, Virgil van Dijk, James Milner, Sadio Mané, Mohamed Salah, Roberto Firmino, José Mourinho, Hugo Lloris, Toby Alderweireld, Gareth Bale, Heung-min Son, Harry Kane, Diego Simeone, Koke, Saúl Níguez, Luis Suárez, Andrea Pirlo, Gianluigi Buffon, Leonardo Bonucci, Giorgio Chiellini, Cristiano Ronaldo, Thomas Tuchel, Thiago Silva, César Azpilicueta, Timo Werner, Zinédine Zidane, Thibaut Courtois, Raphael Varane, Sérgio Ramos, Toni Kroos, Luka Modric, Karim Benzema, Ronald Koeman, Marc-André ter Stegen, Gerad Piqué, Jordi Alba, Sergio Busquets, Antoine Griezmann e Lionel Messi.

Destaco o papel que devem ter o Zlatan, o Guardiola, o Maguire, o Mourinho, o Klopp, o Simeone, o Tuchel, o Buffon, Chiellini e Cristiano Ronaldo, o Zidane e o Ramos, o Koeman, Piqué e o Messi.

Não esperaria nunca esta postura por parte de um clube como o Barcelona, é essencial que Lionel Messi seja a principal voz da revolta e da recusa.

Entretanto silêncio por parte do Sport Lisboa e Benfica. Sabemos como funcionam estas pessoas. Andaram desejosos de serem incluídos. São parte do problema. São parte activa desta visão empresarial do Futebol. Estão ali caladinhos a ver se conseguem ainda ser chamados enquanto vão sentindo o pulso à opinião pública.

Varandas e Pinto da Costa já se posicionaram contra isto. O Benfica limitou-se a remeter a Lusa a declarações feitas em Novembro pelo Domingos Soares de Oliveira onde afirma que mesmo discordando dificilmente não aceitaria o convite de integrar a ESL.

Do Benfica de Vieira era exactamente isto que esperava. Mas ao contrário do que tanto tem desejado o ex-candidato Bruno Carvalho na sua cruzada por colocar o Benfica nesta vergonha, o que eu esperaria do Sport Lisboa e Benfica é que estivesse desde ontem a liderar a revolta e a luta contra estes elitistas.

Neste momento um clube como o Sport Lisboa e Benfica deveria estar lado a lado com o Bayern, o Dortmund, o Marselha, Sevilha, Roma, Lazio, até o PSG, o Lyon, o Ajax, o Slavia, o Dynamo, o Celtic, o Estrela Vermelha, o Anderlecht, o Sparta, o CSKA, o Galatasaray, entre outros, na defesa do Futebol, da continuidade de um Futebol mágico, competitivo, inclusivo e sonhador.

Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Inter de Milão, AC Milan, Juventus, Tottenham, Liverpool, Arsenal, Mancester City, Chelsea e Manchester United:

Vocês estão fora destes relvados. Peguem na vossa bola milionária e vão jogar para outros campos. Por cá continuaremos com a nossa bola de couro, a verdadeira bola de futebol.




domingo, 5 de novembro de 2017

Os Caminhos do 4-3-3

Em Março de 2013 Jorge Jesus dizia:

"Não é necessariamente um modelo para as equipas pequenas mas, para mim, é o mais fácil de anular."

Realmente se olharmos para a táctica no papel é com esta ideia que ficamos.

Quatro defesas como normalmente as equipas se apresentam.
Três homens no meio campo a assegurar o equilibrio e a posse de bola mas longe dos sectores ofensivos.
Dois extremos sem apoios. Isolados junto às linhas.
Um avançado preso no meio dos centrais numa luta titânica de um contra o mundo.

No papel, na base da construção do 4-3-3, é isto que vemos. Esta táctica transmite-nos um equilibrio defensivo com um meio-campo controlador mas com uma quase total inoperância ofensiva.

Basta fechar o avançado e encostar nos extremos e o adversário não ataca.

O 4-3-3 fica então anulado, incapaz de criar e de projectar jogadas ofensivas.

No papel o actual treinador do Sporting tem razão. O 4-3-3 é o sistema mais básico, é a táctica que menos exige a quem o defronta e mais exige a quem o utiliza.

É esta a grande magia do 4-3-3 - A exigência que impõe a quem actua nele.

Um 4-3-3 defensivo, com três motas no ataque, pode ser utilizado sempre naqueles duelos de Pequenos vs Grandes.

O 4-3-3 ofensivo só pode ser utilizado por Grandes que tenham uma mente brilhante no comando (Pep Guardiola por exemplo).

Este sistema só por si oferece estabilidade defensiva, equilibrio no meio-campo e posse de bola. Um treinador que seja também um maestro irá oferecer-lhe um caracter ofensivo não advinhável.

Batuta na mão, indicar os intérpretes e começa a música.

A linha de 4 defesas perde três elementos.

Um lateral é extremo. O outro é médio.

Um defesa dá dois passes em frente. O outro visita o trinco.

O trinco é construtor.

Os médios são vagabundos. Pac-Men das linhas de passe. Comem todas.

Os extremos perderam a linha. Um troca os olhos aos centrais. Outro junta-se aos médios, abrindo espaço ao lateral.

O avançado? Outro Pac-Man. Come todos os espaços.

Um carrossel de emoções. O 4-3-3 rapidamente se transforma num 1-7-2. A bola avança e aparece o 1-3-6.

Os médios que construíam andam agora pelas zonas de finalização.

Que defesa a 4 consegue lidar com 6 avançados? Que dupla de centrais não perde o norte quando a sua referência de marcação desaparece e lhe surgem dois criativos pela frente?

E o lateral o que deve fazer? Agarra o extremo que fugiu para dentro? Corre atrás do lateral adversário que aparece que nem uma flecha? Fecha no avançado que ali apareceu na procura da tabela?

Mas agora perdeu-se a bola. Como defender com só um defesa?

Pressionando alto. Dos 6 avançados 3 atiram-se aos defesas. Os outros 3 cobrem-lhes as costas, juntando-se aos 3 que estavam na linha média do campo. E já estamos num 1-6-3.
O adversário sobe, quatro médios vão à pressão, outro recua para junto do central e o outro cobre o espaço. Estamos num 2-7-1, com os extremos a recuperarem a zona de pressão do segundo terço do terreno.

A bola não vai chegar controlada ao nosso terço defensivo. Pelo menos não pelo adversário. Mas chegando estão lá 2. Aliás, já estão 4. Ou 5. Ou 6.

É que o Futebol, pelo menos aquele que mais me encanta, é um jogo de apoios, é um desporto colectivo onde todos jogam unidos em cada zona do campo.

E esta é a maravilha do 4-3-3. De um equilibrio parte-se para um desiquilibrio trabalhado.

É a táctica que mais exige dinamicas, mais exige inteligência, mais exige criatividade e mais exige trabalho. É portanto uma táctica talhada para os melhores.

Sempre quis um 4-3-3 no nosso Benfica. O Jorge Jesus é um treinador de dinâmicas mas avesso à posse de bola e ao controlo do jogo. Gosta de uma equipa de ataques rápidos. Pelos menos assim o era no Benfica. Deixava a criatividade para os atacantes e por isso jogava logo com 4.

Sabia que para vencer em Portugal não tinha de controlar mas sim de esmagar. E o caminho mais fácil para tal era largar 4 atacantes criativos nas defesas adversárias. Daí o seu muitissimo trabalhado 4-2-4.

Já o Rui Vitória é um fã do 4-3-3 - sistema de jogo que tentou implementar no Benfica assim que cá chegou.
Faltou talento e faltaram ideias. O 4-3-3 que trazia era um 4-3-3 de contra-ataque e não o soube transitar para um clube dominador.

Rapidamente cedeu aos processos que já eram naturais a esta equipa. Os maus resultados assim o exigiram.

Mas o 4-2-4 não é o seu habitat. Tem vindo a procurar variações que o deixem mais confortável, que deixem a equipa mas próxima de um sistema de 3 médios. Seja jogando com um médio interior direito ou jogando com um segundo avançado em zonas de construção.

Olhemos para o papel.

Fejsa com Renato; Pizzi mais encostado à direita mas procurando espaços interiores; Jonas a cair para a direita; Nico na esquerda; Mitro no centro do ataque. 4-3-3.

Fejsa com Pizzi; Salvio na direita; Cervi na esquerda; Jonas a vir buscar jogo ao centro do terreno; Mitro no centro do ataque. 4-3-3.

São algumas variações do 4-3-3. São variações que criam maiores equilibrios e apoios no 4-2-4 de Jorge Jesus, perdendo-se aquela vertigem que era sua marca.

O actual treinador do Benfica continua na sua senda por criar uma equipa à sua imagem. Quer recuperar o seu 4-3-3. Nada contra Mister. Só não gosto do caminho que tem seguido.

Esta época já vimos Rui Vitória lançar um 4-3-3 puro. Contudo é sempre num contexto defensivo. Quer os 3 médios não para os apoios ofensivos mas para tapar os buracos defensivos. Por isso apresenta sempre o um triângulo não invertido, com dois médios trabalhadores na base.

E esta é uma base da qual parece já não abdicar.

O vértice mais ofensivo tem sido oferecido ao Jonas, pelo menos enquanto não puder abdicar de um sistema com dois avançados.

Neste caminho temos perdido os nossos dois construtores de jogo. Pizzi e Jonas. A inteligência, a criatividade, a mobilidade. A cola da equipa. O mister começa a não saber o que fazer com eles.

E não são os únicos. Olhemos ao Zivkovic, extremo a quem "falta rasgo".

No entender de Rui Vitória o 4-3-3 é um sistema de contra ataque. 3 médios para fechar, dois extremos para rasgar, um avançado para finalizar.

Mas num clube grande, numa equipa que tem de partir uma linha defensiva de 10 jogadores, tal sistema não funciona.

Esta época os problemas defensivos eram óbvios. O treinador do Benfica respondeu reforçando defensivamente o meio-campo. Assim surgiram agora os problemas criativos.

É que ainda por cima "O Jonas não pode jogar em 4-3-3 pois não consegue actuar sozinho na frente". Esquecendo-nos nós que neste sistema, pelo menos quando montado para dominar dinamicamente, nunca um avançado actua sozinho no centro do ataque.

O Rui quer um 4-3-3. Terá dedos para este piano?

Os caminhos do 4-3-3 são infinitos. Receio que o nosso treinador esteja a optar pelo caminho da perda dos criativos.

E a magia do 4-3-3 está na criatividade.



domingo, 12 de março de 2017

Celebremos o futebol


Televisão, livros, carrinhos, legos e cassettes fizeram parte da infância de quase todos os miúdos nos anos 90. Não fui excepção. Com a diferença de que sempre privilegiei o futebol. Mesmo na televisão, no tempo dos quatro canais, mais que os desenhos animados era o futebol que me captava a atenção. Os jogos do campeonato nacional, o saudoso Domingo Desportivo ou o Remate na RTP com a Cecília Carmo, os Donos da Bola na SIC com Nuno Santos ou Jorge Gabriel, os jogos da Liga Espanhola e da Liga Italiana ou o Contra-Ataque com o Sousa Martins na TVI fizeram parte minha infância. Eram os meus desenhos animados. Era o que me prendia à televisão. Também vi cassettes. Tenho dezenas delas. Rei Leão, Pinóquio, Toy Story, Aladdin, Pocahontas, enfim, até as organizava por ordem alfabética, por ordem de duração. E qual foi a cassette que vi, que rebobinei para rever vezes sem conta até à náusea? A daquele Barcelona x Atlético de Madrid para os quartos-de-final da Taça do Rei de 1997.

Faz hoje vinte anos sobre esse jogo. Por feliz coincidência, o Zé Luís, meu primo, sabendo que não iria poder ver o jogo, deixou uma cassette a gravar. E graças a isso, vezes sem conta, vi e revi os frangos de Vítor Baía, os contra-ataques dos colchoneros, a classe e os golos de Ronaldo (o verdadeiro, o melhor futebolista que vi jogar e a primeira camisola que tive), aquele remate do Figo à entrada da área e a festa blaugrana após o golo decisivo de Juan Antonio Pizzi, que seria promessa eleitoral de Luís Tadeu nas malfadadas eleições de 1997 em que se elegeu Vale e Azevedo em detrimento do professor do Instituto Superior Técnico.

Não sendo a minha primeira memória sobre futebol, é talvez a primeira memória marcante que tenho. Celebremos o futebol.


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Algumas ideias sobre André Gomes



- Não poderia ter ido para melhor clube. No Barcelona o seu jogo tecido a linho encontra o espaço e os apoios para se manter como um dos melhores médios do mundo na próxima década. Iniesta será o seu mentor.

- Dizer que Jesus não apostou nele não é só um exagero, é mentir. Apostou e fê-lo crescer como jogador. Mesmo no clubismo doentio ou no ódio irracional a um homem não pode valer tudo (embora pareça).

- É mais uma péssima venda de um jovem jogador com um talento fabuloso. Para perdermos jogadores desta classe temos de receber muitos milhões que compensem a perda. Mais uma vez, não foi o caso.

- Que tenha uma excelente carreira porque tem todo o talento para isso. Da minha parte, agradeço vários momentos mas sobretudo aqueles segundos em que fez magia na Luz e marcou o golo épico que nos viria a dar uma Taça de Portugal.

domingo, 17 de maio de 2015

Futebol e Benfica pelo Mundo (Parte 4)



Termino esta volta minha volta ao Futebol Mundial (mais especificamente América do Sul e Europa) a actualizar-me sobre os dois principais campeonatos do nosso continente, isto apesar da dificuldade que é continuar a abstrair-me do jogo de amanhã.


A duas jornadas do fim, o Barça está prestes a festejar o seu 7º campeonato nos últimos 11 anos, continuando assim o ciclo Blaugrana na Liga espanhola.
Basta ao Barcelona vencer um dos seus jogos e por isso pode tornar-se campeão já este fim-de-semana em pleno Vicente Calderón.
A equipa da Catalunha está a apontar para o triplete. Além do campeonato está também na Final da Taça com o Athletic Bilbau e na Final da Champions com a Juventus.
Na Liga dos Campeões o Barça tem feito uma campanha excepcional. Ganhou o seu grupo, eliminou o City, PSG e Bayern e teve como ponto alto o 3-0 no Camp Nou frente ao campeão alemão.

O futebol do Barça já não me fascina como há uns anos. Contudo o espírito colectivo que se vê entre todas aquelas individualidades não pára de me impressionar e é um exemplo para qualquer equipa.
A relação Messi-Neymar é para mim, juntamente com a magia do argentino e do Iniesta, o grande trunfo do Barça deste ano.

O Real Madrid sonhou mas o sonho está perto do fim.
O 2º lugar está garantido mas o título parece ser já só uma miragem para a equipa do Fábio Coentrão.
Na taça a equipa foi eliminada precocemente nos Oitavos pelo Atlético.
Na Champions começou forte e ganhou todos os jogos do grupo – Liverpool, Basileia e Ludogorets. Nos Oitavos eliminou um Schalke que chegou a assustar com a vitória no Bernabéu, eliminou o Atlético e caiu nas Meias sem ter conseguido vencer a Juventus em nenhum dos jogos.
De lembrar a conquista do Mundial de Clubes perante o San Lorenzo da Argentina.

Este Real é uma equipa confusa, com um colectivo pouco trabalhado e que funciona muito à base da individualidade dos nomes. Tem jogadores impressionantes e que mereciam jogar num colectivo diferente.
Custa-me perceber uma equipa que parece deixar para segundo plano o seu sucesso em prol das conquistas e consagração individual de um só jogador. Em campo o principal foco parece ser sempre a disputa estatística pela Bola de Ouro.
Vejo um Real Madrid muito bem trabalho no momento ofensivo que favorece as qualidades do Cristiano e muito abandonado em todos os outros sectores.

Qual a melhor dupla de centrais neste Real? Qual o melhor trio do meio-campo? Que posição faz o Modric? E o James? E o Isco? Que anda a fazer um jogador como o Bale perdido e preso na direita do ataque? E qual o papel do Marcelo nesta equipa? O lateral tem um talento imenso mas passa o jogo sozinho na ala esquerda, parecendo várias vezes um jogador à parte da restante equipa.
Este ano, nos blancos, tenho de destacar o Benzema. O francês tornou-se um avançado completo, inteligente e de enorme qualidade.

Acho curioso que esta época o Real só tenha ganho 4 dos 16 jogos grandes que fez.
Venceu os dois duelos com o Liverpool, venceu o Atlético na segunda mão das Meias da Champions no Bernabéu e venceu o Barça para o campeonato também no Bernabéu.
De resto contabiliza 7 derrotas e 5 empates.

Os restantes lugares no Top-5 são ocupados pelo Atlético com 77pts, Valência com 73pts e Sevilha com 70pts, e deve terminar nesta ordem.

O actual campeão, o Atlético de Madrid do Tiago, Oblak e Siqueira, este ano não conseguiu entrar na luta pelo título e tem andado desde o início a disputar o terceiro lugar com o Valência.
Na Champions liderou o grupo que partilhou com a Juventus, eliminou o Leverkusen nos penalties e acabou por cair nos Quartos frente ao Real.

O Valência com o contributo do André Gomes, Enzo, Rodrigo e do nosso João Cancelo, ocupa o último lugar de acesso à Champions.

O Sevilha e o Reyes ainda acreditam no 4º lugar e podem conquistar este ano a sua segunda Liga Europa consecutiva. Depois da vitória sobre o Benfica na época passada, este ano irão defrontar o Dnipro na Final e contam para já com vitórias sobre o Zenit e Fiorentina, nos Quartos e Meias repectivamente.

O Villarreal já assegurou o último lugar de acesso às competições europeias e na Liga Europa caiu frente ao Sevilha nos Oitavos.
Ficam assim fora dos lugares europeus tanto o Athletic como o Málaga. O Athletic deverá ter o apuramento europeu assegurado devido à presença na Final da Taça. Este ano ficou em terceiro no seu grupo da Champions e acabou logo eliminados nos 16-avos da Liga Europa pelo Torino.

O lanterna vermelho do campeonato é o Córdoba. A equipa do nosso emprestado Bebé já está despromovida e vê os restantes clubes a pelo menos 11pts de distância.
O Eibar, o Granada, o Deportivo e o Almería estão na luta pela manutenção com só um ponto a distanciá-los.
O calendário não é favorável à equipa do Luis Martins e do nosso emprestado Candeias, já que o Granada irá receber o Atlético na última jornada, nem para o nosso “clube satélite”, o Deportivo, que irá a Camp Nou no fecho do campeonato. Dificilmente os nossos emprestados – Farina, Sidnei, Ivan Cavaleiro e Hélder Costa – conseguirão ajudar o clube do Riazor a manter-se na Primeira. Nas fileiras do Depor está também o lateral Luisinho.

O Celta de Vigo, onde brilha o Nolito, está num confortável 10ºlugar e na luta por se manter no top-10.

Com 42 golos, 9 de penalty, o Cristiano lidera a tabela dos melhores marcadores, seguido pelos 40 golos do Messi, 5 de penalty. O Neymar e o Griezmann são os que se seguem, com 22 golos cada um.
O Bale fecha o top-10 com 13 golos conseguidos.
No Clássico entre avançados o Suárez leva a dianteira com 16 golos marcados contra os 15 do Benzema. Já o Torres só leva 3 golos.
Quero destacar as 14 assistências do Suárez. O uruguaio só assiste menos que o Messi com 18 e do que o Cristiano com 15.

Um jogador que merece destaque é o Nolito. Tem para já 12 golos e 11 assistências pelo Celta de Vigo no campeonato.
O Tiago leva 5 golos e 4 assistências no Atlético e o A.Gomes e Rodrigo 4 e 3 golos, respectivamente, pelo Valência.
No Depor o Ivan Cavaleiro somou até agora 3 golos e 3 assistências.
Tanto o Bebé como o Candeias não conseguiram ainda marcar e levam uma assistência cada.

O futebol espanhol continua a confirmar a sua superioridade no Mundo do Futebol.
Nos últimos 10 anos foram 2 Campeonatos Europeus, 1 Campeonato do Mundo, 4 Liga dos Campeões e 5 Ligas Europa. A isto ainda se pode juntar este ano mais uma Liga dos Campeões e mais uma Liga Europa.


Em terras de sua majestade, no país do melhor que o Futebol tem para oferecer, o campeão é já o Chelsea e nesta altura já se disputa a penúltima jornada do campeonato.

Olho para a tabela classificativa e vejo o Chelsea com 34pts, 34vitórias, 34 empates e 34 derrotas. Ainda tentei arranjar uma explicação para isto mas quando o vi o QPR em último também com 34pts achei que alguma coisa haveria de estar a bater mal.
Tive de desistir quando vi que o Aguero leva 34 golos, tantos como o Nelson Oliveira, o Balotelli e o Varela (!!!!!).

Isto hoje não dá para mais. Inglaterra agora só depois dos desejados festejos do 34.

É ir a Guimarães e voltar para o Marquês se fizerem favor.


domingo, 11 de maio de 2014

Decisões espanholas com olho na Luz

Ali no país vizinho o campeonato está ao rubro.

A equipa do Di Maria e do Fábio Coentrão já só pensa em jogar na Luz e perante o Celta disse adeus ao título nacional.

O Atlético e o Barça deixaram as decisões para o dia do Jamor.

No próximo Domingo o Messi, Iniesta e companhia recebem este Atletico fortemente liderado pelo Simeone num verdadeiro espectáculo pelo título.

Vitória caseira dá o campeonato ao Barcelona e qualquer outro resultado consagra o Atlético.

Também o Tiago já deve estar a sonhar com o jogo na Luz mas primeiro ainda tem de brilhar nesse duelo de titãs.

Aos benfiquistas sugiro que preparem a gravação do jogo (ou qualquer outro método), é que a festa no Marquês não espera por jogos alheios, muito menos uma festa com quatro canecos!

domingo, 8 de setembro de 2013

Dentro e fora de campo, Aimar sabe tudo sobre futebol

Há espaço no futebol moderno para o número dez puro? Um dez como Aimar?

Tem de haver. O Barcelona joga com três números dez, no mínimo. Iniesta, Xavi e Messi são verdadeiros números dez, adaptados a funções diferentes. São jogadores que em qualquer outra equipa do mundo seriam um puro dez. Sabem, muito claramente, o que têm de fazer com e sem a bola. Inteligentíssimos.

Nos últimos anos apaixonou-se pelo futebol de alguma equipa?

Sim, pelo Barcelona de Pep Guardiola. Sobretudo por ter demonstrado ao mundo o prazer que é possível ter com uma bola nos pés. Se tivermos a bola, o adversário não a tem. E não só por isso. Se perdem a posse, recuperam na perfeição a posição defensiva e recuperam a bola com facilidade. Além do Barcelona, tenho de elogiar o Borussia Dortmund. Seja como for, nos últimos anos todas as equipas ficaram muito longe desse Barcelona.

Os adeptos puristas do futebol querem mais equipas como esse Barcelona? Ou, se preferir, quem gosta de futebol gosta desse Barça?

Eu creio que sim, mas todas as opiniões são válidas. Por um simples motivo: o futebol não é uma ciência exata e está aberto às mais variadas influências. Tudo é aceitável. Do meu ponto de vista, não há dúvidas: o Barcelona é a melhor equipa da última década.

Qual foi o treinador que melhor entendeu o futebol de Pablo Aimar?

O melhor treinador que tive foi Marcelo Bielsa. Ramón Diaz, no River, até Jorge Jesus, no Benfica, também me aproveitaram bem e entenderam o meu futebol.

E no futebol atual, qual é o treinador que mais admira?

Vejo o Bayern Munique a jogar e percebo que o Guardiola conseguiu impor muito rapidamente o que pretende: ter bola, pressionar, reduzir o espaço do campo. E fazer isto numa cultura radicalmente distinta não é para qualquer um. Para mim, Guardiola é o melhor treinador do mundo.

domingo, 2 de junho de 2013

La rumba de Benfica

Não me perguntem mais a que horas é o Benfica, em dias de Champions. Exceptuando talvez da namorada, da velhota que me vende litros de cerveja em horas de aperto e dos sportinguistas - que suporto com simpatia e até alguma compaixão -, não consigo ouvir esta pergunta de mais nenhum ser humano ou desumano, animal, vegetal ou quadrúpede. Estou até capaz de abrir um tópico no facebook - "Vamos matar os que desconhecem as 19:45" - e depois lançar apelos de grande logorreia a clamar pela participação das pessoas. É a democracia a fazer valer-se. 

 Quando eu vi pela primeira vez o Barcelona no Estádio da Luz era tão pequeno que acho que levava ainda as mangas largas de golos do Rui Águas contra o Steaua de Bucareste e a mão do Vata escondida dentro de uma pastilha Gorila. Do terceiro anel, os jogadores pareciam mosquitos - digo isto porque ainda só havia Elifoot; se tivesse sido anos mais tarde, os jogadores teriam parecido bolas do FM e uma barra em baixo, feérica, vermelha e branca, branca e vermelha, histérica com o golo. Sempre foi o problema destes jogos: não filmavam as bancadas. Era por isso que avançávamos nós, em frente ao computador, fazendo gestos de milhares de adeptos, para ver se os nossos jogadores, metodicamente escolhidos na pré-temporada, compreendiam o que era jogar no Benfica e davam mais aquele bocadinho, aquela corrida que chegasse ao golo. Nunca gostei dos cruzamentos para a área em que apareciam várias bolas que se juntavam todas numa e a bola saía a rasar a trave. 

 O Bakero tinha um problema óbvio: era de si pequeno, o que compunha uma imagem que, do Terceiro Anel, se me afigurava difícil de perceber. Seria um jogador ou uma mancha de tinta blaugrana no relvado? Só me dava conta de que aquilo se mexia quando via a bola chegar-se-lhe e sair redonda para um lado e para o outro; um ponto no meio do campo que lançava a equipa para um acordeão, às vezes tudo dançava em expansão, outras comprimiam-se num azulejo mágico. O Bakero devia ter a minha altura e eu, não sei bem porquê, sentia que se ele podia estar ali dentro eu também podia apoiar os pés no cimento coberto a cores da Shell e voar para as costas do Paneira para ver o jogo mais de perto. 

 Ao longo dos anos, enquanto crescia, fui vendo do Terceiro Anel os jogadores mais crescidos, como se tivessem feito obras no estádio sem que eu tivesse notado. Ou então cresci uma imaginação galopante que me permitia alucinar gigantes numa visão de mosquitos. Era normal: não se ficava indiferente às tardes e noites de tanto Benfica acumulado - até os bancos de suplentes, onde o Toni vociferava impropérios gloriosos, de repente, a meio do meu crescimento, já me parecia que tocavam nos holofotes. Era assim: primeiro chegávamos ao terceiro anel e ficávamos uns minutos a sentir o ar frio de estar do lado de fora da estratosfera; a meio, entre fumos, chouriças e vinhos a martelo (eu só Trina de Laranja e talvez um golito de carrascão, mas não sei prometer), sentíamos que podiamos mesmo estar em território terestre; no fim, o relvado subia-nos sangue adentro e era como se estivéssemos a ver o jogo deitados no campo, com as cotovelos encostados à grama e os ouvidos cheios de peculiares vociferações dos jogadores e o toque da bola sempre que apanhava uma chuteira no caminho. 



 O Barcelona tinha o Eusebio, que não era o nosso Eusébio e tinha, entre tantos e tão bons, o Laudrup - que esteve quase para ser o Pedro Barbosa ou então o contrário porque eles se confundiam muito naquele lugar que é o da genialidade. Nós tínhamos o Thern, que foi dos primeiros jogadores a confundir ataque com defesa, largura e profundidade e outros nomes para aquilo que afinal é simples e facilmente descodificável: o futebol. Na direita, lembro-me de ver um pequeno ponto vermelho fazer de lateral e extremo e médio criativo e segundo avançado chamado Vítor Paneira, que era aquele tipo de jogador com quem eu gostaria de casar, se eu quisesse casar com um jogador. A perninha direita estava sempre no ar, à espera de um olhar desatento do adversário, enquanto a esquerda mantinha a ligação do atleta ao relvado. A bola ficava à frente, sem lugar definido, mas sempre ao alcance de um qualquer imprevisto. Depois era ver o isco lançado sobre um lado de Paneira e a bola a sair para o meio, o trote de Paneira em crescendo e depois Isaías ou Thern ou Yuran ou Rui Costa ou algum ponto vermelho que, por algum milagre ainda não explicado, sempre surgia tocando ao de leve a bola ou rodopiando em roleta russa o relvado que ia dar ao Pacheco, que, rodando não a perna mas o bracinho direito aos círculos antes de fintar, avançava pelo campo e descobria pequenos nenúfares de onde aparecia em situação de golo. 

Chapelou Pacheco Zubizarreta mas foi um quase golo. A bola no Benfica levava mais ou menos 10 segundos a chegar do guarda-redes à baliza adversária. Eu não sei bem como eles faziam aquilo, uma vez que estava com os olhos e a boca e os braços parados lá do tecto do mundo, mas acontecia começar uma pergunta sobre os detalhes do placar electrónico ao meu Pai, enquanto o Veloso recebia a bola, e ainda estar a concluir o interrogatório fundamental e já a bola estava lançada no Yuran que falhou um golo com o guarda-redes pela frente. O Yuran ia, assim naquele jeito de tractor acolchoado, passar para o lado com o pé esquerdo mas depois passava a bola por entre as pernas do adversário e já estava em frente à baliza. Isto lá de cima parecia tudo um carrossel de certezas, ou era golo ou era quase golo, não havia terceira opção. 

 Num espaço de ano e meio, vi o Barcelona duas vezes: uma empatámos, esse de que este texto é feito, e outro em que ganhámos por 2-1, numa Pepsi Cup entre Ailton, Rui Águas e Romário e outras coisas que não vêm ao momento. Fiquei muitos anos sem ver o Barcelona na Luz e depois ocorreu Moretto e dias diferentes. Amanhã vou ver a melhor equipa do mundo de todos os tempos contra o melhor clube do mundo de todos os meus vários corações. Seja o que for, será um dia feliz.



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Obrigado, Barcelona.

Um clube, uma equipa, um treinador brindam-nos durante 5 anos com o futebol mais maravilhoso de que há memória, um futebol que fez evoluir o desporto para novos patamares, que criou, desenvolveu, inovou. Um futebol que abriu os horizontes quando parecia que não havia mais horizontes que aqueles onde o futebol estava metido, quase estagnado. 

Esse clube, essa equipa, esse treinador ganharam consecutivamente tudo o que havia para ganhar. Durante esse tempo, os mais cépticos sujeitavam-se a um "oh isto dá sono, oh é aborrecido", não compreendendo o que ali estava, desconhecendo o fabuloso contributo que o Barcelona trouxe a todos nós - pelo menos, os que gostamos de bola. 

Quando chega o momento dessa equipa ser verdadeiramente atropelada por outra grande equipa, quando, provavelmente, estaremos a observar o fim de uma viagem maravilhosa, todos os gritos de incompreensão e raiva, loucura e ódio saíram ecoando das gargantas dos cheios de sono e incompreensão. Como diria o outro: o futebol é isto.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

É favor ler e rir muito.

A notável obra humorística chama-se "A esterilidade da possessão" e aborda o jogar do Barcelona. Ao ler, ri-me bastante com esta maravilhosa confissão que Miguel Lourenço Pereira faz de que não percebe 0,1 por cento do que vê quando vê jogar a equipa catalã. Lembrou-me também um texto do vendido Luís Fialho que dizia, para explicar a sua aversão ao jogo do Barça, isto:

«Já aqui disse várias vezes que não aprecio o estilo.
Gosto de futebol atlético, jogado por gente alta e forte, gosto de profundidade nas alas, de velocidade, de cruzamentos, de jogo aéreo, de remates prontos, e de pontas-de-lança (de longe, a minha espécie preferida no mundo da bola). Não gosto de toques e retoques para o lado e para trás, de rodopios, de malabarismos circenses, nem de fintas em cabines telefónicas. Distingo teatro de desporto. Nos palcos gosto do primeiro. Nos relvados…do segundo.»

Gente alta e forte. Gente forte e alta. Guardiola, Guardiola, não percebes nada disto.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Andrés existe.

Agradecer aos deuses por podermos ter a melhor equipa do Mundo ao vivo e a cores no Estádio da Luz. E também por um grupo que não sendo fácil é bastante acessível a um Benfica competitivo e sério.

E, claro, Parabéns ao melhor jogador do Mundo por ter sido considerado o melhor jogador a actuar na Europa. Iniesta, vemo-nos no dia 2 de Outubro. Será um honesto e verdadeiro prazer.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Futebol sem bola

Com decepção, tenho ouvido Pedro Ribeiro comentar os jogos do Euro. Não sei muito bem se foi ele que mudou ou se fui eu, mas houve um tempo em que não desgostava dos seus comentários aos jogos ingleses na Sport TV. Hoje noto que a questão central da minha admiração passava pelas horas e dias em que os jogos davam: geralmente de manhã ou início da tarde, aos Sábados e Domingos, horas que estão cientificamente patenteadas como veículos progressivos de uma cura de ressaca. Pode ser que a cabeça me latejasse em demasia, pode ser, e que tudo me parecesse de uma qualidade que não tinha.

Ontem foi quase insuportável ter de ouvir tanto disparate. Desde as infinitas loas a Ronaldo passando pelo desprezo a vários outros jogadores, foi um bocadinho repugnante. No golo da Holanda, no entanto, não se abordou o jogador Ronaldo, vá lá saber-se porquê. E no golo de Portugal, o primeiro, demorou-se algum tempo a compreender o passe fantástico de João Pereira. E mesmo quando se lhe reconheceu a mestria, foi com frases descabidas pelo meio, tanto que na segunda parte, quando o jovem Pereira avançou destemido pela área holandesa, surgiu a pérola: "bem, se ele assiste e marca neste jogo é o fim do mundo!".

Ora bem, João Pereira é um jogador medíocre - penso que é consensual. Mas é-o, acima de tudo, por não saber defender. A atacar, tem qualidades que extravasam em muito a média geral do campeonato português e até - imagine-se - de alguns chamados génios e fenómenos da natureza. Aquele passe, por exemplo, não é raro em João Pereira - e aquele passe demonstra muitas coisas. 

Coisas que Ronaldo, nosso líder, herói e capitão, raramente faz. Quantas vezes vimos Cristiano rasgar uma defesa com um passe daqueles? É que por mais que se treine e se crie uma máquina de jogar (e Ronaldo é uma máquina incrível), há lados do cérebro, da imaginação e da visão espacial que o madeirense não tem. Há coisas que não se treinam. Se se treinassem, Ronaldo seria uma besta extraordinária, o melhor de todos os tempos. Assim, é um jogador fabuloso, por aquilo que une características físicas e técnicas. Mas não mentais. E é por isso que Iniesta é o melhor de todos os tempos.

Mas a histeria de Ribeiro em relação a uns e o desprezo por outros, no caso do jogo de Portugal, não se aceitando, compreende-se. Falava o coração, além de outras coisas. Já o abordado no jogo da Espanha não deixa grandes dúvidas sobre a incompreensão que persiste sobre o Barcelona e sua forma de jogar. O lance era este: Piqué entra no meio-campo, avança uns metros, tem Xavi à direita, Iniesta em frente e Silva bem aberto junto à linha lateral. Toda a equipa da Espanha se condensava em poucos metros, excluindo Silva que abria o espaço e criava uma falsa ideia de passe óbvio. Ribeiro exalta-se: "já devia ter passado!". Mas Piquet não passou. Manteve-se no jogo interior, a bola rodou entre vários jogadores no meio e acabou numa jogada qualquer de que já nem sequer me lembro bem. Mas o mal estava feito. 

Piquet não "devia ter passado" coisa nenhuma. Não devia porque não era a melhor opção - passando, deixava Silva entregue a si próprio, sem apoios nem possibilidade de progressão -, e muito menos devia só porque era o gajo que estava sozinho. Mas o maior problema disto tudo é vermos um comentador - a quem já ouvi enormes elogios ao Barcelona (como não?) - dizer isto e não entender que afinal o que ele gosta no jogo da equipa catalã não é aquilo que a distingue de todas as outras. E isso, não sendo raro (quase todos os que comentam o demonstram), é bastante triste.

sábado, 28 de abril de 2012

1000 euros a quem conhecer 10 jornalistas portugueses [desportivos, no activo, conhecidos da populaça] que admitem o clube de que são adeptos

Isto - este nojo, que é a capa do jornal "A BOLA" de hoje - é resultado da inexistência de jornalistas desportivos em Portugal. Menos cáustico e mais verdadeiro: eles existem, só que não têm poder, estão arrumados em prateleiras, na horizontal ou então servem cafés aos directores e aos sabichões - aqueles que, com dois candidatos à Presidência do Sporting, fazem notícia com a vitória do candidato errado, por exemplo. Ou então aqueles que abdicam dos serviços de um cronista sportinguista só porque o mesmo respondeu à letra a um cronista portista - igualdades, sim, mas só no dia 25 de Abril e de cravo ao peito! 

Há ainda aquele que não aceita, bem, uma pequena indiscrição de Gobern - quando o comentador festejou um golo do Benfica, pensando não estar a ser filmado - mas não tem problemas nenhuns, o Santos, em manter num programa de grande audiência um senhor totalmente embezanado que, além da estupidez latente que já lhe percorre as veias e a massa encefálica sempre que respira, com o álcool atinge momentos de grande qualidade humorística e até laivos de hilaridade. Mas para o senhor Santos, que gosta de rir, está tudo bem. O Senhor Gobern é que com aquele espasmo faltou ao respeito aos portugueses.

Não há, no mundo desportivo português, muitos que se mantenham direitos. Por medo, por cobardia, por ambição, por degredo mental. Basta ver que é raro o jornalista que tem clube conhecido. Geralmente o jornalista desportivo português é do Casais de Revelhos ou do Cantaria da Alçoita - isto porque são clubes que verdadeiramente mexem com o jornalista. Entende-se: o clube "lá da minha terra" passa os anos a disputar o campeonato, a Champions, a Intercontinental - quem são Benfica, Porto, Sporting, Académica, Belenenses, Vitória ao pé deles?

O jornalista desportivo português é um bicho estranho. Ele sabe de tudo o que se passa no mesmo mas, por ordens superiores e instinto de sobrevivência, tem de fingir que nada sabe. Ele tem de escrever loas ao Porto, ainda que ele saiba que o Porto é o principal beneficiado - mas de muito, muito longe. Ele vê que os penáltis a favor do Porto muitos deles são dúbios e que lances iguais nunca são assinalados a favor dos restantes clubes mas ele tem de dizer que "a vitória por 1-0 de penálti foi o resultado justo, tal foi a torrente ofensiva dos dragões". 

Ele sabe que, nos momentos cruciais, o Porto leva o empurrão que o deixa quase sempre com as taças na mão mas ele não pode deixar de escrever que "estes títulos são a consequência de 30 anos de competência". Ele nunca viu o Benfica ganhar um jogo no Porto com um golo em fora-de-jogo, mas ele lá vai ter de dizer que "um lance não resolve jogos". Ele estranha que Sporting e Benfica nunca possam resolver aqueles encontros bloqueados com um penaltizinho em cima da hora, meio dúbio, ou, como na semana passada, fora da área e com o atacante do Porto a puxar a camisola do defesa adversário - ele nunca viu tal coisa. Ou se viu, foi uma vez, há muito tempo, e provavelmente num amigável ou na Taça de Portugal contra uma equipa fraca. 

Ele leva os cafés aos senhores que mandam nele e ele às vezes, por ressaca, está meio fora da realidade e meio naquela neblina de cansaço e álcool e pergunta, inocentemente: "mas ó xôr director, a gente não investiga?", "a gente sabe que isto não é igual para todos, toda a gente que anda nisto há 30 e tal anos conhece o que se passa, não há forma de ajudarmos a limpar o futebol desta gente?". Pobre do sonhador, que no dia a seguir já tem lá uma cartinha em cima do portártil: "ou deixas-te de merdas ou amanhã podes ficar a dormir".

O jornalista desportivo português escuda-se com a Lei: "isso é coisa para juízes, nós não temos obrigação de julgar em praça pública". Pois não. Mas devias ter a obrigação - e até o prazer, e até a vontade, e até a decência - de querer saber e divulgar a verdade e não este lamacento atirar areia para os olhos dos outros, como se vivêssemos num mundo de cegos em que só passando as mãos pelas notícias podíamos saber e viver a realidade. 

Eu quero lá saber se as escutas não são legítimas nos tribunais, caralho. Eu quero é saber o que elas demonstram e quero que tu e os teus amigos jornalistas vão atrás daquilo que elas dizem e não se elas são aceites ou não em julgamento. Que jornalismo de merda é este que se acanha perante as hipócritas e desviantes formas de evitar a verdade que os dirigentes executam nem sequer com tão grande qualidade artística? Onde vivem as vossas consciências, o vosso brio, as vossas entranhas? Perdidas entre favores e gestos de assentimento com a cabecinha olhando para o chão.

Não têm clube, mas gostam de futebol. Têm um trabalho que envolve maioritariamente um desporto específico, dizem-se amantes do futebol, adoram citar Nelson Rodrigues ou Valdano, mostram-se tão cultos e tão defensores da pureza e arte e génio e transcendência do desporto na sua forma mais primária e depois dizem-nos que não têm clube, que não sabem de nada, que não viram nada, que desconhecem como chegaram até aqui - se de gaivota, andorinha ou cegonha. Que o mundo vos é estranho, que não o entendem. Que, no dia a seguir ao Guardiola se despedir do Barcelona, nem sequer estavam na redacção quando alguém, provavelmente agarrado a um leitão e dois javalis, decidiu esta nojeira de primeira página.

Porque são todos muito puros, não têm provas de nada. Eles amam o futebol. Por eles, se fosse por eles, ai se me deixassem, agarrem-meagoraqueuvoumaeles, isto só lá vai com uma limpeza, estive quase quase para, ou muito me engano ou.

Cortem as asas. Comprem uns colhões.

sábado, 21 de abril de 2012

Barcelona ou Real Madrid? Benfica.

O Constantino, sempre na crista da actualidade, já abordou o assunto, mas permitam-me ir um bocadinho mais longe. O que se passa em Portugal em relação a Barcelona-Real Madrid é de uma pobreza de espírito assinalável. Não o amor pelo futebol, pelas rivalidades, pelo desejo de ver grandes jogos, grandes artistas, grandes duelos; não a genuína paixão pelas emoções ou a curiosidade de saber quem, de entre reais ou independentistas, sairá vencedor. Isso é puro, humano, eterno.

O que me potencia o grito de espanto é a forma como tudo isto é vivido. Tudo de um facciosismo sem justificação, de um pseudo-clubismo órfão de pátria ou de afectos. Os jornais dilaceram o nosso campeonato com excessivas e demagógicas loas - hoje o "A BOLA" faz a primeira página mais ridícula da história, em que remete o campeonato português para um plano secundário (e hoje só está em discussão o título e as duas equipas que o disputam em jogo) -, as rádios não se calam com o duelo ibérico, nas televisões vemos comentadores lamberem os beiços a Mourinho e seus jogadores, de uma forma que nada tem a ver com a análise ao jogo, apenas e só porque Mourinho e seus jogadores, alguns, são... portugueses. Tudo isto de uma pobreza de visão, de um portugalzinho de parolos e invejosos, de lambe-botas, de mentecaptos. Os mesmos que, umas horas depois, são capazes de usar dessa boçalidade popular que nos define bem como povo: "de Espanha, nem bom vento nem bom casamento". Mas boa submissão.

E o povão vai atrás, submisso. Escolhem-se barricadas, delimitam-se linhas no chão que distinguem uns e outros, mesmo que uns e outros não sejam nem de uns nem de outros. Os adeptos preferem equipas - mas não lhes basta a preferência; insultam, arriscam teorias, avançam pela contenda defendendo os seus "merengues" ou seus "culés", como se tivessem nascido debaixo das muralhas do Santiago Bernabeu ou do Camp Nou. 

Esquecem-se das suas próprias equipas, dos clubes que dizem defender e avançam, destemidos, pelo clubismo de aluguer. Não há nada que o justifique ou o legitime. Apenas uma resposta banal à vozearia que os jornais e as rádios e as televisões emitem. Seguem a matilha, seguros de que afinal são mesmo do Real Madrid ou então são de certeza do Barcelona e nem sequer compreendem o ridículo de tudo isto. Nem a razão que o sustente. "Ser" do Real Madrid porque lá jogam portugueses, desculpem, é ridículo; "ser" do Barcelona porque fazem um futebol fabuloso, perdoem-me, é absurdo. Aceita-se que vibrem com as boas equipas, compreende-se que tenham preferências patrióticas (embora não se compreenda muito bem este patriotismo feito de coisa nenhuma), mas "ser" de algo que nos não é íntimo? Como e porquê? Com que bases? A propósito de quê?

Não me entendam mal: gosto dos dois. São clubes eternos, pela História, pelo palmarés, por aquilo que significam para os seus povos. Ao longo do caminho, tenho gostado mais de uns e depois de outros, sempre na perspectiva do adepto que gosta de futebol e vibra com os grandes clubes. Mas "ser", peço desculpa, SOU do Benfica. Já vi grandes jogos no Santiago Bernabeu, já fui ver o Barcelona ao Vicente Calderon, a Huelva e a Salamanca. Gostei de vê-los, aos dois, com os seus jogadores fabulosos e a massa adepta fiel e sempre presente. Ouvi aqueles "uuuuuuuuuuuui" de um golo que afinal não foi. Emocionei-me com o Rivaldo ou com o Laudrup (dos dois lados da barricada), não aguentei o espanto ao ver Ronaldo o fenómeno ao vivo ou a surpresa de observar a inteligência sublime de Iniesta ou de Zidane. E está bem assim: amor, puro e duro, pelo futebol.

Mais do que isso, zero. Acho ridículo, imbecil, deslocado. Uma traição sem sentido ao clube que amamos. E espero - sem esperar - que hoje ninguém fique em casa porque "vai dar um jogo muito importante na televisão".