terça-feira, 29 de abril de 2014

Ainda as emoções no Dragão




 Bem sei que o jogo foi no fim de tarde de Domingo mas só agora me recompus do êxtase que foi viver aquele dia tão épico.

Para começar quero desde já agradecer a todos aqueles que não desistiram do jogo antes do seu início. Tanto adeptos, como jogadores e como o staff. Quero agradecer a todos estes que quiseram ganhar o jogo, que o valorizaram e que não se deixaram levar na onda de facilitismo que o campeonato ganho e o próximo jogo com a Juventus estavam a criar.
Foi graças aos que não desistiram que me foi possível viver um dos momentos mais inesquecíveis que presencie no Futebol.

Viagem até ao Porto na ansiedade de ver os nossos jogadores entrar em campo.
O caminho foi feito à volta de “Quem vai jogar?”, “Como jogar?”, “É para ganhar!” e ainda com tempo para falar sobre o Candeias.
Chegado ao cortejo começou a festa. Não havia Juventus, só Benfica a lutar por mais uma final.
Campeões, campeões. O Campeão voltou. Ser benfiquista. O amor da minha vida. Tudo a saltar. SLB SLB SLB.
Foi assim até ao estádio, na entra do estádio e pelo estádio a dentro.
Preparados físicos no relvado. Ovação.
Guarda-redes no relvado. Ovação.
Jogadores entraram no relvado. Ovação.
A equipa aqueceu juntos aos seus adeptos e os adeptos aqueceram com a equipa.
Veio o minuto de silêncio. Respeitámos o momento e o símbolo que nos carrega.

90 minutos de pé. 90 minutos a cantar. 90 minutos de festa, esperança e algum sofrimento.
Neste Dragão a confiança nunca nos faltou, mesmo a jogar com 10 e mais preocupados em defender.
O símbolo glorioso das nossas camisolas foi respeitado e naturalmente a crença foi recompensada.
Penalties. Bola no poste, ressalta para fora, o Fernando falhou e tudo o que era encarnado explodiu. Tudo a cantar, tudo a saltar, tudo a vibrar, tudo em pura euforia.
Ganhámos no Dragão. Ganhámos ao Porto. Garantimos mais uma final!

Esperar quase uma hora para sair do estádio? Não custou nada. Estávamos em família, estávamos em festa.
A cantar esperámos, a cantar saímos e a cantar dissemos até já ao Dragão.
Horas depois do jogo terminado ainda se ouviam pessoas a cantar pela cidade do Porto.
No regresso o cansaço não venceu a alegria. Madrugada dentro a viagem rodou à volta do Benfica e da sua mais recente vitória.

Isto meus amigos, é o resultado da Cultura de vitória.
Vitórias alimentam-se com vitórias e não prescindindo de jogos e competições em prol de outras mais prestigiantes.
Pensar em tudo o que li sobre este jogo e depois recordar o que vivi… Só espero que no futuro sejamos mais a não desistir só por medo de perder.

Quanto ao jogo jogado… Não estivemos perfeitos.
A gestão física dos jogadores é crucial e o Jorge Jesus respeitou essa exigência não apresentando o melhor Benfica da época neste jogo.
Contudo, foi um risco muito elevado enfrentar o 4-3-3 portista com a conjugação daquela dupla de centrais com aquele meio campo, aqueles extremos e aquela dupla de avançados. Foi quase um reeditar do jogo da Taça de Portugal.
Apesar desse risco o treinador encarnado só pecou no excesso de poupança em dois casos: Titularidade do Steven e manutenção do Cardozo.

É verdade que o Porto foi mais dominador e perigoso. Já expectável tendo em conta o recinto do jogo, a necessidade de rotação e a desvantagem numérica.
Aos jogadores que actuaram não era possível pedir muito mais. A atitude, confiança e luta estavam no relvado. A postura dos jogadores era o mais importante e foi isso que fez a diferença nos 90 minutos.

O Oblak foi enorme. O Amorim esteve fantástico. O Jardel lutou imenso. O Garay é impressionante. O A.Gomes redimiu-se do jogo com a Juve, lutou, jogou com confiança e conseguiu ser um dos nossos destaques.
Se a jogar com 11 a dupla de extremos não era a ideal, a jogar com 10 não se podia pedir melhor. Dois jogadores raçudos e lutadores fizeram a diferença no momento de defender.

Meus amigos, eu prefiro acreditar que posso festejar do que desvalorizar por que posso perder.

Viva, viva o Benfica!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Juventus (II)



A vecchia signora defrontou e venceu o Sassuolo por 3-1 em jogo a contar para a Serie A.

Deste jogo sobram duas notícias de relevo para o Benfica, uma boa e outra nem por isso. Começando pelo lado menos positivo há a registar o regresso à competição de Vidal. O médio chileno que tem estado afastado da competição entrou em campo para o lugar de Pirlo, cumprindo assim os últimos 15 minutos da partida.

Assim sendo, será de prever que Vidal faça parte do 11 inicial que a Juventus apresentará frente ao Benfica na próxima quinta-feira. Com esta entrada, previsivelmente, sobrará para Marchisio a fava de sair da equipa titular, face ao jogo da 1ª mão. Ainda que sejam dois jogadores de elevada qualidade, penso que o médio chileno tem mais e melhores predicados em termos globais e para o sistema e modelo de jogo da Juve em particular.

Por outro lado há a registar o elevado desgaste físico que esta partida poderá ter causado nos italianos. Apesar do que os números finais podem fazer pensar, o jogo foi tudo menos fácil para o campeão italiano. Na verdade o Sassuolo colocou enormes dificuldades aos comandados de Conte, entrando inclusivamente a vencer no jogo, a que se juntaram as más condições climatéricas que tornaram o terreno de jogo algo pesado.

Isto é, para além de terem sido obrigados a correr atrás do resultado, fizeram-no num sob condições difíceis, sendo que o técnico bianco neri não poupou por aí além os seus habituais titulares. Do 11 base, apenas não actuaram de início Bonucci, Lischtseiner e Vidal, sendo que todos eles acabaram por entrar no decorrer do encontro.

Em teoria, até porque temos mais tempo de descanso entre jogos e porque a equipa que jogou no Dragão foi tudo menos a que entrará em campo em Turim, teremos toda a vantagem física no jogo de quinta-feira. E o argumento físico que se junta ao argumento de vantagem no resultado, podem constituir um forte avanço, assim saibamos tirar partido de tal.

Algumas ideias sobre um épico jogo

- Anteontem tinha abordado a importância deste jogo. Mais do que uma passagem à final da Taça da Liga, o que verdadeiramente estava em causa era o futuro: aquele a curto prazo - possibilidade de vencer mais um troféu -, mas sobretudo o de médio/longo prazo - eliminar o factor psicológico que o Porto tem tido sobre nós nos últimos largos anos e entrar na próxima época com uma vantagem mental sobre o adversário. É assim que se constrói a hegemonia.

- Antes do jogo, Benfica e Porto tinham feito 3 partidas nesta época. Duas vitórias para o Glorioso na Luz; uma vitória para os portistas no Dragão. Para completar a estratégia de desmoralização total do adversário, era necessário que os superássemos na sua própria casa. Que isso tenha acontecido com uma maioria de suplentes e uma hora a jogar com menos um jogador só cobriu de ouro o que já seria, mesmo com todos os titulares e 11 em campo, um feito essencial para o futuro. A humilhação assim aconteceu em tons de tragédia para os portistas. Nunca um argumento foi tão bem escrito.

- Paradoxalmente, ao Benfica fez bem ficar a jogar com 10. Não porque, como por vezes é difundido, seja mais fácil jogar com menos um jogador, mas pelo jogador que saiu. Steven Vitória não deve ser martirizado pelo mau jogo que estava a fazer - ainda por cima porque não tinha nenhum minuto ao mais alto nível durante toda a época -, mas de facto a sua saída (e a crucial entrada do extraordinário jogador que é Garay) elevou a qualidade da equipa. Garay fez de dois, o Benfica retirou um avançado, mantendo a mesma estrutura na defesa e no meio-campo. Passou a jogar em 441, baixou as linhas, juntou mais os jogadores, puxou pelo brio, clamou pela entre-ajuda colectiva, quis dar a 3ª estocada do ano no adversário e, não sem alguma sorte à mistura, acabaou por conseguir um feito notável. 

- Os penalties não são "lotaria", como muitas vezes é apregoado. Os penalties dependem de factores claros e facilmente distinguíveis. Para além da técnica individual de quem os bate e de quem os defende, o elemento psicológico é essencial. Quando o árbitro apitou para o fim do jogo, o Benfica partia para as grandes penalidades em clara vantagem - porque tinha aguentado uma hora com menos um jogador, porque sabia que a partir dali deixou de estar sujeito à superioridade numérica do adversário e, fundamental, os jogadores portistas, não tendo conseguido aproveitar a clara vantagem que tiveram durante os 90 minutos, iriam sempre bater os penalties com níveis de confiança muito abaixo daqueles com que os benfiquistas o fariam. Claro que há sorte (bola de Jardel que, em vez de sair, bate na trave e entra), mas há muito mais um factor mental que ajuda a decidir nestes momentos. Oblak, esse, esteve perfeito.

- O sistema de dar a cada competição oportunidade a um guarda-redes diferente é algo que me causa algum desconforto. Não se compreende que, numa fase crucial da época, não jogue o melhor. E o melhor é Oblak (ainda que Artur seja um bom guardião). Para Turim, espera-se que Jesus abandone a ideia da rotatividade e entre com aquele que dará sempre mais garantias de sucesso. Se não for pela superior qualidade do puto, que seja pela confiança desmedida que, após o jogo de ontem, conquistou. 

- Uma palavra para Cardozo: é cada vez mais evidente que está desconfortável no sistema melhorado de Jesus. O Benfica hoje exige aos seus atletas, sobretudo aos avançados, algumas valências que o paraguaio não tem. Não porque não tenha qualidade (é evidente que tem e não é pouca), mas porque não está talhado para a forma como o Benfica joga. Além disso, tem uma lesão que o condiciona. Cardozo foi fundamental a construir as bases desta que promete ser uma excelente época, ajudou-nos quando a equipa parecia perdida e votada a um destino de mais um ano deprimente. Nesta altura, penso que poderá e deverá servir de boa alternativa vinda do banco. Contamos contigo, Tacuara, e obrigado por aquilo que nos tens dado.

- Eliminámos o Porto nas duas meias-finais das duas Taças nacionais, mas ainda não as ganhámos. Todo este excelente trabalho só terá a natural sequência se trouxermos para o Museu os dois canecos. E, logo a seguir, a Supertaça. E depois o Bicampeonato. Que dirigentes entendam - e já vão 14 anos tarde - que o Benfica não vive de esporádicos fogachos de sucesso. A forma como encararão as duas finais que temos por disputar (esperando que ainda venha mais outra, em Turim) e a estratégia usada para encarar a próxima época ditará a diferença entre definitivamente sermos Benfica e criarmos hegemonia ou voltarmos a cometer as mesmas patetices de 2005 e 2010. Nunca é de mais alertar para este facto, tantos têm sido os erros cometidos nesta década e meia de fraca produtividade desportiva.

- Um jogo épico que acabou com a epicidade pretendida: nós, adeptos, a festejarmos a passagem à final no Estádio do Dragão. Depois daquele trágico final de época, caramba, já merecíamos ser felizes.

Talvez

Dedico esta noite épica do Benfica a Vasco Graça Moura, brilhante ensaísta, excelente tradutor e um poeta de eleição. De entre tanto e tão bom que escreveu, guardo em especial o poema escrito para a voz da Carminho.




Talvez digas um dia o que me queres,
Talvez não queiras afinal dizê-lo,
Talvez passes a mão no meu cabelo,
Talvez eu pense em ti talvez me esperes.

Talvez, sendo isto assim, fosse melhor
Falhar-se o nosso encontro por um triz
Talvez não me afagasses como eu quis,
Talvez não nos soubéssemos de cor.

Mas não sei bem, respostas não mas dês.
Vivo só de murmúrios repetidos,
De enganos de alma e fome dos sentidos,
Talvez seja cruel, talvez, talvez.

Se nada dás, porém, nada te dou
Neste vaivém que sempre nos sustenta,
E se a própria saudade nos inventa,
Não sei talvez quem és mas sei quem sou.

Nem no FM, Benfica. Muito Obrigado, CAMPEÕES!


sábado, 26 de abril de 2014

Objectivo Duplo na Viagem ao Dragão

Este Domingo no Dragão o Benfica não só lutará pela final em Leiria como também irá começar a preparar a luta em Turim por Turim.

Com o campeonato ganho as atenções agora estão viradas para a Liga Europa. Isto sem menosprezar a final do Jamor, o erguer da Taça de Portugal e a saudosa dobradinha.

Para mim a questão é que não podemos ser Benfica sem sermos Benfica.
O manto sagrado não é só uma palavra bonita para se usar nas redes sociais. O manto sagrado é o peso da responsabilidade que os jogadores se orgulham de carregar quando vestem as camisolas com o símbolo do nosso clube.

Em jogo não está a importância da competição mas a responsabilidade do nosso clube.

Vamos lutar por um lugar em mais uma final.
Vamos jogar em casa do nosso maior rival.
Ambicionamos recuperar o domínio desportivo do Futebol nacional.
Há fantasmas que têm de ser superados, fantasmas que mesmo nesta época de sucesso já nos assombraram em jogo da Taça de Portugal.
Não competimos sozinhos e como tal com o nosso sucesso estará sempre o insucesso dos nossos rivais. Já batemos o Porto no campeonato e na Taça de Portugal. Resta agora fazê-lo na Taça da Liga.

Não acho que nada disto possa ser desprezado.

É impossível abordar o Porto ignorando a Juventus. Por isso considero que vamos ao Dragão com dois objectivos: Vencer e preparar o jogo da Liga Europa.

Por isso do nosso treinador não espero uma escolha de competições mas sim uma estratégia que nos permita lutar por Leiria enquanto nos fortalecemos para a luta em Turim.

Considero os seguintes pontos essenciais na abordagem ao jogo de amanhã:

• A distância entre os dois jogos. Quatro dias parece-me ser uma margem interessante para a gestão física dos jogadores.
• Não se constroem nem alimentam mentalidades vencedoras com derrotas. Uma derrota no Dragão nunca poderá ser algo positivo para o jogo com a Juventus.
• A preparação táctica. No Dragão o J.Jesus poderá preparar uma alternativa táctica que considere mais adequada para o jogo de Turim.
• O ritmo competitivo de jogadores vindos de lesão. Tanto o Amorim como o Fejsa têm oportunidade de neste jogo recuperarem os melhores níveis competitivos e de confiança de modo a se apresentarem em melhores condições para o jogo com a Juve.
• O descanso. Há jogadores no plantel que nesta altura da época podem estar a precisar de mais tempo de recuperação.

Com 24/26 jogadores por onde escolher penso que temos um lote de jogadores que nos permite organizar de forma a lutar por mais uma final nacional sem sacrificar a desejada final de Turim, muito pelo contrário.
Dos jogadores habituais os mais necessitados de descanso são o Luisão, Siqueira, Enzo, Nico, Markovic e Rodrigo. Tal não significa que os 6 devam ficar afastados do jogo, até porque também as substituições servem como mecanismo de gestão.
Havia a possibilidade de integração de vários jogadores da equipa B mas após o jogo de hoje frente ao Farense tal possibilidade parece estar restrita ao Cancelo e ao C.Martins.

Na baliza em termos de gestão a escolha é indiferente. A dúvida estará entre o Oblak e o Artur com o P.Lopes a ter a sua oportunidade com o Setúbal.
Nas laterais apostaria no Maxi e no André Almeida, com o Cancelo à espreita.
Como dupla de centrais a melhor opção será Jardel-Garay. O S.Vitória é opção mas pouco viável.
Por mais indicado que me pareça preparar um 4-3-3 amanhã para o jogo com a Juventus, não acredito que o Jorge Jesus o esteja a ponderar.
Assim no meio campo apostaria no Fejsa e o Amorim, talvez complementados pelo Djuricic ou A.Gomes.
Com a lesão do Salvio e a dúvida sobre o Nico, considero pouco aconselhável abdicar do Markovic. O Ivan e o Sulejmani são as outras duas opções para as alas.
No ataque aposto no Lima, sozinho ou acompanhado pelo Cardozo.
Um 4-4-2 com Ivan, Sulejmani, Markovic e Lima também seria interessante.

Ganhar ao Porto este Domingo será fantástico. Perder será doloroso pela derrota mas insignificante no contexto geral da época.
O que não pode haver é desistência antes ou durante o jogo. O que não pode haver é falta de atitude no banco e no relvado. Inaceitável é haver falta de vontade, de garra e de ambição.
A equipa que entrar tem de estar montada para lutar pela vitória. Os jogadores que jogarem têm de honrar a camisola que têm vestida.

Para averiguar do seu grau de entendimento do que pode ser o futuro

Anos atrás de anos de insucessos desportivos mudaram o Benfica e o benfiquismo. As pessoas naturalmente adaptam-se aos novos tempos e os critérios de exigência mudam. O Benfica sempre lutou por todas as provas em que estivesse envolvido - mesmo que o não quisesse, por algum motivo estratégico ou aposta mais forte noutra competição, não conseguia abdicar de tentar ganhar tudo. Hoje não é assim: num clube que, nos últimos 20 anos, venceu apenas 4 Campeonatos, dá a sensação de que qualquer coisa que apareça já é suficiente. Mas não é. Não pode ser. Não tem de ser. Não é Benfica.

Numa época de grande qualidade como a que estamos a viver, sobretudo consequência de um extraordinário trabalho de Jorge Jesus e dos jogadores e a ligação crucial que os adeptos presentes ao vivo e a cores durante o ano todo (não só em Abril ou Maio) têm com a equipa, há que pensar em fazer regressar o Benfica e não ficar preso a um título que já foi ganho. Ou seja: Campeonato no bolso, avancemos para o que falta. E o que falta não é só o Jamor e a Liga Europa; falta a Taça da Liga, competição que aqui sempre defendi, independentemente de quem a ganhasse, porque acho uma prova que faz sentido no calendário do futebol português. 

Ao contrário de uma grande maioria de benfiquistas, não acho que devamos desprezar a competição - nem este ano, nem nunca. Por várias razões:


- Um troféu é sempre um troféu. Entra no palmarés do clube e isso nunca pode ser desvalorizado.

- Em 6 anos de Taça da Liga, o Benfica tem 4 canecos. Continuar a ser, como nos títulos de Campeão Nacional e na Taça de Portugal, o líder distanciado é sempre um objectivo que honra a nossa História.

- Se excluirmos os dois jogos para o Campeonato (que já nada resolvem), ao Benfica faltarão, no máximo, 5 jogos (2 para a Liga Europa, 2 para a Taça da Liga e 1 para a Taça de Portugal). Com os níveis de motivação que estes jogadores têm para o que resta da época, não me parece que a perspectiva de fazer 5 jogos ao mais alto nível seja assustadora ao nível físico. 

- Roldana de vitória - mais do que os índices físicos, nesta fase o que faz mover ou parar o ritmo competitivo passa pelo lado mental. Ir a Turim após uma vitória no Dragão e consequente passagem a mais uma final será sempre muito mais motivante do que partir para Itália com uma derrota contra o principal rival.

- Teremos 4 dias entre o jogo de amanhã e o de Turim. Mais do que suficiente para recuperar os jogadores. Além disso, a Juventus só jogará na Segunda e lutando pelo Campeonato, ficando com menos um dia de recuperação do que o Benfica.


Estas são algumas razões pelas quais quero que o Benfica entre com uma equipa competitiva amanhã - que nem sequer exige a entrada de todos os titulares, mas um misto entre titulares e suplentes; uma equipa que garanta princípios de jogo coerentes e possa disputar de forma séria a passagem à final. Mas há mais: o jogo não é contra uma equipa qualquer; o jogo é contra a equipa que tem dominado o futebol português nos últimos 30 anos, contra a equipa principal responsável (além da incompetência própria de dirigentes que andam há décadas a fazer mal ao Benfica) pela fase mais negra da História do clube. 

Ora, numa época em que ganhámos Campeonato e os afastámos da Taça de Portugal, há que ter dentro do clube gente que perceba a importância deste terceiro golpe fatal. Após estes dois primeiros ataques de qualidade à muralha portista, só falta mesmo entrar-lhes no castelo e roubar-lhes a coroa. 

Um Porto que levasse 3 socos destes numa época teria sempre muita dificuldade em aparecer revigorado daqui a 3 meses para o novo ano competitivo. Muito diferente será se conseguirem vingar os dois primeiros golpes com um que nos faça cair a nós. Entender isto é perceber o que o futuro pode ou não dar. Resta saber se quem está no Benfica compreende a importância do jogo de amanhã.

Adiós, Tito.


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Foi (quase) bom



Ganhar, seja por que margem for, nunca é mau. Pode ser melhor ou pior, dependendo das necessidades e do adversário, mas é sempre bom. Nesse sentido, o resultado de ontem, embora longe de ser fantástico e/ou tranquilizante para a 2ª mão da eliminatória, acaba por ser bom ou quase bom. Seria preferível o 1-0 que o 2-1 conseguido. Mas não há que lamentar, há que ter confiança que faremos o resultado necessário para fazer da próxima viagem a Turim, a penúltima da época.

Fizemos uma primeira parte superlativa, sem mácula. No primeiro tempo, sem sermos esmagadores (mas quem o consegue ser frente a esta Juventus?), fomos dominadores e amplamente melhores. Defensivamente perfeitos, devemos a nós mesmos o facto de termos chegado ao intervalo apenas com a diferença mínima no marcador.

No segundo tempo, com o decorrer do jogo e o consequente aumentar do cansaço físico e psicológico, aliados a uma atitude de maior expectativa que me parece ter sido pedida e a uma maior afirmação italiana, os erros defensivos já foram mais abundantes e o fulgor ofensivo mais compassado, ainda que tenha sido suficiente para “sacar” um penalti claríssimo que o senhor árbitro viu, mas não assinalou.

Durante os 90 minutos, Luisão, Garay e Enzo foram gigantes, enormes na arte de defender com intensidade e inteligência. O nosso médio centro foi simplesmente sublime. Foi dele e de Rodrigo a tarefa de mover apertada e eficaz pressão sobre Pirlo, algo que, felizmente, Marchisio nunca soube capitalizar, pois com Enzo em cima do 21 italiano, sobrava espaço que o 8 podia aproveitar, mas não soube.

Esta marcação foi afrouxando ao longo do tempo, sobretudo por influência de Rodrigo. O jovem espanhol não conseguiu, nem de perto nem de longe, manter a mesma intensidade que tinha apresentado na primeira metade.

Houve ainda outro pormenor que contribuiu para a tal menor eficácia em anular Pirlo, mas este partiu do banco da vecdhia signora. A dada altura, Conte ordena a troca posicional entre Pirlo e Marchisio. O primeiro passava a ser o novo interior esquerdo, enquanto o segundo recuava para o vértice mais recuado do meio-campo. E foi neste período que a Juventus viveu o seu melhor no jogo e, por consequência, o Benfica o seu pior. O jogo interior dos italianos fluiu com muito maior facilidade e eficácia, não só porque foram confundidas as marcações no miolo, mas sobretudo porque Pirlo soube aproveitar muito melhor a inferioridade numérica do Benfica a meio-campo.

E é neste período, e daquela zona do terreno que nasce um passe delicioso para a Asamoha que coloca em Tevez, liberto de marcação por erro do meio-campo, que não tem dificuldade em ludibriar Luisão e fazer o 1-1 de então.

Depois disto, os italianos voltaram a baixar o seu ritmo e nós voltamos a conseguir aumentar o nosso. Com a entrada de Cavaleiro, a equipa voltou a ganhar asas e velocidade para o ataque rápido, e com a dupla Lima/Rodrigo conseguimos confundir por completo os pesados e lentos centrais italianos.

Ainda que não tenhamos sido perfeitos, estamos de parabéns. Ainda que não tenhamos arrumado com a Juve, somos dignos de um belo processo em tribunal, pois não se bate a sim numa senhora, muito menos numa velha.

P.S. Ontem foi mais um jogo em que se viu a aversão que Jorge Jesus tem a qualquer sistema que implique ter 3 homens no corredor central. A dada altura do jogo, o nosso técnico decide trocar um extremo por um médio. Quando seria de supor que a equipa se organizaria com 3 médios (Almeida-Enzo-Gomes), para assim estancar o claro ascendente interior que a Juventus estava a revelar, e Rodrigo deslocado para o flanco esquerdo, onde poderia dar velocidade importante no contra-ataque, JJ opta por colocar André Gomes na ala e manter uma dupla de avançados na frente. Ou seja, de uma penada, perdemos velocidade na faixa e não ganhamos consistência ao meio, porque A. Gomes vivia num limbo entre encostar na linha e fechar ao meio do qual nunca conseguiu sair. O próprio JJ confirmou que com a troca de A. Almeida por Sulejmani pretendeu fechar o corredor central por onde a Juve estava a entrar com relativa facilidade. Ou seja, leu bem, executou mal. Percebeu o que tinha de fazer, mas não admite mudar o seu sistema. Perca ou ganhe, fá-lo-á agarrado às suas convicções, não há nem haverá volta a dar.

Não sejas chata, Senhora Velha

É difícil jogar contra a Juventus. Usam truques que os outros todos não têm: três barrotes atrás, a guardar religiosamente o castelo de Turim. Depois têm o Buffon, que, apesar de ter 540 anos, continua a ser um iô-iô. À frente dos troncos que ficam nas ameias, Pirlo: mexe-se como um Michael Thomas, toca a bola como Thomas Bernhard. 

O que faz mais impressão naquele pé do Andrea é a velocidade com que, antes de chegar a informação ao cérebro, já ele está a mudar o flanco. Custa muito, isto, à equipa que tem de aturar este chato. Corre-se muito só com um passe daquele gajo. E depois temos de organizar a pressão, o treinador começa a desesperar, os adeptos sofrem. É muito chato, Andrea Pirlo, embora o seu pé nada tenha disso: é mais um instrumento de prazer, uma espécie de mistura entre colher de sopa e um íman. 

Metem uns laterais-extremos a correr que não são grande espingarda mas andam para ali a importunar os nossos e às vezes até tocam na bola. Guardas de armas no meio-campo são dois: não há ali grande talento, embora chateiem bastante o Enzo, que devia ter um passe-livre para entregar futebol aos outros em vez de ter de andar preocupado com 3 médios. Na frente, um Tevez que ganha ressaltos, come a relva, vai ao chão, ressalta entre a bola e o relvado, marca golos de qualquer maneira. 

E outro: neste caso, o Vucinic, que é um rapaz que já foi bom na Roma e agora tenta mostrar ao mundo que também sabe jogar à bola vestido de Arouca. Não é fácil jogar contra esta equipa da Juventus; é até bastante difícil, praticamente impossível. Não são muito talentosos mas fazem multiplicar o futebol individual pelo colectivo como o cabelo do Conte um dia foi ralo e hoje é triunfante. Tudo se compra, Juventus, e penso que tu sabes disto. 

Sendo assim, e com um Benfica tão descolhoado por lesões e álcool, é capaz de ter sido um bom resultado sendo, claro, um mau resultado. Agora, não jogámos um caralho ou, vá, jogámos o que a Juventus deixou. Ainda não foi desta que o Jesus deu uma aula de catequese aos italianos, mas verdade seja dita: com os italianos, o Glorioso nunca foi de grandes vitórias. 

Fica a vitória. E o golo do Lima, que é tão bonito que apetece congelar no cérebro e deixar que descongele a vida toda. 

Grândola Lima Morena.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Tinha saudades tuas, Benfica

Enzo. Repararam no lance aos 90-91 em que vai disputar a bola até quase à linha de fundo e depois sai a sprintar para a posição dele no meio?
Isso é tanto, mas tanto para mim: bate-me tão fundo no benfiquismo que me apetece cobri-lo de beijos!

Quanto ao resto, atingiram aquele patamar em que já não consigo criticar o que corre menos bem...
Obrigado Benfica, obrigado. 

Prognósticos, oráculos ontianos?


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Pai, este título é para ti.

Parado, olhos na multidão em loucura, gente empoleirada nas estátuas da estátua do Marquês, cânticos, alegria, álcool, sonhos, fumo e luz, veio-me a ideia absurda, mas de todas as formas justa:

"E se arranjássemos um autocarro monstruoso, onde coubesse toda esta gente, e o fizéssemos ir desde o Estádio da Luz até ao Marquês, onde estariam jogadores, técnicos e dirigentes com cervejas na mão a aplaudirem os heróis?"

A Benfica TV entrevistar-me-ia, chamar-me-ia, enquanto eu gritava para os jogadores lá em baixo, recebia cachecóis do Enzo Perez e do Gaitán e diria uma coisa qualquer como isto: "quero agradecer aos jogadores e aos técnicos e aos dirigentes e a toda esta gente da estrutura do Benfica que comemora nas ruas de Lisboa a conquista deste título. O apoio deles foi fundamental. Sem eles, nada disto seria possível."

O Benfica somos nós. Todos. Até os que estiveram, não estando. Até os que, não estando, são os responsáveis pela presença dos que estiveram. Os que deixaram no Estádio o perfume do seu benfiquismo, nos filhos a semente do benfiquismo, no clube a memória das alegrias e tristezas, de tardes e noites a sentirem o Benfica, a propagarem o Benfica.

O Benfica somos nós. Todos. E este título, Pai, é para ti.



terça-feira, 22 de abril de 2014

Juventus



Foi bom, tem sido óptimo, saborear o jogo e a festa de domingo. A festa que nos estava prometida, que nos era devida há 3 anos, finalmente chegou. O país de vermelho vestido saiu à rua e festejou. Festejou como só é possível de cada vez que o Benfica se sagra campeão nacional.

Não obstante, a época ainda não terminou, há ainda mais para jogar, para conquistar. E muito desse “mais” discute-se nos próximos dias, com a disputa da meia-final da Liga Europa com a Juventus e a meia-final da Taça da Liga com o FCP.

Foi com grande surpresa que vi a eliminação da Juve na fase de grupos da Liga dos Campeões. Não sei bem apontar razões para que tenha acontecido, pois os jogos do grupo em que os transalpinos se encontravam integrados, realizavam-se nos mesmos dias dos nossos. Porém, o plantel dos Italianos, tal como o do Benfica, é plantel de Liga dos Campeões e não de Liga Europa.

Nesse sentido, devemos entender que este será o primeiro adversário top que encontraremos nesta edição da Liga Europa, com a agravante de ser o clube proprietário do estádio onde se realizará a final da competição.

A Juve, normalmente, organiza-se num 3x5x2. Na minha opinião, o seu melhor 11 é constituído por: Buffon, Barzagli, Bonucci e Chiellini; Lichtsteiner, Pogba, Pirlo, Vidal e Asamoah; Tevez e Llorente. Neste 11 podem ainda entrar Cáceres, Marchisio, Giovinco ou Osvaldo, sem que a equipa tenha perdas significativas de qualidade.

Com uma defesa a três, nas alas vivem jogadores de elevado ritmo e capacidade física, que tanto asseguram uma defesa a 5 quando a equipa se encontra em processo defensivo, como asseguram toda a largura e alguma profundidade ofensivas quando a equipa se encontra com bola. No sector intermédio é, como em qualquer equipa que jogue, Pirlo o comandante máximo de todas as operações. Não tem, como nunca teve, grande intensidade, mas tem cada vez mais refinada a sua qualidade de passe e definição ofensiva, bem como posicionamento defensivo. Junto a si tem uma escolta de honra constituída por Pogba e Vidal. Dois jogadores com uma intensidade tremenda que emprestam à equipa toda a agressividade que Pirlo não consegue dar. Pogba e Vidal são dois tanques de combate, mas também excelentes jogadores no plano técnico. Ambos têm grande capacidade para ultrapassarem linhas em posse, bem como boa capacidade de remate, contando já com vários golos marcados – O chileno é o marcador principal de grandes penalidades. Na frente, o espanhol Llorente é o jogador mais posicional, sendo mestre a segurar bola enquanto aguarda pela subida dos companheiros. À excelente estampa física junta uma boa capacidade técnica e um jogo aéreo assinalável. Ao espanhol junta-se El Apache Carlos Tevez, como elemento mais vagabundo do ataque italiano. O pequeno bombardeiro argentino tem carta-branca para actuar em toda a largura da frente de ataque, sendo temível quando se encontra na meia-esquerda e flecte para o centro, podendo assim aplicar o seu forte remate de pé direito.

Quanto a mim, o maior perigo da Juventus, surge pelo seu jogo interior, seja na capacidade de penetração em posse dos dois escudeiros do estratega Pirlo, com triangulações efectuadas com os alas e a dupla atacante, seja na capacidade de remate de ambos ou pela capacidade que Pirlo tem em colocar bolas a longa distância, sendo-lhe de fácil execução uma mudança de flanco eficaz, aproveitando assim o natural desequilíbrio do adversário.

A nosso favor há o facto de todos os centrais transalpinos serem algo duros de rins e lentos, aspectos que podem ser explorados pela mobilidade e rapidez da nossa melhor dupla atacante (Lima e Rodrigo) – embora seja provável que Cardozo seja um dos titulares. Com dois extremos que se movimentam tão bem no espaço interior como Gaitan e Markovic, podemos aproveitar essa mobilidade para explorar algum eventual arrastar dos centrais adversários, por via da movimentação dos nossos avançados ou, caso não aconteça, explorar os flancos, onde pode haver espaço por via da forte propensão ofensiva dos alas da Juve. Caso seja Rodrigo o elemento mais recuado da nossa dupla ofensiva, pode estar aqui também um factor de desequilíbrio, pois o jovem espanhol pode e deve aproveitar a falta de intensidade e velocidade de Pirlo, desequilibrando assim no espaço deixado entre as costas deste e os centrais.

Sob o ponto de vista defensivo será importante que o homem mais recuado do ataque, seja capaz de “morder os calcanhares” a Pirlo, não lhe dando espaço para decidir e executar com qualidade. O experiente médio italiano é simplesmente genial quando encontra espaço e tempo para executar, mas não dispõe de grande capacidade para se desenvencilhar do 1x1.

Uma forma de limitar os movimentos verticais dos médios e auxiliar os centrais na luta com a dupla atacante da Juve, pode residir na capacidade dos laterais se juntarem aos centrais e assim formarem um bloco compacto na zona interior, deixando o acompanhamento dos alas adversários para os extremos.

Em suma, este será o adversário mais competente que teremos pela frente na presente época, mas a eliminação está longe de ser uma inevitabilidade. Será sempre difícil, mas longe de impossível.