Os passivos da Benfica SAD e do Sport Lisboa e Benfica são questões que assustam os Benfiquistas. Tanto que se esgrime sempre a questão do aumento do passivo descontroladamente nos mandatos do LFV. Sinceramente penso que esse não é o caso.
O aumento do passivo é a consequência de uma estratégia de desenvolvimento que passou por dotar o Benfica de equipamentos (Estádio, Centro de Estágios, Galeria Comercial, Pavilhões, Piscinas, etc.) e jogadores (é incomparável a qualidade da equipa agora quando comparada há 9 anos atrás quando LFV assumiu a presidência) por forma a que o Benfica tenha todas as condições para ser campeão.
Além disso, o grupo Benfica tem diversificado a sua intervenção, pelo que apareceram empresas dedicadas a actividades não directamente relacionada com o futebol - Benfica TV, Seguros, Viagens, Clínica do Benfica, etc.Resumidamente, o Benfica além de passivo também aumentou significativamente o seu activo, em menor grau é certo e por isso os resultados líquidos negativos, tanto ao nível da Benfica SAD individualmente como depois da consolidação com todas as empresas do universo Benfica.
Infelizmente, e se o processo tivesse decorrido sem problemas, o activo teria crescido no mínimo ao ritmo do passivo, mas desejavelmente acima deste. Por um lado, a crise financeira internacional e o desgoverno em Portugal contribuíram para o incremento dos custos de financiamento. Por outro lado, a actividade operacional da SAD (incluindo a transacção de passes dos jogadores), raramente pagou os seus custos (incluindo a amortização dos passes dos jogadores) acrescidos dos custos financeiros.
Com um passivo crescente, em especial o oneroso, derivado dos investimentos em obras e do financiamento à tesouraria, os custos desse passivo também aumentaram, quer pelo efeito da dimensão, quer pelo efeito do custo do passivo (aumento de spreads), aumentando ainda mais o total do passivo. Pode parecer que estamos num ciclo vicioso de crescimento de passivo. Não estou certo que isso não tenha acontecido nos últimos anos, porque as grandes vendas não são feitas com pagamentos imediatos e isso implica o desconto junto dos bancos, para garantir a estabilidade da tesouraria e porque os custos financeiros terão atingido um valor recorde este ano representando quase um quarto dos proveitos operacionais.
Há porém um factor que tem sido muito importante no aumento do passivo que se traduz pela desastrosa política de recursos humanos. É certo que aumentámos brutalmente a qualidade dos jogadores do Benfica, mas a que custo ? O Benfica tornou-se num grande entreposto de jogadores tendo hoje em dia uma equipa principal, uma equipa B, vários juniores com contrato profissional e muitos jogadores emprestados, alguns dos quais em que o Benfica continua a suportar pelo menos parte dos custos salariais.
O problema deste entreposto, é que com os elevados valores de transferência pagos, que se calhar são ela por ela com os recebidos, os salários pagos a muitos atletas e as amortizações de passes, que não sendo preocupantes, assim se tornam quando os jogadores acabam por sair sem qualquer retorno financeiro, o modelo do Benfica acaba por ficar desequilibrado, em especial quando o passivo oneroso cresce e os custos de financiamento dele também.
Isto quer dizer que a diminuição do passivo tem que necessariamente passar por uma gestão mais rigorosa dos recursos humanos e do melhor aproveitamento da formação, por forma a diminuir significativamente a aquisição de jogadores que nenhum potencial têm para jogar na equipa principal. A equipa B deveria ser um mecanismo para integrar jogadores da formação e jogadores de elevado potencial contratados e não apenas ser mais uma plataforma do entreposto. É certo que se deve utilizar a equipa B para evitar a desvalorização total de certos jogadores (Sidnei, Kardec, por exemplo), mas não deve comprometer o objectivo principal.
O que não pode continuar a acontecer é adquirirmos jogadores como por exemplo os 5 sub-17 uruguaios, que adquirimos na renovação do Maxi Pereira, por 5,8 milhões de euros em Novembro ou Dezembro de 2011, e como não têm 18 anos, não podem ser transferidos durante esta época pois não podem assinar contratos de profissionais, à semelhança do que aconteceu com Derlis Gonzalez. Numa altura em que os recursos são tão escassos, acham que faz sentido ter um investimento equivalente a um Jara, a um Pérez ou a um Bruno César, parado durante 18 meses ? Não está em causa a valia dos jogadores, está em causa o desbaratar de recursos em jogadores que nem na equipa B podem jogar durante um ano e meio.
Não faz sentido fazer investimentos avultados em jogadores e que estes não entrem e imediatamente na equipa principal. O Benfica não dispõe de recursos para repetir situações como as de Enzo Pérez ou Ola John. Não está em causa o valor de Enzo, que apesar de um comportamento deplorável, tem mostrado valia, a questão é que faria mais sentido ter investido imediatamente em Salvio, que além de na altura implicar um menor investimento do que foi efectuado um ano depois, garantia retorno desportivo imediato. Como também não faz sentido a gestão que tem sido feita com Sidnei, Airton, Kardec, Jara, Mora (estes ainda nos quadros) e Éder Luís e Filipe Bastos (cujos passes foram vendidos ao Vasco da Gama), para falar apenas de casos recentes.
Aliás uma política de recursos humanos deverá ter em conta não só o potencial dos atletas contratados ou formados ou seja investimentos com elevado retorno financeiro futuro, mas também com atletas que assegurem o retorno desportivo imediato, como foi o caso das aquisições de Rui Costa, Aimar e Saviola, cuja qualidade é indiscutível. Estes investimentos são importantes não só pelo retorno desportivo que imediatamente trazem, mas porque contribuem para a melhoria dos jogadores jovens.
Mas a gestão criteriosa de recursos humanos não vai fazer diminuir imediatamente o passivo, mas antes impedir o crescimento deste. Até porque é necessário ter a consciência que o Benfica terá que continuar a ser uma equipa que faz boa prospecção, valoriza jogadores e transacciona-os com significativas mais-valias. É descabido pensar que a formação vai substituir a prospecção, poderá fazê-lo em parte, mas o modelo de negócio não poderá a médio-prazo mudar substancialmente, a menos que os sócios estejam disponíveis para aceitar uma quebra de qualidade da equipa e consequente perda de competitividade.
Então como podemos dar uma machadada no passivo oneroso ? Em primeiro lugar, o Benfica deverá assumir que os empréstimos obrigacionistas deverão ser extintos no prazo máximo de 6 anos. É fundamental assumir este compromisso mínimo para que as decisões de política desportiva incluam sempre este facto no processo de decisão, quer seja em termos de futebol, quer em termos de desvio de recursos para outras modalidades.
Em meu entender, a solução passa por neste primeiro ano utilizar parte das verbas das transferências de Javi e Witsel para fazer uma amortização, que penso poder situar-se nos 20 a 25 milhões de euros. Nos anos subsequentes, deveríamos utilizar as verbas adicionais inerentes à venda dos direitos de transmissão dos jogos do Benfica para efectuarmos essas mesmas amortizações. Caso os valores não sejam suficientes, devemos ter a consciência que deveremos desviar recursos que seriam investidos na equipa de futebol para a amortização destes financiamentos.
Neste aspecto, convém ter a noção que o direito de preferência da Olivedesportos lhes garante a opção desde que apresentem uma proposta igual à proposta aceite pelo Benfica. Quando se fala de exploração própria, a Benfica SAD não é uma empresa de comunicação social, pelo que mesmo a venda à BTV pode estar no âmbito deste direito de preferência. Quanto a isto não tenho a certeza, apenas tenho umas noções de direito e não me parece assim tão fácil quebrar este laço maldito.
Conforme já expressei, não gosto da situação de vender o Naming do Estádio. Compreendo-a, pois seria uma forma muito atractiva de gerar os recursos para ajudar a diminuir o passivo, libertando as receitas operacionais apenas para a actividade. O Benfica vai receber a final da Uefa Champions League da época 2013/14 pelo que o valor do nome do estádio vai ser enorme durante esse ano. Se numa época normal, dentro da realidade nacional e no panorama internacional, com a necessária presença na Liga dos Campeões, recebendo gigantes como aconteceu recentemente com o Barcelona e o Manchester United, o nome do estádio já tem um valor significativo, sendo o estádio que vai acolher a final da Champions implica que durante essa época desportiva o valor do nome atingirá valores incomensuravelmente superiores.
Assim sendo, faz todo o sentido negociar a venda do Naming do Estádio durante a época 2012/13 para entrar em vigor em 2013/14. Neste sentido, volto a afirmar como disse anteriormente que é essencial que este tipo de negócios se façam numa escala internacional e não nacional, pois os valores são completamente diferentes. Os proventos desse contrato deveriam servir para renegociar os contratos de financiamento do estádio e do centro de estágios por forma a diminuir as prestações, quer por via do spread bancário, quer eventualmente pelo alongar dos prazos dos contratos.
Sim, faz sentido alargar os prazos dos financiamentos do Estádio e do Centro de Estágios, pois tratam-se de equipamentos com uma grande vida útil. Fazendo um paralelismo para a vida comum, faz sentido vocês negociarem o aumento da vida útil do empréstimo da casa por forma a reduzir as prestações mensais devido à diminuição de rendimento originada pelas medidas que recorrentemente o Governo aplica. Se faz sentido para vocês, porque não fará sentido para o Benfica ?
Com este tipo de medidas práticas o Benfica poderia reduzir significativamente o passivo oneroso no prazo de 6 anos, tendo apenas por esta via uma libertação de recursos que permitiria os objectivos enunciados no post anterior - manutenção de 2 ou 3 estrelas no Benfica que sirvam de símbolos agregadores e se possam constituir como referências de futuro do Benfica.
Quanto ao passivo do Sport Lisboa e Benfica, se a Benfica SAD começar a somar resultados líquidos positivos consecutivamente, pelo método da equivalência patrimonial, parte significativa desses passivos também desaparecerão.
Quanto ao passivo do Sport Lisboa e Benfica, se a Benfica SAD começar a somar resultados líquidos positivos consecutivamente, pelo método da equivalência patrimonial, parte significativa desses passivos também desaparecerão.