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sábado, 13 de outubro de 2012

Último e definitivo apelo a Rui Costa


Há uma curva acentuada no gráfico que resume a minha admiração por ti, Rui. Vem ali do lado esquerdo a subir desde que te vi pela primeira vez na Luz - um ar de gazela elegante, galgando metros pelo relvado, fintando, passando ou rematando sempre de tronco e ombros e cabeça levantados para o jogo e uma inteligência instintiva que muito poucos tiveram na História do futebol. Devia ter 8 ou 9 anos e tu, com uns imberbes 18 ou 19, eras já o futuro do Benfica. 

Olhando-te ao longo dos jogos - e foram tantos -, a sensação de que inevitavelmente terias de abandonar a nossa camisola e ir espalhar ternura e passes aveludados para outras fronteiras e países, os quais, também inevitavelmente, inundaste de perfume benfiquista e ondas consecutivas de paixão e maravilha. Foi duro ver-te partir mas delicioso ver-te chegar naquele dia em que um golo na baliza do Benfica soltou uma chuva de memórias - primeiro, nos teus olhos; depois subindo e alastrando-se a todo o estádio. Não há palavra nem texto nem forma cristalina de dizer aquele momento. Fomos todos e ao mesmo tempo Benfica.

Quando a bola entrou na nossa baliza, o gráfico que resume a minha admiração por ti atingiu um cume acima das nuvens e eu pus uma bandeira gigante no topo para que ninguém se esquecesse de que ali, naquele dia, naquele golo, tu e o Benfica significaram exactamente a mesma coisa: uma eternidade de sentimentos, um amor sem mácula nem explicação. Um destino, uma reza de loucos, uma demência memorável, um instinto esquizofrénico e apaixonante.

Depois passaram-se anos. Épocas em que, apesar de aproveitares cada momento para confessar o teu benfiquismo, adiavas o regresso. Falavas em nós, em ti, no Benfica, mas mantinhas-te demasiado longe, demasiado ausente, quase estranho, enquanto iamos vivendo anos de terror e tristeza. O Benfica que tinhas deixado tinha sido roubado e humilhado, deixado no chão com gente em cima a pisá-lo. Todos os dias, todos os meses, todos os anos, tragédias atrás de tragédias, presidentes ladrões, outros idiotas, treinadores loucos, outros agiotas, jogadores aos magotes vindos sem explicação possível e outros, dos nossos, escorraçados do clube para irem brilhar para outros relvados. A tudo isto respondias com distância e parcas palavras. Dizias: "amo o Benfica" e no nosso coração agitavam-se as mesmas questões e as mesmas esperanças. Queríamos-te de volta, Rui. Não ao fim de 13 anos mas muito antes.

Mas o nosso amor é um lugar muito grande e aberto à compreensão. Por isso, quando voltaste a vestir aquele manto sagrado e eterno, desculpámos-te a demora, evitámos a descrença, fingimos não ter ficado com feridas e ressentimentos: queríamos só que nos desses o mesmo passo de gazela galgando metros ou, à falta do rasgo imberbe, a tua inteligência numa bola de futebol. Vimos-te todos os jogos e em todos os jogos olhávamos-te com a ternura de olhos espantados de infância. Foram poucos, Rui, foram muito poucos os jogos que fizeste connosco a teu lado e, não querendo ser injusto, podiam ter sido muitos mais - se tu quisesses, se tu tivesses querido. 

Numa noite de cansaço e doença, fui ver-te sair do relvado pela última vez. O estádio sem estar a rebentar pelas costuras, um céu não glorioso por cima; futebol e admiração, mas sem aquela chama que prometias vir a ter quando abandonasses definitivamente o jogo. Ainda assim, tentámos todos dar-te o reconhecimento merecido, aplaudir-te, cantar-te, homenagear-te o melhor que sabíamos para que levasses esse dia dentro de ti e o pudesses recordar e valorizar quando tomasses nas mãos os nossos destinos.

Mas tu, Rui, nunca foste um burocrata no campo, e por isso não soubeste ser um burocrata no escritório. Aproveitaste o momento e a oportunidade que te deram, tentaste agarrá-la, fizeste o teu caminho, mas sempre condicionado por uma máquina que te invejava e te queria afundar num equívoco de funções - é que tu, Rui, tinhas a marca presente do benfiquismo, a raça e o querer dos nossos, e naturalmente essas são características que no actual Benfica não são bem recebidas. Se fosses sportinguista, portista, benfiquista vira-casacas, boavisteiro, terias tido outra sorte - quem sabe até teres tido a oportunidade de liderar, sozinho, todo o departamento do futebol. Mas tu sabias e sabes, Rui, que estás a ser posto de lado por gente que nem te merece a ti nem merece o clube que lidera. 

E o que tens feito, Rui, sobre isto? Tens defendido o Benfica, Rui, destas personagens que todos os dias humilham e envergonham o clube, que todos os dias o desrespeitam, que todos os dias mentem aos adeptos e sócios, que todos os dias te afundam mais em futeboladas de futsal e conferências de imprensa, que todos os dias fazem do Benfica menos Benfica? O que tens feito, Rui?

A curva acentuada que vês no gráfico que resume a minha admiração por ti, Rui, vem a descer a grande velocidade. Desde aquele hastear de bandeira no cume mais alto do teu reconhecimento, vem vindo a rebolar aos soluços e solavancos, triste e desiludida por esperar tanto de ti e tu afinal não teres sido capaz de merecer essa espera e esse encanto. Não podes esperar, Rui, que a curva volte a subir sem que faças por isso. Não podes esperar que te continuemos a admirar quando vives lado a lado, recebendo dinheiro, com estas pessoas que te, me, nos, ao Benfica fazem mal. Tu SABES, porque estás aí dentro, que estão a matar o Benfica, Rui. Tu SABES, porque fazes parte, que estão a enganar os sócios e adeptos. Tu SABES, porque és mais um que aí está, que se não nos livrarmos destes cancros o Benfica afundar-se-á de modo irreversível.

Mas tu ficas, Rui. Tu não dás um murro na mesa, tu não sais do conforto dos milhares de euros que recebes, tu não avisas as pessoas, tu não chamas os jornalistas e gritas: "ESTÃO A MATAR O BENFICA!", tu és, Rui, hoje, um cúmplice dessa morte. Todos os dias que passam sem que tu abdiques de trabalhar ao lado destes dirigentes são menos dias de admiração que temos por ti. Todos os dias que passam sem que tu abdiques de trabalhar ao lado destes dirigentes são menos dias que terás de poder ser solução no futuro. Tu já não és, Rui, solução para o futuro. Tu és um corpo estranho numa direcção podre, mas tu já não és solução para o futuro. 

Não te peço que te juntes a outras candidaturas - eu próprio, Rui, que tão crítico sou desta actual Direcão, não me junto a outras candidaturas se não vir garantido o benfiquismo mais puro -, não te peço que vás em campanha por outras pessoas. Mas peço-te que tenhas dignidade. Peço-te que, independentemente de gostares ou não de outros candidatos, saias do Benfica antes das eleições. O que não pode acontecer, Rui, é ficares à espera de ver quem ganha para manteres a tua posição no Benfica. Não é digno, Rui, não é sequer benfiquista. É outra coisa qualquer. 

A curva do gráfico que resume a minha admiração por ti, Rui, está a pique em direcção ao abismo. Se te mantiveres conivente com os que desgoveranm o Benfica e o querem desgovernar por mais 4 anos, Rui, terás o mesmo lugar no meu coração que tem o teu amigo Paulo Sousa. Não se pode amar quem é cúmplice da nossa morte.