sábado, 28 de fevereiro de 2009

Estatísticas II

GOLOS/ASSISTÊNCIAS - TOTAIS (MIN. JOGADOS - Nº DE JOGOS QUE OS MINUTOS REPRESENTAM)

Suazo
5/0 - 5 (1508 minutos - 17 jogos)

Cardozo
7/4 - 11 (1432 minutos - 16 jogos)

N. Gomes
7/4 - 11 (1252 minutos - 14 jogos)

Aimar
1/5 - 6 (1377 minutos - 15 jogos)

Reyes
4/6 - 10 (1800 minutos - 20 jogos)

C. Martins
1/7 - 8 (1328 minutos - 14 jogos)



Os números, já o admitimos, valem o que valem. Mas ainda valerão alguma coisa ou o que conta, em futebol, poderá estar inequivocamente à margem destes frios e distantes números que, afixados num qualquer quadro de parede de Quique Flores, pouco ou nada dizem ao espanhol?
Não podendo perguntar directamente ao Flores, deixo a caixa de comentários a quem queira dissertar sobre o que aqui é apresentado. Digam de vossa (in)justiça.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Crise económica, BPN, Freeport, casamento homossexual, eutanásia? Hã? Vem aí mais um derby, pah!...

Reformulo: vem aí o derby! Quem é que se vai lembrar de questões menores agora? Mais importante do que saber quem é que o PSD vai desenterrar para a presidência de Lisboa é saber se vai jogar o Suazo ou o Cardozo. E o Yebda, que foi poupado, vai jogar, não vai?
Desde que comecei a escrever este texto já devem ter sido despedidos mais uns cinquenta mil portugueses, as acções de uma grande construtora já desceram mais 40% e o número de casos de raiva em Angola já duplicou, mas o que é que isso interessa? Com que laterais irá jogar o Paulo Bento? Grimi, Abel, Pedro Silva, Miguel Veloso, Caneira… E o Patrício, será que a prótese já chegou? Joga ele, ou será que temos Tiago (dá-se bem contra o Benfica…).
Jorge Ribeiro e André Luiz? Maxi? Epah, difícil… Quantos Magalhães terá o Sócrates entregue desde que estou a escrever isto?
E o Di Maria? Afinal como é que é? Afinal também marca golos brilhantes quando o Maradona não está na bancada? Joga ou não? Há o cigano, que até gosta de jogos grandes, há o Ruben, que já devia ter ido para o meio há algum tempo… Então e outro puto de treze anos? Afinal é ou não é o pai da criança?
Na Austrália os incêndios não dão tréguas aos soldados da paz daquele país e na Venezuela confirma-se que haverá ditadura até o outro querer. Então mas e na frente, Paulo? Levezinho, Derlei, Vuck, Postiga… Quem? Que dupla, o que é que te passa por essa cabecinha tão bem ornamentada?!
Mas achas que os gajos deviam poder adoptar também? Mas já o fazem, ou não sabes que podes adoptar um puto sem seres casado? Não, naquele meio campo tem de haver Katso, Yebda e Aimar… Ou arriscas Ruben no meio? Ou Carlos Martins? Esse não, pois não Quique?
Fecharam mais 34 fábricas e o ministro japonês bebe gins. O outro fuma ganzas… Então mas é um puto como os outros, ou não? Ganhou umas quantas medalhas e tal, submeteu-se aos testes todos, estava limpo…. Qual é a espiga, Bob? Não, o Veloso não deve calçar… E o Yannick? Nem convocado, às tantas… O Moutinho sim, esse está em grande forma. Esse e o Russo dos tiques no pescoço, que às vezes dá ares de grande jogador de bola… Como é que ele se chama?
Seja como for, para bem da nação e independentemente de quanto é que os administradores do BPN receberam por fora, temos um derby este fim de semana! Quem quer que jogue, que seja um grande espectáculo, que dignifique o futebol português… Epah, mas quem sou eu? O Sócrates? OPaulo Portas? Que demagogia… Eu quero é que o Benfica ganhe, nem que seja com um penalty como o outro…

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Estádio da Luz

É provável que ainda ninguém tenha percebido mas, dentro do Estádio da Luz, há outro: o Estádio da Luz. Coincide, com uma forma oval a que na escola primária dávamos o nome de conjunto, com este em metade e foge dele, para o Alto dos Moinhos, com outra metade. É um Estádio grande, enorme, tem 3 anéis, é duro, insistente, provocativo. Sempre que vou ver o Benfica lembro-me dele. E sinto saudades.
Das portas estreitas, dos corredores imensos, do barulho dentro dele, da sua imponência. Aquilo não era um estádio, era a Arca de Noé; não era um projecto de arquitectura moderna, era um templo antigo. Nele, gregos ensaiaram as primeiras noções de teatro, romanos construíram impérios, medievos lutaram de espada em riste por mais uma mão de território. Não se abria aos olhos do adepto de forma fácil, era preciso entendê-lo, percorrer-lhe as entranhas anos a fio, milénios a fio, ir de barco navegando pelos seus mares.
Para uma criança, era um Adamastor que adorávamos e temíamos. O que estaria do outro lado, passado o túnel de acesso? Um mar, um rio, ilhas e sereias, domadores de leões, artistas, raparigas de brinco de pérola? E que cores traria? Que imensidões, que coordenadas, que belezas anunciava? De mão dada com o meu Pai, de cachecol maior do que eu ao pescoço, timidamente avançava por entre o túnel, enquanto ouvia um borbulhar em êxtase, um som antigo de milhões de anos vociferar e que ninguém sabia ao certo como e de onde vinha.
Não se via o relvado, como agora. Era preciso, primeiro, beber-lhe o sangue. As bancadas eram muros para quem chegava. Antes da beleza, como uma obra de arte, vinha a incompreensão, a dificuldade em chegar perto. Depois, sim, ultrapassadas todas as barricadas, todas as intempéries, todas as gangrenas e escorbuto da navegação marítima, o sol, a luz, as indígenas semi-nuas dançando ao ritmo do batuque, da forma, da cor. Do maravilhamento.
Dentro do Estádio da Luz, há um Estádio. Lembro-me dele. E sinto saudades. Em todos os jogos, em todos os segundos, em todos os momentos em que vejo o Benfica, sentado confortavelmente num lugar sem chuva, sem gente a vender as coisas mais inacreditáveis para as necessidades de quem vê um jogo de futebol, sem pancadaria, sem homens de rádio ao ouvido, sem placards electrónicos sujos, enormes e frios, sem o sentimento de estar verdadeiramente em casa, lembro-me dele e tenho saudades.
Tenho saudades do Benfica.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Debate Quinzenal

A tarde estava triste. Não chorava mas envolvia-nos com aquele bafo frio de nuvens densas, a que é costume chamar-se de "um dia de merda". As pessoas, no entanto, pareciam não estar preocupadas. Afinal, o dia era de Debate quinzenal! Logo muito cedo começaram a chegar à Praça de São Bento os costumeiros vendedores de cachecóis com as famosas imagens da Assembleia e as bandeiras a vermelho, com a cara do melhor jogador da casa: José Sócrates, exímio driblador de questões incómodas e maestro na arte de, no semi-círculo de discussão, falar mais no que as equipas adversárias não fizeram no passado do que debater os assuntos da sua própria equipa - um génio com a gravata ao colarinho.
Confesso que estava nervoso. Era a minha primeira experiência na "Casa da Democracia" e tinha sérias dúvidas sobre as prestações de António Pereira Coelho e de Ribeiro Cristóvão. Sobre o primeiro, a minha inquietação maior residia em saber se seria capaz de servir de tampão às transições económicas a que, muito provavelmente, estaria sujeito por parte da bancada adversária; já sobre o segundo, questionava-me se seria homem capaz de funcionar, em apoio, com profundidade na hora de assistir o nosso grande goleador. Para acabar com o nervosismo, eu e uns amigos, empolgados pela multidão eufórica e por uma sede indesmentível, estacionámos ao pé de uma barraca de cerveja e ali ficámos, em alegre cavaqueira, até perto do início da contenda. Estava um ambiente algo conturbado: viam-se, ao longe, os primeiros adeptos socialistas e, não fosse a imediata intervenção da autoridade, teríamos saído dali todos à batatada - continuo a dizer que as Juventudes em nada dignificam a Política, são bandos de delinquentes sempre em busca de motivos para a violência. É certo que apoiam, que gritam muito, que têm barba e que têm megafones, é certo também que, na arte da demagogia e ignorância mais suja e mais baixa, eles são peritos - afinal, estão bem instruídos desde muito novos, logo que entram nas faculdades. Por mim, deixava a política entregue aos adeptos, apenas e tão-somente aos adeptos apaixonados pelas causas; os que se sentam nas tribunas do Parlamento, não gritam e são civilizados.
Quando faltava meia-hora para o debate, acabámos a cerveja de um trago e dirigimo-nos para a entrada. Como tínhamos bilhete, estávamos tranquilos e não havia motivos para preocupações, certo? Errado. Hoje em dia, já não se pode ir à política sem que sejamos apalpados por todos os lados e olhados com descrença por energúmenos de coletes fluorescentes, como se fôssemos alguns criminosos que decidiram ir ver política, sem outro intuito que a violência gratuita. Senti-me indignado! Para além da normal apalpadela, ainda me retiraram dos bolsos um isqueiro que o PSD de Abrantes me tinha dado há mais de 10 anos, o mp3 que tinha uma música cubana sobre o "Comandante" e a fita no cabelo por revelar - nas palavras do energúmeno e cito - "razões suficientes para uma batalha campal, devido à cor alaranjada". Bom, lá entrei sem isqueiro, sem mp3 e com o cabelo desgrenhado, na esperança, porém, que o debate valesse a pena e pudesse esquecer mais uma atribulada entrada no semi-círculo do poder.
Chegados, o mesmo de sempre: alguém estava sentado na minha cadeira. Blá, blá, blá, "o seu lugar é na tribuna em cima do Luís Fazenda", "não é nada, é perto do Portas", "é sim, veja, A 22, lugar 18, tribuna bloquista". Lá saiu o barbudo, com cara de quem não comia, não dormia e não f... ingia há uns bons meses e eu, finalmente, pude encostar-me e esperar o espectáculo. Meus amigos, e que deprimente foi! Sócrates, na zona central, felizmente não fez um único passe a rasgar a bancada da direita; sempre em movimentos circulares, atirava para trás, grunhia para a frente, voltava a meter a bola no passado, chegava-se à entrada do semi-círculo direito mas logo recuava e voltava a empatar o jogo. Do lado da nossa equipa, um jogo de cintura assinalável; muita táctica, muito empolgamento, muito sorriso irónico, mas política... nem vê-la. Parecia que nenhuma das duas equipas queria ganhar. Absurdo!
O mais interessante da contenda foi observar como anda o "Sistema" por estes dias em Portugal. Meus amigos, a arbitragem foi escandalosa, do princípio ao fim! Jaime Gama, que já me estava atravessado desde aquela ida a um mercado, em que não beijou nenhuma das peixeiras, foi igual a si mesmo: gritante desigualdade de critérios, autoritário em demasia com os nossos e caseirinho como sempre. Há um lance no debate que não deixa dúvidas a ninguém: quando Pedro Santana Lopes se preparava para rematar contra a baliza de Manuel Pinho, atirando-lhe com um remate em "os portugueses não têm dinheiro para comer", aparece Pedro Silva Pereira, já na primeira bancada à entrada para o átrio, que ceifa o nosso líder parlamentar com um "não diga mentiras, pá!". Punições? Nada! Nem um "Ministro da Presidência, estamos na Assembleia da República", quanto mais um "Pedro Silva Pereira, faça o favor de abandonar o Parlamento e ir tomar banho mais cedo". Escandaloso! Mais tarde no debate, já perto do fim, outro lance em que Jaime Gama, arguido no processo "Apito socrático", mostrou toda a sua tendência para a equipa da casa: estava Alberto Martins a gastar tempo, tecendo loas infinitas ao goleador José Sócrates, quando do seu lado direito um seu companheiro de bancada se vira e diz: "muito bem, muito bem", aplaudindo, meus amigos, aplaudindo! O que fez Jaime Gama? Fingiu não ouvir nada e foi complacente: "faça o favor de terminar, deputado Alberto Martins". Se isto não é um roubo de Parlamento, então não sei o que é! Muito triste. Assim não vale a pena vir à política. Se é para isto que sofremos e gastamos dinheiro, quando podíamos ter ficado em casa, confortavelmente a ver o debate pela televisão, então não vale a pena.
Quando acabou o debate, ficámos algum tempo a olhar no vazio - com aquela cara anestesiada de quem acaba de ver um debate de merda e não ganhou - e à espera que os adeptos da casa saíssem. Para meu espanto vejo, no interior do semi-círculo, Sócrates e Santos Silva numa galhofeira pegada sacarem de um cigarro e começarem a fumar em pleno terreno de debate. Eu, que tinha ficado sem isqueiro e farto de andar a fumar ao frio, sempre que me decido a sair de casa e quero - veja-se a heresia - ir comer fora, questionei o segurança que, com um ar sábio e algo arrogante, me respondeu: "Devem ter fretado a Assembleia". E eu tudo bem.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

8, 44 ou 80?

Segundo os nossos caríssimos leitores, o Benfica não está em primeiro porque o Quique "percebe tanto disto como o Homer de cerveja sem álcool" - escolha que passou pela meta em primeiro, embora logo atrás (a um voto de distância) viessem as usuais desculpas de mau pagador, "fomos escandalosamente roubados".

Esta escolha é curiosa e releva bem os pontos deixados em cima da mesa há uns tempos atrás. Lembro o texto de Novembro em que, baseado na feroz votação em apoio a Quique Flores, neste poiso se pedia alguma paciência e disponibilidade para aceitar algum insucesso que chegasse no decorrer da época. Desde então ficámos sem Taça de Portugal e sem UEFA, continuamos na Taça da Liga e, no campeonato, perseguimos o Porto por um ponto e mantemos intactas as hipóteses de sermos campeões.

Olhando para a realidade actual, parece-me que a votação se baseia, mais do que na desilusão de vermos duas competições fugirem-nos, na bipolaridade, esquizofrenia e, muitas vezes, numa acentuada teimosia que Quique Flores demonstra ter nas opções que faz. O espanhol não parece querer abdicar da sua busca incessante por rotinar o 442 (que é, na prática, um 424), não vendo (ou não querendo ver) que, seguindo esse caminho, estará sempre mais perto do insucesso. Por altura desse texto, Quique emendou a mão e procurou dar solidez ao sistema, tornando-o num não-sistema. Quando se coloca Amorim à direita, dificilmente poderemos chamar aquilo de 442 clássico pelo simples facto de que aquilo não é um 442 clássico. Esta opção, elogiada por todos nós e, antes, pedida à exaustão por todos nós, deu frutos e tornou a equipa mais sólida, menos permissiva às ofensivas adversárias mas, e aqui está tudo na mesma, muito pouco capaz de desequilibrar nas áreas contrárias. Quando as duas únicas soluções do Benfica são o passe longo do Luisão para os avançados ou o passe para o Reyes e ele que se desemerde, constatamos facilmente que ao Benfica, muito mais do que um treinador, bons jogadores ou árbitros competentes, falta uma ideia. Ela simplesmente não existe, não se vêem jogadas recorrentes, movimentações repetidas, espaços procurados, triangulações ensaiadas, rotinas, dinâmicas - aquilo a que, nos anos 90, o Toni chamava de "automatismos". Não há automatismos nesta equipa, Toni. Em 9-1, 8-1-1, 7-2-1, 1-9, 1-1-8, 1-2-7 ou 442 clássico, é preciso ter automatismos.

Não é, no entanto, impossível que eles apareçam. Não sei se esta época, que está mais direccionada para um contínuo sofrimento e necessidade de títulos, mas nas próximas. Esquecendo por uns segundos a questão da importância ou não de sermos campeões, é importante, a meu ver, que não esqueçamos o passado recente e que não entremos (como a votação perigosamente parece anunciar) mais uma vez na espiral louca da mudança de treinador. Dar ao espanhol o benefício da dúvida e esperar pelo final da época parecem-me opções bastante mais razoáveis do que, de repente, pormos tudo em causa e, então aí sim, definitivamente perdermos a hipótese (que é muito real) de renovarmos o título de 2005.

No texto de Novembro pedia que o 80 não se tornasse em 8. Ainda não se tornou. Mas temo que.