Este Benfica não sabe jogar mal, mesmo quando não joga bem. Ontem foi daquelas noites em que os adeptos saem do estádio a pensar "se não perdemos pontos aqui, vamos ser campeões", de tal forma pouco apaixonante foi a exibição da equipa.
Tem muita culpa por isto Jorge Jesus, que persiste no erro de arriscar o 442 enfermo com dois avançados pouco pressionantes e um meio-campo sem capacidade de construir jogo. Correu bem, ontem. E essa é a única - embora fundamental - coisa positiva a retirar do jogo de ontem. A questão, no entanto, levanta-se: será que Jorge algum dia vai desistir de querer provar ao mundo que o 442 decrépito funciona? Temos dúvidas. E, por isso, o nosso temor e as nossas incertezas num futuro que, se fosse construído por aquilo que é óbvio, seria necessariamente feliz.
A diferença que faz, ainda assim, o todo mais ou menos funcionar chama-se Witsel. Com ele, até a teimosia de Jorge pode ir a bom porto. Mas até quando? Quanto tempo mais teremos de esperar até que o mister abdique definitivamente do 442 deprimido e assuma o esquema evidente para os jogadores que tem? Não um, não cinco, não dez jogos, sempre!. Não só nos jogos europeus ou nos internos de maior dificuldade, sempre! O meio-campo formado por um pêndulo (Javi ou Amorim, nunca Matic, que não sabe sê-lo), um criador, construtor, destruidor, entre-linhas, faz-tudo (Witsel, claro, mas também Matic ou Simão) e um criativo pressionante (Aimar, obviamente, mas podendo sê-lo Bruno César, que nas alas só serve para atacar e desleixa os movimentos defensivos) é o meio-campo que faz esta equipa criar do melhor futebol que se vê na Europa. O outro, este deprimente 442, é outra coisa, outra coisa definitiva e assertivamente aquém.
Jogar com Saviola não é o mesmo que jogar com Aimar. Evitem os teóricos da coisa grandes filosofias porque nem Aimar é um avançado nem Javier um médio - quando isto estiver bem entendido, podemos partir para a discussão. O desperdício de talento individual e colectivo é tão grande que dá pena e dói na alma assistir a um grupo de talentosos jogadores resumirem-se a um jogo de bolas pelo ar, perdas e pouca capacidade de pressão, sobretudo os alas Bruno César e Gaitán (que péssimo jogo!), que parece que tiraram bilhete só de ida - o de atacar.
É importante compreender que nem todos os jogos serão assim, de sorte como o de ontem, e que ao Benfica se exige mais do que aquilo que vimos em Aveiro. Porque esta equipa pode dar mais e porque ao treinador se pede que insista não nas suas teimosias científica e comprovadamente erradas mas na disposição táctica que potencia os excelentes jogadores que tem à disposição. Jogar com mais homens na frente e menos no meio-campo não é sinónimo de melhor qualidade a atacar e muito menos a defender. Jogar como jogou ontem o Benfica é sinónimo de uma equipa partida, sem tempo nem espaço para a criaçao e para o jogo apoiado e entre-linhas, especialmente se juntarmos a isto o facto de o pêndulo que coordena e começa as operações ter estado sentado no banco tendo, no seu lugar, um médio que não foi talhado para jogar em tão importante posição em campo.
Repito, para que se não perca: Matic não é um 6, nunca o será - chega de experiências comprometedoras. Repito: Bruno César não é um ala - chega de displicências defensivas que custam pontos. Repito: Gaitán só pode jogar se entender que faz parte de uma equipa e que tem de mostrar serviço não só na Europa, em que todos o vêem, mas também nos jogos chatos em Aveiro, em Paços de Ferreira e em Sobral de Monte Agraço.
O mesmo vai para Cardozo que, na Champions, come a relva e no campeonato esquece-se dessa coisa desinteressante que constitui o pressing logo à saída do jogo adversário. Podem estes visados aprender com o idoso Pablito, que não só corre muito como corre bem.
Mais uma vitória, mais 3 pontos, liderança isolada à condição, tudo isso. Mas Jesus inquieta-me.