- Desconcentração competitiva - aos 40 segundos de jogo, Enzo faz uma entrada para vermelho directo. Não é maldosa, tal como não foi a de André Gomes na jornada anterior, mas é descuidada e põe em causa o sucesso da equipa. Relembro: foi aos 40 segundos de jogo e era para vermelho. Se o árbitro tivesse visto, seria um jogo inteiro num campo muito difícil em inferioridade numérica. Aos 76 minutos, Matic faz, desnecessariamente, penálti. Mais um episódio da fraca componente mental desta equipa e da clara, apesar de esforçada, inadaptação de Matic à posição 6. Os jogadores do Benfica põem-se por várias vezes à mercê de uma arbitragem mais prejudicial - neste caso, de uma que apenas visse o que se passou. É um sinal preocupante e não é de hoje, tem anos.
- Risco absurdo pelo curto prazo pondo em causa o futuro
- Jesus no final da partida vem admitir que Enzo, Melga e Garay deram
sinais antes do jogo de não estarem aptos. O que fez o Mister? Pô-los
aos três. Passados alguns minutos de jogo, perdemos Enzo - resta saber
para quanto tempo. Não chegando o facto de já não termos médios,
arriscámos colocar em campo o único que, mesmo sendo uma adaptação, por
ter muita qualidade consegue fazer de médio nesta equipa. Arriscámos e
perdemos o jogador. Neste momento, não temos ninguém que possa garantir a
qualidade de posse, a facilidade de transporte e de queimar linhas que
Enzo dá à equipa. Resta Miguel Rosa, que inexplicavelmente (ou talvez
não; perguntem ao Carraça o porquê) não merece uma única oportunidade na
equipa principal. Isto num plantel sem médios.
- Uma equipa totalmente partida entregue ao acaso da sorte ou azar
- Saímos de Vila do Conde com a vitória. Como podíamos ter saído com o
empate ou derrotados, tantas foram as situações de 5x4, 5x3, 4x3, 4x2,
3x2 e mesmo 3x1 que o Rio Ave teve ao longo da segunda parte. Valeu-nos a
má decisão dos atacantes e médios vilacondenses e... Artur. Jesus
observava do banco 30 e tal minutos de cerco à nossa equipa mantendo no
meio-campo Matic - totalmente sozinho para 3 e 4 jogadores - e César,
que não é ala e muito menos segundo médio. Mexeu a poucos minutos do fim
e mal - em vez de colocar alguém no meio, junto a Matic, decidiu
desposicionar Almeida da lateral, deixando nessa posição um jogador
lento e acabado de entrar, Miguel Vítor, contra o jogador mais rápido e
técnico (e fresco) do Rio Ave. Resultado? 4 jogadas de claro perigo que
não deram golo por má definição adversária. O Benfica ganhou o jogo?
Não, o Rio Ave perdeu-o, tanto foi o desperdício.
- Cantos e livres de amadores
- É um problema que tem anos no Benfica de Jesus. A movimentação dos
que estão na área é excelente (há trabalho do técnico e de grande
qualidade), o problema está antes: em quem bate as bolas. Em 10
livres/cantos, 8 bolas não chegam ao destino. Ou são demasiado longas,
cruzando a área e saindo na linha lateral contrária ou vão directas aos
joelhos do primeiro adversário. Resultado? Os livres/cantos do Benfica
servem geralmente para criar situações de perigo... na nossa baliza.
- Os preferidos de Jesus
- O técnico tem algumas qualidades de excelência; pena os defeitos - e
por isso nunca será um treinador capaz para os objectivos que temos. Um
dos defeitos passa pelo facto de ter, de forma cega, os seus preferidos.
Jardel é um deles, em detrimento de Miguel Vítor. Jardel tem cometido
falhas gravíssimas em todos os jogos, tem feitos péssimas exibições
misturadas com algumas em que vai disfarçando, mas Jesus dá-lhe sempre a
titularidade. Não se percebe como nem porquê. O mesmo vale para
Melgarejo, que depois de alguns jogos em que parecia ter conquistado
alguma maturidade -
após um início de campeonato pavoroso -, voltou ao seu registo
habitual: cortes para a entrada da área, com a bola à mercê de um
pontapé em zona privilegiada por parte de um adversário; ultrapassado
várias vezes no 1x1; mau posicionamento defensivo, deixando ou as costas
ou a zona entre ele e o central desguarnecidas; perdas de bola
inexplicáveis e letais. Por fim, Salvio. É evidente que baixou de forma
com o mau estado físico de Maxi Pereira. Só a má-vontade (chamemos-lhe
assim, eufemisticamente) com Nolito pode explicar a ausência do espanhol
do 11. Com a boa integração de Ola John (mérito para Jesus, neste
caso), está na hora de jogar com o holandês na direita e Nolito à
esquerda. Mas será possível a Jesus quebrar as suas certezas
irrefutáveis?
Esta
equipa, pelo péssimo planeamento que foi feito em Agosto (se tinham
mesmo de vender Javi e Witsel, deviam ter tido a inteligência de
prepararem as saídas com alternativas; e todos sabemos que era
expectável que saíssem), está hoje, como previsto, entregue a um
meio-campo curto e nas lonas e a uma esperança nos jovens que venham da
equipa B. Não com método ou critério, mas atirados para a linha da
frente, porque não há tempo nem soluções para uma correcta integração
dos jovens. André Gomes e André Almeida lançados como iscos, na
esperança de que resulte e se possa dizer que há uma aposta na formação.
Não há. Ou melhor: há mas forçada porque houve erros absurdos na
composição do plantel. O que podia ser uma integração paulatina de
jovens com valor (e os dois André têm valor para poderem vir a ser
opções de qualidade, sem dúvida) numa equipa madura e equilibrada,
passou para uma espécie de crença religiosa: vamos todos acreditar muito
que eles é que resolvem. Mas só resolverão pontualmente. Nunca para nos
darem o que queremos da época, porque ninguém é campeão cometendo
tantos erros estratégicos.
A
Champions já está tremida (por culpa nossa e de mais ninguém), e o
Campeonato, apesar da liderança, é apenas uma miragem. Claro que podemos
ser resultadistas e apresentar números e estatísticas: segundo melhor
ataque, melhor defesa, liderança partilhada, nenhuma derrota em 9 jogos,
2 empates, 7 vitórias. Podemos sempre fazer textos a dizer que apoiamos
muito e que não percebemos os profetas da desgraça. Podemos ser
arrogantes ao ponto de, além de não conseguir ler os sinais que traçam
caminhos, ainda acharmos que somos mais benfiquistas que os outros e que
nós é que somos bons porque basta ter fé para estar no Marquês. Não
basta.
Há um
ano disse em Novembro que não seríamos campeões. Se tenho a fama de
desgraceiro, atiro-me a ela e vou na onda: outra vez em Novembro,
avanço: não seremos campeões. E isto - entendam nessa cabecinha
mirradinha, gente do "apoio" - não quer dizer que eu não vá a todos os
jogos do Benfica em casa e a todos os que possa fora de casa e não quer
dizer que eu não vá para todos os jogos com uma fé inabalável num
milagre qualquer que nos leve até ao Marquês em Maio. Quer só dizer que
eu vejo este Benfica com todos os seus óbvios problemas, vejo o Porto
com a sua evidente superioridade colectiva, vejo a tendência arbitral
que temos há mais de 30 anos no campeonato nacional, e retiro, não com
muita dificuldade, uma percentagem aproximada: 10/15 por cento de
hipóteses de sermos campeões.
Que
descerá para os 2 por cento quando a direcção que muitos de vós apoiam
decidir vender mais uma ou mais pérolas já daqui a 2 meses para colmatar
a falta de receitas que o afastamento da Champions originará por termos
achado que um empatezinho em Glasgow era bom e que perder só por 2 com o
Barcelona também era girinho e que podíamos levar um banho de bola em
Moscovo porque depois resolvíamos em casa e o Barça fazia o nosso
trabalho. No fundo, há 10 anos que os erros se repetem. Difícil mesmo é
ser profeta da alegria.