- É fácil dizer que «estava visto que com Oblak não sofreríamos golos» depois de acabar o jogo. Na verdade, qualquer das opções seria válida - se, por um lado, o puto vinha de 3 jogos consecutivos com boas exibições e baliza inviolada, por outro, a pressão e exigência de um jogo como o de ontem poderiam ter forçado Oblak a uma exibição menos conseguida. Artur não tem estado bem, é facto indesmentível, mas não estaria incapaz de responder de forma assertiva se tivesse sido chamado. Jesus arriscou, optando por aquilo que a maioria pedia - elogios, no entanto, por isso, porque se tivesse corrido mal facilmente seria alvo de críticas. Arriscou, deu-se bem e, agora sim, após este teste de fogo, parece-me de todas as formas justo que se mantenha o guarda-redes em quem se apostou e respondeu à altura. A qualidade superior de Oblak, essa, é visível há muito tempo, mesmo tendo em Artur um guarda-redes de qualidades evidentes.
- O jogo não teve qualidade de explosão, não foi um festival de futebol glorioso, não desaguou em muitos golos, não foi daqueles que vão directamente para o panteão dos clássicos. Mas foi um jogo interessante do ponto de vista táctico. Jesus fez recuar, na primeira linha de pressão, os dois avançados para zonas mais próximas dos médios. Ou seja, deu liberdade aos centrais do Porto para trocarem a bola mas retirou-lhes as opções (sobretudo as do miolo). Digamos que a ideia de jogo do Benfica passou por direccionar a posse dos portistas: ou sendo forçados a sair pelas laterais ou obrigados a jogo directo. Resultou de forma exemplar na primeira parte, com o acrescento de ter em Markovic não propriamente um extremo mas uma espécie de interior que vagueava entre a linha e a zona central (Enzo compensava a saída de posição do sérvio). Num dos vários lances em que a pressão sufocante do Benfica a meio-campo conseguiu recuperar a bola, Markovic fez o que sabe fazer como mais ninguém que estava em campo: desequilibrou para golo. Primeiro, criando a dúvida (ninguém sabe o que pode sair dali), depois arrancou, feito menino d´oiro, para chegar à zona de decisão e decidir. Como quase sempre, Markovic decidiu bem e rápido. Rodrigo, onde é mais forte (trabalho de desmarcação em linha com a última barreira adversária e não quando joga mais recuado), saiu disparou no momento certo para de primeira rematar e fazer o 1-0. Este tipo de entendimento, se for mais vezes explorado, dará muitos mais golos. Basta ler.
- Como sabe quem me lê, nunca fui um indefectível do Cardozo como nunca o achei o diabo em campo. Reconheço-lhe qualidades óbvias, acho-o excelente para ter no plantel - sendo titular ou suplente utilizado, consoante a estratégia de jogo -, gosto dele, tem golo, é versátil, mas importa lembrar algo: o Benfica pode ganhar sem Cardozo. Mesmo que seja a uma equipa à qual raramente ganhamos. Os fundamentalismos, de um lado e do outro, nunca foram benéficos. Este é só mais um que se dispensa.
- Este Porto é fraco. Este ano tenho visto poucos jogos dos portistas e ontem foi o primeiro que vi ao vivo. Fica mais fácil de ler uma equipa quando temos todo o enquadramento colectivo à nossa frente e não o que as televisões mostram. Sofre de pouca criatividade no miolo, obriga Fernando (que é, de facto, um bom jogador) a incursões para as quais não tem qualquer capacidade- Fernando não é Matic, mas é obrigado a isso num meio-campo que não tem ideias definidas, em que os automatismos existentes passam por tentar combinações laterais com os extremos e esperar uma desmarcação do Jackson. Moutinho faz-lhes falta. Moutinho faz-lhes toda a falta do mundo. Licá e Varela não correspondem, parecendo sempre sem saber se devem explorar a profundidade ou atacar as zonas centrais. Fonseca, que fez uma época soberba o ano passado (é bom não esquecer), está a fazer um trabalho aquém das qualidades que parecia poder desenvolver e o resultado é uma equipa que, se bem pressionada, hesita e demonstra não ter planos alternativos para chegar à baliza adversária.
- O Benfica, se tivesse feito o que lhe competia nesta primeira volta, teria hoje não 3 mas 7 ou 8 pontos de vantagem. Não é a olhar para a classificação ou para a liderança a meio do campeonato que se analisa a prestação de uma equipa; é vendo o que os adversários jogam, a qualidade de plantel que têm, sabendo a que nós temos e o que podemos fazer. Se o Benfica, este Benfica anémico, vence um campeonato em cada 5 e sempre que o Porto está fragilizado e não por ser melhor do que o melhor Porto, então talvez seja altura de no Benfica perceberem que este ano é o tal para aproveitar o facto de os portistas estarem em ano medíocre. Já que só vencemos pela falta de qualidade alheia, que ao menos a aproveitemos para ganhar uns títulos, que afinal tanto escasseiam.
- Soares Dias assinala falta; fiscal diz-lhe que não é falta; Soares Dias tem de marcar bola ao solo. O amarelo ao Enzo advém de um lance anterior. Ok, está compreendido. Agora só resta perceber qual a razão para o fiscal de linha ter achado que aquilo não é falta; o porquê de Josué não ter sido expulso num lance no qual nem amarelo viu; o porquê de não ter assinalado o penálti do Mangala e o penálti do Garay; o ter interrompido o lance que isolava o Jackson e a razão de ter deixado 4 amarelos a jogadores do Porto no bolso na primeira parte. Ou seja: foi provavelmente a pior arbitragem dos últimos 50 anos. Isto porque errou para os dois lados. Quando erram para um só lado, não se chama arbitragem, chama-se roubo.
- O Estádio da Luz existe para estar sempre cheio. Sempre. Não só contra o Porto, não só porque o Eusébio morreu. Que o fabuloso ambiente de ontem sirva para animar mais benfiquistas a voltarem a estar presentes. É que já andamos cansados de ver tanta cadeira vazia nos outros jogos todos. O Marquês constrói-se também com o Gil Vicente, com o Arouca, com o Freamunde, com o Sarilhense. Está na altura de ver alguém da Direcção entender isso e saber usar o cérebro para encher o estádio e de os benfiquistas sentirem gosto por ir ver futebol ao vivo. Não há nada mais emocionante, mais bonito e transcendental do que um golo do Benfica a acontecer à nossa frente.